Leia o texto biblico, para enteder o texto que segue.
Era provável que Cloé fosse efésia e não coríntia. Não se sabe nem mesmo se ela era cristã, embora isso seja provável[1]. “Os de Cloé”, portadores da notícia a Paulo, conforme nos registra o texto bíblico, provavelmente são cristãos que trabalham como escravos libertos para essa “mulher de negócios”. A casa de Cloé poderia ser tanto em Éfeso quanto em Corinto, entretanto é certo que, nesse trânsito de negócios, Paulo recebe a notícia. Os de Cloé podem representar o setor de menor status social na congregação[2].
Em Corinto, no período em que Paulo escreve a carta, estava surgindo um culto às personalidades centralizado em três figuras importantes da Igreja primitiva. No entanto, é provável que tais cultos não contavam com o apoio desses pregadores. Os possíveis motivos dos conflitos, considerando os temas que aparecem na carta de Paulo, são o tema do batismo e divergências quanto à compreensão do Cristo da Fé e o Jesus Histórico. Também para Gottfried Brakemeier, a origem desses grupos de Corinto deve ser vista em conexão com determinada compreensão do batismo, e ele acrescenta: provavelmente, a comunidade de Corinto entende o batismo como rito de iniciação das religiões de mistério, em que passa a existir forte relação entre o batizando e o batizado, o que constituía forte laço entre um e outro[3]. Nesse processo, é interessante notarmos que Paulo não tenta reprimir a diversidade de opiniões, no entanto, sua crítica é ao partidarismo – rivalidade entre grupos fechados em si mesmos. Para David Prior, Paulo preferia a harmonia e não o uníssono[4].
Segundo concepção de Irene Foulkes, a congregação de Corinto, na verdade, evidencia a influência de seu contexto social - multicultural; e as contendas na congregação vão tomando a forma de grupos rivais. Ou seja, o que era uma contenda se torna uma rivalidade. Os seguidores de Apolo se inclinariam pela sabedoria filosófica, visto que esse eloquente pregador era de tradição Alexandrina. Paulo não vê Apolo como rival, antes o estima como colega (1Co 3.5-9; 4.6; 16.12). Cefas provavelmente reflita o apego à tradição judia; já o grupo de Cristo, em contraste com os grupos anteriores, prefere ficar fora desse debate, prescindindo de determinar uma linha teológica nos moldes idealistas. Para eles, uma relação direta com Cristo é que determina os horizontes de compreensão[5].
Cada grupo tinha o seu próprio lema. Segundo David Prior[6]:
a) Paulo – 1 Co 4.15 – Pessoas seguiam Paulo por se sentirem geradas por ele. Ele as havia levado à fé – estando em dívida eterna para com ele. É quase certo que o partido de Paulo surgiu em reação aos outros grupos formados em Corinto em torno das outras pessoas mencionadas aqui. É provável que antes de Apolo e Cefas todos apoiassem Paulo.
b) Apolo – At 18.24-19.7 - Apolo era de Alexandria (Egito) – cidade universitária muito respeitada e criativa do mediterrâneo. Quando Apolo chega a Corinto com sua capacidade intelectual, sua eloquência, sua capacidade de expor as escrituras do AT, seus ensinamentos sobre Jesus, seu entusiasmo fervoroso e sua poderosa confrontação pública com os judeus, sem dúvida começou a atrair discípulos para si. Alguns acham que Apolo foi involuntariamente responsável pela criação de uma espécie de elite intelectual na Igreja de Corinto. Paulo não tinha tanta eloquência quanto Apolo.
c) O partido de Pedro/Cefas - representa o cristianismo mais judaico. Talvez Cefas tivesse visitado Corinto, o que explicaria a origem de tal movimento; ou quem sabe algum de seus seguidores. Outra possibilidade é a aceitação por parte da comunidade cristã da figura de Cefas, em Jerusalém, como um dos grandes líderes da igreja. Os desse partido eram de tendências legalistas.
d) O partido de Cristo – “todo culto aos heróis é anátema. Ninguém precisa de um líder, a menos que esse líder seja Cristo”. Esse grupo representa o que hoje caracterizaria experiências fortes e subjetivas. Quem sabe esse grupo um dos prováveis fomentadores do que posteriormente se transformou no movimento gnóstico do final do primeiro século. Era uma elite super espiritual na Igreja cristã. Sugere-se que esse grupo é um reflexo das religiões de mistério de Corinto. Para Gottfried Brakemeier, o grupo de Cristo viu no evangelho “uma sabedoria” e não uma proclamação do Cristo crucificado[7].
