Vivemos momentos onde a mais profunda confusão religiosa se abateu sobre nós. Novos profetas surgem a cada dia, novas mensagens e rituais, mudanças de paradigmas. A fé, sob o ponto de vista institucional enfrenta uma crise de credibilidade irreversível. Não há mais volta. Enormes catedrais e luxuosos templos de mármore servirão de mausoléu daquele Cristianismo perpetrado por Constantino e seguido até hoje. É o que já acontece na Europa.
Nada tenho contra templos, mas eles de forma alguma são Igreja quando ali falta o que existiu de mais precioso nos primeiros cristãos: a proclamação autêntica e transformadora da Palavra (kerygma), e o compartilhar de amizade e comunhão verdadeiras (koinonia). Foram esses os pilares da Igreja nos seus primórdios. Hoje, ao invés da koinonia, reina a pleonexia, que consiste no desejo de possuir “cada vez mais”, segundo a paixão humana de ter pelo ter.
Ser participante de um grupo religioso nem sempre testemunha favoravelmente sobre alguém. Aliás, existe a possibilidade dessa pessoa ter “piorado”. Foi o que aconteceu com uma parcela dos crentes de Corinto, porquanto eles se ajuntavam “não para melhor, senão para pior” (1Co 11.17). Reunir-se para buscar privilégios para si, ou fechar-se em guetos como forma de separação do mundo, não leva ninguém a se tornar melhor, ao contrário.
Logo, então, nos vem à mente a pergunta: Toda igreja é boa? Obviamente, não. Se a Igreja não for um canal de Deus para levar ao crescimento da fé, à comunhão, ao amor, ao desenvolvimento de nossa humanidade e ao serviço, ela se torna uma instituição estéril. Ouvir incontáveis pregações-chavão vazias de conteúdo, e participar de aglomeração que nenhum proveito maior traz, é melhor ir a uma livraria e ler um bom livro. Fará mais bem à alma.
Vida cristã aliada ao consumismo, às futilidades e espiritualidade desconectada do Espírito é pura religiosidade. Não é a toa que haja tanta doença, tanta neurose, tantos escândalos, líderes desafeiçoados, e performances midiáticas para agradar multidões. Sistemas religiosos que criam regras, leis, e dogmas contrários aos valores do Evangelho, provocam a anti-vida. Sacerdotes que, por decisão institucional não podem expressar sadiamente o Eros presente na constituição humana, o farão sadicamente. Repressão só pode reproduzir doença.
Cristãos nominais que só procuram a igreja para casar e batizar, e evangélicos que idolatram seus cantores e líderes, mostram que muita gente ainda não passou por uma conversão genuína.
Dizer que “segue” a bíblia, sem compreensão, também está longe da conversão. “Mas está na bíblia, meu irmão!”. Quantas vezes já ouvi essa frase para justificar idéias estapafúrdias, pontos de vista deturpados, e condenação de pessoas ou grupos ao fogo eterno.
“Está” na bíblia, mas não significa que “é” a Palavra. Poderia dar inúmeros exemplos de textos transformados em letra que mata. Um pequeno conhecimento bíblico às vezes é pior que nenhum. Alguém pode imaginar estar seguindo a bíblia, mas estará errando o alvo, se não compreendeu aquilo que o Espírito quis mostrar.
Se permanecermos somente na letra correremos sério risco de nos tornar cruéis, maldosos e justiceiros. Quantos pastores, zelosos por Deus, mas não com entendimento (Rm 10.2), têm destruído vidas apontando para versos bíblicos, vidas que poderão rejeitar o Eterno pelo restante de seus dias, pois conheceram um “Deus” feito à imagem e sentimento dos homens.
Quando falamos de conversão, a questão não é somente acreditar em Deus. É o de menos: isso até os demônios fazem e tremem (Tg 2.19). Aliás, o povo brasileiro é extremamente crédulo: ele acredita em Deus, em Jesus, em Macedo, Expedito, Krishna, Daime, vai à igreja aos domingos e frequenta alguma mesa-branca às sextas.
O que falta é a conversão genuína a Deus. E isso nada tem a ver com “adesão” a ministérios e é infinitamente mais que ter agradáveis sentimentos religiosos. Essa conversão atinge o homem na sua vida integral: toca a mente, o corpo, a atitude, a ética, o trabalho, os relacionamentos, confere nova disposição mental, e permite ser tomado por Aquele que é.
