domingo, 20 de dezembro de 2009

NATAL: o milagre de um Deus que ama

Por Rev. Ronan Boechat de Amorim

Por muitos séculos o mundo não cristão e até mesmo a Igreja cristã tiveram dificuldades de explicar o mistério do Natal, ou seja, o mistério que envolve a encarnação de Deus em Jesus, que se fez feto na barriga de Maria, criança dependente dos cuidados e proteção da família e homem que morreu cruel e injustamente assassinado na cruz.

Influenciada pela filosofia grega, uma grande parcela do mundo daquela época em que Jesus nasceu acreditava que o mundo humano, histórico e material (esse mundo onde vivemos!) era uma espécie de purgatório, para onde algumas almas eram condenadas a vir e aqui serem provadas, até serem “remidas” (salvas). Essa salvação acontecia depois de sucessivas reencarnações até que a alma (a pessoa) em questão tivesse alcançado um grau de sabedoria tamanho que pudesse voltar ao mundo perfeito das idéias (qualquer semelhança com o espiritismo kardecista não é mera coincidência!). O mundo me que vivemos era mal, lugar de sofrimento, de provação... uma prisão para a alma!

Como pode um Deus onipotente e onipresente se tornar um feto e caber dentro da pequenez e fragilidade de um corpo hu-mano? Como pode um ser tão transcendente tornar-se depen-dente do amor familiar para poder nascer e sobreviver? Como um oceano poderia caber num balde?
Para muitos – gente de dentro e de fora da Igreja! – a encar-nação era um grande absurdo, pois um Deus soberano que se humilhava assim não merecia ser temido e adorado! Diante des-ses questionamentos alguns cristãos caíram na cilada de tornar o mistério mais palatável, compreensível e aceito e o reduziram a explicações que foram consideradas heréticas pela igreja: Jesus não era Deus, havia sido adotado na hora do seu batismo por Deus para ser o seu Filho. Ou: Jesus não era Deus, foi a primeira criatura criada por Deus.

Coube aos Evangelhos afirmarem a verdade: Jesus era Deus desde o princípio (cf. Jo 1:1-14), que por amor (Jo 3:16) veio ao nosso encontro para nos ensinar a viver bem (Jo 10:10).
Assim como a redenção oferecida por Jesus nos faz “nascer de novo” e nos torna em novos homens e novas mulheres, a redenção divina também transforma o velho mundo numa nova terra e num novo Céu (Is 65:17-25). A presença de Deus em algum momento, nós cremos, reencherá a terra da sua Glória. Jesus traz as primícias (primeiros frutos) desse Reino, desse momento novo. Jesus fez-se homem para que os demais homens e mulheres pudessem ver Deus. Ele veio ao nosso encontro para nos oferecer sua Palavra, seu exemplo, seu amor e sua própria vida para que nós pudéssemos ter vida abundante, vida eterna, reconciliados uns com os outros e reconciliados com Deus.

Segundo Fp 2:5-11, Deus esvaziou-se de sua Glória (humilhou-se) e fez-se carne (gente), mostrando que o mundo não é purgatório, mas o “palco” da redenção, lugar da ação salvadora de Deus, lugar profético onde vida, paz, justiça e salvação vencerão as forças da morte e do mal. Parte integrante do Reino de Deus (cf. Rm 8:18-25) e de onde o diabo e seus anjos serão lançados fora para dentro do poço de enxofre cujo fogo não se apaga nunca (Ap 19:19-21; Ap Ap 20:14). E a cerca e o portão do velho Éden vigiados por querubins (cf. Gn 3:23-24) cairão por terra e a Glória de Deus será derramada e alcançará toda a terra. E Jesus é o "sinal" mais latente e poderoso dessa derrubada: é o véu que se rasga, é o lugar do templo chamado Santo dos Santos que transborda e invade a nave do templo onde fica a congregação e começa a transbordar pelos átrios e pátios, pelas circunvizinhanças, por Jerusalém, Judéia, Samaria e os confins do mundo... É a santidade de Deus que santifica e santificará o mundo que agora vive parcialmente em trevas. É em caráter cósmico o que é descrito na relação conjugal e familiar em 1Co7:14. A terra não será o Céu, mas a terra e o mundo limpo pela palavra de Deus (Jo 15:3) será parte do Céu.
Portanto, não nos esqueçamos do centro do Natal: um Deus amoroso e salvador que vem ao nosso encontro para nos salvar.

