segunda-feira, 30 de março de 2009

GloBA[BE]Lização


A torre de Babel (Gênesis 11):

1 Ora, em toda a terra havia apenas uma linguagem e uma só maneira de falar. 2 Sucedeu que, partindo eles do Oriente, deram com uma planície na terra de Sinar; e habitaram ali. 3 E disseram uns aos outros: Vinde, façamos tijolos e queimemo-los bem. Os tijolos serviram-lhes de pedra, e o betume, de argamassa. 4 Disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra. 5 Então, desceu o Senhor para ver a cidade e a torre, que os filhos dos homens edificavam; 6 e o Senhor disse: Eis que o povo é um, e todos têm a mesma linguagem. Isto é apenas o começo; agora não haverá restrição para tudo que intentam fazer. 7 Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem, para que um não entenda a linguagem de outro. 8 Destarte, o Senhor os dispersou dali pela superfície da terra; e cessaram de edificar a cidade. 9 Chamou-se-lhe, por isso, o nome de Babel, porque ali confundiu o Senhor a linguagem de toda a terra e dali o Senhor os dispersou por toda a superfície dela[1].

Sobre o episódio narrado acima no texto bíblico, da Torre de Babel, traço um paralelo para fins hermenêuticos, com as novas marcas deixadas na sociedade pelo processo chamado globalização, cuja essência é “o apagamento das fronteiras”. E não só isso, vejo a jactância humana que surge engendrada pela sensação de conseguirmos dominar o mundo com as novas tecnologias digitais. De chegarmos mais rápido em todos os lugares, de sabermos de tudo, sorrimos quando nossas crianças, conversam, debatem, e se comportam como adultas: “É bonitinho!”.

Somos narcisistas, adeptos do panotismo – em breve vou publicar algo sobre o famoso programa financiado pela Rede Globo de TV: o “Big Brother”. E achamos tudo muito “evoluído”, de última geração. Isso pode ser um avanço, e/ou uma bênção. Mas deixo a pergunta, avaliando nossos atuais processos sociais, se isso não é um tanto quanto diabólico. Fico pensando, conforme a pergunta deixada pelo texto bíblico, qual será a próxima investida, o próximo passo? Vamos subir até Deus? Será que, ainda que de forma velada, já não nos sentimos quase lá?

Penso que Deus vai intervir mais uma vez na história, e de certa forma já o faz, nos confundindo as alianças, abalando os alicerces, nossas convicções, nossas torres, dividindo nossas línguas (...).

[1]Sociedade Bíblica do Brasil. (2003; 2005). Almeida Revista e Atualizada - Com Números de Strong (Gn 11:9). Sociedade Bíblica do Brasil.

Não somos semi-deuses, mas errantes caminhantes

Se não reconhecermos que temos, e conhecermos a fundo, cada uma de nossas próprias ambguidades, vegetamos intelectualmente. Porque não somos semi-deuses, mas às vezes nos achamos tanto quanto, e vamos vivendo, nos empurrando rumo a eternidade. Quanta ignorância dos que se acham sabidos, dos que se acham sabidos mas nunca pararam para observar como nossas teorias são transitórias porque contextuais - circunstanciais. E andam por aí esses/as que vegetam, crendo no absloluto de suas verdades, desprezam o fato de que não somos semi-deuses, somos ambíguos, somos transitórios - somos seres humanos. Nos movemos e crescemos quando nos consideramos assim, humanos, errantes caminhantes ...

quinta-feira, 26 de março de 2009

ENCONTROS & DESENCONTROS

Diariamente somos surpreendidos com inúmeros encontros. Alguns são fortuitos, efêmeros e passageiros. Estes são logo esquecidos, pois nada têm a nos acrescentar. Todavia, há aqueles que deixam marcas indeléveis na alma e podem afetar de maneira permanente a nossa existência.
Esta é a geração dos encontros parciais e da satisfação momentânea: não é a pessoa inteira que é buscada, gosta-se de um aspecto, de um “pedaço” dela. Não é sem motivo que se enfastia tão rapidamente do outro.

