quarta-feira, 21 de maio de 2008

Tradição


As religiões são tradicionais não porque não mudam, mas porque escondem sua mudança (Marcelo Ayres Camurça).


Tenho empatia por essa idéia. Os seres humanos são tão criativos e trazem na “bagagem vital” tanta necessidade de criar, pela busca de estruturas que lhe ofereçam segurança e legitimação – uma certa nomia, que mesmo ao preservar um núcleo comum, central a dada forma de religião, ele modifica essa em um complexo processo de atualização. Pois essa religião precisa falar ao hoje, trazer símbolos pertinentes ao sujeito religioso, cada vez mais abarcado pelos meios modernos de interação com o espaço social, e maneiras pulverizadas quanto ao desenvolvimento de uma religiosidade específica.

Muitos pesquisadores, já acham que o termo “fiel”, não atende mais para tratar do sujeito religioso “ligado” a determinada denominação, isso considerando o hibridismo que acontece na medida em que seculariza-se “o sagrado””, e amplia-se as possibilidades religiosas. Temos, ou pelo menos deveríamos ter, uma nova perspectiva do que vem a “ser Igreja” – templo/instituição burocrática, ou igreja – comunidade de fé.


A mudança é inevitável. Ao mesmo tempo que interagimos na sociedade e criamos estruturas, com o passar do tempo, essas mesmas estruturas se tornam obsoletas, porque são provisórias não atemporais: passam a nos enclausurar - agora lutamos por rompê-las, para criar novamente uma outra estrutura que nos servirá de novo paradigma. Nessa nova perspectiva, o que significaria ser tradicional, ou conservador, no sentido menos pejorativo possível da palavra?
No processo de socialização, busca-se perpetuar a tradição, aquilo que apreendemos de nossos pais, é isso o que ensinamos para nossos filhos – amplie isso e reflita sobre o processo de como se dá na sociedade: Isso é socialização. Porém, quase nunca nesse espaço, processo socializador de socialização, que se dá pelos mais diversos mecanismos de controle de manutenção da nomia social, se fala das fragilidades, das temporalidades, das transitoriedades, das instabilidades, das provisoriedades, das antigas estruturas – tradicionais.


Ao criar sistemas institucionalizadores, que mais tardes não atenderão à demanda, lutamos contra aquilo que nós mesmos criamos. Como eu preciso manter a tradição, legitimar aquilo que eu criei, ou que foi criado e eu aderi, desencadeio uma série de processos socializadores, para educar outros a pensar conforme eu penso, obedecer o que eu obedeço. O que não se aborda são os problemas do meu sistema, as fragilidades dele: tudo isso em nome do conservadorismo. Precisamos conservar o que deu certo antes, e o que deu errado, eu simplesmente ignoro pelo esforço de tornar legítimo.


Nesse sentido, ser tradicional, não quer dizer que não mudou e que determinado grupo religioso preservou na íntegra a tradição, mas é esconder as mudanças experimentadas por esse grupo.