Por: Rev. Antônio Luiz de Freitas
“Porque por amor de ti tenho suportado afrontas; a confusão me cobriu o rosto. Tornei-me como um estranho para os meus irmãos, e um desconhecido para os filhos de minha mãe.
Pois o zelo da tua casa me devorou, e as afrontas dos que te afrontam caíram sobre mim” (Salmo 69. 7-9).
Não é necessário, em qualquer meio relacionado ao povo evangélico em nossos dias, um acurado estudo sobre conduta ética ou moral para sermos acometidos de uma dispepsia religiosa e/ou teológica. Os próprios meios de comunicação em massa nos poupam deste trabalho, pois nos oferecem diariamente um farto cardápio. Não dá nem para reclamar da variedade das iguarias, porém, elas corroem como câncer e têm a cada dia vacinado um grande número de pessoas contra o genuíno evangelho que salva e que liberta. Torna-se cada vez mais difícil ser um “Pastor aprovado diante de Deus” nesta geração consumista que vai continuar sempre precisando de algo mais. Escândalos sobre escândalos se multiplicam e trazem à tona todo o excremento gerado pelos ventres insaciáveis dos modernos “mercadores gospel” para quem o dinheiro nunca basta e que, para consegui-lo, se utilizam de todos os meios possíveis. Eles estão por toda parte e podem ser encontrados nas versões: teológica, religiosa ou política. Alguém menos avisado poderia até lançar toda a culpa nos últimos, porém, penso que estes só refletem aquilo que acostumaram a ouvir de seus líderes, somando-se a isto a falta de escrúpulo da própria classe. Diante deste quadro funesto faltam-me palavras, mas não vou mesmo precisar de muitas; tampouco será necessário recorrer à verborréia latente do meio para exprimir toda minha decepção. Bastam-me apenas duas palavras: “Estou cansado!”. Li, há algum tempo atrás, um artigo do Rev. Ricardo Gondim com este mesmo título e é exatamente assim que me sinto: Cansado, frustrado e dispéptico! Sinto saudades do meu tempo de criança e adolescência, quando o pastor visitava nossa casa e meus pais nos ensinavam que deveríamos manter silêncio para ouvirmos tudo o que ele tinha para dizer. Era como se o próprio anjo de Deus tivesse chegado à nossa casa. Até os vizinhos que não eram crentes o honravam. A figura do pastor era respeitada e reverenciada, pois a isso fazia jus. Esta foi a maior razão do despertar em mim a vocação pelo ministério pastoral. Sinto saudade das máquinas com as quais lidei por toda minha vida, pois elas nunca me decepcionaram; nunca me injuriaram nem tramaram contra mim. Nunca tive que confrontá-las por mau testemunho, por obstinação em continuar pecando, nem por reincidência de desvio de conduta. Nunca vi nenhuma carta do SPC ameaçando alguma delas, nem soube de alguma que tenha adulterado, caluniado às outras, boicotado a programação da empresa, mas me entristeço ao deparar-me com estas coisas dentro da Igreja, “Corpo de Cristo”. Diferentemente das pessoas, elas poderiam até estar sujas, mas não rejeitavam quem poderia limpa-las nem se voltavam contra quem se dispunha fazê-lo. Um único procedimento era suficiente para a manutenção de todas as que eram do mesmo modelo. Acho que é exatamente aí que reside um dos pontos cruciais de todo este contexto: Os crentes de nossa geração não estão sendo mais gerados do mesmo Modelo; Jesus. Antes, se gabam de ser “um dos doze do Ap. X, Y ou Z. Não estou preocupado em que ordem me colocam na escala em relação ao bispo de minha região – pois ele, apesar de toda autoridade da qual se encontra investido e do respeito que lhe devo é, assim como eu, tão carente e dependente da graça e da misericórdia de Deus - mas se de fato meu nome está registrado no “Livro da Vida”.
Desde o início desta semana nosso país tem assistido exaustivamente pelos telejornais a notícia de um fato que foi apenas mais um dos muitos que já ocorreram e dos que continuarão acontecendo até a volta do Senhor Jesus. Políticos da chamada “Bancada Evangélica” apanhados no mais nefando ato de corrupção recebendo propina. E o que mais me chocou foi a ousadia de orar agradecendo (a Deus?) pela vida daquele que fazia chegar o suborno até eles, pedindo que aquele dinheiro desse a eles a vitória sobre seus inimigos políticos, evocando sobre eles o Sangue de Jesus. O que devemos esperar destes a quem delegamos a tarefa de nos representar quando este é o exacerbado testemunho que apresentam? Se os “evangélicos”, de quem no mínimo deveríamos esperar o respeito aos atributos inerentes ao que nos identifica como tal, agem desta forma o que devemos esperar dos outros?
