quarta-feira, 24 de junho de 2009

PROS INFERNOS com as máquinas ...

Hoje, depois de muito tempo, eu peguei num lápis para escrever qualquer coisa que me leve para longe da tela do computador. Na tela de um computador eu me envolvo, me prendo, e quando me apercebo ... perdido ... em profundo ÊXTASE VIRTUAL ... vejo que aos poucos fui desfalecendo. A vida foi ficando ... ficando. As amizades ficaram frias; mas hoje é mais coletivo? eu diria que sim, mas um coletivismo solitário - cadê todo mundo? SUMIU ! Sumiu todo mundo daqui da rua, daqui do café.

O tempo passa e os sonhos ficam ali, no quadrado do monitor, nos quadrados de cada uma das teclas, na 'CPU' - sou apêndice de máquina, sendo enquadrado.

Com o lápis eu me liberto. A imaginação me leva para longe ... posso até pintar sentindo o peso do punho, e as articulações do braço ... braço que abraçou ... braço que ninou. O cérebro grita: LIBERDADE !! Aí então ... pintei crianças na rua, crianças inocentes jogando bola e andando de bicicleta ... brincando de polícia e ladrão .. "nossa quanta gritaria" ... CRIANÇAS, belas ... encantadoras crianças. Pintei as favelas do Rio de Janeiro e de São Paulo, com mais cores, o preto junto com o branco, o branco junto com o preto, o branco-preto e o preto-branco, ambos uma só pessoa, um só ser.

Sobre as cidades ... nessas eu pintei mais amor, menos máquinas, menos carros nas ruas nos apertando nas calçadas, no meio da rua colori as crianças, e os carros pendurei cada um deles nas estrelas do céu, bem alto, mais longe ... para sobrar mais espaço: NÃO !! ELES NÃO VÃO CAIR de volta!!

Puxa vida .... acabei quebrando a ponta do lápis ... isso não é o mesmo que estar desconectado da internete, mesmo assim vou parando por aqui, vou apontar sim, e começar tudo mais uma vez. E escrever mais de "próprio punho", assinar com o dedão cheio de tinta, amar mais, ser mais doação, menos extensão de máquina. Quero ser mais calor ... mais livre dos tantos e-mail's rotineiros ... quero ser mais corpo, mais eu - GENTE - que computador.

Com o que me resta de chama ... de ponta ... do lápis ... vou apontar - para começar de novo; mas antes .. PROS INFERNOS COM AS MÁQUINAS!!!




segunda-feira, 22 de junho de 2009

BIG brother, BRASIL?

Este artigo é parte de um texto que eu escrevi para um jornal da cidade de Cunha/SP.

As mídias trabalham com a “virtualidade” de cada fato, e se tratando de mídia televisiva, vários/as autores/as elaboram suas teses. Concordamos que hoje, a imagem editada (sempre escolhida a partir de um ideal subjetivo), vale muito mais do que o próprio fato em si. É a fascinação pela espetacularização do fato, que faz com que a “cena original” e seu significado objetivo sejam desprezados.

O fenômeno é complexo, mas, nunca na história a televisão foi tão "consumida" também para entretenimento. Informação + entretenimento + espetacularidade, nos embalos hodiernos, sob a égide do mercado, é uma coalizão com desdobramentos intensos e profundos: os feitos são maiores do que podemos registrar.

Surge então a problemática: o que significa “para a”, e “na” sociedade, o programa "BBB" exibido pela Rede Globo de Televisão, que tem o poder de mobilizar alto índice de telespectadores quando vai ao ar? Estamos falando do Big Brother Brasil.