Antes da conversão genuína separamos as áreas da vida entre sagrado e secular, onde sagrado é aquilo que é competência de Deus: a oração, a igreja, o culto, e secular é aquilo ao qual eu detenho controle: o meu tempo, o meu dinheiro, minha diversão, meus planos.... Quando eu tenho uma conversão genuína, Deus adquire nova importância e age sobre tudo. Conversão genuína nos leva a uma vida de submissão a Cristo.
Ou Deus é o centro de nossa vida ou Ele não é nada.
Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br
segunda-feira, 17 de maio de 2010
terça-feira, 11 de maio de 2010
A verdade: Texto base para nossa Reflexão João 18.33-40
“Que é a verdade?” (v.38)
Essa foi a pergunta feita por Pilatos à Jesus pouco antes de entregá-lo ao povo, que por interesses diversos, inclusive políticos, pediu, ao mesmo tempo que incentivou, o veredicto de morte.
Depois de seu questionamento apavorado, quase atrapalhado, o bem sucedido Imperador Romano Pilatos nem se quer aguardou a resposta de Jesus – de costas para Ele – foi ao povo sedento por ver sangue derramado: e tinha que ser o do nazareno. Fico tentando imaginar como soou nos ouvidos do Mestre, e nos corredores da morada celeste (Jo 14.2), a frase mais hedionda que a humanidade já proferiu: não soltem esse Jesus, o galileu, soltem Barrabás! (Cf. v. 40)
Ele começou a morrer bem antes de ser pregado na cruz
Relatos dos momentos que antecedem a morte de Jesus nos trazem uma sensação mista e controversa de pavor (pela crueldade romana), e de revolta (pelo assassinato de Jesus); mas também de alívio (porque seu sangue derramado é vida). Mas quase não percebemos que cometemos um erro ao relacionarmos estritamente a morte de Jesus ao madeiro, à cruz; como se pudéssemos celebrar o evento como uma data perdida na história; recuperada só na comemoração da ressurreição! um evento externo à mim, isolado do hoje da minha vida!
Nesse caso acabamos por incorrer num reducionismo patogênico e não nos avaliamos a nós mesmos na nossa caminhada de fé, sobre o que sabemos e cremos acerca da verdade chamada Jesus.
Podemos entender Jesus na cruz como o resultado da ausência e/ou morte de Deus e do temor à Deus no coração do povo; foi por isso que Deus se empenhou num plano ousado (Jo 3.16); a morte de Jesus foi necessária por ausências infinitas que separam o ser humano de Deus; evocada pelo pecado que afasta criatura do criador.
Significa que quando eu olho para Jesus na cruz e choro de emoção; e agradeço à Deus pelo seu amor incondicional; e quando eu olho para a cruz vazia tenho a feliz sensação de esperança na certeza do porvir: sim, eu entendo - o meu redentor vive! No entanto, se deixo de ver o evento de Cristo na cruz como se esse fosse um espaço isolado e distante de mim e olho com sinceridade para a minha história, sondando cada batida descompassada do meu coração, percebo: quase sempre, Jesus está às portas de um novo sepultamento!
Não havia espaço para Jesus no Império Romano, muito menos no coração de Pilatos; tampouco em nossos controversos corações. A crise hodierna com relação à verdade pode ser um indício da crucificação moderna do Jesus que deveria estar habitando dentro de cada um de nós; que ficou reduzido e perdido no evento da cruz.
As mesmas perguntas de Pilatos: Uma pessoa que passa pela crise de Pilatos, assim como ele, entrega a discussão de Jesus para o povo
Constantemente me vejo tentado discutir “verdades e o quanto elas são ou não são absolutas”. Tenho entendido que isso é um erro! Jesus disse que Ele é a verdade (Jo 14.6); isso significa que a verdade está garantida em Deus. Tudo o mais são pseudo-verdades, conceitualizações transitórias – porque fruto de teorizações humanas: o próprio ser humano é transitório. Paulo entendeu isso quando disse aos de Corinto que conhecemos “em parte”, o perfeito está por vir e quando Ele vier o “em parte” será aniquilado! (1Co 13.9-10).
