“Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele” (1Jo 2.15)
Boa parcela de cristãos costuma fazer certa confusão quando se refere ao “mundo”. Embora a bíblia use sempre o mesmo vocábulo (kósmos), é preciso reconhecer os seus diferentes significados: há o “mundo”, globo terrestre, que inclui toda obra da Criação, a humanidade e suas gentes, e há o “mundo” entendido como perversão de valores, lugar de trevas e engano. Mundo, então, neste sentido, é a ideologia vigente que se rebela ao Eterno, e leva a tragédia à existência humana. Quem vive sob esta ótica não tem como amar a Deus, pois se tornou escravo do sistema e o seu “eu” é o seu próprio deus.
A bíblia alerta: “não ameis o mundo” (ideologia), mas diz que “Deus amou ao mundo” (pessoas).
Geograficamente, o cristão está “no” mundo, embora não seja “do” mundo, e Jesus roga ao Pai para que não tirasse os seus filhos do mundo, mas que tão somente os guardasse do mal (Jo 17.15).
Mundo-perversão não é necessariamente um lugar geográfico, mas ele sempre surgirá onde predominam pensamentos, atitudes e posturas contrárias ao Evangelho. Até a igreja pode ser mais “mundo” que o mundo se os seus valores estiverem invertidos. Disputa pelo poder, busca de sucesso e glamour, espírito de competição, e satisfação de interesses pessoais, sempre nascem de uma visão “mundana”. Quando Lutero tentou evadir-se das mazelas da sociedade do seu tempo, se refugiou num mosteiro, mas logo percebeu que “o mundo” estava presente ali tanto quanto lá fora.
Pode um cristão compartilhar da amizade e companhia de pessoas “do mundo”? Claro, o mundo é o nosso campo de atuação, é onde a luz precisa brilhar, e o sal salgar. Jesus, orando ao Pai, disse: “Assim como Tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo” (Jo 17.18).
Quando Paulo escreve: “não vos associeis com os impuros” (1Co 5.9) significa: “não comungueis com as ideias e posturas que não correspondam aos valores do Reino”. Ou seja, viva no mundo, mas não se prenda à valoração deste mundo. Não manter contato com “impuros” seria impossível, pois senão “teríeis de sair do mundo” (1Co 5.10), finaliza o apóstolo.
Interessante, como um Jesus inegavelmente santo, vai às festas que o convidam, não se importa com a fama de quem ele se senta à mesa, dá de ombros quando é chamado de “glutão e beberrão, amigo de pecadores” (Lc 7.34), e não faz acepção de pessoas. Em tudo isso ele não se maculou.
Um aspecto que a igreja às vezes tem dificuldades em admitir, é de que Deus além de ter amado o mundo de tal forma que enviou o Seu Filho, Ele também outorga as suas bênçãos a todas as pessoas, independentemente delas aderirem à fé ou não. É a “graça comum”, que embora não conduza à salvação de seus recebedores, é concedida pelo Pai que “faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos” (Mt 5.45). “O Senhor é bom para todos” (Sl 145.9), ensina o salmista.
Eric Lidell, campeão olímpico nos 100m em 1924, no filme Carruagens de Fogo disse: “Creio que Deus me fez para um propósito, mas Ele também me fez veloz, e quando eu corro, sei que agrado a Deus”. Mais tarde ele diria que “desistir de correr, seria despreza-Lo”. Depois Lidell tornou-se missionário e terminou seus dias num campo de concentração na China aos 43 anos.
É de Deus que vem todo talento e destreza nas artes em geral, na música, no cinema, teatro, esportes, na literatura.... Tudo que é belo, tudo o que é bom, e todo dom perfeito vem do Alto (Tg 1.17). Por vezes, muitos incrédulos são até mesmo mais aquinhoados com talentos que os próprios cristãos confessos, pois “os filhos do mundo são mais hábeis na sua própria geração do que os filhos da luz” (Lc 16.8).
