"Seja a vossa moderação conhecida
de todos os homens” (Fp 4.5)
Excesso de comodismo físico. Excesso de cuidado e prevenção. Excesso de preocupação com a vida e com o futuro. Dor excessiva, tristeza excessiva. Dorme-se demais, assiste-se TV demais, come-se demais.
Falta equilíbrio, falta moderação, e sobra instabilidade. A somatória dos excessos fatalmente leva a um desequilíbrio emocional, à neurose, ao cansaço, ao esgotamento espiritual.
“ - Ó Deus, dai-me estabilidade mental e emocional!”.
Esta oração deveria estar presente nos lábios de cada cristão. Entretanto, raramente ouvimos alguém reconhecer que lhe falta comedimento ou que esteja vivendo alguma instabilidade interior. Mas basta lançar um breve olhar para descobrir que uma destemperança latente habita a alma. Vejamos:
A bíblia orienta para que a nossa “palavra seja sempre agradável, temperada com sal” (Cl 4.6), mas é raro encontrar temperança no que diz respeito à forma e conteúdo de se falar ao outro. Reações desproporcionais e tempestades em copo d’água fazem parte do cotidiano.
“Longe de vós toda ira, gritaria, blasfêmias” (Ef 4.31), ensina o apóstolo Paulo, mas o desregramento e explosões de ira têm sido marca deste tempo.
Jesus veio para salvar o homem do pecado e da morte, e também de seus desequilíbrios. Andas muito preocupado com o dia de amanhã? Olhai os lírios do campo. Estás ansioso com o que haveis de comer e vestir? Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros.
Foi Jesus que vendo os discípulos cansados da missão e sem comer, chamou-os para repousar à parte num lugar deserto (Mc 6.31). Foi Ele que observando a excessiva tristeza de dois de seus pupilos no caminho de Emaús, perguntou-lhes: “que é isto que vos preocupas (Lc 24.17)? Foi Jesus que ordenou a Pedro guardar a espada na bainha, pela reação destemperada que teve diante dos soldados.
Saia dos extremos, abandone os destemperos, e venha para onde Deus quer que você esteja: uma vida centrada em Cristo. É ele que aponta onde exageramos. Não faça nada com raiva. Não tome nenhuma decisão em estado alterado: seja sempre a paz de Cristo o árbitro em vosso coração.
É importante ressalvar que vida cristã saudável e equilibrada nada tem a ver com a eliminação do desejo, como se este, fosse o problema. Não é o modo de vida “zen” do budismo que buscamos. Não é a filosofia do “yin-yang” do Tao que pregamos. Nosso equilíbrio não vem das emanações dos cristais, das propriedades dos florais ou do odor acre dos incensos.
Buscamos uma vida diferente centrada em Cristo, e dominada pelo Espírito Santo. Na fé cristã equilíbrio tem a ver com o “domínio próprio”, resultado do fruto do Espírito Santo agindo em nós. Equilíbrio é não deixar-se dominar pelas reações exageradas, pelos sentimentos explosivos ou de raiva, que todos nós estamos sujeitos. E isso tem a ver com a moderação em relação aos desejos e apetites (e não a supressão que acaba gerando cristãos doentes), tem a ver com a capacidade que o Espírito dá de controlar as paixões.
Há perigo também na falta de equilíbrio na espiritualidade. O desequilíbrio tem afetado o nosso culto a Deus. É quase certo que aquele que não encontrou seu centro emocional, e padece de ausência de comedimento nos relacionamentos, apresentará desequilíbrio espiritual, mesmo porque “vida espiritual” jamais está alienada dos outros aspectos da vivência, como se fosse uma categoria à parte. É triste ver pastores e líderes desfilando seus histrionismos e passando a visão aos seus liderados de que o exagero é normal e que verborragia é obra do Espírito.
Todas as manifestações da vida precisam experimentar uma dose de equilíbrio. Até mesmo aquilo que é virtuoso. Por exemplo: “não sejas demasiadamente justo” (Ec 7.16). E por que? Para que por trás de tua justiça não se esconda perversidade contra o próximo. Não sejas demasiadamente “espiritual” em sua visão de mundo, onde tudo é reduzido a demônios, encostos e potestades. Esta é uma visão deturpada do mundo que Deus criou.
Encontrar o centro significa ouvir a voz de Cristo dentro de si. Quando encontramos Jesus e o ouvimos suavemente falando em nosso coração, encontramos a nós mesmos, e sossegamos o nosso ser cansado. Chega de extremos!
Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br
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