Vale à pena refletirmos sobre "a abordagem teológica" com certa "proposta de inclusão", presente no discurso de Obama; que não deixa de ser política.
Obama pode se tornar o primeiro presidente negro dos EUA. Fonte: Folha On Line, dia 14.01.2008.
Barack Obama -- negro e filho de muçulmano e de sobrenome Hussein -- já foi classificado como "a grande esperança dos brancos" pela imprensa americana, ao incorporar o sonho de reconciliação e ao se colocar acima das divisões raciais do país.
Diferentemente de Hillary Clinton --que freqüentemente evoca o "marco histórico" que seria alcançado caso se tornasse a primeira mulher presidente dos EUA-- o senador Obama raramente menciona diferenças de cor em seus discursos de campanha.
O senador Barack Obama é o 1º negro a ter chances reais de chegar à Casa Branca
"Não há um EUA branco e outro negro, e sim os Estados Unidos da América", declarou em um discurso durante a convenção nacional do partido democrata em Boston, em 2004.
Apesar das divisões raciais nos EUA, para Elaine Kamarck, professora de políticas públicas da John F. Kennedy School of Government, da Universidade de Harvard, a questão da cor não terá muito impacto. "Há uma mudança nesta geração de americanos, e a questão de raça é menos importante a esses jovens do que às pessoas mais velhas", diz a professora.
A maior parte dos eleitores de Obama se concentra na camada mais jovem da população --que vive em meio à diversidade das universidades, influenciados pelo rap e pela música negra em geral-- e nos americanos de 30, 40 anos, que viveram as mudanças sociais das últimas décadas.
"A verdadeira essência do apelo de Obama é a idéia de que ele representa o idealismo racial --a idéia de que raça é algo que os EUA podem transcender", disse Shelby Steele, pesquisadora da Instituição Hoover da universidade Stanford, ao "Wall Street Journal".
"É uma idéia muito atraente. Muitos americanos realmente gostariam de encontrar um candidato negro em quem poderiam votar tranqüilamente para presidente dos EUA.
Origens. Protestante filho de muçulmano, Obama está acostumado a circular entre os mais diversos meios sociais. Senador democrata por Illinois, ele é filho de Barack Obama, economista queniano negro educado em Harvard, e de Ann Dunham -- branca, de Wichita, no Estado do Kansas. Nascido em Honolulu (Havaí) em 1961, seus pais se separaram quando ele tinha dois anos. Obama morou na Indonésia enquanto criança, após sua mãe se casar com um indonésio, e depois viveu no Havaí, com seus avós brancos.
As idas e vindas deram, segundo sua própria opinião, as ferramentas necessárias para que pudesse se tornar um político hábil na hora de fazer coligações e traçar alianças.
"Ele se movimenta entre vários mundos", afirma sua meia irmã, Maya Soetoro-Ng. "É o que fez em toda a sua vida".
Adolescente rebelde. Sua adolescência no Havaí foi marcada não só por uma destacada trajetória escolar, mas também por anos de contravenção. Na época, Obama experimentou maconha e cocaína, conforme afirma em sua biografia. Hoje se defende das críticas, feitas principalmente pelo casal Clinton e por assessores de Hillary, dizendo crer "que o americano médio sabe que o que alguém faz quando é adolescente, há 30 anos, provavelmente não é relevante em como vai desempenhar seu papel de comandante-em-chefe e presidente dos Estados Unidos".
Até o momento, apesar de o consumo de drogas ter sido levantado pelos rivais, a questão ainda não afetou sua campanha, na opinião de Kamarck, mas poderia, caso ele seja nomeado candidato democrata, e o Partido Republicano resolva polemizar a questão.
Obama casou-se em 1992 com Michelle Robinson Obama, com quem tem duas filhas: Malia, 9, e Sasha, 6.
Formação. Apesar da juventude que pode ser taxada de rebelde, Obama obteve uma seleta formação nas universidades de Columbia e Harvard, trabalhou como professor e defensor dos direitos civis em Chicago e foi eleito senador em 2004.
Ajudado por seu carisma e um enorme sorriso, Obama ganhou uma popularidade similar à de um astro de rock. A seu favor joga também uma atitude crítica com o conflito no Iraque, com críticas feitas antes mesmo da invasão do país por tropas lideradas pelos EUA em 2003.
Apesar de se vangloriar de suas experiências de vida, a principal fonte de críticas ao senador deriva de sua inexperiência política, principalmente em cargos executivos.
"Essa é a grande questão", diz Kamarck. Ele tem muito pouca experiência em nível internacional".
Terrorismo. No ano passado, Obama afirmou que, se eleito, poderia enviar tropas ao Paquistão para procurar terroristas. O país é um dos principais e mais importantes aliados dos EUA na "guerra contra o terror", o que fez a declaração causar espanto entre os americanos.
"Sou uma das pessoas que achou essa declaração nada inteligente, pois ela demonstra sua inexperiência", diz a professora de Harvard. Porém, ela afirma que se ele chegar ao cargo e tiver uma equipe para política internacional, "não será assim tão mal".
Obama brinca freqüentemente que o povo não se lembra de seu nome. A própria rede de TV americana CNN teve de fazer recentemente uma correção após confundir o nome do senador com o do terrorista de origem saudita Osama bin Laden, líder da rede Al Qaeda.
Chamá-lo de "Barack Osama", no entanto, não foi um engano cometido exclusivamente pela rede de TV.
Outros políticos, principalmente da oposição, já erraram seu sobrenome algumas vezes.
Por Fernando Serpone da Folha On Line. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u363384.shtml>. Acesso dia 24 de junho de 2008.