Só assim é possível entender porque há tantas coisas boas na vida, produzidas por gente do “mundo”. Os versos de Pessoa, a voz limpa e clara da Ana Carolina, as canções do U2, o vozeirão rouco do Louis Armstrong, os dribles do Neymar, a guitarra do B.B.King, os girassóis de Van Gogh, a genialidade do Bill Gates, e tudo o mais que há de belo e perfeito tiveram origem em Deus. Origem em Deus, eu repito – e não no diabo – ainda que estes não reconheçam nem glorifiquem ao Eterno.
Agora, quem não é capaz de ver beleza nestas coisas, duvido que aprecie o que verá no céu, pois na Nova Jerusalém os reis da terra apresentarão a Deus a glória que possuem e a honra das nações (Ap 21.24-26). Creio que lá estarão presentes o acervo do Louvre, do Masp e a metade de Florença com suas pinturas e afrescos.
Há coisas que estão no mundo, mas não são “mundanas”. Por isso, enquanto puder quero continuar levando meu filho ao estádio, assistir filmes que emocionem, dar muita risada com o Jim Carrey, gastar dinheiro com livros, ler a Folha e o Estadão enquanto tomo café, comer churrasco com a família reunida, e descansar janeiro na praia, sem fazer nada...., pois “nada há melhor para o homem do que comer, beber e fazer que a sua alma goze o bem do seu trabalho. No entanto, vi também que isto vem da mão de Deus, pois, separado deste, quem pode comer ou quem pode alegrar-se?” (Ec 2.24-25).
Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
SOBRE FÁBULAS, FANTASIAS E CREDULIDADE
“E se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas” (2Tm 4.4)
Tenho visto muitas coisas acontecerem no mundo espiritual que não são se enquadram em manifestação divina, nem mover de Deus, ou obra do Espírito Santo. Fenômenos religiosos, sejam eles de curas, prodígios ou maravilhas nem sempre são originados do céu. De igual modo a produção de textos, livros, shows, canções, vídeos e pregações, que usam o nome de Deus, necessariamente não vêm do Alto. Aliás, seria muita ingenuidade imaginar que fosse assim.
Não há dúvidas de que há muita gente portadora das mais diversas doenças da alma (psique) e do espírito, usando a religião como canal para expressar suas enfermidades.
Entretanto, alguém poderá argumentar que eles estão sendo “sinceros”. Embora isso seja louvável, muita gente pode estar “sinceramente enganada” sendo levada por seus sentimentos e pensamentos desviantes, e não pela direção das Escrituras e do Espírito Santo.
Quando Jesus chama para Si aqueles rudes pescadores, Ele prepara e trata individualmente cada um deles: a Pedro fez ver sua arrogância e intempestividade, a João seu espírito de vingança (queria consumir com fogo os samaritanos), a Tomé seu ceticismo. Até o apóstolo temporão, Paulo, não saiu a pregar e escrever sem que antes passasse três longos anos no deserto sendo tratado. Só então foram enviados.
Atualmente a Web tem sido um meio para disseminar idéias e crenças que carecem de fundamentos bíblicos. Confesso que já cansei de apertar a tecla “Reply” para desmontar mensagens difundidas como verdade, mas como ninguém quer verificar se as coisas são de fato assim, repassam “sem piedade” para os seus contatos.
Creio que foi Jeremias quem mais enfrentou profetas da mentira e das fantasias, numa época sem internet. Diz ele: “o profeta que tem sonho, conte-o como apenas sonho... sou contra esses profetas que pregam a sua própria palavra e afirmam: Deus disse... e fazem errar o meu povo” (Jr 23.28-32).
Quem não gostaria de subir ao céu toda manhã, bater um papo com Deus, e voltar na hora do café com a sua agenda do dia? Quem não gostaria de ter um telefone viva-voz ligado diretamente à sala do trono? Seria maravilhoso, mas não é assim que as coisas funcionam.