De igual modo muitos passaram por Cristo, tocaram-no, ouviram-no, mas poucos de fato O encontraram. Creio que foi Agostinho quem disse: “Procurei a Deus e não o encontrei, busquei o meu irmão e nós três nos encontramos”. Não é interessante que Jesus ensina aos que desejam a Sua presença, para que reunam “dois ou três” para invocar o Seu nome, e ali Ele estará? (Mt 18.20).

Espiritualidade solitária é a maior falácia que o Diabo colocou na vida do cristão. Diz ele: “separe-se para buscar a Deus”, ou então: “estes irmãos são inadequados para você”.

Não é incomum encontrar pessoas ou grupos cristãos que se tornaram herméticos. Fechar-se é uma maneira de exprimir o medo, pois para haver encontro é preciso abrir, estar pronto a receber, a dar, a ser “modificável”, a influenciar e ser influenciado. Os outros são espelhos em quem refletimos. Deus os colocou em nossas vidas para nos ajudar a entender “quem” somos e “como” somos.

Gostemos ou não a vida, também traz os seus desencontros, pois não somos um rio tranqüilo a correr em seu leito, mas o resultado de forças interiores em constante conflito e atualização. Os que buscam o crescimento deveriam portar um aviso: “Tenham paciência comigo: estou em reforma”.

Na verdade, o desencontro sinaliza que havia um desequilíbrio latente, que não foi observado ou cuidado. Trata-se de uma oportunidade para reorganizar o interior. É por isso que todo re-encontro precisa ser em novas bases, para não incorrer nos mesmos erros do passado.

A Palavra está repleta de encontros e desencontros. Desde cedo ficou clara as incompatibilidades entre Esaú e Jacó, ao ponto de Esaú ter prometido matar o irmão “embrulhão”, que precisou fugir. Entretanto, é um momento muito sublime o reencontro entre eles, quando tudo apontava para um desfecho trágico. Ao avistar Jacó ao longe, ao invés de matá-lo, “Esaú correu-lhe ao encontro e o abraçou: arrojou-se-lhe ao pescoço e o beijou; e choraram” (Gn 33.4).

O casamento de Davi com Mical, por exemplo, foi um constante desencontro – embora privassem do mesmo leito – o que indica que a intimidade física pode ser um dos componentes de um encontro autêntico, mas sozinha não o sustenta (havia claramente um “desencontro” espiritual entre eles).

A fé e a submissão a Cristo que Paulo e Pedro possuíam não foi suficiente para impedir os desencontros na vida dos apóstolos mais importantes do início da Igreja. Embora depois tivessem se apartado, tudo indica que se acertaram, por serem homens movidos pelo Espírito e não pelo ressentimento.

Talvez o desencontro mais exemplar que encontramos no Novo Testamento seja entre Paulo e o jovem João Marcos. Numa viagem missionária este abandonara a missão pela metade, comprometendo o trabalho. Tempos depois Paulo prepara uma segunda viagem. Barnabé chama João Marcos para ir, mas Paulo diz: “não vai não” (At 15.38). Houve, então, uma “tal desavença que vieram a separar-se” (At 15.39). E Paulo parte levando Silas consigo.

Muitos podem imaginar que o posicionamento do apóstolo pudesse levar a um desencontro por toda a vida. Onde encontraremos menção daquele jovem novamente? Cerca de vinte anos depois, ao lado de Paulo, quando, prisioneiro e abandonado por todos, pede para Timóteo lhe trazer João Marcos, “porque me é muito útil para o ministério” (2Tm 4.11). Nenhum desencontro precisa ficar exposto por toda a vida.

A fé em Cristo nos leva ao encontro, entre os diferentes e não apenas entre os iguais, pois em Cristo já não faz mais sentido haver separação entre gregos e judeus, homem e mulher, escravo ou livre, ou qualquer outra forma de distinção.

