E lá estavam eles, porém, um palestrante em específico me chamou muito a atenção; ele ministrava a um grupo de pessoas, para cristãos [será? Talvez alguns poucos dentre tantos que estavam presente]. Com graça e humanidade, e muita simplicidade, ele falou do direito à vida, não sem citar a “sua-nossa-senhora” [dependendo da conotação que o termo assume]. Notei que algo diferente [ou que, pelo menos deveria ser diferente] estava acontecendo.
E veio o cafezinho ... ele, o ilustre, vagou solitário por entre a “multidão de fiéis”, pessoas interessadas muito mais nas tantas qualidades de bolachas que estavam na mesa, mas eram também pessoas compenetradas em seus próprios grupos, aqueles “grupos afetivos”, onde todos são iguais, ou pelo menos se parecem em muita coisa. Ele não foi acolhido em nenhuma daquelas tantas “ilhas-humanas”, aglomerados de espelhos, de frente uns para os outros. Nem mesmo naquela seleta ilha ele foi acolhido, “dos-da-mesa” de palestrantes, na qual ele havia feito parte minutos atrás.
Eu vi um senhor maduro, de cabelos alvacentos, muita experiência de vida, com histórias para contar. Falo daquelas, fruto de suas tantas missões junto aos índios, aos acampamentos de militantes pela reforma agrária. E nós? Como nos posicionamos? Quando já bastava não ter abraçado com afeto, criticaram; e olha que, para muitos, não foi difícil atirar “aquela primeira pedra”, daquelas deixadas pelos acusadores da mulher adúltera em João 8.1-11, quando interpelados por Jesus. Sobre o episódio bíblico, já sabemos que era uma classe de pessoas que se pretendiam salvas, moralistas doutores da lei, aqueles salvos pela lei atemporal, lei que subjugava inclusive a vida.
Na “conferência” preferiram utilizar-se de reducionismos ao se dirigirem àquele senhor, rotularam ele, reduziram ele ao seu título de "padre", ao invés de chamá-lo pelo seu nome, trataram-no por: "um católico, um qualquer". Aqui a palavra “padre” assumiu significado quase que pejorativo na boca dos/as colegas, e a maioria fez assim. Registrou-se na memória, humana [será?], mas também na das máquinas digitais, em fotos e câmeras: o desrespeito ao ser humano, àquele que estava bem ali na nossa frente, que generosamente nos ensinava ao falar de humanização.
Hoje, mais que nunca, lembramos das pessoas pelos seus muitos títulos, não pelo fato de seu um ser humano, mas pelo que ele/a adquiriu; respeito devido? mérito reconhecido? Não ! Não ... nesse caso era visível, traduzia-se em radical ato de “defesa” a uma determinada “bandeira denominacional”. Patriotismo ou pertença? Não! Não ... segregacionismo e individualismo, exclusivismo egoísta.
Caros colegas, amigos/as, antes de sermos: homens ou mulheres, dessa ou daquela denominação, cristãos ou não-cristãos, étnicos, culturais, políticos, somos seres humanos. Nada e nem ninguém pode subjugar e reprimir a vida. Na minha opinião, deve ser considerado como legítimo cada instinto humano encarnado naquele/a que está no caminho da busca por sobrevivência, no estágio: “humanizando-se” [todos estamos nesse]. Lembremos que o nosso Deus já permitiu, antes mesmo que existíssemos: a vida. Ele, mediante sua graça, disse sim à humanidade, uma parte-parcela em meio a tantas outras formas de vida; tudo proveniente de um mesmo ato criador de Deus.