Mas observe a posição simples e humilde dos cristãos primitivos: diante das situações difíceis eles oravam a Deus, reuniam-se em comunidade, conversavam, discutiam, e quando estavam certos que o Senhor começava a mostrar-lhes a direção, então eles diziam:
“Pareceu bem aos presbíteros e à toda a igreja enviar... pareceu-nos bem eleger alguns homens... pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não impor maior encargo.... pareceu bem a Silas permanecer ali...” (At 15.22-34).
Sim, “pareceu bem”. Ninguém disse: “Deus me falou, e ponto final!”.
É um erro confundir misticismo com espiritualidade. É preciso mais uma vez voltar ao livro de Atos. Havia em Filipos uma jovem adivinhadora que sem conhecer aos apóstolos, dizia deles, quando passavam: “Estes homens são servos do Deus Altíssimo, e vos anunciam o caminho da salvação” (At 16.17). Bingo! Acertou em cheio! Nos dias atuais, muitos “crédulos sinceros” deixariam as suas congregações para segui-la. Mas Paulo discerniu “quem” estava por trás daquilo e expulsou aquele espírito. Paulo é um estraga-prazeres. Ele bem que poderia usá-la para atrair mais gente para o seu ministério, “adivinhando” o que vai na vida de cada um. Mas a bíblia nos ordena: “não deis crédito a qualquer espírito, antes provem os espíritos se procedem de Deus” (1Jo 4.1).
Quando apontam para alguém e dizem: “ali está o poder de Deus”, eu me pergunto: Será mesmo? Sei do que Deus pode fazer. Mas não sou crédulo: ser crédulo é ser ingênuo, sem discernimento; credulidade não é fé, pois ela não consegue separar o falso do verdadeiro; o crédulo crê em “Deus”.... e em todos os deuses.
Somos seres passionais, por isso sujeitos às paixões, aos sonhos, visões e imaginações que brotam das fantasias do coração. Mas não pretendo incorrer nos erros do nosso tempo. Basta dar uma olhada na História para perceber que a engenhosidade das fábulas levou muita gente “sincera” ao erro quando projetaram no inimigo suas próprias mazelas e perversões:
Se você vivesse nos tempos de Jesus, e freqüentasse a sinagoga, seu maior inimigo seriam os samaritanos, visto como “impuros” e gente da pior espécie. Mas você estaria errado.
Se você vivesse na Alemanha nos anos 30, saberia apontar os responsáveis pelo caos econômico: os judeus e os ciganos. Teria errado novamente.
Satanás é prodigioso em lançar “ações diversionistas” – aquela estratégia usada na guerra para desviar a atenção de onde virá o verdadeiro ataque. Mas os crédulos, sem se aperceberem vão dizer que aquilo que vivemos hoje é tudo culpa dos Illuminati, da Rede Globo (que segundo Estevam Hernandes tem um demônio chamado Kixapágua).... da última novela.... do Opus Dei (Dan Brown tem ganhado rios de dinheiro brincando com a credulidade de seus leitores).
Satanás dá gargalhadas com suas ações diversionistas. Não estou negando o malefício dessas coisas, mas todos seremos derrotados se não voltarmos nossa atenção onde justamente ele tem atuado com maior desenvoltura, e poucos tem se apercebido. Aqui vai uma dica do livro das Revelações: a Besta que emerge da terra “parecendo cordeiro” (Ap 13.11) tem aparência de inocência e mansidão, “opera grande sinais, que até fogo do céu faz descer à terra, diante dos homens (Ap 13.13), e “seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais” (Ap 13.14). Ela atrairá para si todos os crédulos que se recusam a dar ouvidos à verdade, e preferiram entregar-se às fábulas.
Quem viver verá.
Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br
Tenho visto muitas coisas acontecerem no mundo espiritual que não são se enquadram em manifestação divina, nem mover de Deus, ou obra do Espírito Santo. Fenômenos religiosos, sejam eles de curas, prodígios ou maravilhas nem sempre são originados do céu. De igual modo a produção de textos, livros, shows, canções, vídeos e pregações, que usam o nome de Deus, necessariamente não vêm do Alto. Aliás, seria muita ingenuidade imaginar que fosse assim.
Não há dúvidas de que há muita gente portadora das mais diversas doenças da alma (psique) e do espírito, usando a religião como canal para expressar suas enfermidades.
Entretanto, alguém poderá argumentar que eles estão sendo “sinceros”. Embora isso seja louvável, muita gente pode estar “sinceramente enganada” sendo levada por seus sentimentos e pensamentos desviantes, e não pela direção das Escrituras e do Espírito Santo.
Quando Jesus chama para Si aqueles rudes pescadores, Ele prepara e trata individualmente cada um deles: a Pedro fez ver sua arrogância e intempestividade, a João seu espírito de vingança (queria consumir com fogo os samaritanos), a Tomé seu ceticismo. Até o apóstolo temporão, Paulo, não saiu a pregar e escrever sem que antes passasse três longos anos no deserto sendo tratado. Só então foram enviados.
Atualmente a Web tem sido um meio para disseminar idéias e crenças que carecem de fundamentos bíblicos. Confesso que já cansei de apertar a tecla “Reply” para desmontar mensagens difundidas como verdade, mas como ninguém quer verificar se as coisas são de fato assim, repassam “sem piedade” para os seus contatos.
Creio que foi Jeremias quem mais enfrentou profetas da mentira e das fantasias, numa época sem internet. Diz ele: “o profeta que tem sonho, conte-o como apenas sonho... sou contra esses profetas que pregam a sua própria palavra e afirmam: Deus disse... e fazem errar o meu povo” (Jr 23.28-32).
Quem não gostaria de subir ao céu toda manhã, bater um papo com Deus, e voltar na hora do café com a sua agenda do dia? Quem não gostaria de ter um telefone viva-voz ligado diretamente à sala do trono? Seria maravilhoso, mas não é assim que as coisas funcionam.
Mas observe a posição simples e humilde dos cristãos primitivos: diante das situações difíceis eles oravam a Deus, reuniam-se em comunidade, conversavam, discutiam, e quando estavam certos que o Senhor começava a mostrar-lhes a direção, então eles diziam:
“Pareceu bem aos presbíteros e à toda a igreja enviar... pareceu-nos bem eleger alguns homens... pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não impor maior encargo.... pareceu bem a Silas permanecer ali...” (At 15.22-34).
Sim, “pareceu bem”. Ninguém disse: “Deus me falou, e ponto final!”.
É um erro confundir misticismo com espiritualidade. É preciso mais uma vez voltar ao livro de Atos. Havia em Filipos uma jovem adivinhadora que sem conhecer aos apóstolos, dizia deles, quando passavam: “Estes homens são servos do Deus Altíssimo, e vos anunciam o caminho da salvação” (At 16.17). Bingo! Acertou em cheio! Nos dias atuais, muitos “crédulos sinceros” deixariam as suas congregações para segui-la. Mas Paulo discerniu “quem” estava por trás daquilo e expulsou aquele espírito. Paulo é um estraga-prazeres. Ele bem que poderia usá-la para atrair mais gente para o seu ministério, “adivinhando” o que vai na vida de cada um. Mas a bíblia nos ordena: “não deis crédito a qualquer espírito, antes provem os espíritos se procedem de Deus” (1Jo 4.1).
Quando apontam para alguém e dizem: “ali está o poder de Deus”, eu me pergunto: Será mesmo? Sei do que Deus pode fazer. Mas não sou crédulo: ser crédulo é ser ingênuo, sem discernimento; credulidade não é fé, pois ela não consegue separar o falso do verdadeiro; o crédulo crê em “Deus”.... e em todos os deuses.
