domingo, 25 de maio de 2008

XÔ, TENTAÇÃO!

[A foto abaixo foi adaptada por mim, não é a original do artigo].

Somos tentados a todo o momento – pela soberba, pelos olhos, pelos desejos, pelos nossos instintos... A tentação adquire diversas faces de acordo com a idade, sexo, posição social e áreas de interesse. Normalmente o que é tentação para um não significa que o será para outro. É muito fácil para um idoso cobrar seriedade do jovem que se deixa seduzir facilmente, porém, ele não está em melhores condições que o rapaz, pois sua área de tentação embora seja mais sutil – e consequentemente menos visível – não é menos potencialmente pecadora.

Tentação é uma palavra ambígua, pois ao mesmo tempo que se teme, se deseja. Por um lado é deliciosa, por outro, perigosa. Com uma parte do ser, se quer, com outra parte sabemos ser proibida. É inevitável daí o conflito. Percebemos, então, que de um lado desejamos as “coisas do Alto”, por outro lado quase que culpamos a Deus por permitir que coisas “daqui de baixo” perturbem nossa pacata vida cristã.

A tentação é perigosa porque é sedutora: quando não estamos diante dela, achamo-nos fortes e determinados... ao surgir à nossa frente ou em nossa mente ela arrebata os sentidos, e aquele até então forte e destemido fica paralisado. Que ninguém se ufane de sua solidez, porque o apóstolo adverte: “quem está em pé cuidado para que não caia”.

Toda tentação é uma proibição, um interdito. Diga a uma criança para não mexer na gaveta do criado-mudo e bastará você fechar a porta para que aquela gaveta se transforme no objeto mais desejado da casa. Quem já foi criança sabe do gosto maravilhoso que há na goiaba roubada no quintal do vizinho. Essa mesma goiaba não despertaria o menor interesse se estivesse na fruteira de casa.

Tentação é desejo. Há desejos permitidos e desejos proibidos. O cônjuge, por exemplo, deve ser um desejo sempre deliciosamente tentador. Há desejos diabólicos – mas não foi o diabo que colocou aí dentro – posto que já estava consigo, adormecido. O diabo não tem o poder de colocar nenhuma tentação dentro de nós. Ele apenas desperta o que já existe, só incita o que pode ser incitável: “cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz” (Tg 1.14).

Para algumas religiões orientais o desejo é o grande problema da humanidade, por isso almejam uma vida onde ele seja negado para que nasça um ser apaziguado. Paulo advertiu aos colossenses contra essas filosofias que apregoavam para “não manusear isto, não provar aquilo, não tocar aquiloutro”, pois ele chama isso de doutrinas de homens e “rigor ascético” que tem aparência de sabedoria, todavia “não têm valor algum contra a sensualidade” (Cl 2.23). Ou seja, não resolvem o problema e ainda estimulam a indulgência da carne.

Não é travando luta encarniçada contra os desejos que conseguiremos nos libertar, pelo contrário: tudo aquilo que lutamos 24 horas sem descanso se transforma em obsessão e o efeito é contrário. É como a história do discípulo que chegou ao seu mestre e perguntou: “Mestre, o que devo fazer para alcançar a paz e a serenidade de uma mente sem sobressaltos? O Mestre lhe respondeu: “É simples: fique a semana toda sem pensar em macaquinhos, elimine-os completamente de sua mente, e depois volte aqui. Mas lembre-se: não pense uma vez sequer neles”. O discípulo saiu todo feliz: “Ah, isso é fácil!”. Passado apenas algumas horas aquele discípulo retorna desesperado: “Mestre, mestre, pelo amor de Deus, tire de cima de mim esses macacos que não me deixam dormir, não me deixam comer, e estão agora em meus ombros....”.

Quem pensa que vencerá “eliminando” não sabe que estará criando um monstro muito mais difícil de ser lidado, pois já que ele foi proibido na consciência – onde se pode decidir – ele virá das entranhas como imagens e pensamentos compulsivos que não temos poder de decisão. Inevitavelmente acaba em neurose. Quem vive assim não precisa de diabo, pois ele é o seu próprio diabo [Adversário].

Tenho para comigo que Jesus ensinava para não usarmos de vãs repetições em nossas orações, justamente para evitar que não tornemos os nossos medos – naturais – em monstros que vão assombrar a alma pela constante repetição. E ao invés de descanso, a mente estará sempre aflita e perturbada. Imagine um crente temeroso de ataques do maligno viajando em férias para a sincrética Bahia dos terreiros e orixás. Ao descer do avião é recepcionado por uma mãe-de-santo oferecendo pipoca, nos passeios só encontra acarajé em tabuleiros consagrados, no almoço do hotel grupos de capoeira se apresentando.... Se essa pessoa tentar “amarrar Satanás” a cada minuto do dia terá as férias mais cansativas de sua vida. Qual a origem do problema? A mente que não descansou no Senhor.

Aquilo que tememos não pode ser transformado num fetiche, pois vai acabar ganhando vida própria em nossa mente. Por isso Paulo nos ensina em o que pensar: tudo que é bom, tudo que é agradável, de boa fama.... seja isso que ocupe a vossa mente”.

A oração é o caminho do cristão. Jesus nos ensinou a pedir ao Pai que “não nos deixe cair em tentação”. Peça a Deus que limpe os seus olhos para ver sua Graça bondosa nos auxiliando naqueles momentos que parece que vamos tropeçar. Peça a Deus que cada desejo maligno projetado sobre sua vida receba da parte Dele dobrada força para poder resistir. Que cada crente no Senhor saiba que pelo Espírito Santo em sua vida, ele pode dizer “não” à mais vigorosa tentação. Que cada um reconheça que por sua própria força, por sua “moral”, nada pode fazer, mas pela graça pode decidir pelo que o Senhor se agrada.

Ser tentado faz parte de nossa condição humana, mas podemos passar relativamente tranqüilos por essa prova quando ouvimos o que diz o Senhor: “em vos converterdes e em sossegardes está a vossa salvação; na tranqüilidade e na confiança, a vossa força” (Is 30.15).

Pr. Daniel.

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