Sobre isso, gostaria de pontuar duas coisas importantes:

1) O cotidiano é exacerbadamente mostrado como possibilidade de mercado. É interessante como o “BBB” tem o poder de atrair as atenções alterando profundamente nosso senso de privacidade. Isso não é gratuito. Somos estimulados a “bisbilhotar” a rotina de pessoas comuns, mas que são “celebratizadas” pela ênfase dada na estética dos “corpos que interagem”. Estudos comprovam que a “nudez” total, mais ainda a parcial, atrai os olhares de forma quase que hipnótica, pois estimulam instintos primitivos em nós. Apelos eróticos não faltam no “BBB”. Mas, qual é a intenção? Vender! Cada vez que, aparentemente sem propósito, ou que seja conscientemente em busca de diversão, ligamos a TV para assistirmos o “BBB”, estamos “consumindo” e conseqüentemente gerando lucro.

2) Manipulação à vista! A neutralidade não existe, há quem diga que ela é um mito. Fico estarrecido ao ver como o “jogo dinâmico” das câmeras; e a seleção de cada imagem, concernente o que vai ao ar naquele determinado momento; e até como as intervenções de Pedro Bial, são elementos concretos que têm o poder real de induzir à entrega do prêmio final: R$ 1 milhão. Temos a sensação de que estamos vendo o todo das histórias de cada pessoa, mas isso não é verdade. Estamos vendo o que “a equipe” que comanda câmeras e microfones quer que nós vejamos e ouçamos. Ou seja, vamos interagindo e votando conforme constantes induções, como que orientados/as pelo próprio programa a quem devemos premiar na grande final. Nossa empatia por cada participante é, quase que totalmente determinada e caracterizada, na medida em que câmeras e microfones nos servem aparentemente sem segundas intenções.

Não quero generalizar e divagar, mas objetividade e clareza são termos que ficam comprometidos num texto que precisa prezar pelos limites técnicos do artigo. No entanto, chamo sua atenção para o fato de que quase sempre, estamos sob a influência das tramas agradáveis, mas apelativas, estabelecidas nesse reality show que tem o aparente objetivo de ser um “magazine virtual”. Nós pagamos isso à duras penas, e em vários níveis. Olhe para dentro de sua própria casa, e perceba você mesmo/a como sua família reage à esses estímulos variados, e até reflete a assimilação de cada um deles no cotidiano.

Com o advento da TV nossas estruturas familiares foram profundamente alteradas, e mais recentemente, desde o primeiro Big Brother Brasil, nós já não somos mais os/as mesmos/as.

Abraços a tod@s.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

ENXERGANDO PESSOAS INVISÍVEIS

Soube recentemente de um psicólogo que “virou” gari durante oito anos e varreu as ruas da maior universidade do país para concluir sua tese de mestrado sobre “invisibilidade pública”. Em suas observações constatou que a maioria dos trabalhadores braçais são “seres invisíveis”, ou seja, a percepção humana do outro não os alcança.

Sua existência foi ignorada pelos seus amigos e professores, que esbarravam por ele, sem se desculpar, como se tivessem esbarrado num poste, pois não o “viam”. Uma vez precisou entrar no prédio onde estudava, com uniforme de gari, passou na frente de todos seus conhecidos, mas ninguém o enxergou. Ficou atordoado pela sua “não existência”, e chorava quando voltava para o seu mundo real. Descobriu que um simples “bom dia”, que nunca recebeu como gari, pode representar uma lufada de vida e de esperança na vida de uma pessoa.


Confesso que a experiência desse homem tocou em minha alma, pois me levou a enxergar minhas doenças sociais. Também sou igual aos seus professores e amigos, que têm um olhar seletivo. Mas com um agravante: sou um homem de fé (que seguramente tem muito a aprender).


Ser ignorado talvez seja a pior sensação que existe para um ser humano. Não é o ódio o contrário do amor, mas a indiferença. Nossos olhos estão acostumados a enxergar o belo, a valorizar o esteticamente apresentável, a granjear amigos que apresentam qualidades morais adequadas, que sejam limpos, decentes, bem casados, pessoas bem resolvidas, que professem nossa fé e nos façam bem.... afinal, não queremos manchar nossa reputação.