Mas uma advertência se faz necessária: um encontro genuíno só pode ocorrer entre corações abertos e transparentes como demonstrou o rei Jeú para Jonadabe: “Tens tu sincero o coração para comigo, como o meu o é para contigo? Respondeu Jonadabe: Tenho. Então, se tens, dá-me a mão. Jonadabe deu-lhe a mão; e Jeú fê-lo subir consigo ao carro” (2Rs 10.15).

Possuis o coração sincero e mansidão no olhar? Então venha, e caminhemos juntos.... há muito por fazer.

Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br

segunda-feira, 23 de março de 2009

O filão religioso


Por Ricardo Gondim.


As Casas Bahia disputam o mesmo mercado que a Magazine Luiza. As duas lojas se engalfinham para abocanhar o filão dos eletrodomésticos, guarda-roupas de madeira aglomerada e camas de esponja fina. Buscam conquistar assalariados, serralheiros, aposentados e garis. Em seus comercias, o preço da geladeira aparece em caracteres pequenos, enquanto o valor da prestação explode gigante na tela da televisão. A patuléia calcula. Não importa o número de meses, se couber no orçamento, uma das duas, Bahia ou Luiza, fecha o negócio - o juro embutido deve ser um dos maiores do mundo.


Toda noite, entre oito e dez horas, a mesma lengalenga se repete nos programas evangélicos. Pelo menos quatro “ministérios” concorrem em outro mercado: o religioso. Todos caçam clientes que sustentem, em ordem de prioridade, os empreendimentos expansionistas, as ilusões messiânicas e o estilo de vida nababesco dos líderes. Assim, cada programa oferece milagres e todos calçam suas promessas com testemunhos de gente que jura ter sido brindada pelo divino. Deus lhes teria abençoado com uma vida sem sufoco. Infelizmente, o preço do produto religioso nunca é explicitado. Alardeia-se apenas a espetacular maravilha.


Considerando que a rádio também divulga prodígios a granel, como um cliente religioso pode optar? Para preferir uma igreja, precisa distinguir sobre qual missionário, apóstolo, pastor ou evangelista, Deus apontou o dedo. E se tiver uma filha com leucemia aguda, não pode errar. Ao apelar para uma igreja com pouco poder, perde a filha. O correto seria freqüentar todas. Mas como? Em nenhuma dessas igrejas televisivas o milagre é gratuito ou instantâneo. As letrinhas, que não aparecem na parte de baixo do vídeo, afirmariam que, por mais “ungido” que for o missionário, um monte de exigência vem embutida na promessa da bênção. É preciso ser constante nos cultos por várias semanas, contribuir financeiramente para que a obra de Deus continue e, ainda, manter-se corretíssimo. Um deslize mínimo impede o Todo Poderoso de operar; qualquer dúvida é considerada uma falta de fé, que mata a possibilidade do milagre.
Lojas de eletrodoméstico vendem eletrodoméstico, óbvio. Igrejas evangélicas comercializam a idéia de que agenciam o favor divino com exclusividade. E por esse serviço, cobram caro, muito caro. Afinal de contas, um produto celestial não pode ser considerado de quarta categoria. A "Brastemp" espiritual que os teleevangelistas oferecem vem do céu. O acesso ao milagre se complica, porque todos mercadejam o mesmo produto. Os critérios de escolha se reduzem a prazo de entrega, conforto e garantia. Opa, quase esqueci! As lojas, em conformidade com o Código do Consumidor, são obrigadas a dar garantia, mas as igrejas evangélicas não dão garantia alguma. O cliente nunca tem razão. Quando a filha morrer de leucemia, o pai, além de enlutado, será responsabilizado pela perda. Vai ter que escutar que a menina morreu porque ele “deu brecha” para o diabo, não foi fiel ou não teve fé.


Mercadologicamente, Casas Bahia e Magazine Luiza estão bem à frente das igrejas. Melhor assim, geladeira nova é bem mais útil do que a ilusão do milagre.