Não nos esqueçamos do mistério do Natal: um Deus tão grandioso surpreendeu a todos (inclusive à ciência, à cultura, à teologia) e de modo misterioso foi gestado pelo Espírito Santo no ventre de Maria e tornou-se um de nós.

Não nos esqueçamos do significado do Natal: um Deus que por amor a nós faz o possível e o impossível, que opera sinais e milagres, que move céus e terra para poder nos salvar. O Natal cristão é o milagre de um Deus que ama.

Aleluia!

3 comentários:

ALFJr disse...

Graça e paz reverendo!

Excelente a idéia que você nos propõe no seu texto; abre-nos a possibilidade de uma série de discussões que ao meu ver são pertinentes e importantes à igreja como um todo ...

Por exemplo, no período grego, quando se acreditava que "aqui" era lugar de rever os erros e pagar por eles, e portanto de sofrimento como o senhor bem sinalizou, o corpo era visto como "a cadeia da alma", ou do espírito! O corpo é a prisão, a parte ruim da vida. É nesse contexto que, por um longo período, "a igreja" não discutiu a presença do corpo em nossas interações vitais .. as mais básicas ... relacionamentos interpessoais, etc!

No entanto, Jesus nos coloca a questão do corpo quando vem em carne ... feito uma criança ... numa manjedoura ... conforme o termo: Emanuel! Jesus é corpo quando é Deus habitando entre nós!

Que bela reflexão, obrigado pelaoortunidade! Outras questões vão surgindo, importantes ... fica o espaço aberto ...

Abraço

ALFJr. disse...

Para não ficar só nas minhas palavras ... segue um texto do Pr. Paulo Maurício Lomba

21 de Dezembro de 2009
Natal Sem Panetone

Com certeza você deve estar pensando que vou falar do ‘escândalo do mensalão’ do DEM ou de algum problema da vida política! Mas, pode ficar tranquilo que a encrenca é outra! Portanto, leia tudo para entender.

A indústria de ‘artigos de Natal’ como frutas secas, frutas típicas, chesters, perus, enfeites luminosos, coca-cola, e não nos esqueçamos do famoso Panetone, está satisfeita com as perspectivas deste ano, pois espera faturar 15% mais que no mesmo período do ano passado.

Só para especular, você já viu quanto custa um panetone de marca? Ou frutas secas? Ou as carnes de aves como peru, frango ou chester? Poucas pessoas podem comprar e, por não terem um destes na mesa, ficam achando o Natal ’sem graça’.

Quando lembramos o nascimento de Jesus Cristo vemos que não houve pompa, mesas fartas, música, mas uma grande festa que os anjos celebraram! Apesar dos três reis que ali chegaram e ofereceram preciosidades como ouro, incenso e mirra, ninguém mais fez qualquer oferta para Ele.

Meu questionamento é o seguinte: Nós, filhos de Deus, não estaríamos entrando nessa onda de consumo de ‘artigos de Natal’ sem nos preocuparmos com o Cristo? Nossas festas não estão muito mais voltadas para a comunhão familiar e com amigos do que celebração do nascimento do Salvador? Estaríamos nós lembrando de que, além da troca de presentes é preciso presentear o Cristo com a nossa adoração?

O Natal tem que ter renovação de vida, alegria no Espírito Santo, adoração em Espírito e em verdade, comunhão e paz com todos os homens! É o tempo de fazer diferença para os que estão vivendo na ’sombra da morte’, os que estão marginalizados, os que passarão a noite se embriagando para ter alguma ‘alegria’, os encarcerados, os hospitalizados, os pobres, os sem-família, etc. Precisamos celebrar este evento sem ludibriar o nossa consciência autopiedosa, sem amenizar as consequências do dia seguinte. Temos de tomar a decisão de abrirmos o coração a Deus e deixar que Ele ‘faça a festa em nós’, enquanto aguardamos o grande banquete celestial na eternidade!

FELIZ NATAL A TODOS!

Pr. Paulo Maurício G. Lomba
Igreja Batista da Asa Sul – Brasília – DF

Deixe o seu comentário no site: http://www.ichtus.com.br/dev/2009/12/20/natal-sem-panetone/

Anônimo disse...

Amado Rev. Ronan. Assim como já me expressei por e-mail em relação ao seu texto faço-o agora de público, pois vejo nele aquele tempero que falta em muitos textos sofisticados,o conhecimento estampado na simplicidade sem perder o foco do tema proposto. Parabéns! Dou uma passada por aqui de vez em quando e até agora não tenho perdido meu tempo. As postagens deste blog são, de fsto, excelentes.
Seu conservo,
Pr. Antônio Luiz