Duvido que reconheceríamos Jesus como Enviado de Deus, se o víssemos andando pelas estradas poeirentas da Judéia, pedindo um copo d’água à beira de um poço. Afinal, Isaías diz que ele “não tinha aparência nem formosura; olhamo-lo mas nenhuma beleza havia que nos agradasse, era desprezado e o mais rejeitado entre os homens” (Is 53.2-4).


Duvido que mesmo professando uma fé solidária daríamos atenção a um bando de leprosos clamando misericórdia, a uma samaritana de reputação duvidosa, a uma estrangeira com uma filhinha endemoninhada, a uma adúltera pega em flagrante, ou a um cego pedindo esmola à beira da estrada.... Não, nossos olhos se recusam enxergar essas coisas: preferimos ver pessoas que têm vitórias para contar, pregadores que chegam em carros reluzentes testemunhando o como eles não tinham nada e como agora são abençoados. Associamos a presença de Jesus com ternos bem cortados, glamour, jóias e penduricalhos.


Aprendo nos evangelhos que o Reino dos Céus é semelhante a uma grande ceia onde são chamados “os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos” (Lc 14.21). Não haverá “bacanas” no céu, e sim pessoas que foram “invisíveis” aos nossos olhos.


Como igreja não temos aprendido a olhar essas pessoas. Certo domingo após um eloqüente sermão, um homem muito simples, e de aparência pouco atraente, que vez ou outra aparece, pediu-me que estivesse orando por ele durante a semana, pois estava muito mal de saúde. Disse-lhe que ficasse tranqüilo, que o faria. Mas esqueci completamente, pois sua débil figura não me veio a mente nenhuma vez. No domingo seguinte lá estava o pobre homem na fila para apertar a minha mão, e com um sorriso no rosto me perguntou: - “Pastor, o senhor orou por mim, não foi? Deus ouviu sua oração, pois estou me sentindo bem melhor”. Engoli seco com um nó na garganta, e o abracei em silêncio.


O moço da pesquisa mudou depois de passar por aquela traumática experiência existencial: deixou de lado suas doenças burguesas, tornou-se amigo daquela gente pobre da periferia, passou a freqüentar suas casas e nunca mais deixou de cumprimentar um trabalhador.


Nós temos muito mais razões ainda de mudar: um dia conhecemos Aquele Homem de dores, nossos olhos foram abertos por Ele, e mostrou nossa real condição: somos todos miseráveis que precisam da Graça divina. Já não há mais lugar em nosso meio para o orgulho, distinção, fé presunçosa e caprichos infantis, pois são doenças de quem ainda não compreendeu o que é o Evangelho.


O reconhecimento da presença de um Jesus sofredor e pouco aceitável dentro de nós haverá de nos levar a enxergar as pessoas invisíveis que Ele tanto amou. A partir de hoje aprenda a cumprimentar e respeitar as donas Marias que fazem o cafezinho de seu escritório, os Sebastiões que abrem o portão do seu prédio e os Beneditos que varrem o chão.... todos esses outrora homens e mulheres invisíveis, mas que agora fazem parte de sua vida, porque Deus os colocou ali para ver se você os enxerga ou não.


Faço ao Pai minha oração: “Abre os meus olhos, Senhor, para enxergar quem eu não tenho percebido, nem amado ou me preocupado. Que eu reconheça e valorize aqueles irmãos de fé que não apresentam beleza ou distinção alguma. Quero ter olhos bons para os solitários, tímidos e desajeitados. Que eu não discrimine ninguém pelo que é, pensa ou age. Amém”.


Pr. Daniel Rocha

dadaro@uol.com.br

quarta-feira, 10 de junho de 2009

SABOTADORES DE SI MESMOS

“Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir,

pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto” (Rm 7.15)


Sabotar é agir astutamente contra algo ou alguém. É dificultar ou prejudicar uma atividade. É o ato de destruir aquilo que seria bom, interromper, impedir de ser bem sucedido.


Imagine alguém que realiza uma dieta sofrida, está prestes a alcançar seu objetivo, mas numa noite levanta-se silenciosamente, de pé em pé vai até a geladeira, e em alguns minutos destrói semanas de sacrifício. Quem o impeliu?