Somos seres passionais, por isso sujeitos às paixões, aos sonhos, visões e imaginações que brotam das fantasias do coração. Mas não pretendo incorrer nos erros do nosso tempo. Basta dar uma olhada na História para perceber que a engenhosidade das fábulas levou muita gente “sincera” ao erro quando projetaram no inimigo suas próprias mazelas e perversões:
Se você vivesse nos tempos de Jesus, e freqüentasse a sinagoga, seu maior inimigo seriam os samaritanos, visto como “impuros” e gente da pior espécie. Mas você estaria errado.
Se você vivesse na Alemanha nos anos 30, saberia apontar os responsáveis pelo caos econômico: os judeus e os ciganos. Teria errado novamente.
Satanás é prodigioso em lançar “ações diversionistas” – aquela estratégia usada na guerra para desviar a atenção de onde virá o verdadeiro ataque. Mas os crédulos, sem se aperceberem vão dizer que aquilo que vivemos hoje é tudo culpa dos Illuminati, da Rede Globo (que segundo Estevam Hernandes tem um demônio chamado Kixapágua).... da última novela.... do Opus Dei (Dan Brown tem ganhado rios de dinheiro brincando com a credulidade de seus leitores).
Satanás dá gargalhadas com suas ações diversionistas. Não estou negando o malefício dessas coisas, mas todos seremos derrotados se não voltarmos nossa atenção onde justamente ele tem atuado com maior desenvoltura, e poucos tem se apercebido. Aqui vai uma dica do livro das Revelações: a Besta que emerge da terra “parecendo cordeiro” (Ap 13.11) tem aparência de inocência e mansidão, “opera grande sinais, que até fogo do céu faz descer à terra, diante dos homens (Ap 13.13), e “seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais” (Ap 13.14). Ela atrairá para si todos os crédulos que se recusam a dar ouvidos à verdade, e preferiram entregar-se às fábulas.
Quem viver verá.
Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br
CRISTÃOS SEM PEDIGREE
“Não tenho outro nome, senão o de pecador; pecador é meu nome; pecador, meu sobrenome” (Martinho Lutero)
Há alguns anos ganhamos um cão labrador. Junto veio um certificado mostrando sua pureza de raça, atestando que não era um labrador “qualquer”, pois foi gerado por um exemplar especial, veio de um espécime escolhido entre muitos outros. Ele tem “pedigree”.
Quando Hitler tomou o poder na Alemanha, cientistas iniciaram pesquisas para um trabalho de melhoria da raça germânica. A proposta era eliminar os fracos, os doentes, os que nasciam com alguma deficiência física. Buscava-se uma “pureza racial”. Dá-se a isso o nome de “eugenia”. Essa expressão foi cunhada em 1883, e significa “bem nascido”. Para os nazistas, as raças nórdicas estavam no topo da hierarquia humana, depois havia as “raças inferiores” e finalmente a mais baixa de todas, as “parasíticas”, constituídas pelos ciganos, judeus e africanos.
Deus sempre quis um povo para si, para glorificar o Seu Nome e espalhar a santidade sobre a Terra. Aos nossos olhos seria normal que Ele escolhesse as melhores pessoas, as mais virtuosas, as mais educadas, e bem nascidas, para que fizessem parte desse povo. Mas aí vem Jesus, e diz justamente o contrário: “não vim chamar justos, mas sim pecadores” (Mt 9.13).
De onde você imagina que veio? De uma família boa, classe média, e respeitável? E que você conquistou o seu lugar no Reino por seus méritos? Esqueça. Uma das grandes dificuldades que existe na igreja é passar aos seus membros sua origem comum. A nossa condição humana nos iguala nos desvios, erros e vícios. Nossa origem adâmica, com todas as suas conseqüências nivela a todos nós. Igreja é um grande abrigo de doentes. Mas há uma vantagem em ter consciência disso: doente não tem medo de estar perto de outro doente. Só quem se enxerga “saudável” é que teme se misturar e contaminar.
