sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Sermão de Ricardo Gondim: Onde sua fé se sustenta?

Vale a pena conferir e refletir- Áudio da reflexão de Ed René Kivitz: sobre "sexo" e "casamento".

O TEU DEUS, ONDE ESTÁ?


“As minhas lágrimas têm sido o meu alimento
dia e noite, enquanto me dizem continuamente:
O teu Deus, onde está?” (Salmo 42.3)


Diante da recente tragédia que se abateu sobre inúmeros fiéis que morreram e dezenas que foram hospitalizados no desabamento do telhado de uma igreja, muitas pessoas – evangélicas ou não – têm nos questionado sobre proteção divina, acidentes, doenças e mortes na vida de um cristão.

Constantemente temos ouvido disparates e opiniões distantes da fé bíblica. Talvez o grande problema seja o desconhecimento da Palavra (“errais não conhecendo as Escrituras”) ou pararam a leitura no Antigo Testamento. Mas tenho para comigo que os grandes vilões sejam os pregadores do evangelho que têm martelado diariamente suas fantasias, mas não a Palavra. Trata-se de uma pregação peculiar, irreal, carregada de promessas mirabolantes que Deus nunca fez, e facilidades para a vida que a Bíblia jamais mencionou. Isso tem produzido sofismas que passam por doutrinas cristãs. Por exemplo....

NÃO É VERDADE que não teremos sofrimento na vida! O próprio Jesus, sendo o Filho de Deus, não foi poupado de nada que nós também não viéssemos a sofrer. Ele próprio advertiu que no mundo passaríamos aflições, mas que tão somente crêssemos Nele e na sua vitória final. O Mestre também avisou a Pedro que Satanás o requerera para “peneirá-lo”, entretanto Jesus não promete livrá-lo de tal infortúnio, mas diz que oraria, “para que a tua fé não desfaleça”[1]. Este próprio apóstolo, mais tarde escreveria para que não estranhemos o fogo ardente que surge em nosso meio destinado a provar-nos [2].

NÃO É VERDADE que enfermidade é sinal de pecado, e que o cristão fiel não adoece! Servos fiéis em Cristo podem, em algum momento da vida desenvolver Alzheimer, catarata, depressão, labirintite, câncer, osteoporose ou qualquer outra doença. Neste exato momento há um sem número de cristãos nos hospitais orando humildemente por saúde ou aguardando operação. Companheiros de Paulo, Trófimo ficou doente em Mileto [3], Epafrodito adoeceu mortalmente chegando às portas da morte por causa da obra [4] e Timóteo sofria de freqüentes enfermidades do estômago. Há vidas trágicas com saúde e há vidas abençoadas sem saúde.

NÃO É VERDADE que todos seremos ricos no sentido material! Cristãos sinceros espalhados neste mundo morrerão sem nunca ter abundância de bens. Milhões de cristãos sudaneses, nigerianos ou quenianos sequer possuem sandálias para calçar. Habitantes do Jequitinhonha, bolsão de miséria no Brasil, poderão conhecer a Cristo, mas provavelmente continuarão morando em suas sufocantes taperas sem jamais se refrescarem sob um ar-condicionado. Devemos lutar contra essas terríveis injustiças sociais, mas sempre sabendo que “nada temos trazido para o mundo, nem cousa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes” [5].

Sinceramente espero que estes últimos acontecimentos que tem se abatido sobre uma parcela do povo evangélico sirva como lição, edificação, e que mudem seus paradigmas. Oxalá, que a partir de agora....

NUNCA MAIS digam que se alguém não é curado, a culpa é da falta de fé. A muitos que Jesus curou não hes exigiu fé, nem méritos, mas Ele o fez exclusivamente por sua Graça e misericórdia. Eu creio, mas clamo constantemente como aquele pai: “Senhor, ajuda-me na minha falta de fé” [6].