O estudante está quase ao final do curso, e de repente é tomado por um desejo de abandonar tudo, mas ele próprio não sabe explicar exatamente porquê. Quem o está convencendo?


O que move um jovem apaixonado, e que estava indo bem no amor, abruptamente romper seu relacionamento para iniciar com outra pessoa? E mais à frente fazer o mesmo com esta? Ignorando o que acontece dentro de si, ele se “vitimiza”, imaginando que essas coisas acontecem porque não é compreendido.

Qualquer indivíduo com um mínimo de consciência sabe que precisa fazer exercícios físicos, e talvez até sinta vontade de frequentar a academia ou andar diariamente, mas uma força o convencerá a se esparramar diariamente no sofá com um controle remoto na mão. Outros são conhecedores dos males dos conservantes, corantes e gorduras trans, mas continuarão comendo hambúrgueres, tomando refrigerantes e comidas de origem duvidosa.


O sabotador que habita em nós se recusa a ser integrado à consciência, pois seu grande desejo é ser autônomo. Ele é o nosso “piloto automático”. Quanto mais vivemos no “automático”, sem consciência, mais chance temos de nos perder. Não reconhecer o sabotador agir é estar suscetível a machucar quem não desejamos fazê-lo, a provocar intrigas, fraturas nos relacionamentos e fragmentação no ser interior.


Almejamos o bem, buscamos o bem, mas nos surpreendemos como destruímos com facilidade as coisas boas da vida que Deus nos concede. É o reconhecimento de que “em mim não habita bem algum” (Rm 7.18a). Acho que agora entendo o poeta quando ele diz que...


Uma parte de mim

é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.


Na cosmovisão religiosa pós-moderna onde o mundo é manipulado por encostos e espíritos, o sabotador é visto como um ser exterior a nós, mas que nos tomou e nos subverteu, e para resolver esse problema bastaria apenas expulsa-lo. Porém, um olhar mais atento perceberá que o exorcismo nada pode contra ele, pois esse agente de ação destruidora é parte integrante de nós, e até o fim de nossas vidas teremos de lidar com ele. Em Cristo, podemos crucificá-lo (Gl 5.24), mas jamais eliminá-lo.


Reconhecer o sabotador é preciso, nominá-lo é necessário, perceber sua presença, sua fala, seus gestos. Uma das armas mais letais contra ele se chama confissão. Confessar-se miserável, insensível, indomável, fraco, é o inicio de uma retirada do poder que ele exerce sobre nós. Tudo o que é exposto à luz de Cristo perde sua força, e deixa de ser uma sombra, pois a partir do momento que é reconhecido, já não será mais um poder oculto autônomo. A pior doença é aquela escamoteada e vivida em segredo. A esses, Jesus não pode ajudar, pois Ele deseja que participemos da cura: “vai, lava-te...”, “toma o teu leito...”, “o que queres que Eu te faça...?”.


Ação da carne é sempre uma ação autodestrutiva, insensata, que traz prejuízo a si próprio. Faço um protesto contra mim mesmo, pois constato que não mando em minha própria casa-corpo, visto que “aquilo que quero não faço, porém o que odeio, isso faço”. Reconheço que há em mim um ser fragmentado cheio de desarmonia que ocupa o intervalo entre o que “eu sou” e o que eu “quero ser”.

Paulo se pergunta: “quem me livrará do corpo desta morte?”. Por nós mesmos não há como. Mas graças a Deus por Cristo Jesus, porque a vida do Espírito em nós nos dá a possibilidade de viver harmoniosamente, com equilíbrio e sensatez, apesar da carne sabotadora.


O que o Evangelho me pergunta é se quero continuar me inclinando para as tendências do meu ser despedaçado, e permitir que ele tenha domínio sobre mim, ou se me inclinarei à suave presença do Seu Espírito para que Ele tenha a palavra final nas decisões de minha vida. A duplicidade traz temor, ansiedade e escravidão, mas a pureza de coração sempre deseja uma só coisa (Kierkegaard).


