Há certos tipos de doenças que somente aquele médico sensível reconhecerá que não se resolve com remédio. Mas como o paciente por vezes não aceita sair do consultório sem levar consigo alguma receita, é hora, então, do doutor abrir a gaveta e dar-lhe um frasco de comprimidos cujo único componente básico é a inofensiva farinha de trigo, ou seja, um placebo.
Placebo vem do latim “placére” e significa “ser do agrado, prazeroso”. Placebos dão alívio momentâneo, ajudam a aplacar a dor e fazem a pessoa imaginar que tudo está bem.
Entretanto, há doenças instaladas no homem que carecem de um corretivo total e completo, e somente o Evangelho pode dar. Porém, esse remédio pode parecer por demais repugnante e amargoso, e então, para se amenizar os sintomas do mal-estar da alma, recorrem-se a alguns artifícios: há o placebo-compras, placebo-noitadas, bebidas, drogas, sexo... que parecem fazer bem enquanto seus efeitos perduram.
Concordo que até mesmo a religião pode ser um placebo. E de fato é quando ela só pretende anestesiar a consciência e retirar a pessoa da luta da vida, alterando o seu emocional por instantes, sem, entretanto dar-lhe respostas que tocam a totalidade de seu ser. Foi justamente isso que Marx observou quando disse que a “religião é o ópio do povo”. Ele estava correto na sua constatação. Não é justamente isso que acontece quando tantos se alienam num mundo de religiosidade, que ao invés de libertar, manieta? Quantos fazem da religião um lugar para verem atendidos seus objetos de desejo? Outros se retiram do mundo e já não se consideram responsáveis por mais nada neste planeta. Marx tinha razão: para estes, religião é narcótico, é anestésico, é um opiáceo.
Mas isto não é o Evangelho de Cristo, que atinge o homem em suas estruturas e em suas entranhas de forma cabal, nem a bíblia é um placebo metafísico, nem o discípulo de Cristo é um resignado com a situação, nem igreja é lugar para se refugiar uma vez por semana e receber ali uma dose forte na veia para agüentar os outros seis dias. Evangelho não tira a pessoa do mundo, não doura a pílula, não esconde ninguém numa caverna. Jesus rejeitou peremptoriamente a proposta de Pedro para fazerem três tendas e habitarem todos no monte da transfiguração: “Pedro, você não sabe o que fala”. Ou seja: “Pedro, não é aqui em cima em meio à luz brilhante o nosso lugar: a nossa missão é lá embaixo, na escuridão, junto ao povo”. O Mestre nunca quis dar placebo aos seus discípulos.
Evangelho não é sessão espírita, não é busca de êxtases, nem conversa com anjos. Fé cristã não é rebaixamento da consciência, mas é libertação da mente e do espírito de todas as suas amarras, preconceitos e de todo conformismo. Os profetas de Deus foram todos eles contestadores do “status quo” – e pagaram caro por isso. Quando os apóstolos chegaram a Tessalônica, disseram deles: “estes que têm transtornado o mundo chegaram também aqui” (Atos 17.6).
Vivemos uma época de “teologia da caixinha de promessas”, onde não se lê a Palavra, não se busca vida nela, mas se toma uma drágea de versículo-placebo para passar o dia feliz. Multidões vão ao delírio quando pastores gritam do púlpito uma série de placebos-chavões. Afinal, é isso que querem ouvir. O mesmo vale para os eventos de massa do mundo musical-gospel, que a julgar pela qualidade e conteúdo, ao invés de capacitar o cristão para a luta diária, acaba tornando-o sério candidato a uma lobotomia.
Estamos no mundo não para concordarmos com ele ou conformarmo-nos, mas para dizer que não aceitamos seus princípios, não engolimos suas mentiras, não cedemos aos seus encantos. Por isso que seguir a Cristo não é para pusilânimes, nem para quem busca conforto.
Nossa postura não é de quem está à vontade neste mundo, e nem como um antigo cântico retratava: “somos um povo alegre e mui feliz”. Na verdade, o cristão bíblico está mais para perplexo e não-conformado. Se considerarmos que tudo o que aí está expressa a vontade de Deus, então eu deveria apoiar e não lutar contra isto.
Por mais confortadores que sejam os placebos espirituais, não é possível viver de forma madura somente se alimentando deles. Jesus Cristo é o choque de realidade que todos precisamos levar. Não é com esse evangelho água-com-açúcar que esperamos chegar a algum lugar.
Igreja é mero placebo para quem vai como distração, para quem toca seu instrumento sem coração, para quem ora sem paixão e para quem Deus é só mais um objeto de adoração.
Cuidado!
Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br
Placebo vem do latim “placére” e significa “ser do agrado, prazeroso”. Placebos dão alívio momentâneo, ajudam a aplacar a dor e fazem a pessoa imaginar que tudo está bem.
Entretanto, há doenças instaladas no homem que carecem de um corretivo total e completo, e somente o Evangelho pode dar. Porém, esse remédio pode parecer por demais repugnante e amargoso, e então, para se amenizar os sintomas do mal-estar da alma, recorrem-se a alguns artifícios: há o placebo-compras, placebo-noitadas, bebidas, drogas, sexo... que parecem fazer bem enquanto seus efeitos perduram.