Quando não tenho o entendimento de que a verdade está garantida em Jesus Cristo; quando não conheço e reconheço à Jesus como o Messias, Senhor e Salvador da minha vida, entro num conflito existencial interminável: comigo mesmo, com irmãos/ãs e com Deus. O resultado desse conflito existencial é que num momento de tensão, pressionado, acabo por crucificar Jesus ao consultar unicamente as expectativas do povo com relação à Ele; é exatamente quando perco a capacidade de acreditar e crer no que o meu coração me indica com relação à verdade (Rm 10.9-10).
O problema de Pilatos não foi ouvir “segundas e terceiras opiniões” (ouvir o povo), consideremos isso como atitude saudável! Pilatos sentenciou Jesus à morte quando não soube reconhecer n’Ele “O Caminho, A Verdade, e A Vida” (Jo 14.6). O erro não foi ir ao povo, e sim ir ao povo sem estar convicto em seu coração sobre a identidade divino-messiânica de Jesus.
Quando não estou certo da verdade: Jesus é o Cristo, Filho de Deus (Mt 16.16), acabo por conviver com “ares de morte”; até que esse vai ficando impregnado em mim, e domesticado nem me incomoda mais (1Timóteo 4.1-5): o evento real fica esquecido dentro de mim, reduzido na eventualidade da cruz. Não percebo que minha vida vai obedecendo aos contornos de um grande ponto de interrogação. Para nos certificarmos sobre isso, basta percebermos no texto bíblico compartilhado (Jo 18), a quantidade de perguntas através das quais Pôncio Pilatos se aproxima de Jesus.
Conclusão
Se ando em crise com relação à verdade, a mesma crise de Pilatos, estou muito perto de num momento tenso em que o nome de Jesus estiver em xeque, lavar as minhas mãos sobre o efeito real da vida abundante possível através do Messias. Consultar a opinião do povo não é essencialmente ruim, no entanto nesses momentos cabe uma auto-avaliação de à quantas anda a minha história com Jesus e Jesus na minha história; sobre a porção de Deus no meu coração e a minha intimidade com Ele.
Frente à frente com Jesus ...
Perguntas excessivas falam muito mais do descontrole com relação à minha existência, e minha inabilidade para com a verdade. Questionamentos filosóficos, palavras verbalizadas que buscam unicamente o relativismo extremo, se o meu coração está vazio de fé, não são tentativas sinceras de aproximar-me de Jesus; não me levam à lugar algum à não ser ao evento isolado da cruz: o que ficou perdido em alguma parte da história, na minha história, e em algum lugar dentro de mim - onde a pedra do sepulcro nem mesmo foi removida. Fica-nos a reflexão, na esperança de que ela, de alguma forma, nos oriente para a eternidade.
Essa foi a pergunta feita por Pilatos à Jesus pouco antes de entregá-lo ao povo, que por interesses diversos, inclusive políticos, pediu, ao mesmo tempo que incentivou, o veredicto de morte.
Depois de seu questionamento apavorado, quase atrapalhado, o bem sucedido Imperador Romano Pilatos nem se quer aguardou a resposta de Jesus – de costas para Ele – foi ao povo sedento por ver sangue derramado: e tinha que ser o do nazareno. Fico tentando imaginar como soou nos ouvidos do Mestre, e nos corredores da morada celeste (Jo 14.2), a frase mais hedionda que a humanidade já proferiu: não soltem esse Jesus, o galileu, soltem Barrabás! (Cf. v. 40)
Ele começou a morrer bem antes de ser pregado na cruz
Relatos dos momentos que antecedem a morte de Jesus nos trazem uma sensação mista e controversa de pavor (pela crueldade romana), e de revolta (pelo assassinato de Jesus); mas também de alívio (porque seu sangue derramado é vida). Mas quase não percebemos que cometemos um erro ao relacionarmos estritamente a morte de Jesus ao madeiro, à cruz; como se pudéssemos celebrar o evento como uma data perdida na história; recuperada só na comemoração da ressurreição! um evento externo à mim, isolado do hoje da minha vida!
Nesse caso acabamos por incorrer num reducionismo patogênico e não nos avaliamos a nós mesmos na nossa caminhada de fé, sobre o que sabemos e cremos acerca da verdade chamada Jesus.
Podemos entender Jesus na cruz como o resultado da ausência e/ou morte de Deus e do temor à Deus no coração do povo; foi por isso que Deus se empenhou num plano ousado (Jo 3.16); a morte de Jesus foi necessária por ausências infinitas que separam o ser humano de Deus; evocada pelo pecado que afasta criatura do criador.