Pr. Daniel Rocha

dadaro@uol.com.br

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Teologia para apontamentos atuais: indicando os vazios, edificando o Reino


Esse texto que eu redigi foi o texto que ficou em terceiro lugar em um concurso teológico na Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo (ano de 2009). O tema que orientou o concurso foi "o que significa estudar teologia Hoje".

Só recentemente, observando o relato da ressurreição de Lázaro, registrada no evangelho de João, capítulo 11, pude perceber enquanto possibilidade hermenêutica, que o verdadeiro milagre enfatizado pelo texto bíblico não é a ressurreição daquele que estava morto, mas os espaços vazios que foram preenchidos a partir da presença de Jesus. Marta e Maria sofriam duas ausências fundamentais: a ausência do parente mais próximo [Lázaro], e a do melhor amigo que uma família pode ter [Jesus]. Embora a casa das enlutadas estivesse cheia, somente a presença, aparentemente tardia, do amigo preenche as lacunas e transforma a realidade das irmãs restituindo-lhes o sentido de vida. Na seqüência do texto vou retomar essa passagem bíblica, e você leitor/a vai entender o porquê desse registro inicial.
Ao longo de quatro anos de estudos teológicos, eu colecionei alguns livros. Podemos colecionar coisas por motivos diversos, no entanto, uso o termo “colecionar”, no sentido mais prazeroso da ação, porque realmente eu me envolvi de forma profunda com a teologia, e em suas diferentes áreas do saber. Hoje me vejo sentado olhando minha ainda tímida biblioteca percorrendo com os olhos a estante estática de livros, extasiado, por tão criterioso e compenetrado. Após passar os olhos no último livro me apercebi parado no vazio de uma parede branca. Como num fantástico passe de mágicas a minha mente divagou. E a pergunta que um dia foi gestada e que agora desenclausurou-se das minhas entranhas foi a seguinte: e agora? Após tantas reflexões pastorais-teológicas, algumas delas conflituosas porque abalaram de forma positiva os antigos paradigmas; e considerando que, na condição de pastores teólogos, temos a incumbência de edificar para a vida; o que é que fica?
Após reflexão cheguei a uma conclusão, talvez um pouco coerente, embora certamente transitória como todas as demais definições humanas. Aliás, precisamos apreender: ainda que pretendamos ter achado respostas definitivas, não devemos nos distrair da máxima de que muitas de nossas “objetivações vitais” são transitórias. Depois da estante repleta de livros, aqui representando a reflexão acadêmica mais sistemática, percebo que existe um hiato a ser preenchido; existem ainda caminhos a serem percorridos. E essa percepção é saudável. O vazio daquela parede branca que parecia me engolir, que metaforicamente aponta para o final do período de uma caminhada teológica que está só começando, me fez refletir sobre esses “outros caminhos”. O algo a mais que ainda resta, em ausência. É isso o que pretendo com esse texto. Deixar pistas sobre o que significa estudar teologia hoje e como isso pode afetar de forma sensível e positiva a prática pastoral em tempos de “modernidade tardia”.
Pois bem. Estudar teologia hoje significa um convite à nos achegarmos aos extremos do perímetro da fé, ao conhecimento e reconhecimento dos vazios existentes. Eu diria que teologia é aprofundamento dos vazios enquanto ausência. Isso significa que o teólogo deve fomentar na sociedade o ato de reconhecimento que, independente dos modelos empíricos ou os do senso comum para apreensão do que é real e verdadeiro, deve sempre existir a pergunta pelo que fica, e conseqüentemente pelo que ainda é ausência. Somente com essa perspectiva do todo inacabado, porque sempre haveremos de percorrer ainda outros caminhos, e vamos nos deparar ainda com outras lacunas, poderemos manter viva a tensão escatológica entre o já e o ainda não. Conceitos teológicos, conceitos que falam de vida a partir da vida, para a vida.
