sexta-feira, 25 de julho de 2008

Deus. Ele é "o primeiro" ?



Fico observando tantos(as) por aí, que querendo dar os devidos créditos à Deus, falam que ele é sempre o primeiro. Ledo engano, que gera no imaginário um grande problema. Um pouco de filologia, análise do discurso, semiótica, de neurolingüística, e bom senso mesmo, nunca fez mal à ninguém. Aliás, tem muita gente se afundando por aí, e furando “o bote navegador” de mais umas centenas de pessoas, por não se preocuparem com o que estão falando, não da forma que estão falando, mas a essência, o que isso tem gerado no imaginário daqueles(as) que estão ao redor. Isso é responsabilidade nossa, refletir sobre a essência daquilo que falamos, bem como os frutos, resultado de tanto “blá, blá, blá”.

Quando falamos que Deus é o primeiro, estamos colocando ele em uma tabela, tabela onde existe a segunda prioridade, o terceiro, a quarta, e assim sucessivamente. Quem sabe, um dia ele apareça em segundo ou terceiro plano. Será que já não é isso que acontece por aí e por aqui? Fruto de sempre dizermos, por tão bondosos que somos, e humildes [risos]: Deus vem em primeiro lugar !! O termo: “primeiro”, implica uma ordem, linguagem já matematisada; significa que, dentre tantas outras prioridades, no momento Deus está na frente. Isso é bonito, mas falso e perigoso. Porque em tempos de desilusões, automaticamente as pessoas tendem a fazer a leitura de que Deus abandonou “a cabeça da fila”, o que me faz dar cabeçadas para lá, e para cá, buscando a ajuda do(a) político(a) fulano(a) de tal ... ou do(a) profeta fulano(a) de tal (é o que vem em primeiro agora). E se ele não abandonou eu mesmo(a) vou tirar “porque Ele não está resolvendo nada”: Isso de acordo com o meu bem-estar, quase que mediante “meu estado de espírito”.

Na Bíblia, o termo traduzido por primeiro, pode ser entendido no original como sendo “O anterior” (antes de tudo). No gêneses, antes de existir o primeiro (dia), Deus já estava presente.
Pode parecer uma bobagem, mas Jesus nos manda aprender com formigas. Coisas pequenas podem fazer toda diferença.

Entenda isso, “Deus é o que é”, nós não precisamos dar à Ele o status de primeiro, mesmo porque não temos tal autoridade, e nem muito menos temos condições de reduzi-lo às nossas matemáticas, e contas, e prioridades, que quase sempre se resumem em uma listinha de presentes que queremos para estar abençoado o nosso dia a dia.

Antes de tudo, de qualquer coisa: Deus é, Deus já está.

SÍNDROME DE BURNOUT: O ESGOTAMENTO DA ALMA


“Porque nós também somos fracos Nele, mas viveremos com Ele,
para vós outros pelo poder de Deus” (2Co 13.4b)

Talvez você nunca tenha ouvido falar da Síndrome de Burnout, mas se você é um educador, assistente social, enfermeiro, líder religioso [pastor, diácono, presbítero, professor] ou se sua profissão é lidar diuturnamente com o ser humano, mantendo contato próximo com outros indivíduos, é um potencial candidato de, mais cedo ou mais tarde, vir a desenvolver alguns sintomas da síndrome.

Tudo começou em meados da década de 70 quando um pesquisador americano começou a observar o desgaste, a irritação e a afetação do humor dos profissionais da área da saúde. O termo Síndrome de Burnout vem de burn (queima) e out (exterior), como se a pessoa entrasse em “combustão” física e emocional, resultando num estresse ocupacional e um comportamento irritadiço.

Todos aqueles de quem se espera direcionamento, solução de problemas, respostas e ajuda, tornam-se suscetíveis a desenvolver tal síndrome. Às vezes pode atingir um grau tão devastador de cansaço físico e emocional, que leva a uma total desmotivação (“não posso mais”) e desinteresse (“não quero mais”). É quase uma desistência dos ideais que sempre abraçou e defendeu. É o esgotamento da alma, um cansaço que nenhum fim de semana consegue resolver ou amenizar.

Alguns sintomas psicossomáticos podem surgir, tais como enxaquecas, insônia, hipertensão e gastrite. No comportamento, incapacidade de relaxar e irritabilidade. Emocionalmente há um distanciamento afetivo, dificuldade de concentração, apatia e hostilidade, e por vezes muita ironia. Passa a ter uma conduta negativa em relação aos alunos, clientes, colegas de trabalho, e na vida igreja, em relação aos irmãos e à própria instituição religiosa.

