segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

OS INCORRIGÍVEIS


“Mas, se estais sem correção...,
logo, sois bastardos e não filhos”(Hb 12.8)

É ponto fundamental na vida de um cristão maduro e sensato a capacidade que tem de admitir para si mesmo e para outros que ele é passível de ser corrigido.

Quem é corrigível percebe a todo o momento suas falhas, seus gestos impensados, suas palavras mal colocadas, e por isso se preocupa com a correção de rumo, e de mudança de postura diante da vida. Não é vergonha caminhar de um jeito durante certo tempo e, de repente, mudar. A própria conversão é isso: a correção de uma rota que dava para a morte.

Há, entretanto uma categoria de pessoas que resiste a repensar seus conceitos, a sua visão, e em colocar em xeque as suas verdades. Não estão dispostas a mudar, rever, ou a ouvir. Resistem a qualquer forma de correção. Estes são os incorrigíveis que tentam viver suas histórias alienados de Deus: seguem apenas seus impulsos e paixões. Não vivem bem, mas não aceitam uma exortação para mudança. Às vezes são polidos, não fazem afronta, mas mantêm uma atitude de presunção para com tudo o que se refere ao Eterno. Podem até dizer que crêem em Jesus, na bíblia, mas na prática continuam vivendo como querem. Para estes só há uma verdade: a deles próprios.

Mas, diante de Deus e de sua Palavra somos confrontados com nossos rumos. Quem não precisa de correção? De ser exortado? De aprender a ouvir? Quem não precisa aprender a humildade, a parar de murmurar, a agradecer a Deus em tudo? Quem não necessita ouvir falar do seu orgulho, ou de sua dureza de coração?

Ser corrigível é permitir-se ser tratável. Igreja é e sempre será um lugar de correção, pois Deus está tratando ali a cada um de seus filhos, enquanto grupo e enquanto indivíduos. E a sua Palavra é o instrumento primeiro dessa tarefa: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção” (2Tm 3.16). Talvez essa seja uma das razoes porque tantas pessoas se sentem levadas a repelir a idéia de fazer parte de uma igreja saudável. Percebem que se o fizerem, passarão a ser corrigidas por Deus.

Por outro lado, ser incorrigível é uma clara manifestação de um ego que pretende a onipotência. Ser incorrigível é dar vazão a um narcisismo que pode até mesmo se esconder sob a máscara de uma aparente bondade e retidão. O incorrigível é in-tratável, isto é, não aceita tratamento, exortação ou repreensão.

Ironicamente, é justamente entre os religiosos que às vezes nos deparamos com os corações mais duros, e as pessoas de mais difícil trato. No Antigo Testamento vemos Javé chamando homens do mundo “secular” para serem seus profetas junto ao povo, pois os sacerdotes insistiam em permanecer em seus erros. Escrevendo à igreja em Filipos, Paulo faz um apelo a duas mulheres, causadoras de intrigas, e quiçá turronas: “Rogo a Evódia, e rogo a Síntique, que pensem concordemente no Senhor” (Fp 4.2). O apóstolo passa um “pito” nelas publicamente, pois se mostraram passíveis de correção.

Recentemente um conhecido apóstolo midiático foi pego com a “mão na botija”, mas até hoje, ele só tem acusado as forças do Mal pelo seu revés. Nenhuma palavra em público suplicando a Deus: “Corrige-me Senhor”. Bem diferente agiu Davi quando errou: “Pequei contra Ti, contra ti somente” (Sl 51.4).

Reuniões, concílios ou assembléias fazem parte da vida de muitas igrejas. Não poucas vezes são ocasiões para palavras duras, ofensas, e demonstração de sectarismo. Ali, será muito improvável ouvir de alguém a confissão: “Temos pecado contra o Senhor”.

Ser cristão e ser incorrigível são coisas totalmente contraditórias, pois pressupõe-se que aquele que segue ao Mestre esteja disposto a renovar-se e a ceder a cada dia.

Por que o Senhor se agradou tanto de Davi, se ele foi um homem que cometeu inúmeros erros e pecados que até nos dias atuais produziriam escândalos? A minha resposta é que Davi era acima de tudo um homem tratável, corrigível e manso.

Por que é tão difícil ser tratável? Creio que se deve à dificuldade de abandonar certas posturas já cristalizadas. Acostumamos ao erro, acostumamos gritar e ofender toda vez que nos fazem mal, acostumamos a vingar... essas coisas fazem parte de nosso repertório, e poucos estão dispostos a se corrigir.

Todo incorrigível precisa destronar o seu eu, desfazer-se do seu egocentrismo, e reconhecer que carrega uma visão deturpada de si mesmo, vendo-se como justo e correto em suas intenções, só porque tem a fé “certa”. A fé até pode ser certa, mas a forma de vivenciá-la não.

Nunca é demais lembrar que Deus faz uma solene advertência aos que recusam a correção: “O homem que muitas vezes repreendido, endurece a cerviz, será quebrantado de repente sem que haja cura” (Pv 29.1).

E você, é corrigível?

Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

OS ESTRANHOS MÉTODOS DE DEUS

“Estas são as nações que o Senhor deixou ficar para, por meio delas, provar a Israel, a todos os que não haviam experimentado nenhuma das guerras de Canaã; tão-somente para que as gerações dos filhos de Israel delas aprendessem a guerra, pelo menos os que dantes não tinham aprendido. Estas nações eram: cinco chefes dos filisteus, todos os cananeus, os sidônios, e os heveus que habitavam no monte Líbano, desde o monte Baal-Hermom até a entrada de Hamate. Estes, pois, deixou ficar, a fim de por eles provar os filhos de Israel, para saber se dariam ouvidos aos mandamentos do Senhor, que ele tinha ordenado a seus pais por intermédio de Moisés. Habitando, pois, os filhos de Israel entre os cananeus, os heteus, os amorreus, os perizeus, os heveus e os jebuseus. tomaram por mulheres as filhas deles, e deram as suas filhas aos filhos dos mesmos, e serviram aos seus deuses. Assim os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos do Senhor, esquecendo-se do Senhor seu Deus e servindo aos baalins e às aserotes” (Jz 3. 1-7 BRC).

Deus criou todos os seres vivos dotados de características e atributos que lhes são peculiares pelos quais os identificamos. Ex.: girafa; peixe; leão; árvore; homem, mulher, (...), etc. Dentre todas as características que envolvem os seres vivos há uma que é comum em todos eles e é a que mais me impressiona: A capacidade de adaptação ao meio! Esta característica pode se tornar mais ou menos forte de acordo com a necessidade de cada ser vivente. Ex.: Camaleão, sapo, etc. Esta capacidade, porém, ao ser desenvolvida gera as conseqüências que irão influenciar a qualidade de vida deste ser. É um processo quase inconsciente, porém, dinâmico. Que coisa apaixonante, não?

Não sou muito amante da televisão por conta da pobreza de conteúdo – salvo raríssimas exceções - exibida em suas programações, porém, esta semana repassando os canais detive-me no “TV Escola” que exibia um documentário sobre os primatas, mais especificamente sobre os gorilas e os chipanzés mostrando como eles foram modificando ao longo do tempo seus hábitos alimentares e seus relacionamentos em grupo conforme a necessidade imposta pelo habitat, a custo de sua sobrevivência. Eles apresentavam comportamento diferenciado dos outros da mesma espécie que habitavam noutros pontos. Este fato levou-me a repensar sobre os propósitos de Deus para minha vida.

Fico impressionado com os meios utilizados por Deus para manter a integridade do seu povo. No texto supra Ele preserva um remanescente dos inimigos de seu povo para ser o termômetro de sua obediência e fidelidade. E mais, os filhos de Israel haveriam de aprender com estes inimigos a guerrear! (Cf. V. 2). Parece paradoxal, mas é isso mesmo: Aprendendo e aperfeiçoando com os inimigos...

Já fui surpreendido com muitas perguntas capciosas, porém, uma delas ainda soa muito forte em meus ouvidos: “Se Deus é bom e é a Fonte de Todo bem, por que Ele permite a existência do mal (mau?)?”. Creio que o texto acima nos sugere uma boa resposta para esta pergunta: “Para nos treinar a sermos santos!”.

Erroneamente temos o costume de pensar que é impossível nos mantermos santos e fiéis em meio às provações e às adversidades, mas elas fazem parte do processo. José foi provado no Egito; Daniel foi provado na Babilônia, Paulo foi tentado a reter para si a glória em Filipos (Cf. At 16. 16-19), mas eles tinham claro diante de si seus verdadeiros valores e onde queriam chegar.
Se você teve a paciência de ler até aqui, talvez possa considerar que neste ponto tornou-se dúbia minha interpretação do texto, mas posso explicar melhor. A verdade é que as mudanças e adaptações só ocorrem em função daquilo que são para os seres vivos seus verdadeiros valores. Só lutamos por aquilo que nos parece valer a pena lutar. Só acontece uma mudança quando nossos valores vitais estão em risco.

A maior prova desta verdade pode ser conferida na saudação do final da Epístola ao Filipenses: “Todos os santos vos saúdam, especialmente os que são da casa de César” (Cf. Fp 4. 22). Para se ter uma idéia do que esta simples frase representa precisamos conhecer o contexto dos palácios dos “Césares”; dos chamados “Cultos ao Imperador”, onde se praticavam toda sorte de coisas abomináveis a Deus. Mas havia santos lá dispostos a pagar o preço de sua fidelidade a Deus porque seus valores transcendiam ao lúdico e ao efêmero, portanto, qualquer outra coisa só poderia produzir neles um desejo ainda maior em perseverar em fidelidade ao seu propósito, a santidade.

Estou certo de que o Senhor se utiliza também das coisas que menos imaginamos em nossos dias para nos manter atentos à disciplina e obediência à sua Palavra, logo, você pode ser fiel a Deus onde você mora, trabalha ou estuda, a despeito das coisas com as quais você convive, mas não comunga. Elas podem estar a serviço de Deus para medir nosso grau de fidelidade a Ele e aprendermos com elas como ser santos; por que não?

Pense nisto: Sua fidelidade a Jesus não pode depender de facilidades!

Que o Senhor nos ajude!

Rev. Antônio Luiz de Freitas
04/01/2010

Obs.: Este texto foi inspirado no sermão que preguei no culto de domingo, com ministração da Ceia do Senhor, dia 04 de janeiro de 2010. Espero mesmo que ele possa ser canal de bênção para você como foi para mim.

Pela graça e misericórdia daquele que nos chama, capacita e envia; o menor de todos os seus conservos, sou,

Pr. Antônio Luiz