quarta-feira, 1 de julho de 2009

QUEM É MESMO VOCÊ?


Há um desejo natural dentro de cada pessoa, em ser notada, bem quista, e que olhem para ela e gostem. Faz parte do ente humano desejar que ouçam o que ele tem a dizer e aceitem sua contribuição ao mundo. Não aspirar tais coisas é viver na apatia e indiferença, sinais de uma alma adoecida.

Entretanto, ser reconhecido pelo próximo pode evoluir para um secreto desejo de impressionar, não com o que somos, mas com o que queremos que pensem que somos. Ou seja, a questão não é apenas o que eu faço, mas o que sou. Algumas pessoas, por força do talento ou vocação, estão expostas como uma vitrine, e o perigo de haver um abismo entre a “aparência” e o “ser” se torna ainda maior.

Sacerdotes, pastores, músicos, e até mesmo o fiel em suas atividades paroquiais são sérios candidatos a uma perigosa cisão da personalidade. Assim como os artistas, eles também estão diante de um público que aprecia quem tem poder e carisma. Mas estes também voltam para casa, pois há uma existência a ser vivida longe dos holofotes e do olhar admirador dos que o cercam.

O espelho mostra quem somos, e é nele que vemos refletido nossa dor e o cansaço do ser. Por mais que disfarcemos, estão lá. É inevitável: o ator, o cantor, o palhaço quando deixam o palco, depois de encantarem multidões, terão reencontrar-se consigo mesmos, longe de todos que o aclamam. E à medida que o personagem sai de cena, começa a aparecer o ser.

Foi uma grata surpresa ouvir recentemente uma música gospel com conteúdo, coisa rara de se ver ultimamente. Fugindo dos chavões característicos, ela me golpeou com uma pergunta fatal:

Depois de pregar seu lindo sermão
E de cantar a última canção
Quando você volta pra casa
E ninguém mais que você
Precisa impressionar está por perto
Quem é você?
Quem é você quando ninguém vê?
Quem é você?

Não é possível fugir a essas questões, a menos que nos acovardemos e queiramos passar o resto de nossos dias vivendo um personagem oco, vazio e triste.

Talvez ninguém mais que Michael Jackson tenha tentado manter um personagem irreal, um menino permanentemente infantilizado que não queria crescer, sempre “trocando” o verdadeiro rosto que envelhecia, e vivendo refém de suas ilusões. Viver uma persona sem reconhecer quem se é realmente, é de uma solidão e angústia sem fim, que só encontrará um certo prazer enquanto representa.

Não conheço nenhum espelho melhor que o Evangelho de Cristo. Ele desnuda, radiografa, mapeia o nosso ser. Dele nada posso esconder. Nele me enxergo na figura do homem de mão ressequida que não tem como ser solidário a ninguém. Nele reconheço minha cegueira, incapaz que sou de olhar e ver com bons olhos, e me pego como a prostituta que vende a alma por alguns momentos de prazer.

Saber quem eu sou, ao mesmo tempo que entristece, liberta. O rei Davi se considerava piedoso e temente a Deus. Certo dia o profeta Natã foi ao seu encontro e contou-lhe uma parábola sobre um homem cruel e injusto. O rei se revoltou e prometeu dar cabo daquela criatura abjeta. Mas, Natã, corajosamente aponta para o rei e lhe diz sem meias palavras: “Tu és o homem!” (2Sm 12.7).

Precisamos de um ser amoroso que nos diga quem somos, pois há fortes defesas que nos impedem de encarar nossa miséria. Foi preciso que Alguém lá de cima descesse à Terra para me dizer que sou pecador, invejoso, rancoroso, persigo fantasias e troco diariamente a glória de Deus por qualquer bobagem.

Michael Jackson queria “perder-se” de sua história, apagando do rosto tudo o que lembrava o passado. Deus não pretende destruir quem eu fui, mas usar esse material que servirá de base para aquilo que o Espírito estará formando em nós. É doloroso, mas é a forma que Ele escolheu para agir.