Significa que quando eu olho para Jesus na cruz e choro de emoção; e agradeço à Deus pelo seu amor incondicional; e quando eu olho para a cruz vazia tenho a feliz sensação de esperança na certeza do porvir: sim, eu entendo - o meu redentor vive! No entanto, se deixo de ver o evento de Cristo na cruz como se esse fosse um espaço isolado e distante de mim e olho com sinceridade para a minha história, sondando cada batida descompassada do meu coração, percebo: quase sempre, Jesus está às portas de um novo sepultamento!
Não havia espaço para Jesus no Império Romano, muito menos no coração de Pilatos; tampouco em nossos controversos corações. A crise hodierna com relação à verdade pode ser um indício da crucificação moderna do Jesus que deveria estar habitando dentro de cada um de nós; que ficou reduzido e perdido no evento da cruz.
As mesmas perguntas de Pilatos: Uma pessoa que passa pela crise de Pilatos, assim como ele, entrega a discussão de Jesus para o povo
Constantemente me vejo tentado discutir “verdades e o quanto elas são ou não são absolutas”. Tenho entendido que isso é um erro! Jesus disse que Ele é a verdade (Jo 14.6); isso significa que a verdade está garantida em Deus. Tudo o mais são pseudo-verdades, conceitualizações transitórias – porque fruto de teorizações humanas: o próprio ser humano é transitório. Paulo entendeu isso quando disse aos de Corinto que conhecemos “em parte”, o perfeito está por vir e quando Ele vier o “em parte” será aniquilado! (1Co 13.9-10).
Quando não tenho o entendimento de que a verdade está garantida em Jesus Cristo; quando não conheço e reconheço à Jesus como o Messias, Senhor e Salvador da minha vida, entro num conflito existencial interminável: comigo mesmo, com irmãos/ãs e com Deus. O resultado desse conflito existencial é que num momento de tensão, pressionado, acabo por crucificar Jesus ao consultar unicamente as expectativas do povo com relação à Ele; é exatamente quando perco a capacidade de acreditar e crer no que o meu coração me indica com relação à verdade (Rm 10.9-10).
O problema de Pilatos não foi ouvir “segundas e terceiras opiniões” (ouvir o povo), consideremos isso como atitude saudável! Pilatos sentenciou Jesus à morte quando não soube reconhecer n’Ele “O Caminho, A Verdade, e A Vida” (Jo 14.6). O erro não foi ir ao povo, e sim ir ao povo sem estar convicto em seu coração sobre a identidade divino-messiânica de Jesus.
Quando não estou certo da verdade: Jesus é o Cristo, Filho de Deus (Mt 16.16), acabo por conviver com “ares de morte”; até que esse vai ficando impregnado em mim, e domesticado nem me incomoda mais (1Timóteo 4.1-5): o evento real fica esquecido dentro de mim, reduzido na eventualidade da cruz. Não percebo que minha vida vai obedecendo aos contornos de um grande ponto de interrogação. Para nos certificarmos sobre isso, basta percebermos no texto bíblico compartilhado (Jo 18), a quantidade de perguntas através das quais Pôncio Pilatos se aproxima de Jesus.
Conclusão
Se ando em crise com relação à verdade, a mesma crise de Pilatos, estou muito perto de num momento tenso em que o nome de Jesus estiver em xeque, lavar as minhas mãos sobre o efeito real da vida abundante possível através do Messias. Consultar a opinião do povo não é essencialmente ruim, no entanto nesses momentos cabe uma auto-avaliação de à quantas anda a minha história com Jesus e Jesus na minha história; sobre a porção de Deus no meu coração e a minha intimidade com Ele.
Frente à frente com Jesus ...
Perguntas excessivas falam muito mais do descontrole com relação à minha existência, e minha inabilidade para com a verdade. Questionamentos filosóficos, palavras verbalizadas que buscam unicamente o relativismo extremo, se o meu coração está vazio de fé, não são tentativas sinceras de aproximar-me de Jesus; não me levam à lugar algum à não ser ao evento isolado da cruz: o que ficou perdido em alguma parte da história, na minha história, e em algum lugar dentro de mim - onde a pedra do sepulcro nem mesmo foi removida. Fica-nos a reflexão, na esperança de que ela, de alguma forma, nos oriente para a eternidade.
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