Soli Deo Gloria.
Acesso dia 23 de março de 2009, disponpivel em <http://www.ricardogondim.com.br/Artigos/artigos.info.asp?tp=65&sg=0&id=2136>.

domingo, 22 de março de 2009

Panorama exegético de 1 Co 1.


Leia o texto biblico, para enteder o texto que segue.
Era provável que Cloé fosse efésia e não coríntia. Não se sabe nem mesmo se ela era cristã, embora isso seja provável[1]. “Os de Cloé”, portadores da notícia a Paulo, conforme nos registra o texto bíblico, provavelmente são cristãos que trabalham como escravos libertos para essa “mulher de negócios”. A casa de Cloé poderia ser tanto em Éfeso quanto em Corinto, entretanto é certo que, nesse trânsito de negócios, Paulo recebe a notícia. Os de Cloé podem representar o setor de menor status social na congregação[2].

Em Corinto, no período em que Paulo escreve a carta, estava surgindo um culto às personalidades centralizado em três figuras importantes da Igreja primitiva. No entanto, é provável que tais cultos não contavam com o apoio desses pregadores. Os possíveis motivos dos conflitos, considerando os temas que aparecem na carta de Paulo, são o tema do batismo e divergências quanto à compreensão do Cristo da Fé e o Jesus Histórico. Também para Gottfried Brakemeier, a origem desses grupos de Corinto deve ser vista em conexão com determinada compreensão do batismo, e ele acrescenta: provavelmente, a comunidade de Corinto entende o batismo como rito de iniciação das religiões de mistério, em que passa a existir forte relação entre o batizando e o batizado, o que constituía forte laço entre um e outro[3]. Nesse processo, é interessante notarmos que Paulo não tenta reprimir a diversidade de opiniões, no entanto, sua crítica é ao partidarismo – rivalidade entre grupos fechados em si mesmos. Para David Prior, Paulo preferia a harmonia e não o uníssono[4].

Segundo concepção de Irene Foulkes, a congregação de Corinto, na verdade, evidencia a influência de seu contexto social - multicultural; e as contendas na congregação vão tomando a forma de grupos rivais. Ou seja, o que era uma contenda se torna uma rivalidade. Os seguidores de Apolo se inclinariam pela sabedoria filosófica, visto que esse eloquente pregador era de tradição Alexandrina. Paulo não vê Apolo como rival, antes o estima como colega (1Co 3.5-9; 4.6; 16.12). Cefas provavelmente reflita o apego à tradição judia; já o grupo de Cristo, em contraste com os grupos anteriores, prefere ficar fora desse debate, prescindindo de determinar uma linha teológica nos moldes idealistas. Para eles, uma relação direta com Cristo é que determina os horizontes de compreensão[5].

Cada grupo tinha o seu próprio lema. Segundo David Prior[6]:

a) Paulo – 1 Co 4.15 – Pessoas seguiam Paulo por se sentirem geradas por ele. Ele as havia levado à fé – estando em dívida eterna para com ele. É quase certo que o partido de Paulo surgiu em reação aos outros grupos formados em Corinto em torno das outras pessoas mencionadas aqui. É provável que antes de Apolo e Cefas todos apoiassem Paulo.

b) Apolo – At 18.24-19.7 - Apolo era de Alexandria (Egito) – cidade universitária muito respeitada e criativa do mediterrâneo. Quando Apolo chega a Corinto com sua capacidade intelectual, sua eloquência, sua capacidade de expor as escrituras do AT, seus ensinamentos sobre Jesus, seu entusiasmo fervoroso e sua poderosa confrontação pública com os judeus, sem dúvida começou a atrair discípulos para si. Alguns acham que Apolo foi involuntariamente responsável pela criação de uma espécie de elite intelectual na Igreja de Corinto. Paulo não tinha tanta eloquência quanto Apolo.

c) O partido de Pedro/Cefas - representa o cristianismo mais judaico. Talvez Cefas tivesse visitado Corinto, o que explicaria a origem de tal movimento; ou quem sabe algum de seus seguidores. Outra possibilidade é a aceitação por parte da comunidade cristã da figura de Cefas, em Jerusalém, como um dos grandes líderes da igreja. Os desse partido eram de tendências legalistas.

