segunda-feira, 14 de junho de 2010

Eliabe-“ismo”: Resquícios da personalidade de Eliabe, irmão de Davi, na geração chamada pós-moderna - somos seres funcionais, nada mais que isso

1Sm 17.28: Ouvindo-o Eliabe, seu irmão mais velho, falar àqueles homens, acendeu-se-lhe a ira contra Davi, e disse: Por que desceste aqui? E a quem deixaste aquelas poucas ovelhas no deserto? Bem conheço a tua presunção e a tua maldade; desceste apenas para ver a peleja.

A Bíblia é também uma inspiração divina que fala do ser humano nos seus momentos críticos-existenciais; situações que a humanidade se percebe exposta e vulnerável à inimigos maiores e melhor preparados. O caso de Eliabe e Davi ilustra muito bem isso, o cenário em que se desenrola o texto bíblico é de um exército com medo de um gigante filisteu chamado Golias.

Um momento de descontrole emocional causado por uma tensão, não necessariamente me faz agir descontroladamente, pode, pelo contrário, fazer pular de dentro de mim aquele meu jeito real de enxergar a vida, e de tratar cada pessoa conforme eu sempre achei que elas deveriam ser tratadas. O desabafo do irmão mais velho de Davi, Eliabe, quando se reportou ao mais moço da casa de seu pai Jessé, nos fala muito sobre o que Eliabe pensava dentro de si sobre seu irmão Davi.

O descontrole psicológico, gerado pela presença marcante do gigante, fez com que Eliabe colocasse para fora o que ele pensou sobre Davi talvez durante todos os anos de convivência familiar, desde a infância. E mais, na fala de Eliabe fica-nos revelado um problema social concreto: o perigo de olhar as pessoas a partir de suas funções – funcionalismo - à isso eu chamei de Eliabe-ismo - que não me queimem por isso nos caldeirões efervescentes dos laboratórios de filologia.

A tendência de Eliabe é a nossa tendência

Davi foi levar lanche para seus irmãos que estavam acampados preparando-se para a batalha contra os filisteus. Segundo o relato bíblico, o comentário de Davi sobre o gigante incircunciso de Gate ter afrontado o nome do seu Deus, enfureceu Eliabe.

A tendência de Eliabe é a nossa tendência: quando não podemos com “o maior” (gigante), focamos nossa raiva contra “o menor”; contra alguém que eu sei - vou conseguir exercer poder e domínio. Fazemos isso, conscientes ou inconscientes, às vezes pelo simples prazer ou necessidade de desabafar!

Numa atitude incontrolável na tentativa de aliviar a minha tensão, ou aquilo que me aflige e angustia, fujo do gigante: fujo dos problemas reais! Conseqüentemente eu ataco alguém que é um irmão, uma irmã da casa de meu pai.

A “geração Eliabe” também não aceita que um pastor de ovelhas, e/ou um entregador de lanches, derrube gigantes. Isso nos parece estranho demais aos olhos e soa desconectado nos nossos ouvidos.

Imagine o Jornal Nacional noticiando que um caseiro, zelador da fazenda do patrão, ou um entregador de pizza, conseguiu sozinho montar a defesa de seu filho acusado injustamente diante de um tribunal implacável – defesa que o libertou definitivamente. Isso sabemos ser possível, mas a verdade é que algo parece ficar fora dos seu “devido lugar”; a pergunta que salta é: mas e o/ advogado/a?

Pois foi algo semelhante que aconteceu com Davi, vítima da agressão de seu irmão mais velho que havia sido preparado para ser guerreiro. No manual de “Eliabe-ísmo”, guerreia quem foi preparado para guerrear; meu irmão mais novo do que eu, um menino, um cuidador de animais, um entregador de lanches, não derruba gigantes: sua função não é essa!

A atitude de Davi nos serve de inspiração
Nesse mesmo capítulo 17, no versículo 30, percebemos uma atitude fantástica da parte de Davi. Ele não argumentou com seu irmão numa tentativa de prová-lo alguma coisa; ele simplesmente desviou-se de Eliabe. Desviar-se? nós precisamos aprender mais sobre isso!

Tempos modernos exigem de nós que nos especializemos cada vez mais num montão de coisas. Exige de nós habilidades diversas, e mais do que isso, nos faz ser o que sabemos fazer. “Funcionamos” nos confundindo com as máquinas, transformando-nos em seres funcionais, e somente isso. Recebemos pela nossa função, nos relacionamos por elas, nos organizamos à partir delas, sobrevivemos por elas; etc, etc, etc.

Davi nos mostra que podemos sim: cuidar de ovelhas, e entregar o lanche quando nosso pai mandar; mas podemos também derrubar gigantes. Não existe aqui a discussão da “função”, a questão é se estou ou não disposto à derrubar “o gigante de cada dia”. O exército de Israel, embora preparado, amedrontado pelo tamanho do gigante se escondeu; não estavam dispostos e determinados a derrubá-lo. Davi, além de determinado, tinha a fé em Deus de que aquele gigante cairia por terra.

O que precisamos aprender e guardar é que, antes de partir para a luta contra o gigante Davi precisou cuidar da fúria do seu irmão; um de dentro da própria casa. Muitas vezes nos vemos nessa situação, saímos para derrubar o gigante, mas perdemos a batalha porque alguém “de dentro” ainda acha que eu não deveria ou não poderia fazer isso.

Antes de sair para derrubar o Golias, desvie-se dos iracundos que teimam em te dizer onde é o seu lugar, de onde nunca deveria ter saído. Isso parece um detalhe bobo, mas ninguém vence o gigante que está “lá fora”, se antes não se desviar dos irmãos de dentro, aqueles que querem te amarrar nas suas funções e ler você à partir do que você sabe ou não fazer.

Conclusão

Deus quer usar você, não importa a sua função, antes sim sua fé disposição em derrubar gigantes. Mas antes disso você precisa de disposição de se desviar dos que tentam te aprisionar nas funções e fazer dela sua camisa de força.

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