domingo, 22 de março de 2009

Panorama exegético de 1 Co 1.


Leia o texto biblico, para enteder o texto que segue.
Era provável que Cloé fosse efésia e não coríntia. Não se sabe nem mesmo se ela era cristã, embora isso seja provável[1]. “Os de Cloé”, portadores da notícia a Paulo, conforme nos registra o texto bíblico, provavelmente são cristãos que trabalham como escravos libertos para essa “mulher de negócios”. A casa de Cloé poderia ser tanto em Éfeso quanto em Corinto, entretanto é certo que, nesse trânsito de negócios, Paulo recebe a notícia. Os de Cloé podem representar o setor de menor status social na congregação[2].

Em Corinto, no período em que Paulo escreve a carta, estava surgindo um culto às personalidades centralizado em três figuras importantes da Igreja primitiva. No entanto, é provável que tais cultos não contavam com o apoio desses pregadores. Os possíveis motivos dos conflitos, considerando os temas que aparecem na carta de Paulo, são o tema do batismo e divergências quanto à compreensão do Cristo da Fé e o Jesus Histórico. Também para Gottfried Brakemeier, a origem desses grupos de Corinto deve ser vista em conexão com determinada compreensão do batismo, e ele acrescenta: provavelmente, a comunidade de Corinto entende o batismo como rito de iniciação das religiões de mistério, em que passa a existir forte relação entre o batizando e o batizado, o que constituía forte laço entre um e outro[3]. Nesse processo, é interessante notarmos que Paulo não tenta reprimir a diversidade de opiniões, no entanto, sua crítica é ao partidarismo – rivalidade entre grupos fechados em si mesmos. Para David Prior, Paulo preferia a harmonia e não o uníssono[4].

Segundo concepção de Irene Foulkes, a congregação de Corinto, na verdade, evidencia a influência de seu contexto social - multicultural; e as contendas na congregação vão tomando a forma de grupos rivais. Ou seja, o que era uma contenda se torna uma rivalidade. Os seguidores de Apolo se inclinariam pela sabedoria filosófica, visto que esse eloquente pregador era de tradição Alexandrina. Paulo não vê Apolo como rival, antes o estima como colega (1Co 3.5-9; 4.6; 16.12). Cefas provavelmente reflita o apego à tradição judia; já o grupo de Cristo, em contraste com os grupos anteriores, prefere ficar fora desse debate, prescindindo de determinar uma linha teológica nos moldes idealistas. Para eles, uma relação direta com Cristo é que determina os horizontes de compreensão[5].

Cada grupo tinha o seu próprio lema. Segundo David Prior[6]:

a) Paulo – 1 Co 4.15 – Pessoas seguiam Paulo por se sentirem geradas por ele. Ele as havia levado à fé – estando em dívida eterna para com ele. É quase certo que o partido de Paulo surgiu em reação aos outros grupos formados em Corinto em torno das outras pessoas mencionadas aqui. É provável que antes de Apolo e Cefas todos apoiassem Paulo.

b) Apolo – At 18.24-19.7 - Apolo era de Alexandria (Egito) – cidade universitária muito respeitada e criativa do mediterrâneo. Quando Apolo chega a Corinto com sua capacidade intelectual, sua eloquência, sua capacidade de expor as escrituras do AT, seus ensinamentos sobre Jesus, seu entusiasmo fervoroso e sua poderosa confrontação pública com os judeus, sem dúvida começou a atrair discípulos para si. Alguns acham que Apolo foi involuntariamente responsável pela criação de uma espécie de elite intelectual na Igreja de Corinto. Paulo não tinha tanta eloquência quanto Apolo.

c) O partido de Pedro/Cefas - representa o cristianismo mais judaico. Talvez Cefas tivesse visitado Corinto, o que explicaria a origem de tal movimento; ou quem sabe algum de seus seguidores. Outra possibilidade é a aceitação por parte da comunidade cristã da figura de Cefas, em Jerusalém, como um dos grandes líderes da igreja. Os desse partido eram de tendências legalistas.

d) O partido de Cristo – “todo culto aos heróis é anátema. Ninguém precisa de um líder, a menos que esse líder seja Cristo”. Esse grupo representa o que hoje caracterizaria experiências fortes e subjetivas. Quem sabe esse grupo um dos prováveis fomentadores do que posteriormente se transformou no movimento gnóstico do final do primeiro século. Era uma elite super espiritual na Igreja cristã. Sugere-se que esse grupo é um reflexo das religiões de mistério de Corinto. Para Gottfried Brakemeier, o grupo de Cristo viu no evangelho “uma sabedoria” e não uma proclamação do Cristo crucificado[7].


Para Irene Foulkes, os dados bíblicos e históricos registrados nos mostram que o próprio Paulo não goza de plena aceitação na Igreja que havia fundado.


[1] MORRIS, Leon. I Coríntios: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1981. 31p.

[2] FOULKES, Irene. Problemas Pastorales em Corinto: Comentário exegético-pastoral a 1 Coríntios. Costa Rica:DEI, 1996.p.71.

[3] BRAKEMEIER, Gottfried. A primeira carta do apóstolo Paulo à comunidade de Corinto: um comentário exegético-teológico. São Leopoldo: Sinodal: EST, 2008. 25-28pp.

[4] PRIOR, David. A mensagem de 1 Corintios: a vida na Igreja local. Tradução de Yolanda Mirdsa Krievin. 2. ed. São Paulo: ABU, 2001.29-36pp.

[5] FOULKES, Irene. Problemas Pastorales em Corinto: Comentário exegético-pastoral a 1 Coríntios. Costa Rica:DEI, 1996. 78-79pp.

[6] PRIOR, David. A mensagem de 1 Corintios: a vida na Igreja local. Tradução de Yolanda Mirdsa Krievin. 2. ed. São Paulo: ABU, 2001.29-36pp.

[7] BRAKEMEIER, Gottfried. A primeira carta do apóstolo Paulo à comunidade de Corinto: um comentário exegético-teológico. São Leopoldo: Sinodal: EST, 2008.25-28pp.