d) O partido de Cristo – “todo culto aos heróis é anátema. Ninguém precisa de um líder, a menos que esse líder seja Cristo”. Esse grupo representa o que hoje caracterizaria experiências fortes e subjetivas. Quem sabe esse grupo um dos prováveis fomentadores do que posteriormente se transformou no movimento gnóstico do final do primeiro século. Era uma elite super espiritual na Igreja cristã. Sugere-se que esse grupo é um reflexo das religiões de mistério de Corinto. Para Gottfried Brakemeier, o grupo de Cristo viu no evangelho “uma sabedoria” e não uma proclamação do Cristo crucificado[7].


Para Irene Foulkes, os dados bíblicos e históricos registrados nos mostram que o próprio Paulo não goza de plena aceitação na Igreja que havia fundado.


[1] MORRIS, Leon. I Coríntios: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1981. 31p.

[2] FOULKES, Irene. Problemas Pastorales em Corinto: Comentário exegético-pastoral a 1 Coríntios. Costa Rica:DEI, 1996.p.71.

[3] BRAKEMEIER, Gottfried. A primeira carta do apóstolo Paulo à comunidade de Corinto: um comentário exegético-teológico. São Leopoldo: Sinodal: EST, 2008. 25-28pp.

[4] PRIOR, David. A mensagem de 1 Corintios: a vida na Igreja local. Tradução de Yolanda Mirdsa Krievin. 2. ed. São Paulo: ABU, 2001.29-36pp.

[5] FOULKES, Irene. Problemas Pastorales em Corinto: Comentário exegético-pastoral a 1 Coríntios. Costa Rica:DEI, 1996. 78-79pp.

[6] PRIOR, David. A mensagem de 1 Corintios: a vida na Igreja local. Tradução de Yolanda Mirdsa Krievin. 2. ed. São Paulo: ABU, 2001.29-36pp.

[7] BRAKEMEIER, Gottfried. A primeira carta do apóstolo Paulo à comunidade de Corinto: um comentário exegético-teológico. São Leopoldo: Sinodal: EST, 2008.25-28pp.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Simplesmente Extravagante


Como eu postei um artigo sobre "extravagância", segue mais esse, talvez com uma perspectiva um pouco diferente por parte da autora. Vale considerarmos a reflexão para nossas tantas sínteses



Texto Lucas 7.36-50

Jesus estava em Naim. E, um dado interessante é que os fariseus apesar de não reconhecer Jesus como o verdadeiro Messias, Simão, que era um fariseu chamou(Kaleo) Jesus com um propósito. A Bíblia não nos relata qual era esse propósito. A mulher a quem o texto se reporta é uma “gune”: referindo-se a qualquer mulher adulta. Os poucos dados que o texto nos fornece sobre a identidade dela: ela era da cidade e era pecadora.

Essa mulher nos deixou um dado dobre o “estar com o Mestre”.

Gostaria de esclarecer que a ênfase do texto pode ser histórico-social, no sentido de enfatizar a tensão entre Jesus e os fariseus, dentre outras. Mas o texto nos relata, e eu não posso deixar de avaliar, o significado da atitude daquela mulher que compõe “o quadro geral”. Essa mulher é o símbolo do “estar aos pés do Mestre”, e parece que, o texto nos revela uma forma um tanto quanto extravagante. O que o texto nos mostra é uma atitude intensa, e praticada de forma singela, simples. Tudo quanto ela fazia, fazia com tanta intensidade e verdade que chocou os fariseus presente na casa de Simão, e nos choca hoje. Fico imaginando uma cena assim bem no altar de nossas Igrejas, e como desdobramento o agir dos fariseus.

