“...quando estou fraco, então é que sou forte” (2Co 12.10)
O perfil de uma pessoa poderosa e bem sucedida normalmente está associado à sua capacidade de vencer, convencer e impor-se, seja pela beleza, pelo talento ou pela fortuna que detém. Anualmente é publicado o ranking das 100 pessoas mais influentes do mundo. Nele estão presidentes, generais, estrelas do cinema e bilionários. Há algo em comum em todos eles: o poder que exercem e o fascínio que suscitam.
Fecha o pano e corta rápido para a Bíblia. Entramos num mundo paradoxal. Ali não é mais o forte ou o poderoso que conta, mas o pobre, o fraco, o simples. A Bíblia é um livro que contém relatos surpreendentes de lutas e desafios que contam de um lado os fracos e impotentes e de outro lado os detentores de força e poder. É o jovem Davi lutando “mano a mano” com o gigante Golias, é Elias versus 450 profetas de Baal, é o povo de Israel tentando escapar do faraó e seus carros de guerra, ou os primeiros cristãos diante das feras no Coliseu romano. Desde o seu nascimento, Jesus já nos ensinava que há algo de diferente no universo da fé.
A força nunca foi característica da fé cristã, e sim o amor. As bem-aventuranças lançadas por Jesus no sermão do monte apontam justamente para aquilo que é considerado fraqueza diante do mundo: mansos, humildes, perseguidos, promotores da paz.... estes são felizes.
Diariamente constatamos que os poderosos, os ricos, e os que pretensamente possuem domínio da situação, “não precisam” de Deus. Quem teve dinheiro para embarcar no Titanic em sua viagem inaugural, entrou ali na certeza que estava num navio que “nem Deus poderia afundá-lo”. Os auto-suficientes desdenham tudo o que se refere ao Eterno. Certamente esta sensação mudou quando milhares se viram lançados nas águas geladas do Atlântico Norte.
É bom saber-se fraco. Faz-nos solidários, despretensiosos. Ao confessarmos nossa fragilidade e vulnerabilidade, podemos ser transparentes, sem nada a esconder. Reconhecer a limitação impede a indolência e nos leva a lutar para superar as dificuldades.
Sempre me fascinou o fato de que quando Deus precisa de pessoas para realizar a Sua Obra, Sua escolha recai nos que demonstram alguma forma de deficiência. Moisés , chamado para liderar um povo, reconhecia-se tímido e com dificuldades para falar em público. Jeremias achava-se imaturo para a carreira proposta. Amós era um “caipira” sem as credenciais formais de um profeta. E Gideão se surpreende ao ser escolhido para livrar Israel: “minha família é a mais pobre de toda a tribo e eu o menor na casa de meu pai” (Jz 6.15). Lutero era um homem atormentado por conflitos interiores, Agostinho também.
Essas fraquezas resultam num senso de insuficiência e numa sede por Deus muito grande. Eles precisam de algo maior, da transcendência em suas vidas. Deus se agrada em mostrar a Sua Salvação ao mundo através da fraqueza de alguns. Ela não é empecilho, mas é o caminho que Deus se utiliza. A Sua Face, Seus desígnios e Seu Amor para com a humanidade, se valem constantemente de nossas debilidades.
Quando Paulo orou para que lhe fosse tirado o espinho na carne, que o humilhava e o debilitava, Deus negou, mas em sua fraqueza logo descobriu uma força que não era dele, e que o sustentaria dali pra frente. Ou seja, a “doença” de Paulo era o canal por onde passaria o amor de Deus. Ele cedeu para Deus.
É comum encontrar nas livrarias literatura do tipo “a arte de vencer”, ou “dez lições como ser um vencedor”, mas não há nada sobre a arte de ceder, a não ser na bíblia. A bíblia, como sempre, vai na contramão do senso comum. O evangelho não pretende me fazer vencedor aos olhos do mundo: Jesus terminou sua vida pendurado numa cruz, todos os seus discípulos – à exceção de João – foram martirizados, e o maior apóstolo dos gentios, Paulo de Tarso terminou sua carreira sozinho numa cela fria, “desamparado por todos” (2Tm 4.16).
Fico atento quando encontro na caminhada da vida, companheiros que estão no limite de suas forças, outros no limiar da sanidade, e ainda outros lidando com a doença e fragilidade física. Sim, fico atento, pois sei que são neles que o Eterno haverá de se mostrar.
Um soldado francês com amnésia por traumas de guerra, após a II Grande Guerra, estava sendo conduzido com outros pacientes para uma clínica em uma cidade no interior da França. O trem em que estavam precisava parar em um vilarejo. Como teriam de esperar, ele pediu permissão para caminhar por aquele lugar, que lhe parecia familiar. Andava um pouco e parava pensativo. Em frente a uma casa, parou, e timidamente bateu à porta. A porta se abre e um homem já idoso olhou surpreso para o jovem à sua frente e de seus lábios brota uma frase: "- Meu filho". O jovem, surpreso, respondeu: "- Meu pai....”. E correu para abraçá-lo. “Pai, agora eu sei quem eu sou!", disse ele chorando.
Deus é aquele que nos desperta de nossa “amnésia” existencial provocada pelos traumas causados pelo pecado, e nos mostra quem somos. Somente com a aceitação de nossa filiação divina é que nossos olhos se abrirão para conhecer os valores que realmente importam na vida. Jesus veio em fraqueza, humildade e mansidão. Não há outra forma legítima de viver. O resto é ilusão.
Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br
O perfil de uma pessoa poderosa e bem sucedida normalmente está associado à sua capacidade de vencer, convencer e impor-se, seja pela beleza, pelo talento ou pela fortuna que detém. Anualmente é publicado o ranking das 100 pessoas mais influentes do mundo. Nele estão presidentes, generais, estrelas do cinema e bilionários. Há algo em comum em todos eles: o poder que exercem e o fascínio que suscitam.
Fecha o pano e corta rápido para a Bíblia. Entramos num mundo paradoxal. Ali não é mais o forte ou o poderoso que conta, mas o pobre, o fraco, o simples. A Bíblia é um livro que contém relatos surpreendentes de lutas e desafios que contam de um lado os fracos e impotentes e de outro lado os detentores de força e poder. É o jovem Davi lutando “mano a mano” com o gigante Golias, é Elias versus 450 profetas de Baal, é o povo de Israel tentando escapar do faraó e seus carros de guerra, ou os primeiros cristãos diante das feras no Coliseu romano. Desde o seu nascimento, Jesus já nos ensinava que há algo de diferente no universo da fé.
A força nunca foi característica da fé cristã, e sim o amor. As bem-aventuranças lançadas por Jesus no sermão do monte apontam justamente para aquilo que é considerado fraqueza diante do mundo: mansos, humildes, perseguidos, promotores da paz.... estes são felizes.
Diariamente constatamos que os poderosos, os ricos, e os que pretensamente possuem domínio da situação, “não precisam” de Deus. Quem teve dinheiro para embarcar no Titanic em sua viagem inaugural, entrou ali na certeza que estava num navio que “nem Deus poderia afundá-lo”. Os auto-suficientes desdenham tudo o que se refere ao Eterno. Certamente esta sensação mudou quando milhares se viram lançados nas águas geladas do Atlântico Norte.
É bom saber-se fraco. Faz-nos solidários, despretensiosos. Ao confessarmos nossa fragilidade e vulnerabilidade, podemos ser transparentes, sem nada a esconder. Reconhecer a limitação impede a indolência e nos leva a lutar para superar as dificuldades.
Sempre me fascinou o fato de que quando Deus precisa de pessoas para realizar a Sua Obra, Sua escolha recai nos que demonstram alguma forma de deficiência. Moisés , chamado para liderar um povo, reconhecia-se tímido e com dificuldades para falar em público. Jeremias achava-se imaturo para a carreira proposta. Amós era um “caipira” sem as credenciais formais de um profeta. E Gideão se surpreende ao ser escolhido para livrar Israel: “minha família é a mais pobre de toda a tribo e eu o menor na casa de meu pai” (Jz 6.15). Lutero era um homem atormentado por conflitos interiores, Agostinho também.
Essas fraquezas resultam num senso de insuficiência e numa sede por Deus muito grande. Eles precisam de algo maior, da transcendência em suas vidas. Deus se agrada em mostrar a Sua Salvação ao mundo através da fraqueza de alguns. Ela não é empecilho, mas é o caminho que Deus se utiliza. A Sua Face, Seus desígnios e Seu Amor para com a humanidade, se valem constantemente de nossas debilidades.
Quando Paulo orou para que lhe fosse tirado o espinho na carne, que o humilhava e o debilitava, Deus negou, mas em sua fraqueza logo descobriu uma força que não era dele, e que o sustentaria dali pra frente. Ou seja, a “doença” de Paulo era o canal por onde passaria o amor de Deus. Ele cedeu para Deus.
É comum encontrar nas livrarias literatura do tipo “a arte de vencer”, ou “dez lições como ser um vencedor”, mas não há nada sobre a arte de ceder, a não ser na bíblia. A bíblia, como sempre, vai na contramão do senso comum. O evangelho não pretende me fazer vencedor aos olhos do mundo: Jesus terminou sua vida pendurado numa cruz, todos os seus discípulos – à exceção de João – foram martirizados, e o maior apóstolo dos gentios, Paulo de Tarso terminou sua carreira sozinho numa cela fria, “desamparado por todos” (2Tm 4.16).
Fico atento quando encontro na caminhada da vida, companheiros que estão no limite de suas forças, outros no limiar da sanidade, e ainda outros lidando com a doença e fragilidade física. Sim, fico atento, pois sei que são neles que o Eterno haverá de se mostrar.
Um soldado francês com amnésia por traumas de guerra, após a II Grande Guerra, estava sendo conduzido com outros pacientes para uma clínica em uma cidade no interior da França. O trem em que estavam precisava parar em um vilarejo. Como teriam de esperar, ele pediu permissão para caminhar por aquele lugar, que lhe parecia familiar. Andava um pouco e parava pensativo. Em frente a uma casa, parou, e timidamente bateu à porta. A porta se abre e um homem já idoso olhou surpreso para o jovem à sua frente e de seus lábios brota uma frase: "- Meu filho". O jovem, surpreso, respondeu: "- Meu pai....”. E correu para abraçá-lo. “Pai, agora eu sei quem eu sou!", disse ele chorando.
Deus é aquele que nos desperta de nossa “amnésia” existencial provocada pelos traumas causados pelo pecado, e nos mostra quem somos. Somente com a aceitação de nossa filiação divina é que nossos olhos se abrirão para conhecer os valores que realmente importam na vida. Jesus veio em fraqueza, humildade e mansidão. Não há outra forma legítima de viver. O resto é ilusão.
Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br