Na verdade, diante de Deus não há duas classes de homens: os bons e os maus. A única divisão é: os maus que se reconhecem pecadores e os maus que ainda precisam reconhecer seu estado. Não há bons. Não há dignos. Não há cristãos gerados com pedigree. Ninguém no Reino de Deus carrega pedigree santo, “sangue azul”, ou espiritualidade “eugênica”.
Deus se irou tremendamente quando o seu povo peitava aos que necessitavam de misericórdia com a seguinte frase: “Fica onde estás, não te chegues a mim, porque sou mais santo do que tu” (Is 65.5). De onde vem esta postura? Trata-se de uma defesa, uma tentativa de se sentir-se “melhor” ou superior rebaixando o semelhante.
Quando vemos pessoas em dificuldades, presos a um vício, ao pecado, ou a uma postura destrutiva para si mesmos, somos chamados – não para julgá-los – mas para acolhe-los. Não pode faltar ao cristão o sentimento de empatia, que é a capacidade de compreender o espírito e os sentimentos do outro. Somos chamados para estender essa misericórdia divina a todos que nos cercam. Philip Yancey, em seu livro Maravilhosa Graça, conta de seu amigo que lhe confessou com profunda tristeza: “Como gay, descobri que é mais fácil conseguir sexo nas ruas do que um abraço na igreja”. Isso é abominável diante de Deus.
A meu ver, a mais bela expressão registrada na bíblia sobre o Reino de Deus, está na Parábola da Grande Ceia (Lc 14), onde o servo saiu a avisar aos convidados do banquete que o seu senhor preparara, mas estes tinham coisas mais importantes a fazer. Voltando o servo para a casa, o senhor se irou e disse: “sai depressa para as ruas e becos da cidade, e traze aqui os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos” (penso que conheci a Deus nessa remessa).
Interessante: quando o servo retorna da missão com aquela gente “desqualificada”, o seu senhor o manda sair ainda mais uma vez: “vai pelos caminhos e atalhos e obriga a todos a entrar, para que fique cheia a minha casa”. Não houve filtragem de convidados, nem se impôs condições prévias a eles. E ao servo não foi permitido exprimir seus gostos e preferências pessoais. Competia a ele cumprir o que fora ordenado pelo seu senhor. Creio que o Pai quer a sua casa cheia, com gente de todas as “tribos”.
Naquele banquete, todos que se sentam à mesa são igualmente indignos. Entendo agora porque Lutero afirmava de forma tão peremptória: “Não tenho outro nome, senão o de pecador; pecador é meu nome; pecador, meu sobrenome”.
Somos mendigos que descobrimos onde tem comida da boa. Agora, a nossa missão é avisar aos outros mendigos, inválidos e desqualificados. Somos aquele servo que sai para proclamar as boas-novas a todos. Quanto “pior” eles forem, melhor. O Pai se agradará muito em acolhê-los, amá-los e conceder-lhes dignidade. O Senhor também espera que os servos que saem a convidar, igualmente se agradem em estar ao lado deles.
Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br
Há alguns anos ganhamos um cão labrador. Junto veio um certificado mostrando sua pureza de raça, atestando que não era um labrador “qualquer”, pois foi gerado por um exemplar especial, veio de um espécime escolhido entre muitos outros. Ele tem “pedigree”.
Quando Hitler tomou o poder na Alemanha, cientistas iniciaram pesquisas para um trabalho de melhoria da raça germânica. A proposta era eliminar os fracos, os doentes, os que nasciam com alguma deficiência física. Buscava-se uma “pureza racial”. Dá-se a isso o nome de “eugenia”. Essa expressão foi cunhada em 1883, e significa “bem nascido”. Para os nazistas, as raças nórdicas estavam no topo da hierarquia humana, depois havia as “raças inferiores” e finalmente a mais baixa de todas, as “parasíticas”, constituídas pelos ciganos, judeus e africanos.