● Dados no texto que devem ser considerados:

a. A mulher “levou” (Komizo/ raiz de Komeo – Guardou para trazer) o alabastro. Alabastro é o nome de uma pedra – uma espécie de mármore branco de um belo polido. Os antigos consideravam que o alabastro era o melhor material para se preservar seus ungüentos. Provavelmente o ungüento era mirra (cheiro forte, amargo – seco - extraída da madeira).

b. Estava por detrás – ela não queria ser vista, o próprio verbo no original, tem a ver com enxergar. Ela provavelmente não se achava digna de estar diante de Jesus Cristo. Não queria ser enxergada. Estar aos pés de Jesus, conforme tradição do Oriente, pode significar que ela estava dizendo que queria ser uma discípula – no sentido de ouvir uma instrução de seu mestre; ou ainda, que estava “derrotada” diante do seu senhor – precisando de urgente auxílio;

● Enfatizando as atitudes da mulher:

1) “Chorava” - provavelmente enlutada por algum trauma sofrido (klaio) – chorava em voz alta; chorava como uma criança; A expressão usada no original é que ela “comia” os pés de Jesus com seus cabelos para enxugá-los. Talvez isso denote a intensidade do ato daquela mulher;

2) “Beijava” várias vezes (kataphileo) - ternamente, com respeito, e gostando do que estava fazendo;

3) “Ungia” (aleipho) uma palavra comum, mundana para ungir. Em atitude simples. Diferente de chrio – palavra sagrada e religiosa para ungir.

Hoje parece que vivemos na sociedade da exacerbações, quase tudo é muito intenso – nossas emoções estão quase sempre à flor da pele, não é verdade!? Isso reflete diretamente dentro da Igreja. Os jovens, ou para os de quaisquer que seja a idade, mas especialmente eles, acabam optando por um “estilo extravagante de estar com o Mestre” – por vários motivos. Nossa postura é quase sempre de crítica aos excessos. E eu acho que devemos ensinar mesmo, de verdade! Pastorear os que se orientam de forma incoerente. Mas a verdade é que precisamos experimentar também o que essa mulher experimentou – o perdão de seus pecados. Não existe uma “via-de-regra”, um padrão a ser seguido.

Não existe uma fórmula certa para “estar com Deus”, mas algumas indicações bíblicas, especialmente essa nos esclarece que: diante de Jesus precisamos nos entregar por inteiro, por completo, inclusive nossas formalidades. Diante de Deus devemos transcender nossos conceitos de certo e errado, feio e bonito, doutrinal e não-doutrinal - e nos entregarmos a ele, e somente a ele.

Marla
Teóloga Feminista
SP

segunda-feira, 16 de março de 2009

VIDA EXTRAVAGANTE

Esta é uma geração de cristãos que tem buscado novas formas de espiritualidade, novos modelos de culto e se preocupado em descobrir novas maneiras de adorar ao Eterno. Nessa busca, surgiu há alguns anos um movimento que ficou conhecido como “adoração extravagante”, uma tendência que abandona os padrões formais, e busca maior liberdade e espontaneidade.

Confesso que nunca experimentei nada novo em matéria de adoração, nunca me esparramei pelo chão, não tive arrebatamentos que me levassem ao terceiro céu, e não consigo repetir dezenas de vezes o mesmo refrão de um cântico. Mas eu sei que para Deus, adoração, antes de mais nada, é vida, e dela não pode estar separada.

Numa recente entrevista, o pastor e escritor na área de vida cristã, Eugene Peterson, disse que as pessoas que mais o incomodam são aquelas que chegam e perguntam o que elas têm de fazer para ser “mais espirituais”. E ele lhes responde: - “Esqueça esse negócio de ser espiritual. Que tal amar seu marido? Isso é um bom começo”. Porém, ele conclui desalentado: “Mas ninguém quer ouvir isso. Ninguém quer pensar em aprender a amar os filhos e aceitá-los do jeito que são”.

Espiritualidade no sentido bíblico nada tem a ver com uma forma diferente de orar, nem em ser batizado com a água de um determinado rio, nem ouvir o sonido do “shofar”, buscar êxtases, ou ser um asceta no mundo.