Tenha a coragem de responder: “Quem é mesmo você?”. Não importa a resposta, desde que você entregue ao Oleiro esse vaso torto, rachado e sem valor. Ele é especialista em trabalhar com massas informes desde a criação. Conceda ao Eterno a permissão de trabalhar em você, pois “como o barro do oleiro, assim sois vós na minha mão” (Jr 18.6).

Pr. Daniel Rocha

dadaro@uol.com.br

P.S.: quem desejar ouvir a música que mencionei, clique no link

http://www.youtube.com/watch?v=JGFn6nW7uDk&feature=related

quarta-feira, 24 de junho de 2009

PROS INFERNOS com as máquinas ...

Hoje, depois de muito tempo, eu peguei num lápis para escrever qualquer coisa que me leve para longe da tela do computador. Na tela de um computador eu me envolvo, me prendo, e quando me apercebo ... perdido ... em profundo ÊXTASE VIRTUAL ... vejo que aos poucos fui desfalecendo. A vida foi ficando ... ficando. As amizades ficaram frias; mas hoje é mais coletivo? eu diria que sim, mas um coletivismo solitário - cadê todo mundo? SUMIU ! Sumiu todo mundo daqui da rua, daqui do café.

O tempo passa e os sonhos ficam ali, no quadrado do monitor, nos quadrados de cada uma das teclas, na 'CPU' - sou apêndice de máquina, sendo enquadrado.

Com o lápis eu me liberto. A imaginação me leva para longe ... posso até pintar sentindo o peso do punho, e as articulações do braço ... braço que abraçou ... braço que ninou. O cérebro grita: LIBERDADE !! Aí então ... pintei crianças na rua, crianças inocentes jogando bola e andando de bicicleta ... brincando de polícia e ladrão .. "nossa quanta gritaria" ... CRIANÇAS, belas ... encantadoras crianças. Pintei as favelas do Rio de Janeiro e de São Paulo, com mais cores, o preto junto com o branco, o branco junto com o preto, o branco-preto e o preto-branco, ambos uma só pessoa, um só ser.

Sobre as cidades ... nessas eu pintei mais amor, menos máquinas, menos carros nas ruas nos apertando nas calçadas, no meio da rua colori as crianças, e os carros pendurei cada um deles nas estrelas do céu, bem alto, mais longe ... para sobrar mais espaço: NÃO !! ELES NÃO VÃO CAIR de volta!!

Puxa vida .... acabei quebrando a ponta do lápis ... isso não é o mesmo que estar desconectado da internete, mesmo assim vou parando por aqui, vou apontar sim, e começar tudo mais uma vez. E escrever mais de "próprio punho", assinar com o dedão cheio de tinta, amar mais, ser mais doação, menos extensão de máquina. Quero ser mais calor ... mais livre dos tantos e-mail's rotineiros ... quero ser mais corpo, mais eu - GENTE - que computador.

Com o que me resta de chama ... de ponta ... do lápis ... vou apontar - para começar de novo; mas antes .. PROS INFERNOS COM AS MÁQUINAS!!!




segunda-feira, 22 de junho de 2009

BIG brother, BRASIL?

Este artigo é parte de um texto que eu escrevi para um jornal da cidade de Cunha/SP.

As mídias trabalham com a “virtualidade” de cada fato, e se tratando de mídia televisiva, vários/as autores/as elaboram suas teses. Concordamos que hoje, a imagem editada (sempre escolhida a partir de um ideal subjetivo), vale muito mais do que o próprio fato em si. É a fascinação pela espetacularização do fato, que faz com que a “cena original” e seu significado objetivo sejam desprezados.

O fenômeno é complexo, mas, nunca na história a televisão foi tão "consumida" também para entretenimento. Informação + entretenimento + espetacularidade, nos embalos hodiernos, sob a égide do mercado, é uma coalizão com desdobramentos intensos e profundos: os feitos são maiores do que podemos registrar.

Surge então a problemática: o que significa “para a”, e “na” sociedade, o programa "BBB" exibido pela Rede Globo de Televisão, que tem o poder de mobilizar alto índice de telespectadores quando vai ao ar? Estamos falando do Big Brother Brasil.

