segunda-feira, 20 de setembro de 2010

SOBRE FÁBULAS, FANTASIAS E CREDULIDADE

“E se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas” (2Tm 4.4)

Tenho visto muitas coisas acontecerem no mundo espiritual que não são se enquadram em manifestação divina, nem mover de Deus, ou obra do Espírito Santo. Fenômenos religiosos, sejam eles de curas, prodígios ou maravilhas nem sempre são originados do céu. De igual modo a produção de textos, livros, shows, canções, vídeos e pregações, que usam o nome de Deus, necessariamente não vêm do Alto. Aliás, seria muita ingenuidade imaginar que fosse assim.

Não há dúvidas de que há muita gente portadora das mais diversas doenças da alma (psique) e do espírito, usando a religião como canal para expressar suas enfermidades.

Entretanto, alguém poderá argumentar que eles estão sendo “sinceros”. Embora isso seja louvável, muita gente pode estar “sinceramente enganada” sendo levada por seus sentimentos e pensamentos desviantes, e não pela direção das Escrituras e do Espírito Santo.

Quando Jesus chama para Si aqueles rudes pescadores, Ele prepara e trata individualmente cada um deles: a Pedro fez ver sua arrogância e intempestividade, a João seu espírito de vingança (queria consumir com fogo os samaritanos), a Tomé seu ceticismo. Até o apóstolo temporão, Paulo, não saiu a pregar e escrever sem que antes passasse três longos anos no deserto sendo tratado. Só então foram enviados.

Atualmente a Web tem sido um meio para disseminar idéias e crenças que carecem de fundamentos bíblicos. Confesso que já cansei de apertar a tecla “Reply” para desmontar mensagens difundidas como verdade, mas como ninguém quer verificar se as coisas são de fato assim, repassam “sem piedade” para os seus contatos.

Creio que foi Jeremias quem mais enfrentou profetas da mentira e das fantasias, numa época sem internet. Diz ele: “o profeta que tem sonho, conte-o como apenas sonho... sou contra esses profetas que pregam a sua própria palavra e afirmam: Deus disse... e fazem errar o meu povo” (Jr 23.28-32).

Quem não gostaria de subir ao céu toda manhã, bater um papo com Deus, e voltar na hora do café com a sua agenda do dia? Quem não gostaria de ter um telefone viva-voz ligado diretamente à sala do trono? Seria maravilhoso, mas não é assim que as coisas funcionam.

Mas observe a posição simples e humilde dos cristãos primitivos: diante das situações difíceis eles oravam a Deus, reuniam-se em comunidade, conversavam, discutiam, e quando estavam certos que o Senhor começava a mostrar-lhes a direção, então eles diziam:

“Pareceu bem aos presbíteros e à toda a igreja enviar... pareceu-nos bem eleger alguns homens... pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não impor maior encargo.... pareceu bem a Silas permanecer ali...” (At 15.22-34).

Sim, “pareceu bem”. Ninguém disse: “Deus me falou, e ponto final!”.

É um erro confundir misticismo com espiritualidade. É preciso mais uma vez voltar ao livro de Atos. Havia em Filipos uma jovem adivinhadora que sem conhecer aos apóstolos, dizia deles, quando passavam: “Estes homens são servos do Deus Altíssimo, e vos anunciam o caminho da salvação” (At 16.17). Bingo! Acertou em cheio! Nos dias atuais, muitos “crédulos sinceros” deixariam as suas congregações para segui-la. Mas Paulo discerniu “quem” estava por trás daquilo e expulsou aquele espírito. Paulo é um estraga-prazeres. Ele bem que poderia usá-la para atrair mais gente para o seu ministério, “adivinhando” o que vai na vida de cada um. Mas a bíblia nos ordena: “não deis crédito a qualquer espírito, antes provem os espíritos se procedem de Deus” (1Jo 4.1).

Quando apontam para alguém e dizem: “ali está o poder de Deus”, eu me pergunto: Será mesmo? Sei do que Deus pode fazer. Mas não sou crédulo: ser crédulo é ser ingênuo, sem discernimento; credulidade não é fé, pois ela não consegue separar o falso do verdadeiro; o crédulo crê em “Deus”.... e em todos os deuses.

Somos seres passionais, por isso sujeitos às paixões, aos sonhos, visões e imaginações que brotam das fantasias do coração. Mas não pretendo incorrer nos erros do nosso tempo. Basta dar uma olhada na História para perceber que a engenhosidade das fábulas levou muita gente “sincera” ao erro quando projetaram no inimigo suas próprias mazelas e perversões:

Se você vivesse nos tempos de Jesus, e freqüentasse a sinagoga, seu maior inimigo seriam os samaritanos, visto como “impuros” e gente da pior espécie. Mas você estaria errado.

Se você vivesse na Alemanha nos anos 30, saberia apontar os responsáveis pelo caos econômico: os judeus e os ciganos. Teria errado novamente.

Satanás é prodigioso em lançar “ações diversionistas” – aquela estratégia usada na guerra para desviar a atenção de onde virá o verdadeiro ataque. Mas os crédulos, sem se aperceberem vão dizer que aquilo que vivemos hoje é tudo culpa dos Illuminati, da Rede Globo (que segundo Estevam Hernandes tem um demônio chamado Kixapágua).... da última novela.... do Opus Dei (Dan Brown tem ganhado rios de dinheiro brincando com a credulidade de seus leitores).

Satanás dá gargalhadas com suas ações diversionistas. Não estou negando o malefício dessas coisas, mas todos seremos derrotados se não voltarmos nossa atenção onde justamente ele tem atuado com maior desenvoltura, e poucos tem se apercebido. Aqui vai uma dica do livro das Revelações: a Besta que emerge da terra “parecendo cordeiro” (Ap 13.11) tem aparência de inocência e mansidão, “opera grande sinais, que até fogo do céu faz descer à terra, diante dos homens (Ap 13.13), e “seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais” (Ap 13.14). Ela atrairá para si todos os crédulos que se recusam a dar ouvidos à verdade, e preferiram entregar-se às fábulas.

Quem viver verá.

Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br

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