sexta-feira, 20 de junho de 2008

Demolindo as Torres de Babel (II)

Quanto valia Isaque para Rebeca?

É fácil, para alguém que está de fora do problema, criticar e pontuar os desvios e as faltas nos outros, mas nem sempre é fácil vivenciar o que sabemos ser correto.

O cristianismo é uma religião que prega o amor Ágape, traduzido muitas vezes como caridade; o amor que se doa sem esperar recompensa. Isto é o que pregamos, mas não parece ser exatamente o que vivemos. Talvez, tenha sido por esta razão que Jesus enfatizou tanto esse sentimento: “Amai, porém a vossos inimigos, fazei bem e emprestai, nunca desanimado; e grande será a vossa recompensa, e sereis filhos do Altíssimo; porque ele é benigno até para com os integrantes e maus” (Lc 6. 35); e Paulo o endossa veementemente: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria” (I Co 13. 1-3).

Embora saibamos discernir estas coisas tendemos sempre para o lúdico, raramente para o sacrificial. Também este comportamento não é um desvio contemporâneo, peculiar apenas de nossa geração. Seria temerário dizer que Rebeca não amava a Isaque, mas ouso em afirmar que ela o obedecia cegamente! Não quero entrar no mérito do valor desse tipo de obediência, mas com certeza ela não gera prazer, não traz paz nos que a praticam, mas certamente irá deixar sempre suas seqüelas, feridas que estarão sempre prontas a sangrar, mesmo quando levemente tocadas.

Um constante sentimento de insegurança habitava não apenas a mente, mas também o coração de Rebeca. Aquele fantasma a fazia sentir como um barquinho à deriva e a falta de uma âncora a leva ao partidarismo, tomando Jacó para si, pois Esaú pertencia a Isac.

“Quando Isaque já estava velho, e se lhe enfraqueciam os olhos, de maneira que não podia ver, chamou a Esaú, seu filho mais velho, e disse-lhe: Meu filho! Ele lhe respondeu: Eis-me aqui! Disse-lhe o pai: Eis que agora estou velho, e não sei o dia da minha morte; toma, pois, as tuas armas, a tua aljava e o teu arco; e sai ao campo, e apanha para mim alguma caça; e faze-me um guisado saboroso, como eu gosto, e traze-mo, para que eu coma; a fim de que a minha alma te abençoe, antes que morra. Ora, Rebeca estava escutando quando Isaque falou a Esaú, seu filho. Saiu, pois, Esaú ao campo para apanhar caça e trazê-la. Disse então Rebeca a Jacó, seu filho: Eis que ouvi teu pai falar com Esaú, teu irmão, dizendo: Traze-me caça, e faze-me um guisado saboroso, para que eu coma, e te abençoe diante do Senhor, antes da minha morte. Agora, pois, filho meu, ouve a minha voz naquilo que eu te ordeno: Vai ao rebanho, e traze-me de lá das cabras dois bons cabritos; e eu farei um guisado saboroso para teu pai, como ele gosta; e levá-lo-ás a teu pai, para que o coma, a fim de te abençoar antes da sua morte. Respondeu, porém, Jacó a Rebeca, sua mãe: Eis que Esaú, meu irmão, é peludo, e eu sou liso. Porventura meu pai me apalpará e serei a seus olhos como enganador; assim trarei sobre mim uma maldição, e não uma bênção. Respondeu-lhe sua mãe: Meu filho, sobre mim caia essa maldição; somente obedece à minha voz, e vai trazer-mos. Então ele foi, tomou-os e os trouxe a sua mãe, que fez um guisado saboroso como seu pai gostava. Depois Rebeca tomou as melhores vestes de Esaú, seu filho mais velho, que tinha consigo em casa, e vestiu a Jacó, seu filho mais moço; com as peles dos cabritos cobriu-lhe as mãos e a lisura do pescoço; e pôs o guisado saboroso e o pão que tinha preparado, na mão de Jacó, seu filho (Gn 27. 1-17).

Como pastor, acostumado às diferentes reações de pessoa para pessoa, apliquei-me à área de aconselhamento e não pude deixar de verificar que existe um ponto comum em quase todos os casos de conflito envolvendo duas ou mais pessoas. O partidarismo. Quando uma pessoa se sente ameaçada por outra, em qualquer área de sua vida, a primeira reação é a de procurar alguém que possa lhe dar suporte ou, pelo menos, concilie suas razões. Assim ela segue buscando mais e mais adeptos e o conflito passa a não ser mais entre duas pessoas, mas entre dois grupos. É assim na Igreja, nos ministérios, na família e em qualquer setor da sociedade. Por que seria diferente com Rebeca? Ela amava a Isaque, mas se ancorava em Jacó!

Por esta razão tenho-me esmerado em incutir aos noivos, em nossas reuniões pré-nupciais, o significado de Gênesis 2. 24: “Portanto deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á à sua mulher, e serão uma só carne”, ratificado por Jesus (Mt 19. 5; Mc 10. 7) e por Paulo (Ef 5. 31). Esse deixar pai e mãe deve representar muito mais que apenas deixar a casa paterna. Inclui também deixar para trás os velhos paradigmas, as histórias de comadre. Ex.: “Os homens são todos iguais!”. “A única mulher que andou na linha o trem matou”. Coisas desse tipo são excelentes tijolos para dar corpo a uma alta e forte “Torre de Babel”.
Pr. Antônio Luiz de F.