Sobre isso, gostaria de pontuar duas coisas importantes:

1) O cotidiano é exacerbadamente mostrado como possibilidade de mercado. É interessante como o “BBB” tem o poder de atrair as atenções alterando profundamente nosso senso de privacidade. Isso não é gratuito. Somos estimulados a “bisbilhotar” a rotina de pessoas comuns, mas que são “celebratizadas” pela ênfase dada na estética dos “corpos que interagem”. Estudos comprovam que a “nudez” total, mais ainda a parcial, atrai os olhares de forma quase que hipnótica, pois estimulam instintos primitivos em nós. Apelos eróticos não faltam no “BBB”. Mas, qual é a intenção? Vender! Cada vez que, aparentemente sem propósito, ou que seja conscientemente em busca de diversão, ligamos a TV para assistirmos o “BBB”, estamos “consumindo” e conseqüentemente gerando lucro.

2) Manipulação à vista! A neutralidade não existe, há quem diga que ela é um mito. Fico estarrecido ao ver como o “jogo dinâmico” das câmeras; e a seleção de cada imagem, concernente o que vai ao ar naquele determinado momento; e até como as intervenções de Pedro Bial, são elementos concretos que têm o poder real de induzir à entrega do prêmio final: R$ 1 milhão. Temos a sensação de que estamos vendo o todo das histórias de cada pessoa, mas isso não é verdade. Estamos vendo o que “a equipe” que comanda câmeras e microfones quer que nós vejamos e ouçamos. Ou seja, vamos interagindo e votando conforme constantes induções, como que orientados/as pelo próprio programa a quem devemos premiar na grande final. Nossa empatia por cada participante é, quase que totalmente determinada e caracterizada, na medida em que câmeras e microfones nos servem aparentemente sem segundas intenções.

Não quero generalizar e divagar, mas objetividade e clareza são termos que ficam comprometidos num texto que precisa prezar pelos limites técnicos do artigo. No entanto, chamo sua atenção para o fato de que quase sempre, estamos sob a influência das tramas agradáveis, mas apelativas, estabelecidas nesse reality show que tem o aparente objetivo de ser um “magazine virtual”. Nós pagamos isso à duras penas, e em vários níveis. Olhe para dentro de sua própria casa, e perceba você mesmo/a como sua família reage à esses estímulos variados, e até reflete a assimilação de cada um deles no cotidiano.

Com o advento da TV nossas estruturas familiares foram profundamente alteradas, e mais recentemente, desde o primeiro Big Brother Brasil, nós já não somos mais os/as mesmos/as.

Abraços a tod@s.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

ENXERGANDO PESSOAS INVISÍVEIS

Soube recentemente de um psicólogo que “virou” gari durante oito anos e varreu as ruas da maior universidade do país para concluir sua tese de mestrado sobre “invisibilidade pública”. Em suas observações constatou que a maioria dos trabalhadores braçais são “seres invisíveis”, ou seja, a percepção humana do outro não os alcança.

Sua existência foi ignorada pelos seus amigos e professores, que esbarravam por ele, sem se desculpar, como se tivessem esbarrado num poste, pois não o “viam”. Uma vez precisou entrar no prédio onde estudava, com uniforme de gari, passou na frente de todos seus conhecidos, mas ninguém o enxergou. Ficou atordoado pela sua “não existência”, e chorava quando voltava para o seu mundo real. Descobriu que um simples “bom dia”, que nunca recebeu como gari, pode representar uma lufada de vida e de esperança na vida de uma pessoa.


Confesso que a experiência desse homem tocou em minha alma, pois me levou a enxergar minhas doenças sociais. Também sou igual aos seus professores e amigos, que têm um olhar seletivo. Mas com um agravante: sou um homem de fé (que seguramente tem muito a aprender).


Ser ignorado talvez seja a pior sensação que existe para um ser humano. Não é o ódio o contrário do amor, mas a indiferença. Nossos olhos estão acostumados a enxergar o belo, a valorizar o esteticamente apresentável, a granjear amigos que apresentam qualidades morais adequadas, que sejam limpos, decentes, bem casados, pessoas bem resolvidas, que professem nossa fé e nos façam bem.... afinal, não queremos manchar nossa reputação.


