terça-feira, 28 de julho de 2009

SIGA, E NÃO FAÇA PERGUNTAS

“Partindo Jesus dali, viu um homem chamado

Levi sentado na coletoria e disse-lhe: Segue-me!

Ele se levantou e o seguiu” (Mateus 9.9)


Sempre me fascinou o fato de Jesus ter chamado alguns homens para segui-Lo e eles de pronto abandonarem seus afazeres, sem nada perguntar. Aos pescadores disse-lhes: “vinde após mim”, e estes “deixaram imediatamente as redes e o seguiram” (Mt 4.20). Encontrou a Levi, o publicano, sentado na coletoria, e chamou-o: “Segue-me!” e ele “se levantou e o seguiu” (Mt 9.9).


Cadê o programa? O contrato? Quais são os riscos? Onde estão as garantias? É bem provável que eles já tivessem ouvido falar do Messias, mas isso não diminui o valor do passo que deram.

Talvez a palavra que melhor resume uma vida cristã seja justamente esta: “Segue-me”. O que Jesus deseja que eu faça não é decorar um conjunto de regras, nem praticar diariamente determinados rituais, mas simplesmente segui-Lo.


De uma maneira geral olhamos o que as pessoas estão fazendo de errado em suas vidas, e de pronto exclamamos para elas: abandonem a bebida... parem de se prostituir... deixe de ser gay... chega de mentir.... É a tentativa de mudar comportamentos sem que se mude o indivíduo. Felizmente, o programa de vida que Jesus tem pra nós começa com uma só palavra: “Segue-me!”.


Se formos honestos haveremos de reconhecer que somos seres disfuncionais, que precisam de constantes ajustes. Jesus sabe disso e em nenhum momento Ele espera que eu apresente “melhoras” para acompanha-lo. Ao contrário, segui-lo é o tratamento que Ele tem para as minhas disfunções.

E nisso, estamos todos na mesma luta, qual seja, a de submeter o nosso ser a Cristo e vencer o pecado que deseja nos dominar. O avarento, “que é idólatra” (Ef 5.5), mas vai à igreja, não está em melhores condições que um seguidor de Krishna.


Levi, por exemplo, pertencia à classe dos publicanos, que não eram bem-vistos pelo povo. Eles eram classificados entre as prostitutas e os pecadores mais vis. Talvez hoje fôssemos até ele e tentaríamos convence-lo de seus erros. Jesus, porém, vai ao seu encontro e simplesmente o convida a segui-lo – e nenhuma palavra sobre o seu estado!


Possivelmente muitos cristãos terão de conviver o resto de seus dias com alguns traços, propriedades, mazelas ou doenças interiores que estão profundamente arraigadas na alma. No fundo sabem que, por amor a Cristo, haverão de trilhar uma vida de renúncia – diária, árdua, consciente, mas não amargurada. É como o alcoólatra que renunciou à bebida, mas cônscio que o mal continua vivo dentro dele, e precisará contar com a fé no Jesus de Nazaré enquanto viver. O apóstolo Paulo teve um espinho na carne para que “não se ensoberbecesse” (2Co 12.7), e parece ter suportado isso por toda sua vida. A Bíblia revela que Elias era um homem semelhante a nós, sujeito às “mesmas paixões” (Tg 5.17), e mesmo assim Deus o transladou ao céu. Até o rei Davi, em sua velhice, com o corpo entorpecido, senil e depauperado, conservou até o fim o gosto de estar ao lado de uma moçoila, nem que fosse só para se aquecer (1Rs 1.1-4).

Claro que seguir a Cristo também envolve a mente e tem um sentido racional. Mas há muitos desonestos intelectuais que não se cansam de perguntar. Não que a resposta irá ajudá-los a tomar uma decisão, mas porque tão logo se lhe respondam, já maquinam outra e outra dúvida.


Há pessoas que querem respostas às perguntas mais infantis. É gente que fecha os olhos às metáforas e à poética bíblica, porque desejam transformar as Escrituras num tratado científico. E pior, nem são originais em suas dúvidas. Qual o medo? Sabem no íntimo que se der por convencidas terão de “abandonar suas redes” e seguir o Mestre.

Em Cristo não haverá respostas “a priori”. É preciso ter a coragem de se levantar e segui-Lo. A estes, Ele dará total atenção, revelará o que há em seus corações, contará segredos reservados aos que Lhe são íntimos e desvelará tesouros ocultos. São aos seus discípulos e seguidores que Ele se agrada em dizer coisas que jamais diria às multidões, e responderá para nós algumas questões – não todas – pois em nossa finitude seríamos incapazes de compreender tão grandes maravilhas.


