terça-feira, 30 de agosto de 2011

ESTAMOS CARENTES DE COISAS ESSENCIALMENTE BOAS

“Estamos carentes de coisas, essencialmente, boas!” – Ressoa do púlpito minha primeira frase do sermão de domingo à noite; diante dos olhares atentos, e agora espantados, da congregação, que imaginava estar servida de tantas coisas boas pela sociedade moderna que o fato de ouvir o contrário é tido como loucura aos seus ouvidos. Afinal, basta ligar a TV para ser inundado de propostas mais que boas, excelentes e imperdíveis, que insistem para nos dar a sensação de que tudo que adquirirmos é bom, enquanto tudo que temos pode, e deve ser substituído.


Noutro dia, eu me metia a dar conselhos nutricionais a um amigo que gostava muito de beber refrigerantes, porém lutava contra a obesidade e, por decorrência desta, de pressão alta. Disse a ele, na minha ignorância inocente, que uma boa solução seria, então, beber refrigerantes diet, pois os mesmos não possuem açúcar.

Ainda não lhes falei, mas minha esposa é nutricionista e pesquisadora da área da saúde humana. Então, cheguei até ela e contei a contribuição que eu havia dado para a vida de meu amigo. Fiquei surpreso com a resposta de minha esposa que disse que o refrigerante diet realmente não possui açúcar, entretanto possui quase o dobro de sódio e isto seria terrível para a pressão arterial de meu amigo.

Com este caso aprendi duas grandes lições. A primeira foi a de não me meter a falar sobre aquilo que não estou preparado. A segunda foi que estamos carentes de coisas essencialmente boas!

Nem mesmo os nossos vegetais são mais confiáveis. A terra não está falhando, porém o homem, em sua necessidade de produzir tanto a mais, multiplica os agrotóxicos ao ponto de ao comermos um tomate não sabermos se suas boas vitaminas ainda resistem frente aos venenos que são depositados sobre os mesmos.

A tecnologia é boa, mas por causa dela muitas pessoas perderam seus empregos e ficaram impossibilitadas de sustentarem suas famílias. As indústrias são tão boas que nos permitem vivermos diversos benefícios e confortos, em troca disso poluem nosso ar, contaminam nosso solo e não sabemos se os avanços que nos proporcionaram equivalem aos prejuízos causados para nossa própria saúde.

Hoje vemos um fenômeno tão triste, que tem se tornado cada vez mais comum, de homens e mulheres que trabalham sua vida inteira, ganham muito ou pouco dinheiro, e ao se aposentarem gastam tudo que ganharam com tratamentos médicos, com remédios, para curar as doenças adquiridas durante toda a vida em seus próprios locais de trabalho.

Estamos carentes de coisas que nos sarem completamente e não de remédios que curem uma doença e adoeçam outra parte do corpo. Precisamos de valores que façam um bem perene à nossa alma e não destes que nos satisfazem momentaneamente e nos envergonham eternamente.

Necessitamos de atitudes que façam a vida evoluir por inteiro. Chega de tecnologia que avança as comunicações, o transporte, a medicina, mas retrocede, ao mesmo tempo, a moral, a ética, a saúde e a dignidade humana. Chega também de ações que são boas apenas para alguns seres humanos e crescem em função da miséria de outros seres humanos.

Como alguém que segue o caminho de formação de um teólogo, quero apresentar um valor e propor um modo de vida essencialmente bom. E para isto recorro à minha regra de fé, a qual considero como manual de instrução de todo ser humano: a Bíblia.

A Bíblia, o manual da vida, assim como o manual de instrução de tantos eletrodomésticos, muitas vezes é deixado de lado e recorre-se a ele apenas quando há algum problema de funcionamento. Pois bem, a mim parece-me ser este o momento. Algo está errado, recorramos ao nosso manual, deixando claro que se já estivéssemos sob suas recomendações, muitos problemas já poderiam ter sido evitados.

O Salmo 133 nos fala de um princípio bom em nível profundo, em sua essência. Viver em união com os irmãos é essencialmente bom. E esta é uma proposta de vida que vai de encontro à nossa atual formação ideológica. Cada vez mais individual e sectário, o homem e a mulher moderna precisam se esforçar para ter uma vida de união com outra pessoa.

Já percebeu como os seres humanos tem estado cada vez mais isolados uns dos outros? A comunicação criada para aproximar as pessoas tem possibilitado a ilusão de que estamos sempre pertos uns dos outros, embora a distância real seja, na verdade, enorme. Sempre dizemos que a qualquer momento podemos pegar um avião ou um ônibus e irmos nos encontrar com nossos amigos e familiares. Porém, nosso ativismo e nossa agenda, sempre apertada nunca nos permite tirar um tempo para sentirmos o toque daqueles (que um dia foram) realmente próximos.

Vivemos em busca de ser bem-sucedido. Mas que sucesso é este que quando alcançado muitos se vêem completamente sozinhos. O problema está no fato de pensarmos que ser bem-sucedido está ligado apenas à área financeira. E ao buscarmos esse sucesso capitalista precisamos abrir mão de muitos valores, sem os quais não somos plenamente felizes.

Ouvi uma frase que dizia que “filho bem-sucedido é uma faca de dois gumes”, ao mesmo tempo que se está feliz por seu sucesso você se vê sem ele, pois neste mundo globalizado, onde o longe finge que é perto, muitas vezes eles vão para bem longe para alcançar o sucesso e os pais se separam dos filhos para serem bem-sucedidos.

Mas este preço precisa ser pago? Isto é realmente bom? O preço do sucesso é este? Preciso abrir mão da companhia de meus amigos e familiares para ser bem-sucedido? Sou a favor do equilíbrio, quero crescer em minha profissão, mas equilibrado, sem abrir mão dos valores éticos e morais que valorizam a vida e a comunhão com meus irmãos.

Outra proposta essencialmente boa está na carta de S. Paulo aos Romanos 12.2. Neste texto o apóstolo nos fala da vontade de Deus que é boa, perfeita e agradável. E que para podermos experimentá-la precisamos nos transformar pela renovação da nossa mente e sem ganhar a forma do mundo. Forma esta que é capitalista, individualista e todo relativo. O único absoluto da sociedade moderna é que tudo é relativo. Mas não posso tomar esta forma do mundo. Preciso, por vezes, nadar contra a correnteza deste rio que cresce cada vez mais e luta por afogar todos que não estão indo contra a sua forma.

Eu quero aquilo que é realmente bom. Eu quero a vontade de Deus para minha vida, vivendo em comunhão com meus irmãos! Que aquele que morreu na cruz, mas ressuscitou ao terceiro dia, Jesus, nos dê força e entendimento da sua vontade que é perfeita, agradável e boa para minha e para tua vida!

Hugo Gonçalves de Freitas
Sem. da Igreja Metodista -
Faculdade de Teologia da Igreja Metodista de São Paulo (UMESP)