quarta-feira, 19 de agosto de 2009

TENDÊNCIAS PERIGOSAS


“Porque o meu povo é inclinado a desviar-se de mim; se é

concitado a dirigir-se acima, ninguém o faz” (Oséias 11.7)


Somos seres bondosos e agradáveis, nosso olhar é sempre manso para com todos, não levamos ninguém a mal, quando nos ofendem desejamos imediatamente perdoar o ofensor, e oramos diariamente pelos nossos inimigos, certo? Provavelmente errado.

Não precisa muito esforço para perceber que há em nós uma espécie de “tendência natural” que predispõe a todos numa mesma direção de comportamento. E justificamos: somos seres humanos normais que simplesmente seguem suas inclinações interiores.

Some-se a isso o fator “circunstância”. Certa feita o rei Saul desobedeceu às ordens do profeta Samuel, e fez o que não devia ter feito. Samuel chega e o reprova, mas ele se sai com essa: “fui forçado pelas circunstâncias” (1Sm 13.12). Já reparou que em todas as suas quedas, as circunstâncias colaboraram para que elas ocorressem?

A natureza humana é decaída, com propensão ao desvio, à dissimulação, ao pretexto, e à autojustificação. Nossos ouvidos estão mais abertos ao engano e aos sofismas que à Verdade. Até os que professam a fé são mais inclinados a desviar que se aproximar do Divino.

É difícil dizer “não” às tendências, mesmo quando estas ferem os valores de nossa fé. Estamos propensos a ir sempre com a multidão, e de repente nos pegamos falando e agindo como a massa, e quem vai na contramão é visto como estranho. É engraçado que até hoje pessoas se espantam quando digo que não assisti ao “Titanic”, que recebeu a maior campanha publicitária da história, e todos à época se viram “empurrados” em direção ao cinema.

Somos por natureza idólatras, e qualquer coisa serve como ídolo para ocupar o lugar do Eterno. Bastaram alguns dias de ausência de Moisés para que Israel fundisse um bezerro de ouro e exaltasse seu poder de tirá-los do Egito. Fica fácil entender então porque as multidões fabricam ídolos: há os da MPB, do rock, dos esportes, e pra seguir a “tendência”, os evangélicos também possuem os seus que falam, cantam (e gemem).

Confundimos com facilidade as coisas criadas – como árvores, animais ou rios – com o Criador. Somos por natureza mesquinhos, e a generosidade não faz parte dos relacionamentos diários. Nossa propensão é para o orgulho, não a humildade. Para dominar, não servir. Para o bem individual, não o coletivo. Somos servos dos impulsos e paixões, tomamos decisões consultando o fígado, e escorregamos facilmente para o destempero.

Jesus nunca se deixou levar pelos que tinham aparência “religiosa”, pois “ele mesmo sabia o que era a natureza humana” (Jo 2.25).

Não sei quais são suas “tendências” naturais. Mas posso dizer-lhe: cuidado! Muito provavelmente elas não expressam aquilo que o Eterno deseja ver em você. Permitir ser dirigido pelos impulsos e tendências mantém-nos presos às reações mais primitivas do nosso ser. Não é bom para nós, e não é bom para ninguém.

É preciso reconhecimento, humildade, e um mínimo de disciplina para dizer “não”. Mas, acima de tudo é preciso permitir que o Eterno conduza nossas vidas. O Pai deseja ver cada vez mais em nós a imagem de Seu Filho. O caminho de um ser pacificado interiormente haverá de passar por Cristo até o ponto de dizermos que “já não sou mais eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus” (Gl 2.20).

Li certa vez a oração de um puritano anônimo do século XVII, que falou muito a mim. Espero que fale com você também:

"Quando Tu quiseste me conduzir, eu tomei o controle da minha vida.

Quando Tu quiseste me governar, eu me dirigi a mim mesmo.

Quando Tu quiseste cuidar de mim, eu me bastei a mim mesmo.

Quando eu devia depender de tuas provisões, eu me abasteci de mim mesmo.

Quando eu devia me submeter à Tua providência, eu segui o meu desejo.

Quando eu devia estudar, amar, honrar e confiar em Ti, eu trabalhei para mim mesmo:

Eu sou por natureza um idólatra .

Senhor, meu maior desejo é levar meu coração de volta a Ti.

Convença-me que não posso ser meu próprio deus ou me fazer feliz a mim mesmo,

nem ser meu próprio Cristo para restaurar minha alegria,

nem ser meu próprio Espírito para me ensinar, me conduzir e me dirigir.

quando meu dinheiro for deus, tu me jogues para baixo,

quando meus bens forem meus ídolos, tu os faças voar para longe,

Mostre-me que nada destas coisas pode curar uma consciência ferida,

sustentar um esqueleto cambaleante, segurar um espírito desviante.

Então, leva-me para a cruz e me deixe lá".

Pr. Daniel Rocha

dadaro@uol.com.br

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