Como não podemos pensar a ação teológica fora do âmbito da vida, precisamos considerar os sinais dos tempos atuais. E haveremos de concordar que: De forma quase sobrenatural impera em nossa sociedade, junto com os avanços tecnológicos e “des-avanços” sociais, uma mentalidade religioso-igrejeira [não pejorativo]. É a mentalidade de que “tudo está consumado”, tudo está completo. A partir dessa pseudo-verdade, adotada por muitos como estilo de vida, surgem outros modelos ideológicos, por exemplo, a idéia de que tudo é assim mesmo - nada vai mudar nunca por mais que façamos alguma coisa útil. Caímos num grande ciclo vicioso de “normismo” dos “normais”. Normatizamos como verdade eterna e imutável nossas percepções sobre verdade, e verdade é o “normalmente difundido” hegemônico, é o que é “comum”. Socialmente, estamos dizendo que já alcançamos todos os pontos máximos, e isso passa ser a norma: na Igreja, no âmbito da busca por Deus, o transcendente – “caçamos até pegar” [“os caçadores de Deus”]; descobrimos o caminho para alcançá-lo. Na academia, em termos de conceituações, e métodos, já descobrimos como sugar “o todo” das verdades testáveis. No campo da ética, nos pretendemos doutores quando nos outorgamos o direito de defender a vida. E a lista é interminável. É típica desse espírito moderno a soberba do “ser a cabeça e não a calda”.
Nesse sentido, a teologia precisa ser a facilitadora do processo pelo qual nossos olhos são abertos. Estudar teologia hoje deve significar o incessante aprofundamento dos espaços vazios ainda existentes, a quantificação deles se isso for possível, e a conscientização de que sempre hão de existir ausências. A teologia precisa como recurso metodológico levantar perguntas essenciais sobre o mais complexo da vida e sobre a atitude de viver comunitariamente, perguntas que apontem para a possibilidade da ausência. Dessa forma, contrapondo-se à sensação da soberania atual do se ter tudo sob controle, a teologia deveria nos conduzir a um momento especial de reflexão, onde nos apercebamos servos e mordomos no processo de edificação do Reino de Deus na terra entre a criação. Um Reino que em parte já está manifesto, mas que ainda precisa ser buscado em sua totalidade, que em suma, só se manifestará completamente quanto mais precisarmos o tamanho dos nossos tantos vazios, ao invés de focarmos na felicidade de apreciar e absolutizar aquilo que já foi manifesto.
Nesses termos, é possível o surgimento da crise saudável do/a pastor/a com relação ao ministério pastoral. Um dilema concreto. Isso considerando que, se queremos dar continuidade ao inútil processo da divinização dos conceitos e estruturas humanas, daquilo já manifesto, e pensamos em quantitativamente enchermos nossas Igrejas, basta prorrogarmos as modas, a tendência dos absolutos. No entanto, se buscamos a teologia dos vazios que se completam, vamos nadar contra as correntezas desse rio lamacento de uma fé virtual, e quase sempre vamos nos ferir. Aqui eu retomo o texto do evangelista João, citado no início desse texto. Somente mediante a fé no Jesus presente, palpável quando Marta e Maria experienciavam um profundo encontro com suas ausências, pôde-se restaurar o todo perdido. Ou seja, a paz tão ansiada do estar completo depende de nossas interações com o vazio em sua forma mais plural, mas é também proporcional à nossa fé em Jesus: Aquele que pode preencher todos os vazios e o fará na medida da manifestação de seu Reino entre nós mediante processo humano de constantes edificações.
A teologia deve então não só apontar os vazios possíveis presentes nos variados âmbitos da vida, mas também indicar aquele que é o fator preenchedor desses vazios: a fé em Jesus. Isso distingue a teologia das demais ciências, que embora correlatas, não têm o interesse de apontar e aprofundar a necessidade da fé também como fator humano e humanizador.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

A CABANA? ..

