O texto de Mateus, nos mostra que Jesus, deve ser o nosso modelo de comprometimento com o Reino de Deus; Mostra que não basta termos um discurso bonito, e obedecermos radicalmente a lei, uma tradição, mediante os quais eu venha negociar algum benefício por meio de persuasão e troca. Se faço isso, eu até posso reconhecer em Jesus a figura de Cristo, mas não estou comprometido com a vida concreta, cotidiana. Será prudente todo aquele que construir sua casa sobre a rocha, esse/a é mais humano, herdará o Reino de Deus. O que constrói sua casa na rocha é quem ouve e pratica (do grego Poieo - palavra cuja raiz é Prasso/fazer = estar comprometido).
A perícope é a conclusão do sermão de Jesus: “O Sermão da Montanha”. Não é por acaso, que no Evangelho de Mateus, Jesus prega seu primeiro e seu último sermão no monte. Com o templo de Jerusalém destruído em 71 d.C, as únicas possibilidades de um movimento religioso sobreviver era com um sistema alternativo: para expiação de pecados, e também de um lugar para suas reuniões. Os fariseus tinham a sinagoga para suas “reuniões”, a prática da pureza cotidiana (agradar a Deus – obedecendo a lei de Moisés) seriam uma alternativa de expiação de pecados. Um outro movimento que superou a destruição do templo, e que recebeu “adesões” de outros grupos (assim como se deu com os fariseus) é o “Movimento de Jesus”. Jesus é enxergado na comunidade de Mateus como “O Novo Moisés”, que traz novos dois mandamentos “de síntese”: amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a ti mesmo. O “Movimento de Jesus” tinha nas casas seu local de encontro e para expiação de pecados também observavam a lei, mas tinham nessa orientações para a vida.
Havia certo conflito entre esses dois partidos: Judaísmo farisaico (ou formativo) X Judaísmo cristão. Para ambos, guardar a lei era a possibilidade para expiação de pecados. Só que, para os fariseus guardar a lei era imitar à Deus, para agradá-lo (barganhar); Para o judaísmo cristão (de Jesus), guardar a lei, era proteger a vida. Praticar misericórdia e agradar à Deus só é possível protegendo a vida.
Porém, seguir a Jesus significava ter problemas. Jesus era visto como um atormentador da ordem social e, como o judaísmo farisaico (da sinagoga) era uma “religião lícita”, com status concedido por Roma, eles não poderiam ser “importunados” por um “qualquer da Galiléia”, pois corriam o risco de perder as mordomias junto do Estado. Errar com os fariseus, significava estar sem o devido apoio político e financeiro da sinagoga, porque eles detinham o poder do comércio. Alguns ficavam “divididos” entre a sinagoga e Jesus: simpatizavam por Jesus, mas o procuravam escondidos para não ter problemas na sinagoga, como Nicodemos, dentre outros. Até a família do cego curado em João 9 não quis ter problemas com a sinagoga, e por isso não confessou que Jesus havia curado o filho deles – esquivaram-se. Esse é o contexto em que foi escrito o Evangelho de Mateus. Tensão entre dois grupos religiosos: Um que preservava em Jesus o novo Moisés [(ênfase na prática)], e um outro que levava radicalmente a lei de Moisés adiante, vendo em Jesus um baderneiro [(ênfase no discurso)].
A tradição quando é preservada mediante um sistema opressor: que engessa e aprisiona as pessoas, que coloca fardos, quase que uma estrutura rígida de cimento, não é compatível com o paradigma de prática cristã, ensinado por Jesus. Nossa tradição deve nos tornar mais humanos, e nunca servir de cadeias fomentadoras de morte, como que casas construídas sob areia: porque essas, na medida em que o tempo passa caem, por estar fundadas em coisas transitórias de, que escorregam por entre os dedos. Podemos escolher um partido, de que lado ficar; a qual desses dois grupos pertencer? A opção era extremamente necessária à comunidade de Mateus, e para nós nos toca o imaginário; nas entrelinhas do que o evangelista quis nos sinalizar, aprendemos ser mais humanos e menos Igreja (instituição regida por leis que na maioria das vezes oprime ao invés de libertar e gerar vida).
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