quarta-feira, 13 de maio de 2009

A MENSAGEM QUE DEVEMOS PREGAR


Por Rev. Antônio Luiz de Freitas*

“Por esta razão, importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos. Se, pois, se tornou firme a palavra falada por meio de anjos, e toda transgressão ou desobediência recebeu justo castigo, como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram; dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e vários milagres e por distribuições do Espírito Santo, segundo a sua vontade” (Hebreus 2. 1-4).

Ao ler este texto, ocorre-me a razão pela qual temos encontrado tantos “crentes” fora do foco do genuíno evangelho de Jesus. Creio que jamais, como em nossos dias, tantas coisas têm-se propagado como “verdades”, enquanto a “lei da relatividade” eclipsa aquelas, às quais, deveríamos nos apegar de fato.

A tarefa principal da Igreja é anunciar o Plano de Salvação de Deus, para os seres humanos, através do sacrifício vicário de Jesus Cristo, como único e suficiente, consumado na cruz do Calvário, porém, com o passar do tempo, parece que a Igreja tem “perdido a mira” deste alvo!”. A “velha história” deixou de ser pregada, dando lugar às “estratégias”, que muitas vezes tornam-se em objeto da fé de muitos.

Temos presenciado a pregação de um “evangelho” sem compromisso. É uma enxurrada de pessoas do meio artístico se rotulando de “crentes” mas longe de apresentar os frutos da conversão e do arrependimento, continuando em suas práticas pecaminosas. Ardiloso engano! Não se apegaram com firmeza às verdades do verdadeiro Evangelho que salva e que transforma porque delas nada ouviram. Faltam, em nossas igrejas, crentes como aqueles de Beréia que “mergulhavam” na Palavra, pois hoje, a moda, é “surfar” sobre ela.

Quando abandonamos a essência e focamos mais a aparência, cometemos muitos erros, como, por exemplo, os desvios de doutrina que têm conduzido as pessoas às práticas pagãs; os modismos – ou ondas - que têm “fabricado” os “supercrentes” e a banalização da graça de Deus que tem gerado crentes sem compromisso. Tais práticas nos remetem à tempos que não vão tão longe, cujas práticas que levaram à deflagrar a Reforma Protestantes se identificam com as que têm assediado nossos contemporâneos.

A principal causa da Reforma Protestante foi a venda de indulgências, mas de maneira muito sutil ela ainda está sendo vendida no meio de muitas igrejas que se proclamam evangélicas, sob novas fórmulas: água do Rio Jordão; azeite do Monte das Oliveiras; pedrinhas do Rio Jordão; farinha da prosperidade; rosa do amor; sal do descarrego, etc.

O verdadeiro Evangelho é aquele que confronta o ser humano com o seu pecado em amor, e apresenta Jesus como a única solução. Não há outra maneira nem outras alternativas!
A Igreja do Senhor Jesus não pode ser uma empresa ou mercado onde se negocia com a boa fé das pessoas visando lucros e status aos “ministros do evangelho”. Paulo estava prisioneiro quando escreveu a Timóteo em II Tm 1.8: “Não te envergonhes, ... do seu encarcerado que sou eu”.

Não devemos perder de vista os principais elementos que motivaram a Reforma Protestante:

1- Somente a Graça (Ef 2. 8): A salvação não pode ser comprada. Não há indulgência ou perdão de pecados concedidos pela Igreja que possam abolir o pecado e garantir a salvação e a bênção de Deus, pois, estas são frutos da abundante graça de Deus. Não vêm de nós, é dom de Deus!

2- Somente a Fé: A salvação e as conseqüentes bênçãos de Deus não nos vêm por meio das nossas obras, mas pela fé nos méritos da paixão e morte de Jesus Cristo, através de quem nos tornamos filhos de Deus (Cf. Hb 10. 12-14).

3- Somente as Escrituras (Jo 5. 39): Este princípio, assim como os anteriores, foi muito enfatizado pelo apóstolo Paulo e por Lutero (Cf. II Tm 3. 15). Aprender a Bíblia e permanecer nela mantém nossa saúde espiritual!

