segunda-feira, 28 de setembro de 2009

HERÓ - (I) - RONISMO

No título o "I" fica propositalmente dividido entre concluir o termo "herói" e começar o termo "ironia" (ou ironismo). Foi a dinâmica textual que encontrei para definir a cena exaustivamente exibida pelas mídias onde um marginal que estava fazendo uma refén, no Rio de Janeiro, é atingido na cabeça por um major atirador de elite.
É interessante notarmos como o "jornalismo" de hoie [sei que não posso generalizar mas esse não é o espaço para discutir as excessões], tão afeito ao espetáculo, conforme a demanda social atual, nos faz tão parcialmente cientes de determinada situação; e embora pareça nos informar sobre o ocorrido, na verdade nos instiga à consumir "imagem" na medida em que de tudo fazem um grande espetáculo teatral.

Sobre a cena citada, foi veiculada em horário nobre de audiência, editada na medida tal à atingir IBOPE; percebemos que não é o interesse das mídias discutir o caos social que atinge as grandes cidades. Sem pessimismos, "cá-pra- nóIs", as pessoas que vivem em megalópoles como São Paulo e Rio de Janeiro, dentre outras, estão fartas de tanta violência e corrupção, e miséria (ETC ... ETC ... ETC). As mídias espetacularizam o ocorrido para estimular o consumo cada vez maior dessas porcarias chamadas "notícias" - que nada informam; pelo contrário, é mantenedora de um sistema que alimenta verdadeiros monstros.

Mais um "bandido" foi abatido! está morto! Alguns comemoram. Outros: pobre da mãe pobre que não terá mais a compania de seu filho, "uma família de gente como nós, que chora o assassinato de um ente querido". Sobre a moça que era refén, à salva, com a família, devendo sua vida ao atirador de elite! O pior é que a fábrica de violência está à plenos vapores, a questão aqui não é matar o "bandidinhho" e noticiar que seu caixão está aberto - é ter coragem de pegar a diretoria do "bandidismo" - no Congresso que está alinhado com a corrupção, a má administração brasileira da "terra pública", do tesouro público; a nossa péssima distribuição de renda; etc; etc.

Falta saúde! Autoridades, menos atiradores de elite na "telinha" (viu FANTÁSTICO!); nós brasileiros nos cansamos de escolher entre o bandido e o mocinho, esse "jogo real" engendrado por vocês é perverso e amedronta nossa gente.

Por isso não vejo o major como um herói, conforme discursado por vocês; ele também é vítima dos verdadeiros bandidos - do crime de "colarinho branco". Para mim o que foi divulgadi não passou de ironismo; mas o povo não é bobo, e clama por menos violência, por menos desigualdades, por mais saúde e educação, por mais vida!

Fonte da foto: disoponível em http://jbonline.terra.com.br/pextra/2009/09/25/e25098609.asp; acesso dia 28/09/2009.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

TEXTOS BÍBLICOS QUE INCOMODAM


Sinto na alma, a cada dia, a dificuldade que é ser um cristão. O padrão que Jesus espera de mim nem sempre vai de encontro aos meus anseios e vontades. Confesso que há certas coisas difíceis de praticar, e imagino que a caminhada se tornaria mais “fácil” se alguns versos fossem simplesmente suprimidos da Bíblia. Eles me deixam perplexo, constrangem, expõem minhas fragilidades, e alguns conceitos que emanam deles parece não funcionar na prática.

Como é possível a Bíblia afirmar que “os mansos herdarão a terra” (Mt 5.5), se estamos vendo que quem conquista, vence e manda, são os fortes, os guerreiros e os que detém as armas?

Como concordar com a parábola em que o trabalhador da última hora recebe ao entardecer o mesmo salário de quem malhou duro o dia inteiro (Mt 20)?

E a matemática divina, então? Deixar noventa e nove ovelhas no deserto, à mercê dos lobos, para ir atrás de uma só ovelha desgarrada? Deixa-a ir embora. Quem sabe ela não fosse uma desajustada que não merecia estar junto ao rebanho.

Uma viúva pobre vai, deposita duas moedinhas no gazofilácio e Jesus afirma que ela ofertou mais que todos os “graúdões” cheios de posses (Lc 21.3). Se eu for aplicar isso em minha igreja, não terei dinheiro para pagar sequer a conta de luz no próximo mês.

O corretivo que Jesus usa parece depor contra o bom senso: um filho vai embora de casa, vive dissolutamente desperdiçando todos os seus bens, retorna de mãos vazias, e ainda “ganha” uma festa (Lc 15.25). O irmão, que permaneceu na casa teve de trabalhar em dobro durante a sua ausência, e parece que não recebeu nada por isso.

Amo a minha família, amo meus irmãos, tenho prazer em estar com os amigos. Mas vem Jesus e diz que eu não estou fazendo nada demais, pois até os incrédulos fazem o mesmo. O que Ele quer afinal? Que eu demonstre amor aos inimigos e abençoe quem me persegue? Acreditem: é exatamente isso que Ele deseja (Mt 5.43-48)! Isso é demais!

Até aqui falei como tolo. Jesus incomoda e vai continuar incomodando sempre. Por vezes agimos como o povo geraseno, que perturbados com a presença Dele, rogaram-lhe educadamente que se retirasse daquelas terras (Mc 5.17). Pretendemos afastar Jesus de tudo aquilo que Ele pode “atrapalhar”. Afinal, temos nossa vida, nossa visão, nossa maneira de pensar.