Almeja encontrar as mais profundas riquezas que um homem pode receber? Deseja receber do Pai das Luzes a iluminação do teu ser? Anela experimentar a Paz que excede todo entendimento? Faça como Levi: levante-se e siga o Mestre sem fazer muitas perguntas. No momento certo ele te explicará.


Pr. Daniel Rocha

dadaro@uol.com.br

segunda-feira, 13 de julho de 2009

QUANDO DEUS DIZ NÃO !


Essa foto é uma maquete do templo de Salomão.

Pensamos no amor como algo que dá, mas algumas vezes o amor envolve remover algo que não seria para o nosso bem. Vamos ler 2Sm7.1-18.

O rei Davi aprendeu como era difícil ouvir de Deus um não (Era um propósito nobre. De fato uma grande decisão, mas não era plano de Deus pra ele). Deus chamou Davi para ser rei, deu-lhe dons e o escolheu para guiar seu povo, mas não para construir um templo. Davi era um soldado e um guerreiro, mas não um construtor. Não se trata de estar ou não errado, mas de aceitar o "não" de Deus e viver com o mistério da sua vontade.

Quando Deus diz "não" não se trata necessariamente de disciplina ou rejeição. Pode ser simplesmente redireção. Cada decisão nossa precisa ser examinada dia a dia ... Senhor, esse arranjo é teu? Este plano é teu? Se não for, torne-me sensível a ele. Quem sabe Tu estás redirecionando a minha vida.

E uma coisa difícil de suportar é saber que Deus vai servir-se de outra pessoa para cumprir algo que vcê julgou ser o seu objetivo. Foi isso que Davi teve de ouvir: "Não vai ser você, Davi ... será seu filho Salomão". Qual foi a resposta de Davi? Foi belíssima: (e entrou o rei Davi na casa do Senhor e ficou perante Ele...2Sm 7.18).

Para alguns, ele diz "sim". Para outros"não". Em qualquer dos casos, a resposta é a melhor. Por que? Porque as respostas de Deus, embora surpreendentes, nunca são erradas.

DEUS NÃO CHAMA TODOS PARA CONSTRUIREM UM TEMPLO, MAS CHAMA TODOS PARA SEREM FIÉIS E OBEDIENTES.

Marilda

sábado, 11 de julho de 2009

Como assim, óleo na cabeça e vestes limpas?

Vai, pois, come com alegria o teu pão e bebe gostosamente o teu vinho, pois Deus já de antemão se agrada das tuas obras. Em todo tempo sejam alvas as tuas vestes, e jamais falte o óleo sobre a tua cabeça . (Eclesiastes 9.7-8).

O autor do livro da sabedoria, por todo texto parece desenvolver uma espiritualidade muito encarnada, no sentido de incentivar a reflexão sobre coisas ligadas ao cotidiano comum: pão, vinho, óleo, relacionamentos, dentre outras.

Inclusive, falando mais especificamente do conteúdo expresso no capítulo 9, onde nos deteremos para o desenvolvimento da presente reflexão, o autor parece nos indicar um caminho onde, se consideramos as expectativas quanto à vida, não existe diferença entre “justo” e “ímpio”, todos interagem com o relativo, todos comungam da mesma vida, bebem no mesmo cálice. Exceto com relação à esperança em relação ao futuro. Ao ímpio não resta nada, ele/a não preserva esperança alguma, sobre nada – está ocupado/a revolvendo-se em si mesmo/a todo o tempo.

Na estrutura literária semita, de Quiasmo, podemos considerar os versículos 7 -10 como o centro desse capítulo, e a parte mais importante, ou que o autor queria enfatizar, do capítulo. E nessa parte “central”, o versículo que me chama especial atenção é o versículo 8 (observe acima no texto bíblico especificado).

Não raras às vezes, esse é um versículo usado para falar de pureza, e de santidade; dentre outros temas que vão nessa mesma direção. No entanto, a figura do “óleo sobre a cabeça”, aparece na Bíblia, com sentidos diferentes, o mesmo acontece com a figura das “vestes limpas”. Eu fiz alguns paralelos com outros textos bíblicos, e gostaria de sugerir uma possibilidade de interpretação para esse versículo 8.