Deus sempre quis um povo para si, para glorificar o Seu Nome e espalhar a santidade sobre a Terra. Aos nossos olhos seria normal que Ele escolhesse as melhores pessoas, as mais virtuosas, as mais educadas, e bem nascidas, para que fizessem parte desse povo. Mas aí vem Jesus, e diz justamente o contrário: “não vim chamar justos, mas sim pecadores” (Mt 9.13).
De onde você imagina que veio? De uma família boa, classe média, e respeitável? E que você conquistou o seu lugar no Reino por seus méritos? Esqueça. Uma das grandes dificuldades que existe na igreja é passar aos seus membros sua origem comum. A nossa condição humana nos iguala nos desvios, erros e vícios. Nossa origem adâmica, com todas as suas conseqüências nivela a todos nós. Igreja é um grande abrigo de doentes. Mas há uma vantagem em ter consciência disso: doente não tem medo de estar perto de outro doente. Só quem se enxerga “saudável” é que teme se misturar e contaminar.
Na verdade, diante de Deus não há duas classes de homens: os bons e os maus. A única divisão é: os maus que se reconhecem pecadores e os maus que ainda precisam reconhecer seu estado. Não há bons. Não há dignos. Não há cristãos gerados com pedigree. Ninguém no Reino de Deus carrega pedigree santo, “sangue azul”, ou espiritualidade “eugênica”.
Deus se irou tremendamente quando o seu povo peitava aos que necessitavam de misericórdia com a seguinte frase: “Fica onde estás, não te chegues a mim, porque sou mais santo do que tu” (Is 65.5). De onde vem esta postura? Trata-se de uma defesa, uma tentativa de se sentir-se “melhor” ou superior rebaixando o semelhante.
Quando vemos pessoas em dificuldades, presos a um vício, ao pecado, ou a uma postura destrutiva para si mesmos, somos chamados – não para julgá-los – mas para acolhe-los. Não pode faltar ao cristão o sentimento de empatia, que é a capacidade de compreender o espírito e os sentimentos do outro. Somos chamados para estender essa misericórdia divina a todos que nos cercam. Philip Yancey, em seu livro Maravilhosa Graça, conta de seu amigo que lhe confessou com profunda tristeza: “Como gay, descobri que é mais fácil conseguir sexo nas ruas do que um abraço na igreja”. Isso é abominável diante de Deus.
A meu ver, a mais bela expressão registrada na bíblia sobre o Reino de Deus, está na Parábola da Grande Ceia (Lc 14), onde o servo saiu a avisar aos convidados do banquete que o seu senhor preparara, mas estes tinham coisas mais importantes a fazer. Voltando o servo para a casa, o senhor se irou e disse: “sai depressa para as ruas e becos da cidade, e traze aqui os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos” (penso que conheci a Deus nessa remessa).
Interessante: quando o servo retorna da missão com aquela gente “desqualificada”, o seu senhor o manda sair ainda mais uma vez: “vai pelos caminhos e atalhos e obriga a todos a entrar, para que fique cheia a minha casa”. Não houve filtragem de convidados, nem se impôs condições prévias a eles. E ao servo não foi permitido exprimir seus gostos e preferências pessoais. Competia a ele cumprir o que fora ordenado pelo seu senhor. Creio que o Pai quer a sua casa cheia, com gente de todas as “tribos”.
Naquele banquete, todos que se sentam à mesa são igualmente indignos. Entendo agora porque Lutero afirmava de forma tão peremptória: “Não tenho outro nome, senão o de pecador; pecador é meu nome; pecador, meu sobrenome”.
Somos mendigos que descobrimos onde tem comida da boa. Agora, a nossa missão é avisar aos outros mendigos, inválidos e desqualificados. Somos aquele servo que sai para proclamar as boas-novas a todos. Quanto “pior” eles forem, melhor. O Pai se agradará muito em acolhê-los, amá-los e conceder-lhes dignidade. O Senhor também espera que os servos que saem a convidar, igualmente se agradem em estar ao lado deles.
Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br
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