NUNCA MAIS preguem que as coisas ruins são sempre resultado de maldição. Desde Jó tentaram lhe imputar algum pecado oculto pelo qual estava sofrendo. E ele era justo. Caiu uma torre em Siloé e matou alguns homens. Aos olhos do povo isso poderia indicar que havia algo de errado com eles. Mas Jesus asseverou: “vocês crêem que aqueles dezoito sobre os quais a torre caiu eram mais pecadores do que os demais habitantes de Jerusalém? Em verdade eu digo a vocês não eram. Mas se vocês não se arrependerem, todos igualmente perecerão” [7].

NUNCA MAIS afirmem que Deus os pôs por “cabeça e não cauda”, tentando justificar proeminência para si. O Reino de Deus é composto em sua maioria por gente humilde, como copeiras, auxiliares, pedreiros, costureiras, gente que nada é aos olhos do mundo. Não há vergonha nenhuma nisto, pois a vida de um homem não consiste na abundância de bens que ele possui [8].

PAREM de afirmar que são “filhos do Rei”, e por isso estão a salvos das intempéries da vida. Mesmo os filhos do Rei baterão seus carros, torcerão tornozelos, amargarão tempos no hospital e passarão por aperto financeiro.

NUNCA MAIS deturpem textos bíblicos para justificar seus engodos como fizeram com “tudo posso naquele que me fortalece” [9], que foi retirado do seu contexto original para inferir que “posso alcançar tudo o que eu desejo”, quando na verdade Paulo está falando de sua tribulação, humilhação, pobreza, abandono, escassez... e que ele podia “suportar todas aqueles coisas Naquele que o fortalecia”.

DEIXEM de buscar “cobertura espiritual”, designação que tem produzido ídolos cheios de empáfia que não podem ser contraditados. O que vale não é a cobertura, mas o estar sobre a rocha, que é Cristo.

Quando os maus dias chegarem, e um dia eles chegam, com certeza irão nos perguntar: “E o teu Deus, onde está?”. Responda que ele também está sofrendo contigo, está ao seu lado enxugando suas lágrimas, e que por um breve momento ainda sofreremos, mas que Ele lhe dá a força e ânimo para continuar vivendo sem medo, sem amargura, sem rancor. E que para nós, o melhor ainda está por vir.


Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br


Referências:
[1] Lc 22.32
[2] 1Pe 4.12
[3] 2Tm 4.20
[4] Fp 2.27-30
[5] 1Tm 6.7-10
[6] Mc 9.24
[7] Lc 13.4-5
[8] Lc 12.15
[9] Fp 4.13

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

OS ILUSIONISTAS


“Ora, havia certo homem chamado Simão, que praticava a arte mágica,
iludindo o povo de Samaria, insinuando ser ele grande vulto; ao qual todos
davam ouvidos, do menor ao maior, dizendo: Este homem é o poder de Deus; aderiam a ele porque há muito os iludira com mágicas” (Atos 8.9-11)


David Copperfield, Criss Angel e o grande Houdini. O que há em comum entre estes homens? São todos eles mestres na arte do ilusionismo: o que você vê não é o que você vê, e palavras e gestos apontam para aquilo que não é. O propósito deles não é mostrar a verdade, mas divertir e sobretudo causar espanto.

Diante de um ilusionista não se pergunta se aquilo é real. Aos espectadores há a alegria de suspenderem momentaneamente o enfado de suas vidas embarcando naquele teatro do entretenimento. Estes homens podem até enriquecer com suas artes mágicas, mas em momento algum chamam o que fazem de “verdade”, ao contrário, vendem ilusão para o público que paga ingresso para ser iludido.

Entretanto, há outra classe de ilusionistas que tem provocado estupor. São os ilusionistas da fé. Desde o início da igreja primitiva eles também se apresentam. Em Samaria havia um homem chamado Simão que iludia o povo com suas artes mágicas, que chamava as mágicas que ele praticava de “poder de Deus”.

Estes também não têm compromisso com a verdade. Prometem transformar ofertas e dízimos em emprego garantido, cura, prosperidade e ascensão social. Assim como o público de Houdini, a platéia moderna não está interessada em analisar os fatos através da categoria da verdade. São pessoas sugestionáveis, e portanto crédulas (que é diferente de ter fé), e jamais usam a bíblia como fonte de critério e discernimento.

