quinta-feira, 6 de agosto de 2009

A cultura do "estar em constante trabalho”: com “a Cabeça” X com “o Braço”


Nem todo ato de estar “em” serviço e/ou trabalho, ou exercendo uma atividade seja ela qual for, é tão digno quanto se apregoa por aí. Tem gente que se gaba e bate no peito: “meu nome é trabalho e sobre nome serviço”; mas qual seria seu "apelido" se perguntássemos para os membros de sua família? Quem sabe seria: ausente!! Dentre outros. Eu mesmo, por esses dias, fui surpreendido por minha esposa me fazendo enxergar essa realidade. Aí eu comecei a refletir melhor acerca disso (...).


A verdade é que muita gente acaba “se atolando” de atividades, para fugir de coisas, de pessoas e compromissos, ou até para se auto-afirmar. A desculpa é sempre a mesma, quase uma estrofe que se repete: “alguém tem que trazer o dinheiro pra casa”. Na verdade, “trabalhar” aqui é sinônimo de uma série de artifícios lógicos e ficticiamente plausíveis, porque se reveste de uma suposta “boa intenção”, que as pessoas usam para se esconderem, e também fugir: do compromisso de amadurecer, de serem curadas, ou da necessidade de liberar perdão, ou fogem de interagir com pessoas, para fugir da realidade da casa, do tipo: “eu vou trabalhar todos os dias, você não percebe o quanto estou cansado? não posso te ajudar com essa criança" - etc.


E especialmente sobre isso, sobre essa realidade, me ocorreu outro fato: há os/as que se acham melhor porque ganham dinheiro “pensando-refletindo”, o mesmo que administrando com destreza, ou na linguagem popular - “usando a cabeça”; etc. Mas há também os que se acham melhor porque utilizam-se mais da força física no trabalho, os braços, as pernas - para conquistar “o pão de cada dia”. Não que eu considere que quem usa mais a força física no trabalho não pensa, e quem usa mais ao raciocínio não tem esforço físico – e desgastes físicos. No entanto, a verdade é que essa divisão imaginária existe, pode ser até ideológica, mas está mais presente no nosso dia a dia do que podemos imaginar, faz parte do nosso cotidiano. Foi o que eu chamei, para fins didáticos, de cultura de trabalhar: com a cabeça X com o braço.



Várias possibilidades de “limites” e “potencial” poderiam ser listadas em uma tabela acerca dessas duas culturas de trabalho, mas minha intenção não é enfatizar as diferenças, e/ou tomar partido, isso as pessoas já fazem naturalmente, quase sempre criticando sua metodologia de trabalho – cultura. Para ilustrar: Outro dia mesmo recebi uma crítica pesada acerca do horário que eu estava acordando com minha esposa – a crítica veio de um senhor de idade cuja profissão exige dele que deite muito cedo e que acorde também muito cedo. Não sei o direito que ele viu de me criticar, e ele nem se informou sobre o horário que fomos dormir - isso é o mais interessante: o certo e o errado estão subordinados à uma série de conceitos egoístas-subjetivos.



Sei que, com o advento da filosofia grega o trabalho físico ficou subordinado aos ofícios dos pensadores - filosofar. Nesse período, quem filosofava - “quem pensa”, é mais valorizado do que quem faz o trabalho físico, quase sempre os escravos. Hoje a sensação que eu tenho é que existe uma intensa rivalidade antropológica, do tipo “guerra fria”, desses segmentos. Ela acontece no âmbito subliminar e seus efeitos podem ser devastadores à psique por exemplo.



Retomo o que eu disse no início desse texto, e faço uma costura com a segunda parte para a elaboração da seguinte pergunta: Seu trabalho e/ou serviço, sua atividade qualquer que seja ela, é legítima? É fruto de um relacionamento saudável de “você com você mesmo?” De você com o seu próximo? e de você com Deus? Mas se for o contrário, com base em que tipo de “joguinho bobo e infantil” você está saindo de casa para trabalhar, ou que seja, está trazendo seu serviço para casa? Se atolando de atividades, que supostamente são boas, mas que na verdade só te escondem de suas responsabilidades? Pense, mude, ainda resta tempo! Sua família te aguarda.



Eu tive que pensar seriamente sobre isso. Fica o convite.
Abraços.