QUE O SENHOR TENHA MISERICÓRDIA DE NÓS!
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* Pastor da Igreja Metodista em Santa Cruz. Cidade de Volta Redonda/RJ.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

"deus-água-com-açúcar" ...

Tem muita gente hoje servindo e divulgando um “deus” bricolado, fabricado a partir de uma colher que bate-pra-lá e prá-cá dentro de um copo com água e açúcar. Um "deus" culinariamente produzido - liquidificado. Ele é apático – ausente, e pior: um “deus” que desconhece o pecado humano, que não exorta - portanto não recupera ninguém – tudo está bom como está – e é sempre assim - basta estar como sempre estivemos. Pessoas que se escondem atrás de uma mentira, enganam-se dizendo que só precisam amar – mas é um amor cego e de via única - que não contempla exortação [logicamente entendo exortação como um processo de trazer para perto e não um passe de mágicas, onde alguém que pensa ter razão fere a outra parte], um amor que não contempla o verdadeiro pastoreio.

Não sou favorável ao abuso de poder; não sou favorável ao pastoreio repressor; à conversão imposta mediante técnicas que levam as pessoas ao medo do inferno, ou da punição. Não gosto da imagem do "deus-guerreiro" que derruba os meus inimigos. Não gosto do clima da “Guerra espiritual” dentro da Igreja, aquela "teoria da conspiração", mas a verdade e em contrapartida - é que, hoje, em muitas áreas de nossa vida em comunidade de fé estamos estacionados, estagnados, prostrados diante do “deus-água-com-açúcar”, cantando sempre na mesma cartilha, o mesmo refrão. A mesma dificuldade de liberar perdão, as mesmas ladainhas, as mesmas reclamações diante do Altar. Acho que precisamos guerrear mais contra nossas prostrações, sermos mais loucos e ousados diante dos desafios e demandas que a modernidade nos apresenta [isso é diferente de sermos dementes].

Não podemos subordinar a justiça de Deus ao amor, ambos são atributos inquestionáveis, como desculpa para não ensinar. Não podemos dizer para todos, em todo momento: “tudo está bom assim”. Precisamos confrontar o erro!! Inclusive enfrentarmos os nossos. Os efeitos da teologia do “deus-água-com-açúcar” são calamitosos, pareço ouvir aquele hino, a melodia e a harmonia são as mesmas, mas a letra completamente diferente: “eu venho como estou ... (2x), eu fico como eu vim, eu morro como eu sempre fui ...”. Pastores e pastoras que colocam-se à disposição mordômica desse “deus-modernoso”, acabam não falando mais sobre a necessidade da conversão à Jesus Cristo, sobre a necessidade de mudança de hábitos, sobre os danos que o pecado gera à alma humana. Os sermões não falam mais da necessidade de se voltar para Deus, e assim por diante ..... Tudo parece ser natural demais ... tudo parece ser normal demais.

Parece que nossa mente está sendo cauterizada por tantos modismos, eis mais um, bem diante de nós, visíveis à olho nu: a do “deus-água-com-açúcar”. Precisamos acordar para essa realidade. Isso se queremos ser filhos/as e gerar filhos/as, ou seremos bastardos? geraremos bastardos? [sem correção]. O Amor de Deus [Ágape] admite essa tensão da correção – da prática da justiça - a tensão gerada pela justiça recuperativa de Deus [Tsedaká].

Uma coisa que deve ficar registrado é isso, nossa correção, ou nosso sermão sobre a justiça de Deus, deve ter o intuito de recuperar, sempre!! Isso é o Evangelho das Boas Novas. Deixo aqui o convite: abandonemos o "deus-da-moda", voltemos ao primeiro amor [isso não é regressão] com aquele que nos chamou e nos libertou da escravidão de nossos maus hábitos.

Abraço.

domingo, 10 de maio de 2009

ATAFONA [Parte II]

Quando eu cheguei em Atafona/RJ fiquei fascinado com o fenômeno que é vivo nesse bairro de São João da Barra/RJ. O mar está “invadindo” Atafona: prédios, casas, ruas asfaltadas - tudo está sendo conquistado [depois explico o porquê desse termo] pelo mar.