Tenho evitado, sempre que posso, me identificar como evangélico. Nunca me identifico como pastor ao preencher algum cadastro porque corro o risco de não tê-lo aprovado. Prefiro deixar que as pessoas descubram o que sou por elas mesmas; não por aquilo que digo ser, mas pelo que de fato faço. Sinto vergonha de ser comparado a eles! Temos, nas palavras do Senhor Jesus, quando disse a seus discípulos que eles eram o sal da terra e a luz do mundo, uma grande lição: A luz e o sal não emitem nenhum som, mas é impossível não notar sua presença. Creio que nunca houve em tempo nenhum tanta sujeira manifesta no meio do chamado “Povo de Deus”. Que tristeza! Uma verdadeira lástima!
Estes fatos são apenas a práxis do discurso gospel alienado e triunfalista que está sendo pregado nas “igrejas modernas”, destituído da cruz de Cristo, do autoconhecimento de pecado e do arrependimento, do novo nascimento e da santidade bíblica.
Não é este o contexto do “Posso todas as coisas naquele que fortalece” (Cf. Fp 4. 13) que escreveu o “antigo” apóstolo Paulo; antes, é totalmente o oposto do pregam os “modernos” para justificar seus abomináveis intentos. Sua afirmação apenas expressa sua disposição em continuar servindo ao Senhor mesmo nas circunstâncias adversas que o acometeram. Diante destas coisas fico imaginando Satanás diante do trono de Deus apontando seu dedo imundo para a terra perguntando: “Foi por aqueles que Você entregou seu único Filho para morrer naquela cruz...?” (Cf. Ap 12. 10).
Gosto de meditar nas palavras da terceira estrofe do Hino 203 HE: “Desperta, Igreja! E vem o teu dever cumprir! A todos faze a Cristo conhecer; A tua mão estende com paciente amor; Não deixes pecador nenhum se vá perder”. Ao mesmo tempo fico preocupado ao ver o povo cantando sem ao menos pensar no que está expressando: “Satanás debaixo do meu pé” quando, na verdade, podemos vê-lo claramente nos ombros e na mente das pessoas; “Deus sabe que pode contar comigo” enquanto é quase necessário orar para que Deus levante outras jumentas que falem, a exemplo da de Balaão; As pessoas cantam a plenos pulmões: “Abro mão dos meus sonhos e das minhas vontades...”, enquanto vemos a rebeldia, o egoísmo, o orgulho e a vaidade se sobressaindo; “Eu não preciso ser reconhecido por ninguém...”, mas na verdade isto é tudo o que eu quero!
Hoje, no culto doméstico, assentado com minha família à mesa na hora do almoço, enquanto falávamos de frases notáveis esculpidas nas lápides de alguns finados, disse aos meus filhos que seria uma grande honra para qualquer mortal ter em seu túmulo a expressão bíblica compreendida entre os versículos 6 e 8 do prólogo de João: “Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João. Este veio como testemunha, a fim de dar testemunho da luz, para que todos cressem por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz”. Oxalá possa eu conquistar esta bênção, embora reconheça que no momento esteja mais para Jeremias que para João.
Encerro minha catarse tomando emprestadas as palavras do profeta Isaias: “O Senhor chamou-me desde o ventre, desde as entranhas de minha mãe fez menção do meu nome e fez a minha boca qual espada aguda; na sombra da sua mão me escondeu; fez-me qual uma flecha polida, e me encobriu na sua aljava; e me disse: Tu és meu servo; és Israel, por quem hei de ser glorificado. Mas eu disse: Debalde tenho trabalhado, inútil e vãmente gastei as minhas forças; todavia o meu direito está perante o Senhor, e o meu galardão perante o meu Deus” (Is 49. 1-4).
Resguardadas as devidas proporções, é exatamente assim que me sinto! Oro para que o Senhor tenha misericórdia de nós.
Um grande abraço a todos os que, sinceramente, amam e aguardam a volta de Nosso Senhor e Salvador Jesus. MARANATHA!!!
Do menor de todos os servos do Senhor, pela sua maravilhosa graça e sua grande misericórdia para comigo e para sua honra e glória, sou para servir,
Pr. Antônio Luiz de Freitas
Igreja Metodista em Santa CruzVolta Redonda, 03 de dezembro de 2009