Quando vemos milhares de pessoas reunidas, não numa fé libertadora, mas numa fé cega, não amando a Deus com entendimento, mas abrindo mão da razão, e não conferindo palavra por palavra do que lhes é oferecido, então é como se todos estivessem num grande “transe” similar ao espiritismo, com a diferença que os guias estão bem vivos. Nos encontros promovidos pelos ilusionistas ocorre uma espécie de hipnose coletiva, e não há nenhum interesse do espectador em sair daquele estado, por isso barram qualquer pensamento crítico.

Confrontar um ilusionista da fé é um sacrilégio, pois ele se apresenta como o “poder divino”. Aliás, esta é a ação preferida de Satanás: autenticar como sendo de origem divina todo e qualquer ato prodigioso. A ação destes homens cria ilusão e não fé, promove ajuntamento, mas não comunhão, agrada aos olhos, mas não transforma o coração.

Satanás é o Grande Ilusionista. Nele tudo é exagerado, carregado nas cores, nas certezas. Ele promove espetáculos porque lhe falta conteúdo, entretanto domina magistralmente as técnicas de manipulação de massas e de mentes.

Imaginemos uma reunião com quatro mil homens de negócios fazendo uma corrente para alcançar sucesso em suas empreitadas, e para isso obedecem cegamente as ordens emanadas dos ilusionistas (observem que eles sempre pedem para fazer algo estranho para a mágica dar certo). Ao final de um mês, é bem provável que um em cada quatro será bem sucedido, o que garantirá ao menos duzentos testemunhos por um longo tempo. Mas o sucesso aconteceria independentemente de qualquer confissão de fé. Seria o mesmo se fizessem seus pedidos a Buda, Krishna, ou Santo Antão. A razão? Há uma Graça Comum do Eterno para com toda a Sua Criação: “Deus é bom pra todos” (Salmo 145.9), e por isso Ele manda o sol e a chuva tanto para bons quanto para maus.

Onde está o truque? Fazer crer que, eles, ilusionistas, realizaram algo extraordinário. Mas eles jamais mencionam a multidão de desiludidos que depois de algum tempo voltarão para casa amargurados e decepcionados com Deus. Mas isto não importa, pois logo outra gente se reunirá para buscar a “sorte grande”.

Se os ilusionistas da fé realmente fizessem tudo aquilo que prometem já teriam chamado a atenção do IBGE que registraria bolsões de prosperidade em regiões de reconhecida pobreza. De igual modo não há estatísticas provando que os freqüentadores de igrejas de “Confissão Positiva” ficam menos doentes que os demais mortais. Mas posso garantir que a estatística de morte entre eles é 100% igual aos descrentes.

Se os ilusionistas sofrerão severo julgamento, os que se deixam iludir também passarão por ele, pois não acolheram “o amor da verdade para serem salvos” (2Ts 2.9), e é por este motivo que Deus lhes manda “a operação do erro para darem crédito à mentira, a fim de serem julgados todos quantos não deram crédito à verdade” (2Ts 2.10-12).


Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

NEM TUDO O QUE É MAL É MAL

“Foi-me bom ter eu passado pela aflição” (Salmo 119.71).

Davi foi o primeiro a dizer: “foi-me bom ter eu passado pela aflição”. Depois Tiago: “tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações”. Só mesmo no absurdo da fé alguém poderia dizer que é bem passar por algo que, aos nossos olhos, é mal. Os valores no Evangelho quase sempre vão em direção diametralmente oposta ao senso comum das pessoas. Senão vejamos:

O sujeito encontra um campo, vai e vende tudo o que tem e compra aquele terreno achando que fez o melhor negócio do mundo (Mt 13.44). A viúva deposita duas pequenas moedas no gazofilácio e Jesus diz que ela ofertou mais que todos os ricaços (Mc 12.43). Pescadores rudes e iletrados são chamados de sábios e os que se debruçaram anos nos estudos da religião são chamados de ignorantes.

As melhores definições de riqueza, lucro, poder ou felicidade que nos são ensinadas desde crianças “não batem” com o Evangelho. Os ensinamentos do Reino também não se alinham com a visão normal que temos de perda, prejuízo ou derrota, pois constantemente essas coisas são chamadas de “momentânea tribulação” que nos dignificam ao invés de nos destruir.