Em Atafona, as dunas se levantam às alturas dos muros das casas, algumas realmente altas – é muita areia, por toda parte – em franco processo de desertificação [não no sentido literal do termo, mas quando o termo configura um solo que não pode produzir mais nada, uma areia que vem engolindo; além de considerarmos também aqui, especialmente a estética de deserto – talvez por isso, somado à realidade litorânea – é típico - a maior atividade econômica se desenvolve na área da pesca]: um cenário que nos envolve com seus ares escatológico-apocalípticos.

É realmente fantástico [pelo menos para mim – é importante considerarmos também as opiniões de quem mora lá, embora aqui eu não tenha, por enquanto, condições de fazer esse tipo de levantamento qualitativamente e quantitativamente de forma competente] o que acontece. Mas, como registrado anteriormente, não quero falar sobre o que acontece enquanto fenômeno, nem muito menos buscar os porquês que são divisores complexos de opiniões, mas sim fazer uma síntese sobre como esse fenômeno influencia a vida e o imaginário dos moradores desse bairro, turistas, etc.

Na entrada do bairro, uma placa diz algo que significa – sobre o imaginário imperativo – vamos privilegiar o religioso - É mais ou menos assim: “Atafona. A luta entre o Homem, o Rio e o Mar”. Numa outra placa, de uma determinada Igreja, essa mais ao centro do bairro – registra a seguinte frase, mais ou menos assim: “Atafona, o lugar onde o Homem, o rio e a fé se encontram”. Se é marketing fetichizador para atrair turistas, isso não nos importa agora, fato é que, ambas as frases estão carregadas de sentido teológico-religioso.

Considerando a primeira placa [a concepção da prefeitura], existe uma luta acontecendo ali, luta essa que, possivelmente, “o mar” está vencendo. Por isso eu usei o termo “sendo conquistado pelo mar” no início desse texto. Já na segunda placa [uma concepção religiosa], o que acontece é “um encontro”: da natureza com o homem que tem fé - e isso não exclui a possibilidade de que exista uma tensão instalada. Foi muito interessante olhar à beira-praia, onde muitas casas se acumulam em entulhos, e perceber em meio aos “escombros”, uma Igreja pentecostal ativa na comunidade, com suas estruturas preservadas, mas já não tão longe das águas do mar - aparentemente é uma Igreja expressiva.

Como minha passagem pelo bairro muito rápida, o que eu pude fazer foi imaginar muita coisa, aí eu fiquei olhando para essa Igreja pentecostal, imaginando o conteúdo do sermão do domingo à noite dos pregadores dessa Igreja. Qual seria o conteúdo teológico? Subordinado à qual imaginário religioso? Quais os textos bíblicos mais citados, qual livro é o referencial aqui? Não pude deixar de perceber que os textos bíblicos que relatam a volta de Cristo, fim dos tempos, juízo final, pecado e arrependimento, estão literalmente pichados por toda parte onde se percebe o caos da destruição causada pelo mar - escombros.

Isso é muito significativo para pastores/as-teólogos/as e teólogos/as, e/ou simpatizantes, só reforça a tese de que o cotidiano, o contexto forja a teologia, o contexto fornece o texto. O imaginário religioso em Atafona é visivelmente escatológico para alguns e predominantemente apocalíptico para outros. Lembra-nos o valor de estudarmos a teologia a partir da vida, da experiência: as experiências sempre transcendem às teorias.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

A revache dos "Três Porquinhos"


Recebi de um amigo por e-mail, a gravura não é de minha autoria - não sei qum é o/a autor/a.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

EM BUSCA DO EQUILÍBRIO PERDIDO

"Seja a vossa moderação conhecida
de todos os homens” (Fp 4.5)

Excesso de comodismo físico. Excesso de cuidado e prevenção. Excesso de preocupação com a vida e com o futuro. Dor excessiva, tristeza excessiva. Dorme-se demais, assiste-se TV demais, come-se demais.

Falta equilíbrio, falta moderação, e sobra instabilidade. A somatória dos excessos fatalmente leva a um desequilíbrio emocional, à neurose, ao cansaço, ao esgotamento espiritual.