Embora não seja propriamente um problema de origem espiritual, é inegável que afeta o espírito e o relacionamento com Deus.

É interessante observar que alguns personagens bíblicos desenvolveram reações negativas justamente a partir do adoecimento de suas relações interpessoais. Moisés quase desfaleceu ao lidar com o povo, a ponto de seu sogro intervir para salvá-lo daquela situação; Elias teve um esgotamento, Jeremias tornou-se inconsolável crônico, Paulo consumiu-se para atender os reclamos de uma igreja exigente e desconfiada.

Não somos melhores que eles, ao contrário, compartilhamos das mesmas fraquezas (Tg 5.17). Não somos “super-crentes”, nem estamos imunes às doenças da alma. Perceber-se doente não é vergonha ou demérito. Aliás, Paulo ensina: “se tenho de gloriar-me é somente no que diz respeito à minha fraqueza” (2Co 11.30).

O perigo é não saber-se doente e ignorar os sinais que vão se manifestando ao longo do tempo. Embora seja um problema relacionado à atividade profissional/vocacional é inegável que seus efeitos destrutivos atingirão outras áreas da vida. Há pastores não conscientes de suas doenças ocupando púlpitos, procurando encontrar culpados por sua inadequação pessoal, há líderes projetando na congregação seus “verdugos atormentadores”, que na verdade não estão fora, mas dentro de si. O resultado é cinismo, distanciamento afetivo, linguajar duro, desprezo, e uma indisfarçável desesperança.

Duma certa forma, as frustrações ao longo do caminho, o não-reconhecimento, excessiva pressão externa e uma exagerada cobrança interna – perfeccionismo – aliados à incapacidade de perceber os próprios limites, podem abrir as portas para o início de uma síndrome.

Por outro lado, a humildade em reconhecer-se doente e um espírito flexível capaz de permitir-se mudar as posturas inadequadas diante da vida, são ingredientes básicos para não se deixar cair e ficar prostrado. E é claro, manter uma fé inabalável Naquele que por ser Senhor de tudo, pode até mesmo transformar estar humilhação em glória. Quem sabe um dia ainda poderá dizer: “Foi-me bom ter eu passado pela aflição....” (Salmo 119.71)


Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br

segunda-feira, 14 de julho de 2008

“QUASE ONIPOTENTE”







Amanheceu! Aos primeiros raios, começou a fugir a escuridão
Muito lentamente, como alguém que impedir quisesse
O brilho do astro rei que aquece
Nossa terra, dando vida à criação.

Como és majestoso, oh! soberbo gigante reluzente!
Se para ti que és criatura olhar não posso
Imagino a glória daquele que te fez, O Senhor nosso!
O Deus eterno, soberano, Excelso, onipotente!

Esmerou-se Aquele que te fez! Quase onipotente és tu; isso não nego!
Encheu-te de beleza, de poder..., esbanjou sabedoria e não poupou requinte
Não tens que te preocupar com os anos: com o que passou, nem com o seguinte.
Como nós, mortais, não envelheces, não te encurvas, não adoeces, não ficas cego...

De governar todo o sistema, ao simples brotar de uma semente
Poder a ti foi dado. De norte a sul, de leste a oeste enches tudo com tua arte
Tanto resplendor, porém, da glória do Senhor é apenas parte
Daquele que tudo fez e tudo faz, que era, que é e o será eternamente!

Domínio e poder sobre todas as coisas deu-nos o Criador. Fizemos tudo errado
Destruímos a camada de ozônio, rios... Nossa marca já se encontra até na lua!
Nosso ego nos empurra para a morte; esta é a verdade “nua e crua”
Ferido de morte, nosso planeta chora seu triste destino anunciado!

Do alto onde estás, quantas gerações por aqui passar já viste?
Reinos e nações caíram, mas tu continuas soberano.
Tu fazes o segundo, o minuto, a hora, o dia, o mês e o ano
Aqueces o rico e o pobre, o forte e o fraco, o alegre e o triste...

Ao ser criado, nas alturas colocado foste a fulgurar
Porém, até quando? Mais uma primavera? Um verão? Quem sabe, um inverno?
Diante de ti, que posso eu? Mas, se pequeno sou, com Jesus serei eterno
E tu, gigante, com certeza, um dia, irás te apagar!

Brilhe intensamente enquanto podes. Cumpre fielmente o teu labor!
Enquanto, por aqui, sigo aguardando o cumprimento da promessa
Ao meu Senhor e Rei, sempre louvando e adorando, sem ter pressa.
Sua Palavra pregando e declarando sempre: Jesus Cristo é o Senhor!