Desejas realmente agradar ao Único Senhor em tudo, e partilhar de Sua verdade aos homens? Buscas de fato uma “espiritualidade” que agrade profundamente ao Rei de toda a Terra? Anseias por alcançar aquilo que é chamado por muitos, de intimidade com Deus? Eis aqui alguns apontamentos que podem ser úteis nesse propósito:

Em primeiro lugar, ama extravagantemente. Ama sem esperar reciprocidade. Ainda que tenhas dons extraordinários, nunca te esqueças que é pelo amor e através do amor que o mundo olhará para ti como um autêntico discípulo de Jesus.

Perdoa sem reservas. Lembra-te que um dia fostes um devedor que não tinha como saldar uma dívida impagável, mas Jesus foi e a rasgou na cruz. E ainda o recebeu com teus defeitos e pecados.

Confessa-te pecador! Reconheça que em ti não reside bem algum, e se porventura enxergarem algo bom em sua vida, declare sem pestanejar que isso é integralmente obra do Espírito Santo.

Delicia-te com o fato de, mesmo pobre e desprezível aos olhos do mundo, ser possuidor da maior honraria que uma pessoa pode receber: ser chamada de filho de Deus.

Apazigua o teu coração na maravilhosa Graça divina, pois através dela não há nada que você possa fazer para ser mais amado pelo Eterno, e mesmo diante dos teus erros Ele continua a amá-lo de igual modo.

Lambuza-te com a Palavra, coma-a prazerosamente e sem prevenção. Digira em tuas entranhas esse santo maná e deixa-a manifestar-se nos teus membros na forma de uma vida em tudo agradável a Deus.

Conspira tenazmente contra toda forma de injustiça. Não te submetas aos dominadores, e não te cales diante dos poderosos.

Oferta generosamente! Não porque tema que “gafanhotos” saltarão das páginas do Antigo Testamento para assombrar tua vida, mas porque possuis em ti o espírito do Evangelho que considera tudo pertencente ao Pai. Por isso, ofereça a Deus, despojadamente, tudo o que és.

Rejeita qualquer forma de discriminação. Pratica o amor inclusivo de Jesus e seja como o servo que sai pelas ruas e becos da cidade trazendo os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos” (Lc 14.21) para que a Casa do Pai fique cheia. E Ele se alegrará em ti.

Confronta destemidamente os pregadores da prosperidade, os enganadores dos simples, e os que pensam ser alguma coisa, e nada são. Desmascara-os publicamente e não temas se disserem: “não toqueis o ungido do Senhor”. Lembra-te: és tu que verdadeiramente tem a unção do Alto, não eles.

Depois de tudo isso, (e somente depois), já não importará mais a forma da tua adoração, não importará se ajoelhas, se levanta as mãos, se entoa canções audíveis ou apenas balbucia trechos bíblicos quase inaudíveis, se balanças suavemente o teu corpo ao ritmo da música, ou se permaneces imóvel como que vendo o Invisível... sim, vá em paz, o Eterno já aceitou a adoração da tua vida, antes mesmo que adentrasses o templo do Senhor.


Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br

quarta-feira, 11 de março de 2009

Gênesis ...


O problema surge, portanto, quando se pretende dar ao "mito" do Gênesis um significado singular, histórico, a fim de jusificar a expiação e estabelecer, assim, um paraleleo entre a queda mítica da humanidade e a sua "restauração" histórica. Para Jung, o mito exprime a consciência coletiva da raça humana; essa experiência é ancestral e presente na história grupal; por isso memso o mito não pode ser tratado como simples fato histórico.


KEELING, Michael. Fundamentos da Ética Cristã. Tradução de Aharon Sapsezian.176p.

domingo, 1 de março de 2009

Cúmulo da Heresia ou só Um Jeito Diferente de Interpretar?

Esse texto eu recebi por e-mail, a pessoa não quis se identificar, mas pediu que eu postasse no blog. Aí está (O título é meu):




O livro do Gênesis nos mostra a preciosidade da criação de Deus, bem como o processo pelo qual Deus interfere positivamente na história em favor do ser humano.