Em Corinto, no período em que Paulo escreve a carta, estava surgindo um culto às personalidades centralizado em três figuras importantes da Igreja primitiva. No entanto, é provável que tais cultos não contavam com o apoio desses pregadores. Os possíveis motivos dos conflitos, considerando os temas que aparecem na carta de Paulo, são o tema do batismo e divergências quanto à compreensão do Cristo da Fé e o Jesus Histórico. Também para Gottfried Brakemeier, a origem desses grupos de Corinto deve ser vista em conexão com determinada compreensão do batismo, e ele acrescenta: provavelmente, a comunidade de Corinto entende o batismo como rito de iniciação das religiões de mistério, em que passa a existir forte relação entre o batizando e o batizado, o que constituía forte laço entre um e outro[3]. Nesse processo, é interessante notarmos que Paulo não tenta reprimir a diversidade de opiniões, no entanto, sua crítica é ao partidarismo – rivalidade entre grupos fechados em si mesmos. Para David Prior, Paulo preferia a harmonia e não o uníssono[4].
Segundo concepção de Irene Foulkes, a congregação de Corinto, na verdade, evidencia a influência de seu contexto social - multicultural; e as contendas na congregação vão tomando a forma de grupos rivais. Ou seja, o que era uma contenda se torna uma rivalidade. Os seguidores de Apolo se inclinariam pela sabedoria filosófica, visto que esse eloquente pregador era de tradição Alexandrina. Paulo não vê Apolo como rival, antes o estima como colega (1Co 3.5-9; 4.6; 16.12). Cefas provavelmente reflita o apego à tradição judia; já o grupo de Cristo, em contraste com os grupos anteriores, prefere ficar fora desse debate, prescindindo de determinar uma linha teológica nos moldes idealistas. Para eles, uma relação direta com Cristo é que determina os horizontes de compreensão[5].
Cada grupo tinha o seu próprio lema. Segundo David Prior[6]:
a) Paulo – 1 Co 4.15 – Pessoas seguiam Paulo por se sentirem geradas por ele. Ele as havia levado à fé – estando em dívida eterna para com ele. É quase certo que o partido de Paulo surgiu em reação aos outros grupos formados em Corinto em torno das outras pessoas mencionadas aqui. É provável que antes de Apolo e Cefas todos apoiassem Paulo.
b) Apolo – At 18.24-19.7 - Apolo era de Alexandria (Egito) – cidade universitária muito respeitada e criativa do mediterrâneo. Quando Apolo chega a Corinto com sua capacidade intelectual, sua eloquência, sua capacidade de expor as escrituras do AT, seus ensinamentos sobre Jesus, seu entusiasmo fervoroso e sua poderosa confrontação pública com os judeus, sem dúvida começou a atrair discípulos para si. Alguns acham que Apolo foi involuntariamente responsável pela criação de uma espécie de elite intelectual na Igreja de Corinto. Paulo não tinha tanta eloquência quanto Apolo.
c) O partido de Pedro/Cefas - representa o cristianismo mais judaico. Talvez Cefas tivesse visitado Corinto, o que explicaria a origem de tal movimento; ou quem sabe algum de seus seguidores. Outra possibilidade é a aceitação por parte da comunidade cristã da figura de Cefas, em Jerusalém, como um dos grandes líderes da igreja. Os desse partido eram de tendências legalistas.
d) O partido de Cristo – “todo culto aos heróis é anátema. Ninguém precisa de um líder, a menos que esse líder seja Cristo”. Esse grupo representa o que hoje caracterizaria experiências fortes e subjetivas. Quem sabe esse grupo um dos prováveis fomentadores do que posteriormente se transformou no movimento gnóstico do final do primeiro século. Era uma elite super espiritual na Igreja cristã. Sugere-se que esse grupo é um reflexo das religiões de mistério de Corinto. Para Gottfried Brakemeier, o grupo de Cristo viu no evangelho “uma sabedoria” e não uma proclamação do Cristo crucificado[7].
Para Irene Foulkes, os dados bíblicos e históricos registrados nos mostram que o próprio Paulo não goza de plena aceitação na Igreja que havia fundado.
[1] MORRIS, Leon. I Coríntios: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1981. 31p.
[2] FOULKES, Irene. Problemas Pastorales em Corinto: Comentário exegético-pastoral a 1 Coríntios. Costa Rica:DEI, 1996.p.71.
[3] BRAKEMEIER, Gottfried. A primeira carta do apóstolo Paulo à comunidade de Corinto: um comentário exegético-teológico. São Leopoldo: Sinodal: EST, 2008. 25-28pp.