Duvido que reconheceríamos Jesus como Enviado de Deus, se o víssemos andando pelas estradas poeirentas da Judéia, pedindo um copo d’água à beira de um poço. Afinal, Isaías diz que ele “não tinha aparência nem formosura; olhamo-lo mas nenhuma beleza havia que nos agradasse, era desprezado e o mais rejeitado entre os homens” (Is 53.2-4).


Duvido que mesmo professando uma fé solidária daríamos atenção a um bando de leprosos clamando misericórdia, a uma samaritana de reputação duvidosa, a uma estrangeira com uma filhinha endemoninhada, a uma adúltera pega em flagrante, ou a um cego pedindo esmola à beira da estrada.... Não, nossos olhos se recusam enxergar essas coisas: preferimos ver pessoas que têm vitórias para contar, pregadores que chegam em carros reluzentes testemunhando o como eles não tinham nada e como agora são abençoados. Associamos a presença de Jesus com ternos bem cortados, glamour, jóias e penduricalhos.


Aprendo nos evangelhos que o Reino dos Céus é semelhante a uma grande ceia onde são chamados “os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos” (Lc 14.21). Não haverá “bacanas” no céu, e sim pessoas que foram “invisíveis” aos nossos olhos.


Como igreja não temos aprendido a olhar essas pessoas. Certo domingo após um eloqüente sermão, um homem muito simples, e de aparência pouco atraente, que vez ou outra aparece, pediu-me que estivesse orando por ele durante a semana, pois estava muito mal de saúde. Disse-lhe que ficasse tranqüilo, que o faria. Mas esqueci completamente, pois sua débil figura não me veio a mente nenhuma vez. No domingo seguinte lá estava o pobre homem na fila para apertar a minha mão, e com um sorriso no rosto me perguntou: - “Pastor, o senhor orou por mim, não foi? Deus ouviu sua oração, pois estou me sentindo bem melhor”. Engoli seco com um nó na garganta, e o abracei em silêncio.


O moço da pesquisa mudou depois de passar por aquela traumática experiência existencial: deixou de lado suas doenças burguesas, tornou-se amigo daquela gente pobre da periferia, passou a freqüentar suas casas e nunca mais deixou de cumprimentar um trabalhador.


Nós temos muito mais razões ainda de mudar: um dia conhecemos Aquele Homem de dores, nossos olhos foram abertos por Ele, e mostrou nossa real condição: somos todos miseráveis que precisam da Graça divina. Já não há mais lugar em nosso meio para o orgulho, distinção, fé presunçosa e caprichos infantis, pois são doenças de quem ainda não compreendeu o que é o Evangelho.


O reconhecimento da presença de um Jesus sofredor e pouco aceitável dentro de nós haverá de nos levar a enxergar as pessoas invisíveis que Ele tanto amou. A partir de hoje aprenda a cumprimentar e respeitar as donas Marias que fazem o cafezinho de seu escritório, os Sebastiões que abrem o portão do seu prédio e os Beneditos que varrem o chão.... todos esses outrora homens e mulheres invisíveis, mas que agora fazem parte de sua vida, porque Deus os colocou ali para ver se você os enxerga ou não.


Faço ao Pai minha oração: “Abre os meus olhos, Senhor, para enxergar quem eu não tenho percebido, nem amado ou me preocupado. Que eu reconheça e valorize aqueles irmãos de fé que não apresentam beleza ou distinção alguma. Quero ter olhos bons para os solitários, tímidos e desajeitados. Que eu não discrimine ninguém pelo que é, pensa ou age. Amém”.


Pr. Daniel Rocha

dadaro@uol.com.br

quarta-feira, 10 de junho de 2009

SABOTADORES DE SI MESMOS

“Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir,

pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto” (Rm 7.15)


Sabotar é agir astutamente contra algo ou alguém. É dificultar ou prejudicar uma atividade. É o ato de destruir aquilo que seria bom, interromper, impedir de ser bem sucedido.


Imagine alguém que realiza uma dieta sofrida, está prestes a alcançar seu objetivo, mas numa noite levanta-se silenciosamente, de pé em pé vai até a geladeira, e em alguns minutos destrói semanas de sacrifício. Quem o impeliu?