Pr. A. L. F.
30.12.2005

sábado, 12 de julho de 2008

A GUERRA SILENCIOSA

De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão das paixões que militam na vossa carne? (Tiago 4.1)

Neste exato momento uma desgastante e intermitente guerra pode estar sendo travada dentro de você. Do lado de fora, sinais exteriores de aparente serenidade. No fundo da alma, bem disfarçado, um turbilhão de sentimentos e desejos reprimidos realiza escaramuças silenciosas. Quem não possui um olhar mais atento pode até não perceber, pois esse conflito não é visível: notam-se apenas os seus resultados.

A negação e supressão desses sentimentos interiores normalmente levam a uma atrofia da alma e faz do cristão alguém que desconhece a si próprio e vive uma religião de aparências. Mas basta um pouco de aprofundamento para perceber que seu maior problema não está exatamente “lá fora”, no mundo, ou na figura do diabo, mas no interior. Aliás, dependendo do grau de conflitos internos nem precisamos de um “adversário” [do gr. Diabolos] e acusador, pois tornamo-nos o diabo para nós mesmos.

Jesus já apontava que é “de dentro do coração do homem que nascem os maus desígnios”. Até mesmo coisas como “feitiçaria”, que sempre foi considerada uma ação satânica, é elencada por Paulo, na verdade, como obra da carne.

Tiago demonstrou a origem de muitos de nossos problemas: “De onde vêm as guerras e contendas que há entre vocês? Não vêm das paixões que guerreiam dentro de vocês?” (Tg 4.1). Paixões [do grego pathos] são aquelas tensões impetuosas que atuam fortemente sobre nós, e repercutem no organismo, na mente e na vontade. Ou seja, Tiago coloca o problema sob a perspectiva correta: são elas que provocam desavenças, intrigas, falatórios, inimizades, dificuldade de convivência harmoniosa e que resultam num ser que vive em desequilíbrio interior.

As nossas paixões em guerra levam a uma visão distorcida da vida, e falsificam a realidade. Quem garante que aquilo que você vê é, de fato, o que é? Recorro mais uma vez às Escrituras: “Tu vês muitas coisas, mas não as observas; ainda que tens os ouvidos abertos, nada ouves” (Is 42.20).

Não somente os olhos, mas até os ouvidos sofrem distorção: nem sempre as palavras que falo são as palavras que você ouve. Já tentou falar com uma pessoa emocionalmente alterada? Muito provavelmente suas palavras não serão entendidas conforme você falou.

O que é isso senão uma “disposição mental reprovável” (Rm 1.28)? Essa disposição mental provoca ciúmes doentios (pois vê o que não existe), provoca intrigas (pois ouve o que não foi falado), leva a um afastamento social (se enxerga complexado e inferior), paralisa de medo (pois vê inimigos onde há apenas sombras).

A imensa maioria dos cristãos não se atém a esses problemas, pois volta sua atenção, fé e orações para a cura de caroços, dor nas costas, problemas de visão [só do globo ocular]... e quase nenhuma consciência do que realmente importa. É como se Deus estivesse interessado em resolver somente as questiúnculas da vida, mas não sua questão existencial. Se hoje Jesus fizesse conosco o que fez com o paralítico baixado de um telhado por seus amigos, nós protestaríamos. O que o Mestre lhe ofereceu? “Filho, os teus pecados estão perdoados”. Ora, diríamos nós, “não é bem isso que eu quero... o que eu desejo mesmo é....”.

Não seria o perdão dos pecados, com a paz que isso resulta a maior bênção a ser recebida de Deus? Não é justamente isso que deveríamos buscar ardentemente? Na verdade estamos numa ferrenha luta com o Eterno, visto que nascemos em “carne”, crescemos com ela, acostumamo-nos com sua onipresença, e o Espírito Santo é sempre um corpo estranho. Estamos muito mais propensos a ceder aos gritos incontidos das entranhas que aos sussurros sugestivos do Espírito. Sempre achei mais fácil converter a mente que converter as vísceras. Por isso que uma vida cristã normal não é uma linha uniforme, contínua e ascendente, mas é marcada por tombos, erros grosseiros, fraturas, e por vezes quedas vertiginosas.

C. H. Mackintosh escreveu: "Quando vejo quem eu sou me aterrorizo, mas quando lembro quem Deus é, me tranqüilizo". Render-se ao Espírito, à Palavra, à mansidão, é o caminho que temos de trilhar. Se a guerra interior é inevitável, ao menos tomemos consciência dela, e concedamos uma abertura para Deus agir.

Pr. Daniel Rocha

dadaro@uol.com.br