quarta-feira, 14 de maio de 2008

Despotismo da liberdade

Na realidade essa postagem é um comentário meu sobre a postagem “Hora do strip-tease”. No artigo o autor critica a postura de Igrejas que reprimem em suas concepções doutrinárias, etc, aspectos da sexualidade humana. A sensação é de que para o autor, o que vale é "liberar geral" (...).

Sou contra quaisquer tipo de repressão, dentro da igreja ou fora delas; em qualquer âmbito da vida humana repressão gera cadeias no inconsciente. Mas, contra também a alguns mecanismos, que só repetem o discurso de uma categoria de "pensadores", e que em nome de uma "crítica libertadora" reprimem, e o fazem ao induzir os leitores a uma "suposta liberdade". A lógica desses é que a felicidade, ou "a vida abundante" oferecida por Deus, se dá no fato de sair por aí fazendo sexo com todo mundo, ou sem quaisquer parâmetros de moral para a vida (diferente de moralismo!).

Caros colegas, tenho certo receio quando pessoas preparadas ou despreparadas, saem por aí fazendo "teologia da crítica", talvez com a pretensa de ter achado a resposta que solucionará todos os males da humanidade, aquela chave mágica. Muita soberba, não acha!?
Criticar "modelos" eclesiológicos, frutos de uma concepção doutrinária, teológica, ou modismo - que seja, etc., não responde ao cotidiano das pessoas. Pelo contrário, a pergunta continua latente no inconsciente e imaginário de todos: "E daí?".

Hoje as celebridades ditam as normas, artistas e “blogueiros” falam com propriedade (será!?) sobre sexologia e comportamento humano, é o poder do simulacro, e a cada dia mais sendo alimentado. Isso pode ser um problema.

Em suma, tenho simpatia pelo conteúdo da presente postagem, mesmo assim, deixo a dica para reflexão: precisamos saber melhor sobre as implicações futuras daquilo que estamos falando, das afirmações que estamos fazendo, sem nunca termos a falsa percepção de que descobrimos "o segredo" da felicidade. Por quê que, ao invés de sairmos por aí criticando tudo e todos, não oferecemos reflexões maduras sobre o que implica adotar ou não tais modelos? Nem toda reflexão precisa ser apologética, é possível uma "síntese dos comportamentos - modelos", de forma tal que se preserve o equilíbrio no discurso, aquele tão necessário para que nenhuma injustiça seja cometida.

Rotular modelos, como bons ou ruins, e mais-ou-menos, pode significar incapacidade de uma leitura mais aprofundada sobre as complexidades da vida.

Abraço.

Tradição frente às transitoriedades da vida


Acho sim, que “o olhar para trás”, o fato de buscar na tradição respostas que me orientem no presente, diferente de buscar legitimação para meus atos hoje, é algo saudável, e também humanamente pastoral; e ser humanamente pastoral em uma sociedade onde pouco se fala de pastoral, pelo menos daquelas que reconhecem a vida como prioridade é sempre muito saudável. Aliás, olhar para trás para resolver problemas “da e na” caminhada , o apego à tradição, é característica do povo bíblico, dos semitas, principalmente no Antigo Testamento. Preservar elementos da tradição é sempre um fator que norteia, que de certo modo “repete a fórmula”, que traz elementos específicos - fixos à uma comunidade de fé. Isso é importante? Diria que sim, e não só importante como necessário, principalmente quando “olhamos para fora” (e acho inclusive que as Igrejas deveriam fazer isso mais vezes e com mais intensidade) e percebemos uma sociedade em constante mutação, sem parâmetros básicos de desenvolvimento.

Atualmente, com a sociedade em constante mutação, vem à tona a auto-valorização enquanto indivíduo, o que culmina em individualismo, esse que tem sua ênfase no subjetivismo (quantos “ismo”!!), e ... sonhar é cada vez mais possível ... para muitos, o impossível já não existe mais. Sem parâmetros, sem noção de limites. Alguns diriam: - Puxa !! isso é sinônimo de liberdade; liberdade fruto da globalização que presenteou a sociedade, cada vez mais moderna. Eu diria que isso não é liberdade, e nem mesmo um presente, mas talvez uma carta bomba, (desculpem, um “e-mail bomba” !). Em qualquer âmbito da vida humana, em que se perde os parâmetros de “crescimento” e o projeto do que vem a ser um desenvolvimento saudável, não excludente, pode significar que estamos construindo, ou contribuindo de alguma forma para a construção, uma sociedade cada vez mais neurótica, muito apegada em coisas frágeis, em sonhos ilimitados, coisas essas que “não dão conta”, não preenchem o vazio nas horas de angústia, de caos.

Enquanto Igreja: Uma espiritualidade baseada estritamente em emocionalismos (não pejorativo), voltada às paixões humanas, citando aqui o que vem a ser uma espiritualidade muito subjetiva - é frágil, quando se considera as constantes mudanças e as situações de conflito da vida. A recorrência dessa prática dentro de nossas Igrejas, promovem, ou contribuem para promoção, daquilo que os estudiosos chamam de “mal do século”: a depressão, cada vez mais em alta. Atualmente na América Latina e caribe, segundo dados do Hospital Santa Lúcia (disponível em: (http://www.santalucia.com.br/neurologia/depressao/default.htm), um a cada quatro deprimidos procuram ajuda, e a estatística é de que aproximadamente 24 milhões de pessoas sofrem de depressão.

Nesse sentido sim, queremos tradição. Porque queremos pontos fixos, elementos de fé seguros, que dão subsídio para encarar a vida mesmo em momentos extremos, de reais angústias, diante do caos.

Mas, um agravante, que na minha concepção reflete o fato de como a vida é complexa. A busca pela tradição não pode sem um fim em si mesma, porque nem sempre ela nos traz coisas atualizadas, e prontas, que cabem perfeitamente “no hoje”. E, estacionar no “meio do caminho”, com o pretexto de ser conservador da “sábia tradição”, na realidade pode significar um esforço de legitimar, quase que uma desculpa, o medo que eu tenho de estar aberto ao novo. Porque novidades sempre implicam em mudanças, mudanças implicam em revisões de conceitos, revisão de paradigmas. Isso pode ser um problema, apegar-me à tradição porque não existe abertura ou competência para dialogar com o que é novo, e/ou com o que é diferente de mim e do que eu penso.

De qualquer forma, acho que vale a reflexão. Nenhuma estrutura sistemática de raciocínio, nenhum discurso ou tese enquanto esforços humanos e especulativos, deve ter a pretensão de ser a solução perfeita para todos os problemas da sociedade, de conter a fórmula mágica. A vida é complexa, fruto de relações complexas que geram conflitos inconscientes reais e complexos. Mas, e a tradição? O ato de conservar a tradição tem que estar fundamentalmente relacionado com a vida cotidiana atual, precisa dar respostas equilibradas ao indivíduo que respira os ares de um momento específico da história e de sua história, ambas cada vez mais transitórias.