Fico imaginando, com minhas idéias edificadas pelos embalos de uma modernidade tardia – e isso precisa estar claro - , a monotonia do Jardim, e conseqüentemente o desfecho que teria o casal Adão e Eva se Deus não entrasse com uma providência permitindo o desequilíbrio.

Tudo estava em perfeita harmonia no cosmos, tudo mesmo! Toda criação vivia harmonicamente de forma tal a se completar e a fechar o seu ciclo determinado por ela mesma. Até que essa cadeia de “normalidade engendrada” é quebrada quando entra o desequilíbrio no cosmos. Quebra-se o ciclo vital.

A serpente possuída representa o desequilíbrio da natureza, e o possuidor da serpente a causa de todo stress que resulta na quebra do ciclo normal das coisas. A ação potencializada do invisível decaído é o stress. Deus então, só agora, o “permiti-dor” da vida, ordena que o desequilíbrio esteja instalado nas primícias da criação, humanidade: homem trabalhe para comer, e isso te será por enfadonho; a mulher sentirá dores para gerar; e a serpente estará todos os dias entre o casal e famílias da terra. Por que isso? Deus recriou o ciclo da vida, permitindo a potencialização do stress, para que a humanidade não padecesse em seus mecanismos monótonos cruéis.

Sem stress nós humanos não vivemos, isso as ciências humanas explicam. O segredo é dominá-lo e não deixar que ele seja maior do que nós. Quem se guia pelo stress morre de ausência de sentido tanto quanto quem vive sem um pouquinho dele. Deus é a força humana de resistência ao niilismo, força essa que nos impulsiona à utopia (diferente de demência e de delírio) saudável da concretização do paraíso, seja ele onde for; mas certamente é o local (geográfico? Será?) onde todo stress será dominado.

Anônimo.

Gaza e as lições que aprendi

No Ceará a gente considera indigno bater em bêbado. Reajo tempestivamente ao genocídio palestino. Minhas vísceras se contorcem quando vejo uma criança mutilada por estilhaços. Sinto-me culpado porque durmo seguro. Revolto-me com a minha impotência. Não me conformo por ser insignificante. Alucino angustiado de não ter cacife político para gritar, Basta.

Como é que se bombardeia uma população indefesa, sem exército e sem lugar para se esconder? Não entendo o cinismo de uma nação que antes de despejar bombas manda o povo fugir. Mas fugir para onde? As fronteiras foram seladas, não existem abrigos, bunkers ou refúgios. A carnificina é pavorosa.

Para mim, essa guerra não passa de uma limpeza étnica. Humilhando o povo palestino até o pó, quebrando a coluna dorsal da sua identidade, Israel espera que eles parem de apurrinhar. Se a causa de Israel é nobre, por que a imprensa internacional está proibida de noticiar os acontecimentos?Mas mesmo horrorizado, tenho aprendido. Esses eventos tenebrosos me levaram a admitir que já não leio a Bíblia com as mesmas lentes. Abandonei a idéia de que os massacres do Antigo Testamento foram ordens divinas. Entendo que os genocídios relatados na Bíblia foram cometidos com as mesmas motivações políticas, com os mesmos interesses econômicos e com ambições nacionalistas iguais as atuais, mas atribuidos a um deus guerreiro. Não aceito que os "propósitos" divinos para o futuro estejam conectados à política militarista de Israel. Arrependo-me de ter, um dia, pregado que "Israel é o relógio de Deus" para o fim dos tempos.

Pretendo ser um discípulo de Jesus e quero crescer em meu pacifismo. Acredito que Jesus Cristo encarnou a plenitude da Divindade. Para mim as bem-aventuranças do Sermão do Monte são balizas para comportamentos individuais e decisões nacionais. Não aceito revides e vingança. Permaneço fiel à declaração de que Jesus é o príncipe da paz.

Por Ricardo Gondim.
Soli Deo Gloria.