quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Pensamentos: Sobre uma teologia que não cabe no Evangelho; que não aponta para Jesus o Cristo!


Por Rev. Antônio Luiz de Freitas Junior
Pastor da Igreja Metodista no Alto Independência
Petrópolis,01 de setembro de 2012

Estou cansado do “cristianismo enlatado” de alguns americanos e europeus divulgado e reproduzido hoje em/por nossas Igrejas. Mas os importados como verdades absolutas são os que mais me incomodam enquanto pastor; alguma coisa “de lá” de fato são críticas edificantes quanto ao atual modelo de ser Igreja, outras me enoja. A impressão que tenho é que queremos além do idioma, tênis e roupas caras, hipervalorizar também a teologia de um contexto que não é nem de longe parecido com o contexto das Igrejas no Brasil. Enaltecendo um e amortizando o outro. Na verdade, estou cansado de parte do cristianismo divulgado no rádio, na T.V., Internet; etc. Esses que o povo vai aplaudindo e usando como verdade absoluta e afiada, setas, como indireta contra seus líderes, seus pastores. Pior ainda é quando os pastores valem-se desse material para exortar ou apontar situações no seu rebanho. Brasileiros, cristãos, utilizando-se desses “enlatados [cheio de conservas]” contra seu próprio corpo [sua própria Igreja].

Um evangelho com “e” minúsculo que só é de “Boas Novas” para quem “já está salvo”, ou se “consagrando”; que ao meu ver: é favorecedor da permanência de hipócritas e fariseus no Templo do Altíssimo – nós mesmos. Para os enfermos, viciados e ladrões, assassinos, prostitutas, etc (perdidos – verdadeiros alvos de Jesus), em nada acrescenta; antes os empurra mais rápido ainda ao “abismo de fogo”. Fábrica de crentes seduzidos pela instituição, mas não gera discípulos apaixonados por Jesus! Nos esquecemos que nas palavras do próprio Jesus: “Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes. Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero e não holocaustos; pois não vim chamar justos, e sim pecadores [ao arrependimento]” (Mt 9.12-13; Mc 2.17; Lc 5.31).

De fato não devemos acolher e incentivar o erro das pessoas, mas é impossível acolher uma pessoa sem acolher com ela também os seus erros – no início de qualquer caminhada abraçamos o todo de cada pessoa. Amemos as pessoas, e preguemos o Evangelho de Cristo, contra o pecado e favoráveis à santidade, que dos erros delas cuida Deus. Acorda Igreja, estamos confundindo salvação, e santidade, com o ser Igreja. Coisas ligadas uma à outra, mas distintas entre si! “Igreja” nunca foi projetada por Deus para ser lugar dos super-santos, e sim dos que estão em processo de santificação. Se jogamos fora do nosso espaço de convivência os “fracos”, os pecadores, que sentido teria ser Igreja? Um clube moderno de pessoas salvas - melhoradas?

Esse evangelho de “por para fora o inimigo - pessoas” - não é em nada parecido com o Evangelho que Jesus ensinou. É sim um pseudo-evangelho nascido do gorfo de “nerds”, de “playboysinhos e patricinhas de Jesus”, ou de “maduros” que pelo menos são bons oradores, sentados em seus escritórios bancados pelo Papai. Falam sobre “(1) um tipo de evangelismo ideal”, sobre “a santidade”, sobre “a separação da Igreja com relação ao mundo”, sobre “casamento”, sobre suas preocupações de que “o mundo está invadindo a Igreja”, sobre a necessidade de a “Igreja contagiar o mundo”. Fico imaginando esses “evangelistas” míopes anunciando à Cristo ressuscitado em favelas por exemplo; como seria? Panfletinhos, Cestas básicas, Alto Falantes? Pregariam contra seus bailes, contra seus hábitos, ou suas roupas? Seus contextos? Quais seriam seus meios? [Risos] Chega ser hilário! E se fosse para a “nata da sociedade?” Como seria? Rebuscando a linguagem? “Livrinhos mais elaborados”, Coffe Breaks? [Risos].

Estratégias ... estratégias ... e mais estratégias ... Chego à temer por essa disputinha de contextos; porque o que está por detrás dessa discussão não é de fato Cristo ressuscitado, perdoador de pecados, amante de sua Criação; nem muito menos o tema da verdadeira santidade;  e sim crítica de modelos; e pior, tem a ver com a máxima: eu sou bom e santo, você é mau e profano! Modelos tem a ver com contextos; o problema é que alguns se esquecem que Deus não unge modelos, Ele reconcilia, busca, unge pessoas!

Nesse sentido, sua teologia, sua aspiração tem que ser necessariamente, antes de qualquer coisa, apaixonada por alcançar e contagiar pessoas. Devemos nos reapaixonar por isso! Algo que só acontece quando caminhamos com elas no contexto delas. Não devemos negociar princípios, isso é fato e eu mesmo ministro sobre isso; mas Cristo está voltando, e nessa atura do campeonato você vem falar sobre qual estratégia serve e qual não serve? Sobre qualidade e quantidade? Sobre qual Igreja é mais santa? Frases do tipo: “Porque eu não faço aqui, ou porque eu não gosto, ou porque não dá certo para mim, ou o papai e a mamãe me ensinou que não devo; a estratégia de vocês não é somente errada, ela é do diabo”. Quer dizer que o que outro faz [diferente de você] – é o pecado!. Isso limita em muito a ação de Deus na sua própria vida. Leiam o Ap. Paulo aos Coríntios e aos Colossenses. Esse sim foi exímio evangelista e plantador de Igrejas.

(1Co 9.19-23) Porque, sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível. Procedi, para com os judeus, como judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei. Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei. Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns. Tudo faço por causa do evangelho, com o fim de me tornar cooperador com ele.

(Col 2.16-23) Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo. Ninguém se faça árbitro contra vós outros, pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se em visões, enfatuado, sem motivo algum, na sua mente carnal, e não retendo a cabeça, da qual todo o corpo, suprido e bem vinculado por suas juntas e ligamentos, cresce o crescimento que procede de Deus. Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem. Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade.

Reafirmo que princípios nunca devem ser negociados, e que a mídia deve ser apreciada como mecanismo de evangelização [eu mesmo me utilizo com certo afinco dessas ferramentas]; no entanto, voltemos à Bíblia! Raízes Igreja, raízes povo de Deus. Mas especialmente voltemos à Cristo e aos dois maiores mandamentos deixados por Ele mesmo: “amar à Deus sobre todas as coisas e ao próximo como eu amo a mim mesmo” (Mc 12.33).

Chega de discussões e eventos sem paixão e consequentemente sem frutos; chega de ser complacente com a esterilidade da terra, e naturalmente cúmplices de fariseus que se usam do discurso sedutor e acusações bem elaboradas como esconderijo de sua falta de frutos, fraquezas, e ausência de paixão; chega de crítica por crítica; chega de meninices. Porque para seguir à Cristo o “eu e com ele meus próprios conceitos” têm necessariamente que morrer; veja:

(Gl 2.20) – “logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim”.

 E eu? Subindo na cruz – ou melhor, carregando a minha;
Shalom.