O estudante está quase ao final do curso, e de repente é tomado por um desejo de abandonar tudo, mas ele próprio não sabe explicar exatamente porquê. Quem o está convencendo?


O que move um jovem apaixonado, e que estava indo bem no amor, abruptamente romper seu relacionamento para iniciar com outra pessoa? E mais à frente fazer o mesmo com esta? Ignorando o que acontece dentro de si, ele se “vitimiza”, imaginando que essas coisas acontecem porque não é compreendido.

Qualquer indivíduo com um mínimo de consciência sabe que precisa fazer exercícios físicos, e talvez até sinta vontade de frequentar a academia ou andar diariamente, mas uma força o convencerá a se esparramar diariamente no sofá com um controle remoto na mão. Outros são conhecedores dos males dos conservantes, corantes e gorduras trans, mas continuarão comendo hambúrgueres, tomando refrigerantes e comidas de origem duvidosa.


O sabotador que habita em nós se recusa a ser integrado à consciência, pois seu grande desejo é ser autônomo. Ele é o nosso “piloto automático”. Quanto mais vivemos no “automático”, sem consciência, mais chance temos de nos perder. Não reconhecer o sabotador agir é estar suscetível a machucar quem não desejamos fazê-lo, a provocar intrigas, fraturas nos relacionamentos e fragmentação no ser interior.


Almejamos o bem, buscamos o bem, mas nos surpreendemos como destruímos com facilidade as coisas boas da vida que Deus nos concede. É o reconhecimento de que “em mim não habita bem algum” (Rm 7.18a). Acho que agora entendo o poeta quando ele diz que...


Uma parte de mim

é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.


Na cosmovisão religiosa pós-moderna onde o mundo é manipulado por encostos e espíritos, o sabotador é visto como um ser exterior a nós, mas que nos tomou e nos subverteu, e para resolver esse problema bastaria apenas expulsa-lo. Porém, um olhar mais atento perceberá que o exorcismo nada pode contra ele, pois esse agente de ação destruidora é parte integrante de nós, e até o fim de nossas vidas teremos de lidar com ele. Em Cristo, podemos crucificá-lo (Gl 5.24), mas jamais eliminá-lo.


Reconhecer o sabotador é preciso, nominá-lo é necessário, perceber sua presença, sua fala, seus gestos. Uma das armas mais letais contra ele se chama confissão. Confessar-se miserável, insensível, indomável, fraco, é o inicio de uma retirada do poder que ele exerce sobre nós. Tudo o que é exposto à luz de Cristo perde sua força, e deixa de ser uma sombra, pois a partir do momento que é reconhecido, já não será mais um poder oculto autônomo. A pior doença é aquela escamoteada e vivida em segredo. A esses, Jesus não pode ajudar, pois Ele deseja que participemos da cura: “vai, lava-te...”, “toma o teu leito...”, “o que queres que Eu te faça...?”.


Ação da carne é sempre uma ação autodestrutiva, insensata, que traz prejuízo a si próprio. Faço um protesto contra mim mesmo, pois constato que não mando em minha própria casa-corpo, visto que “aquilo que quero não faço, porém o que odeio, isso faço”. Reconheço que há em mim um ser fragmentado cheio de desarmonia que ocupa o intervalo entre o que “eu sou” e o que eu “quero ser”.

Paulo se pergunta: “quem me livrará do corpo desta morte?”. Por nós mesmos não há como. Mas graças a Deus por Cristo Jesus, porque a vida do Espírito em nós nos dá a possibilidade de viver harmoniosamente, com equilíbrio e sensatez, apesar da carne sabotadora.


O que o Evangelho me pergunta é se quero continuar me inclinando para as tendências do meu ser despedaçado, e permitir que ele tenha domínio sobre mim, ou se me inclinarei à suave presença do Seu Espírito para que Ele tenha a palavra final nas decisões de minha vida. A duplicidade traz temor, ansiedade e escravidão, mas a pureza de coração sempre deseja uma só coisa (Kierkegaard).


Pr. Daniel Rocha

dadaro@uol.com.br