Concordo que até mesmo a religião pode ser um placebo. E de fato é quando ela só pretende anestesiar a consciência e retirar a pessoa da luta da vida, alterando o seu emocional por instantes, sem, entretanto dar-lhe respostas que tocam a totalidade de seu ser. Foi justamente isso que Marx observou quando disse que a “religião é o ópio do povo”. Ele estava correto na sua constatação. Não é justamente isso que acontece quando tantos se alienam num mundo de religiosidade, que ao invés de libertar, manieta? Quantos fazem da religião um lugar para verem atendidos seus objetos de desejo? Outros se retiram do mundo e já não se consideram responsáveis por mais nada neste planeta. Marx tinha razão: para estes, religião é narcótico, é anestésico, é um opiáceo.
Mas isto não é o Evangelho de Cristo, que atinge o homem em suas estruturas e em suas entranhas de forma cabal, nem a bíblia é um placebo metafísico, nem o discípulo de Cristo é um resignado com a situação, nem igreja é lugar para se refugiar uma vez por semana e receber ali uma dose forte na veia para agüentar os outros seis dias. Evangelho não tira a pessoa do mundo, não doura a pílula, não esconde ninguém numa caverna. Jesus rejeitou peremptoriamente a proposta de Pedro para fazerem três tendas e habitarem todos no monte da transfiguração: “Pedro, você não sabe o que fala”. Ou seja: “Pedro, não é aqui em cima em meio à luz brilhante o nosso lugar: a nossa missão é lá embaixo, na escuridão, junto ao povo”. O Mestre nunca quis dar placebo aos seus discípulos.
Evangelho não é sessão espírita, não é busca de êxtases, nem conversa com anjos. Fé cristã não é rebaixamento da consciência, mas é libertação da mente e do espírito de todas as suas amarras, preconceitos e de todo conformismo. Os profetas de Deus foram todos eles contestadores do “status quo” – e pagaram caro por isso. Quando os apóstolos chegaram a Tessalônica, disseram deles: “estes que têm transtornado o mundo chegaram também aqui” (Atos 17.6).
Vivemos uma época de “teologia da caixinha de promessas”, onde não se lê a Palavra, não se busca vida nela, mas se toma uma drágea de versículo-placebo para passar o dia feliz. Multidões vão ao delírio quando pastores gritam do púlpito uma série de placebos-chavões. Afinal, é isso que querem ouvir. O mesmo vale para os eventos de massa do mundo musical-gospel, que a julgar pela qualidade e conteúdo, ao invés de capacitar o cristão para a luta diária, acaba tornando-o sério candidato a uma lobotomia.
Estamos no mundo não para concordarmos com ele ou conformarmo-nos, mas para dizer que não aceitamos seus princípios, não engolimos suas mentiras, não cedemos aos seus encantos. Por isso que seguir a Cristo não é para pusilânimes, nem para quem busca conforto.
Nossa postura não é de quem está à vontade neste mundo, e nem como um antigo cântico retratava: “somos um povo alegre e mui feliz”. Na verdade, o cristão bíblico está mais para perplexo e não-conformado. Se considerarmos que tudo o que aí está expressa a vontade de Deus, então eu deveria apoiar e não lutar contra isto.
Por mais confortadores que sejam os placebos espirituais, não é possível viver de forma madura somente se alimentando deles. Jesus Cristo é o choque de realidade que todos precisamos levar. Não é com esse evangelho água-com-açúcar que esperamos chegar a algum lugar.
Igreja é mero placebo para quem vai como distração, para quem toca seu instrumento sem coração, para quem ora sem paixão e para quem Deus é só mais um objeto de adoração.
Cuidado!
Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br
Um comentário:
Sou um apreciador dos artigos do Pr. Daniel Rocha. Gosto de sua inteligência e firmeza com que trata de temas em voga, a exemplo deste, e muitos outros, em tempo oportuno. Embora não possua a maestria em reger as palavras, como o Pr. Daniel Rocha o faz com tanta facilidade, tentarei tecer um comentário suscinto sobre este valioso artigo. "Placebos Espirituais" vem em boa hora. Temos, para nossa tristeza e vergonha, testemunhado até em colegas de ministério outrora dotados de siso, a contaminação com esse vírus que tem infectado nossas igrejas. O foco do evangelho, "a velha história, tem, sutilmente, se deslocado de sua essência, da graça salvadora e santificadora, do eterno, para as coisas efêmeras, e o pior é que é exatamente isso o que buscam os "consumidores de Extase espiritual" e também o que ministram os pseudo-ministros: Placebos Espirituais. As "unções" em suas modernas e múltiplas versões, tem engodado os enfermos "crentes" da nossa geração. Parabéns, Pr. Daniel, por mais um de seus muitos preciosos artigos. Parabéns Júnior pelo Blogger.
Um forte abraço.
Pr. Antônio Luiz
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