Todavia, a “loucura” do Evangelho é a nossa cura. É a verdadeira forma de encarar a vida. Quem ousar mergulhar de cabeça compreenderá, quem se arriscar verá. Aquele que aceita o Evangelho como o único modo de vida que vale a pena viver, faz como o homem que encontrou um tesouro oculto no campo, e transbordante de alegria, vai vende tudo o que tem e compra aquele campo. É preciso arriscar tudo... não há meia aposta.

O Evangelho abre a nossa mente e nos dá novos olhos. E lendo a Bíblia com esses olhos percebo que os mansos não haverão de conquistar a terra, mas a receberão do Senhor, como herança, pois só Aquele que possui todas as coisas pode herdar aos seus filhos.

O trabalhador da última hora, assim como todos aqueles que encontram o amor Divino, ainda que tardiamente, também experimentarão da bondade do Pai. Para o Supremo Pastor, uma só ovelha é tão digna de ser salva, que Ele deixaria tudo para alcançar este “único”, que sou eu e é você. A viúva pobre ofertou mais do que os outros porque eles deram do que sobrava, ela deu tudo o que tinha. O filho mais moço foi recebido de volta pelo pai porque Ele jamais nos trata segundo as nossas transgressões, entretanto rasga as cadernetas dos “justos”, com suas anotações de cobrança.

Realmente há textos que incomodam, mas ao invés de tirá-los da Bíblia, devemos vive-los, pois é justamente onde eles “pegam” que precisamos ser curados. Pense nisto.


Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

NO OLHO DO FURACÃO


“O Senhor tem o seu caminho na tormenta
e na tempestade” (Naum 1.3)


Hecatombes, desastres, revoluções, perseguições, pandemias, dívidas, doenças diagnosticadas, família incorrigivelmente desestruturada... como viver a fé em meio ao caos? Como estar em paz quando nos encontramos no olho do furacão? Essas coisas desestabilizam, sacodem, desequilibram, tiram o chão.

Basta um pequeno aneurisma no cérebro, basta o surgimento de um nódulo no seio, ou a comprovação de uma traição, para que de repente sejamos jogados no olho do furacão.

Faz parte do ser humano buscar a segurança e a previsibilidade, e é comum imaginar que vida boa é vida sem sobressaltos, e livre de más notícias. Mas creio que pode haver um elemento de transformação do ser que somente é despertado em meio à borrasca. Uma mudança de perspectiva e de postura pode surgir em meio ao turbilhão. Quem pode afirmar que ali não se iniciará uma caminhada de volta ao Pai? Uma mudança de olhos daquilo que é temporal e efêmero para o que é eterno? O Senhor tem o seu caminho na tormenta e na tempestade (Naum 1.3)!

Estar no olho do furacão nos faz repensar a vida. Há um aprendizado em curso. Quem já passou pelo vale da sombra da morte, com um diagnóstico “irreversível” num hospital, aprenderá agradecer a Deus fervorosamente cada manhã vivida. Quem um dia perdeu tudo, foi humilhado, e sentiu-se sozinho, saberá valorizar a amizade, o companheirismo e a solidariedade. Aquele que um dia passou necessidade extrema reconhecerá o valor que há em comer um simples pedaço de pão.

Há algo de paradoxal nos acontecimentos da vida. Davi admitiu que foi “bom ter passado pela aflição” (Sl 119.71), ou em outras palavras, ter estado no olho do furacão, para que ele compreendesse coisas que antes não compreendia.

A consciência da iminência da morte faz o homem relembrar a sua finitude e temporalidade. A solidão, o medo, o vazio, possuem o bendito valor terapêutico de resgatar sentimentos que até então encontravam-se adormecidos dentro da alma.

Acho de uma beleza comovente quando Davi se refugia numa caverna, a caverna de Adulão, fugindo de um ensandecido Saul, que desejava matá-lo. Seus irmãos e toda a casa de seu pai souberam, e foram para a caverna para estar com ele. E o mais surpreendente: ajuntaram-se a Davi todos os homens que “se achavam em aperto, endividados, e todos os amargurados de espírito”, e Davi se fez chefe deles (1Sm 22.1-2). Quem está no olho do furacão não está só.

Desdenho a “fé” dos falastrões da TV, mas me comovo com a fé daquelas mães que levam seus filhos todos os dias para tratamento na AACD. Não me comovo com testemunhos patéticos de “prosperidade”, mas me emociono vendo filhos cuidando de seus velhos com o mal de Parkinson ou Alzheimer, que nem os reconhecem mais. Acho que agora compreendo quando o Pregador diz que “melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens” (Ecl 7.2). Sim, precisamos conhecer o fim para saber viver o meio.

Hoje não nos reunimos mais em uma caverna em torno de um homem – seja ele sacerdote, pastor ou apóstolo – mas em torno Daquele que compreende o que é sofrer, pois passou por esse caminho antes de nós. Jesus, o Filho de Davi está preparado para receber as almas angustiadas que se unirão à Sua volta, obedecendo à sua vontade. Ele recebe a todos, por mais miseráveis que sejam.

Nossas reuniões não são para os felizes, nem para os sãos, e nem para os que bastam a si mesmos, mas para quem tem algo difícil de suportar, e vem até a Cruz para chorar, pedir, suplicar. Venha se unir em torno de Cristo.

Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br