Por exemplo, observemos os seguintes paralelos: No Salmo 23.5, o óleo é pedido sobre a cabeça, e o cálice transborda; já no Salmo 133.2, o óleo que está sobre a cabeça desce pela barba de Arão, escorre pela gola – ambas são imagens do “óleo sobre a cabeça” e que estão ligados diretamente, também, à limpeza das vestes. Nesses dois textos, o óleo é determinante para sabermos se a veste está limpa ou se alterada, pelo óleo em seu aspecto estético – e nesses dois, o óleo conseqüentemente alterará a cor da vestimenta, porque foi “derramado para fora”, fez-se escorrer.

O que poderia significar esses símbolos do livro de Eclesiastes, à luz desse capítulo 9 versículo 8? Não pode faltar óleo sobre a cabeça, e as vestes devem estar alvas.

A possibilidade de interpretação que eu sugiro, considerando que esse é um escrito de sabedoria, é que, o ser humano deve viver, cotidianamente, buscando o equilíbrio entre “a unção” (representado pelo óleo sobre a cabeça), e a santidade e retidão (representada nas vestes limpas), e esses símbolos aqui parecem ser apresentados, como que partes de uma mesma peça, isso sim, mas extremidades diferentes dela.

Óleo demais sobre a cabeça, extrapola, e altera o estado alvo das vestes, ou seja, essa unção pode “corromper” se não for buscada na medida certa. Mas também querer preservar as vestes alvas demais, exacerbadamente, isso pode significar contenção de óleo, ou mesmo a extinção dele sobre a cabeça, o que não é bom. Primordialmente, as vestes devem ser preservadas, mas nunca sem nos esquecermos que deve haver óleo, sob medida, em nossas cabeças. No entanto, não podemos perder de vista a perspectiva, também bíblica, de que às vezes, esse óleo vai transbordar, e saudavelmente a estética das vestes será alterada. Nesse equilíbrio consiste a sabedoria.

Somos ungidos/as, submissos/as ao Ungido (Cristo), e nessa perspectiva de unção, a que traz equilíbrio, devemos nos conscientizar, conforme o texto de 1Jo 2 nos alerta, que a unção nos faz pessoas públicas (com relação ao testemunho) e capacitadas a discernir.

Abraços.












quarta-feira, 8 de julho de 2009

A balada de José









O culto acabou,

a luz apagou,

a igreja fechou,

o povo se foi,

a noite esfriou.

E agora, José?

E agora, você?

Você que dizima,

não falta às campanhas,

unge com óleo,

e toma da água

que o apóstolo orou.

A noite esfriou,

e a bênção não veio,

mas o bispo pregou

que a culpa é só sua:

“você não tem fé”.

E agora, José?

Está sem recursos,

está sem amigos,

e acabou o carinho

daqueles irmãos

do errante caminho.

Perdeu a esperança

porque confiou

em palavra de homem

que só se interessa

em ovelha tosar,

enganar os mais simples,

e passar um sermão

em quem duvidar.

E agora, José?

Se você cantasse,

se você orasse,

se você louvasse...

Mas você já não crê,

e prefere morrer

a ser iludido mais uma vez

com tantas promessas

de espertos profetas

que cobram pedágio

pra se alcançar

as bênçãos do céu.

A noite esfriou,

as lágrimas rolaram.

E agora, José?

Sozinho no escuro

qual bicho-do-mato,

José abre a Bíblia.

E como milagre

caíram-lhe escamas

que impediam seus olhos

de enxergar a Verdade.

A partir desse dia

o Evangelho reinou

dando-lhe Paz

e indizível alegria.

E agora, José?

Agora que eu vejo,

não tem mais conversa:

deixei as mandingas,

os fetiches e crenças.

Posso dizer que

mudou minha história:

Desde então,

é somente a Palavra,

somente a Graça,

apenas a Fé

no Filho do Homem,

e a Deus, somente a Deus,

eu dou toda a glória.

Pr. Daniel Rocha

dadaro@uol.com.br

[Obs. : Esse texto foi escrito após uma pessoa ter buscado minha orientação pastoral. Sua irmã, uma mulher com mais de 50 anos, fez um acordo trabalhista de 12 anos de empresa para levantar um dinheiro e “entregar pra Jesus”. Foi prometido que esse desafio seria abençoado por Deus até “10 vezes mais”. Trata-se de mais um caso de abuso espiritual praticado por estelionatários da fé cujo “deus” é um cara obcecado por dinheiro que fica repetindo Money.... Money... Money....]

quarta-feira, 1 de julho de 2009

QUEM É MESMO VOCÊ?