“ - Ó Deus, dai-me estabilidade mental e emocional!”.

Esta oração deveria estar presente nos lábios de cada cristão. Entretanto, raramente ouvimos alguém reconhecer que lhe falta comedimento ou que esteja vivendo alguma instabilidade interior. Mas basta lançar um breve olhar para descobrir que uma destemperança latente habita a alma. Vejamos:

A bíblia orienta para que a nossa “palavra seja sempre agradável, temperada com sal” (Cl 4.6), mas é raro encontrar temperança no que diz respeito à forma e conteúdo de se falar ao outro. Reações desproporcionais e tempestades em copo d’água fazem parte do cotidiano.

“Longe de vós toda ira, gritaria, blasfêmias” (Ef 4.31), ensina o apóstolo Paulo, mas o desregramento e explosões de ira têm sido marca deste tempo.

Jesus veio para salvar o homem do pecado e da morte, e também de seus desequilíbrios. Andas muito preocupado com o dia de amanhã? Olhai os lírios do campo. Estás ansioso com o que haveis de comer e vestir? Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros.

Foi Jesus que vendo os discípulos cansados da missão e sem comer, chamou-os para repousar à parte num lugar deserto (Mc 6.31). Foi Ele que observando a excessiva tristeza de dois de seus pupilos no caminho de Emaús, perguntou-lhes: “que é isto que vos preocupas (Lc 24.17)? Foi Jesus que ordenou a Pedro guardar a espada na bainha, pela reação destemperada que teve diante dos soldados.

Saia dos extremos, abandone os destemperos, e venha para onde Deus quer que você esteja: uma vida centrada em Cristo. É ele que aponta onde exageramos. Não faça nada com raiva. Não tome nenhuma decisão em estado alterado: seja sempre a paz de Cristo o árbitro em vosso coração.

É importante ressalvar que vida cristã saudável e equilibrada nada tem a ver com a eliminação do desejo, como se este, fosse o problema. Não é o modo de vida “zen” do budismo que buscamos. Não é a filosofia do “yin-yang” do Tao que pregamos. Nosso equilíbrio não vem das emanações dos cristais, das propriedades dos florais ou do odor acre dos incensos.

Buscamos uma vida diferente centrada em Cristo, e dominada pelo Espírito Santo. Na fé cristã equilíbrio tem a ver com o “domínio próprio”, resultado do fruto do Espírito Santo agindo em nós. Equilíbrio é não deixar-se dominar pelas reações exageradas, pelos sentimentos explosivos ou de raiva, que todos nós estamos sujeitos. E isso tem a ver com a moderação em relação aos desejos e apetites (e não a supressão que acaba gerando cristãos doentes), tem a ver com a capacidade que o Espírito dá de controlar as paixões.

Há perigo também na falta de equilíbrio na espiritualidade. O desequilíbrio tem afetado o nosso culto a Deus. É quase certo que aquele que não encontrou seu centro emocional, e padece de ausência de comedimento nos relacionamentos, apresentará desequilíbrio espiritual, mesmo porque “vida espiritual” jamais está alienada dos outros aspectos da vivência, como se fosse uma categoria à parte. É triste ver pastores e líderes desfilando seus histrionismos e passando a visão aos seus liderados de que o exagero é normal e que verborragia é obra do Espírito.

Todas as manifestações da vida precisam experimentar uma dose de equilíbrio. Até mesmo aquilo que é virtuoso. Por exemplo: “não sejas demasiadamente justo” (Ec 7.16). E por que? Para que por trás de tua justiça não se esconda perversidade contra o próximo. Não sejas demasiadamente “espiritual” em sua visão de mundo, onde tudo é reduzido a demônios, encostos e potestades. Esta é uma visão deturpada do mundo que Deus criou.

Encontrar o centro significa ouvir a voz de Cristo dentro de si. Quando encontramos Jesus e o ouvimos suavemente falando em nosso coração, encontramos a nós mesmos, e sossegamos o nosso ser cansado. Chega de extremos!

Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br