quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

PERGUNTAS HONESTAS PARA CRISTÃOS SINCEROS


Maiêutica [do Gr. maieutikós: parto] era um processo pedagógico utilizado por Sócrates (IV sec. a.C.) que consistia em uma sequência de perguntas e respostas que ele fazia aos seus interlocutores, “parindo” deles idéias complexas a partir de perguntas simples. De igual forma, Jesus, inúmeras vezes também questionou aos seus discípulos e aqueles que o rodeavam, esperando respostas e posicionamentos, e a partir delas anunciava-lhes um novo entendimento.

Mesmo o cristão mais sincero normalmente não se anima a rever conceitos que foram se estratificando na alma durante anos, e permaneceram na forma ainda “deficiente” de um neófito na fé. Talvez por isso o apóstolo Paulo se preocupava tanto em reparar continuamente “as deficiências da fé” que os primeiros cristãos apresentavam (1Ts 3.10).

Elaboramos algumas questões para confrontar convicções e paradigmas que nem sempre resistem a uma acareação mais acurada. Vejamos:


I. É razoavelmente aceito no meio evangélico que o crente enfrente certas enfermidades, como taquicardia, hipertensão ou miopia. Entretanto, não se admite que algumas debilidades venham atingir a sua mente, o que gera uma grande resistência caso tenha de fazer terapia ou tomar drogas psiquiátricas. Por que só o corpo sofreria as conseqüências de um mundo decaído, mas a mente não?

II. Muito cristão usa e abusa do bordão “foi da vontade de Deus” para explicar mortes que ocorrem pelo descaso dos governantes e pelas injustiças sociais. Somente em nosso país cerca de 102 mil crianças morrem por ano de doenças ligadas à desnutrição. Faz parte do plano divino que elas morram no Brasil, mas não na Suécia?

III. “Nenhum pardal cai no chão sem o consentimento do Pai”, diz a bíblia. Ainda assim os pardais caem no chão e morrem. Proteção divina significa salvo conduto e a certeza que nenhum mal acontecerá a quem tem fé? O que significa para você ser protegido de Deus?

IV. Por que os pecados relacionados à sexualidade causam aos cristãos reação muito maior que a vaidade, a inveja, a maledicência e a falta de amor? Você se sentiria mais à vontade ouvindo o sermão de um homem sabidamente orgulhoso ou de um adúltero que se confessa arrependido?

V. Por que alguns segmentos cristãos julgam com severidade os apreciadores de um bom vinho, mas se calam contra os que se empanturram de comidas gordurosas, frituras e carnes vermelhas, e tomam bebidas fabricadas com corantes, acidulantes, aromatizantes e conservantes, tudo isso reconhecidamente nocivo à saúde? Não é contraditório?

VI. Se alguns pastores modernos realizam de fato inúmeros milagres na frente das câmeras, porque eles não separam um dia por semana do seu tempo para fazer a alegria de centenas de pacientes nos corredores do Hospital das Clínicas ou então às crianças internadas no Hospital do Câncer?

VII. Se a teologia da prosperidade realmente “funciona”, porque os que promovem tais coisas não fazem um bem para a humanidade instalando seus ministérios nos piores lugares do planeta, tais como a Nigéria, o Haiti ou o Sudão? Por que ela não funciona no vale do Jequitinhonha, a região mais pobre do Brasil?

VIII. Depois de mais de duas décadas de igrejas pregando a prosperidade e atingindo milhões de pessoas nas periferias das grandes cidades, já não era tempo do IBGE ter constatado que os bolsões de miséria na periferia desapareceram, e que bairros de classe média surgiram no seu lugar?

IX. Se Jesus ama as criancinhas, colocando-as como nosso modelo e afirmando que é delas o Reino dos Céus – para desgosto dos discípulos que queriam afastá-las de Sua presença – porque hoje, na prática, as igrejas impedem a efetiva inserção delas no seio das comunidades? Colocamos mais em prática a orientação de Jesus ou a repreensão dos discípulos?

X. Jesus aceitou de bom grado o gesto que uma prostituta lhe fez, chorando muito e adorando-o, causando espanto a todos os convidados que estavam à mesa. Que tipo de pessoas ou grupos, que se derramassem hoje perante Cristo, lhe causaria grande indignação?

XI. Por que Jesus, ao ressuscitar, não foi direto ao palácio de Herodes e de Pilatos, mostrando-se a eles, para causar assombro e admiração aos formadores de opinião da época? Dar visibilidade à fé com marchas e shows faria parte dos propósitos de Jesus hoje?

XII. Por que damos tanta importância aos empreendedores, vitoriosos, e famosos, e mal reparamos nos simples e desprovidos de atrativos, se Jesus falou que aquilo que é “elevado entre os homens é abominação diante de Deus”? Preferimos as coisas humildes ou as que exercem fascínio?

XIII. Se Jesus pede para cada um tomar a sua cruz e segui-lo, por que tanta gente vai atrás Dele pedindo facilidades na vida?

XIV. O que você acha de deixar noventa e nove ovelhas no aprisco para ir atrás de uma rebelde que se perdeu? Você concorda com essa aritmética divina ou é adepto do pragmatismo que privilegia as multidões?


As respostas a todas estas perguntas estão nas Escrituras. Confronte o que você “sabe, pensa ou acha” com a Palavra. Busque-a, leia com honestidade, esqueça tudo o que já ouviu de terceiros não confiáveis, peça orientação ao Espírito Santo e sabedoria que vem do Alto. Amém!


Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br