[4] PRIOR, David. A mensagem de 1 Corintios: a vida na Igreja local. Tradução de Yolanda Mirdsa Krievin. 2. ed. São Paulo: ABU, 2001.29-36pp.
[5] FOULKES, Irene. Problemas Pastorales em Corinto: Comentário exegético-pastoral a 1 Coríntios. Costa Rica:DEI, 1996. 78-79pp.
[6] PRIOR, David. A mensagem de 1 Corintios: a vida na Igreja local. Tradução de Yolanda Mirdsa Krievin. 2. ed. São Paulo: ABU, 2001.29-36pp.
[7] BRAKEMEIER, Gottfried. A primeira carta do apóstolo Paulo à comunidade de Corinto: um comentário exegético-teológico. São Leopoldo: Sinodal: EST, 2008.25-28pp.
5 comentários:
Minha questão é: Existiram mesmo os grupos ou Paulo estava apenas utilizando uma estratégia para introduzir a temática da unidade na igreja (já que ele retoma a questão no cap. 12)?
Olá Thiago, primeiramente obrigado pela ilustre visita.
Na minha opinião, não sem devidas argumentações, os partidos a que Paulo se refere não é um recurso retórico de Paulo. Ou seja, a situação existiu de fato, como Paulo a descreve: "partidos".
Com relação ao capítulo 12, ele é o desdobramento ideal dessa situação que estava acontecendo dentro da Igreja de Corinto - mais uma vez, Paulo apela à undade, mas agora com argumentos diferentes, cita de forma mais specífica que a Igreja é o "corpo de Cristo", e que ele não deve estar divido, porque Cristo não esta dividido (pelo menos metaforicamente, e traçando um paralelo com o capítulo 1).
Abraço.
Para falar a verdade eu também achei, baseado nos argumentos que você apresentou, que os partidos existiram mesmo. Mas, como Paulo usa bastante o recurso da ironia para "alfinetar" os opositores (e aí, pensando nisso, seguirá meu próximo comentário), pensei em verificar sua percepção sobre o assunto da divisão.
Já que os partidos existiram mesmo: Como Paulo de coloca diante deles? Minha questão é que por mais que ele buscasse a unidade organica da igreja, ele sabia que as idéias seriam diversas, e que isso poderia gerar, como gerou, um cisma na comunidade. Logo, se ele dicordava, em alguns pontos, da abordagem de Cefas e Apolo, por que não deflagrar, claramente, a defesa de seu ponto de vista? Acredito que ele o fez, mas de forma irônica (não no sentido pejorativo, mas como estratégia de transmissão da sabedoria).
É possível?
Então Thiago, interessante sua observação. Acredito que Paulo sabia sim que haveria diversidade de cultural, e portanto de opinião, dentro das Igrejas cristãs, no entanto isso não o incomodava. A sensação que eu tenho é que ele luta contra o partidarismo, o denominacionalismo, dentro da Igreja, pois segundo ele mesmo, existe diversidade no "corpo", mass o corpo (Cristo) não está dividido.
Agora, não sei se ele se posicionaou favorável ao partido que "montaram" para ele, e ele acabou se utilizando de suas idéias para reforçar, de alguma forma esse grupo, ou mesmo usá-lo como recurso que desse base ao seu discurso teológico. No entanto é possível sim, não podemos ignorar essa suposição exegética que você apresenta.
Mas, uma questãozinha para refletirmos juntos/as ... considerando a teologia paulina, ele não se posicionaria então, "favorável", ou simpático, ao grupo de Cristo que ele mesmo cita nesse texto?
Abraço.
Excelente apontamento meu caro Watson ....rs (brincadeirinha).
Confesso que pasou pela minha cabeça uma estrutura "paralelista", na qual Paulo relaciona seu partido ao de Cristo e expõe, dessa forma, a contrariedade dos partidos de Cefas e Apolo (mais isso é percepção pura, não tenho a mínima base exegética para sinalizar isso; por outro lado, não descosidero a hipótese, já que acredito que Paulo usa muito o recurso da ironia - dizer algo quando na verdade se almeja o contrário) - cf. aos versículos 12 e 13.
Se há alguma lógica nesse pensamento, então os versículos seguintes onde só Cristo aparece e Paulo é mencionado direta e indiretamente, serviriam como justificativa.
Tenho dificuldade de acreditar que Paulo não gostou e não usou "de seu partido" e "seus partidários" para promover suas correspondências, assim como sua teologia.
Somos tão treinados a duvidar do induvidável que não descarto nenhuma hipótese, por mais absurda que pareça.
Postar um comentário