Eis uma "bibliografia" que agitou os ânimos e provocou uma intensa reflexão por parte de muitos/as. E isso é muito positivo. O texto postado abaixo, indica uma possível opinião do Pr. Caio Fabio sobre o livro. Acompanhemos sua percepção ... não concordo na íntegra com a significação geral do texto, no entanto, achei muito interessante a posição assumida.



NA CABANA DE JESUS SE FALAVA POUCO E SE EXPLICAVA NADA

Por que será que Deus/Jesus não se preocupou com as mais fabulosas dúvidas humanas?


Ele não explica a origem do mal, não se interessa em criar respostas para o problema da dor, não se preocupa em explicar sentidos em calamidades ou tragédias naturais, não diz da anomalia nada além de que ela acontece para que se veja a glória de Deus, não desenvolve uma teologia do “acidente” [como a queda da Torre de Siloé], não discute sobre a maldade do homem poderoso, não cede aos desejos dos que pedem sinais, não favorece explicações nem ao Sinedrio da Religião, e nem tampouco a um de seus mais nobres membros: Nicodemos; não se impressiona com os poderes humanos, políticos, militares ou de qualquer outra ordem; não diz por que o diabo existe, não explica quem são os espíritos imundos nos homens, não define nada sobre a queda dos anjos, não diz de que natureza seriam os “sinais nos céus” que encheriam a terra perto do fim; não diz quando o mundo vai acabar; não deixa códigos a serem decifrados; não tem uma instrução para um grupo de iluminados; não dá a mínima às questões filosóficas dos seus dias; não diz quem é joio e nem quem é trigo; não diz por que Moisés e Elias apareceram a Ele; não se preocupa com as interpretações que disso poderiam advir..., para o bem e para o mal; não entra no assunto sobre quem eram os filhos de Deus que possuíram as filhas dos homens e geraram Gigantes; não fala da existência da Terra antes do homem; não satisfaz curiosidades; não atende a caprichos; e, o pior de tudo: não defende Deus de nada!...

Além disso, não se ajudou marqueteiramente em nada!...


Conforme eu disse em outro texto:


Por isto, Ele nunca precisou de provas, nem de muitas testemunhas, nem de uma sobrevoada triunfal sobre a Fortaleza Antônia a fim de humilhar Pilatos, ou nem mesmo de uma descida dos céus sobre o Santo dos Santos de Jerusalém para esmagar a descrença do Sinédrio; nem tampouco precisava Ele dar uma parada na Ascensão sobre o edifício do Senado de Roma, a fim de evidenciar algo fantástico ao mundo.


Por quê?...


Porque o homem tem que crer exclusivamente pelo testemunho do Espírito; e mais: porque não há explicações a serem dadas aos homens!... Sim, infelizmente para muitos, mas creia: Deus jamais se explicará!...


Afinal, se Ele conseguisse e eu entendesse, a implicação seria a implosão de Deus e o fim de todas as existências, as quais existem em harmonia impossível de que qualquer mente, que não seja a de Deus, possa jamais compreender.


Se Jesus explicasse, assim, como os homens explicam, creia: meu interesse por Ele acabaria na hora...


Para mim, nesse caso, Ele seria no máximo aquele Jesus do livro “A Cabana” — bonitinho, fofo, legal, conhecedor de Física Quântica, cheio de respostas do Jaques Elull e do Soren Kierkegaard...


É o Jesus que não explica, justamente o Jesus que me diz tudo!...


Mas vai ver que o doente sou eu... Entretanto, na pior das hipóteses, seria uma doença contraída em razão do descaso Dele com a dor como debate ou como filosofia.


Nele, que apenas amava, curava, fazia o bem, e tornava o mais sem significado de todos os homens uma cachoeira de sentido em Deus,


Caio
26 de maio de 2009
Lago Norte
Brasília
DF

Fonte: http://www.caiofabio.com/2009/conteudo.asp?codigo=04818. Acesso dia 01 de junho de 2009.