Há um desejo natural dentro de cada pessoa, em ser notada, bem quista, e que olhem para ela e gostem. Faz parte do ente humano desejar que ouçam o que ele tem a dizer e aceitem sua contribuição ao mundo. Não aspirar tais coisas é viver na apatia e indiferença, sinais de uma alma adoecida.

Entretanto, ser reconhecido pelo próximo pode evoluir para um secreto desejo de impressionar, não com o que somos, mas com o que queremos que pensem que somos. Ou seja, a questão não é apenas o que eu faço, mas o que sou. Algumas pessoas, por força do talento ou vocação, estão expostas como uma vitrine, e o perigo de haver um abismo entre a “aparência” e o “ser” se torna ainda maior.

Sacerdotes, pastores, músicos, e até mesmo o fiel em suas atividades paroquiais são sérios candidatos a uma perigosa cisão da personalidade. Assim como os artistas, eles também estão diante de um público que aprecia quem tem poder e carisma. Mas estes também voltam para casa, pois há uma existência a ser vivida longe dos holofotes e do olhar admirador dos que o cercam.

O espelho mostra quem somos, e é nele que vemos refletido nossa dor e o cansaço do ser. Por mais que disfarcemos, estão lá. É inevitável: o ator, o cantor, o palhaço quando deixam o palco, depois de encantarem multidões, terão reencontrar-se consigo mesmos, longe de todos que o aclamam. E à medida que o personagem sai de cena, começa a aparecer o ser.

Foi uma grata surpresa ouvir recentemente uma música gospel com conteúdo, coisa rara de se ver ultimamente. Fugindo dos chavões característicos, ela me golpeou com uma pergunta fatal:

Depois de pregar seu lindo sermão
E de cantar a última canção
Quando você volta pra casa
E ninguém mais que você
Precisa impressionar está por perto
Quem é você?
Quem é você quando ninguém vê?
Quem é você?

Não é possível fugir a essas questões, a menos que nos acovardemos e queiramos passar o resto de nossos dias vivendo um personagem oco, vazio e triste.

Talvez ninguém mais que Michael Jackson tenha tentado manter um personagem irreal, um menino permanentemente infantilizado que não queria crescer, sempre “trocando” o verdadeiro rosto que envelhecia, e vivendo refém de suas ilusões. Viver uma persona sem reconhecer quem se é realmente, é de uma solidão e angústia sem fim, que só encontrará um certo prazer enquanto representa.

Não conheço nenhum espelho melhor que o Evangelho de Cristo. Ele desnuda, radiografa, mapeia o nosso ser. Dele nada posso esconder. Nele me enxergo na figura do homem de mão ressequida que não tem como ser solidário a ninguém. Nele reconheço minha cegueira, incapaz que sou de olhar e ver com bons olhos, e me pego como a prostituta que vende a alma por alguns momentos de prazer.

Saber quem eu sou, ao mesmo tempo que entristece, liberta. O rei Davi se considerava piedoso e temente a Deus. Certo dia o profeta Natã foi ao seu encontro e contou-lhe uma parábola sobre um homem cruel e injusto. O rei se revoltou e prometeu dar cabo daquela criatura abjeta. Mas, Natã, corajosamente aponta para o rei e lhe diz sem meias palavras: “Tu és o homem!” (2Sm 12.7).

Precisamos de um ser amoroso que nos diga quem somos, pois há fortes defesas que nos impedem de encarar nossa miséria. Foi preciso que Alguém lá de cima descesse à Terra para me dizer que sou pecador, invejoso, rancoroso, persigo fantasias e troco diariamente a glória de Deus por qualquer bobagem.

Michael Jackson queria “perder-se” de sua história, apagando do rosto tudo o que lembrava o passado. Deus não pretende destruir quem eu fui, mas usar esse material que servirá de base para aquilo que o Espírito estará formando em nós. É doloroso, mas é a forma que Ele escolheu para agir.

Tenha a coragem de responder: “Quem é mesmo você?”. Não importa a resposta, desde que você entregue ao Oleiro esse vaso torto, rachado e sem valor. Ele é especialista em trabalhar com massas informes desde a criação. Conceda ao Eterno a permissão de trabalhar em você, pois “como o barro do oleiro, assim sois vós na minha mão” (Jr 18.6).

Pr. Daniel Rocha

dadaro@uol.com.br

P.S.: quem desejar ouvir a música que mencionei, clique no link

http://www.youtube.com/watch?v=JGFn6nW7uDk&feature=related