Muitas maravilhas e obras foram produzidas não como resultado do que sobeja, mas do que falta. Em Cristo, deficiência não é impedimento e limitação não é desculpa. Fanny Crosby, cega desde a infância por conta de um erro médico faleceu aos 94 anos como a maior autora de hinos sacros de toda a história. Sua vida foi tão impressionante quanto a qualidade e quantidade de seus quase nove mil hinos e poemas compostos. Pouco antes de sua morte ela escreveu...

“Creio que a maior bênção que o Criador me proporcionou foi quando permitiu que a minha visão externa fosse fechada. Consagrou-me para a obra para a qual me fez. Nunca conheci o que é enxergar, e por isso não posso compreender a minha perda. Mas tive sonhos maravilhosos. Tenho visto os mais lindos olhos, os mais belos rostos e as paisagens mais singulares. A perda da minha visão não foi perda nenhuma para mim”.

Até a natureza nos ensina: a mais preciosa pérola só pode ser produzida pela ostra se houver nela uma incessante irritação provocada por um grão de areia. Ela se defende do incômodo produzindo uma secreção – o nácar – que recobre o corpo estranho para anular aquele mal. Então se compreende porque ostra feliz não produz pérola.

Os produtores dos melhores vinhos do mundo sabem que, de um modo geral, a videira não gosta de solo fértil. Ela precisa “sofrer” para produzir fruto de qualidade. Outonos secos e verões quentes vão também contribuir para a maturação das uvas. A região de Borgonha, na França, apresenta todas as condições ideais para produzir os melhores vinhos do mundo. E o que essa região tem de especial? Justamente os preceitos “negativos” que vão estimular o fruto a fazer um esforço extra que vai resultar num vinho de qualidade inigualável.

No rigor do inverno, a neve acumulada sobre os galhos fortes das grandes árvores irremediavelmente os quebram. Mas são justamente os pequenos arbustos que sobrevivem, pois seus galhos frágeis se curvam sob o peso da neve. Quem endurece quebra, quem verga passa incólume. Faz-me lembrar a advertência: aquele que, diante de Deus, endurece sua cerviz será quebrantado de repente sem que haja cura (Pv 29.1).

O povo hebreu ficou no deserto muito mais tempo do que a distância realmente requeria. Mas havia muito a aprender com o desconforto, com a falta de provisão, com o clima ruim, com o viver em comunidade. Se desde o nosso nascimento não houvesse um só problema ou contrariedade, e no decorrer do crescimento tudo o que se desejasse fosse alcançado, não chegaríamos jamais à maturidade, mas seríamos seres afetados, presunçosos, egocêntricos e permaneceríamos num infantilismo crônico por toda a vida.

Nem tudo que nos acontece de mal é de fato mal. Depois de passar por um longo período de necessidades, isolamento ou incompreensão, você certamente eliminará de sua lista uma série de amigos que lhe viraram as costas, mas terá descoberto pessoas maravilhosas pelas quais você agradecerá a Deus por tê-las conhecido. Depois de passar pelo vale da sombra da morte, por uma doença ou acidente quase fatal, você nunca mais será o mesmo: seus valores mudarão, e não terá mais paciência com picuinhas ou perderá tempo com futilidades.
No Reino de Deus se o grão de trigo não cai e morre, não frutifica. Se cair, produz.

Antes de reclamar com Deus porque perdeu, porque sofreu ou adoeceu, veja o que Ele lhe propõe, mesmo sem tirar o infortúnio. Talvez nasça em você algo que nunca perceberia se não tivesse perdido. Espere para ver, mas não chore além do que deve. Afinal, nem tudo que a princípio parece ser mal, de fato é.

Certamente não é motivo de comemoração a perda de um emprego, a descoberta de uma doença, ou um prejuízo inesperado. Porém, é certo que as vicissitudes da vida virão quer gostemos ou não. Mas ao viver na fé saiba que nada, absolutamente nada, pode nos separar do amor de Cristo – nem mesmo as coisas ruins.

Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br