quarta-feira, 17 de março de 2010

NOSSO DEUS NÃO É SÁDICO! SEU AMOR NÃO PRECISA DE CORDAS


É recorrente no meio cristão cantarmos músicas, às quais reputamos por “louvor e adoração à Deus”. No entanto, poucas vezes nos alertarmos para o que estamos difundindo no nosso discurso com o conjunto da letra. Isso me preocupa sim porque o que cantamos em nossas Igrejas é o que vai edificando a base teológica da Igreja, é o que orientará as “atividades na comunidade de fé daqui em diante”. Basta estudarmos um pouquinho mais sobre a importância da música na própria sociedade brasileira, também em outras culturas, e como ela foi e é usada. Por exemplo, no processo de colonização para catequetizar os ameríndios, e hoje como serva do marketing – vender produtos é o mais importante.

Quando estudamos a música, seu potencial e efeitos sob a mente humana, e como ela difunde doutrinas e costumes, teologias, dentre outros, percebemos o quanto ela pode calcificar valores que nem sempre prezam pela moral cristã e pela verdade. Certamente que não somos totalmente passíveis à esses valores mas instaura-se um processo sinergético onde ficamos vulneráveis. Isso não é ruim, mas só é saudável quando nos atentamos criticamente ao que cantamos.

Uma de minhas preocupações recentes são letras de músicas, não poucas, que deixam aparecer a expressão “o Senhor me amarrou à Ele com cordas de amor”. É o caso da música “Cordas de Amor”, composição de David Quinlan; e a música “Preso ao Teu Amor (Cordas de Amor)” cantada pelo “Ministério Salmistas Profetas e Adoradores (SPA)”, composição de Pra. Priscila Cruz.

Tenho entendido que tal expressão “o Senhor me amarrou à Ele com cordas de amor”, no sentido de “me capturou para Ele e me prendeu n’Ele” foi pinçada do texto bíblico cuja referência é Oséias 11.4a. Mas o sentido que essa expressão tem assumido no todo dessas músicas não corresponde ao sentido bíblico; especialmente se buscamos fidelidade ao contexto em que o versículo está citado. O pior é que tal expressão pode sugerir e discutir tendendo à incentivar, de forma subliminar, a busca pelo “amor possessivo de um deus sádico”. Percebe-se que outros desvios aparecem nas letras, mas não cabe aqui a discussão.

● Prossigo com o texto bíblico: Os 11.1-7

1 Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei o meu filho. 2 Quanto mais eu os chamava, tanto mais se iam da minha presença; sacrificavam a baalins e queimavam incenso às imagens de escultura. 3 Todavia, eu ensinei a andar a Efraim; tomei-os nos meus braços, mas não atinaram que eu os curava. 4 Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor; fui para eles como quem alivia o jugo de sobre as suas queixadas e me inclinei para dar-lhes de comer. 5 Não voltarão para a terra do Egito, mas o assírio será seu rei, porque recusam converter-se. 6 A espada cairá sobre as suas cidades, e consumirá os seus ferrolhos, e as devorará, por causa dos seus caprichos. 7 Porque o meu povo é inclinado a desviar-se de mim; se é concitado a dirigir-se acima, ninguém o faz .
● Em linhas gerais

Eu selecionei os vs. 1-7 para registrar no corpo desse texto, mas na verdade nem mesmo esse intervalo é suficiente para captarmos o contexto em que se insere o v. 4; esse que é retirado de seu contexto original para “caber como der” nas letras de músicas gospel. O ideal é recorrermos à unidade maior da discussão do tema proposto pelo profeta que está nos seguintes endereços: Oseías caps. 11 – 14.

Em linhas gerais, o texto nos fala da “frustração” de Deus por ter Ele se aproximado primeiro de Israel e ter atraído o seu povo para fora do Egito, e perceber que o povo agora se desviava d’Ele para a prática da iniqüidade.

Quando no v. 4 aparece a palavra “cordas”, precisamos ficar atentos porque o texto nos indica que a atração foi uma iniciativa divina sim, mas as cordas são humanas. O que isso significa? Se compararmos essa indicação com a cultura de peregrinação do povo nômade, e considerarmos no cap. 12 o v.9 - Ainda te farei habitar em tendas; percebemos que “cordas” remontam ao povo que nesse período habitam, ou deveriam estar habitando, em tendas.

Não podemos deixar de considerar que na cultura semita, os termos hebraicos expressam o cotidiano do povo, as palavras estão calcadas no dia a dia e em coisas concretas, e do concreto assumem sentidos que tentam exprimir a ação divina. Podemos ler então que Deus atrai para si um povo - peregrinos para fora do Egito, para fora da escravidão – povo que no trajeto habita em tendas; por isso a expressão “cordas humanas”. Portanto, se considerarmos a Bíblia, o termo não pode ser “Cordas de Amor que amarram”, isso é um erro de interpretação Bíblica, um equívoco teológico grave, e uma concepção prejudicial à Igreja.

O que prende o povo à Deus conforme as palavras expressas no livro do profeta Oséias é o laço: os laços sim são de amor! E isso é muito diferente. As cordas permanecem humanas, elas não amarram, e não são de amor - elas não prendem; antes, foram usadas no texto para designar a saída do povo do cativeiro – como se Deus arrastasse seu povo para fora com elas. Já a palavra hebraica traduzida por laço é עבתה ̀abothah, que pode ser traduzida como “folhagens entrelaçadas”. Nesse caso seria “folhagens entrelaçadas de amor”. O que nos faz presos à Deus é um amontoado de folhas que por Ele mesmo foram trançadas. Esse é o sentido do texto.

Espero que esse texto seja esclarecedor. Deus continue nos abençoando!
Pr. Antônio Luiz de Freitas Junior.

segunda-feira, 15 de março de 2010

A ERA DOS INSATISFEITOS

“Nós vos tocamos flauta, e não dançastes; entoamos lamentações, e não pranteastes” (Mt 11.17)
Insatisfação com o emprego, insatisfação com a escola, com o presidente eleito, com o cônjuge, com os rumos da vida, com a comunidade de fé... Adolescentes entediados, esposas frustradas, maridos desanimados. Essa é uma geração de insatisfeitos. A tecnologia e as facilidades da vida não nos tornaram pessoas mais felizes. Ao contrário.

E quando fatos desagradáveis acontecem, e orações demoram a ser respondidas, logo essa insatisfação é dirigida também a Deus. Há hoje espalhados pelo mundo um exército de decepcionados com Deus, pois Ele “permitiu” que acontecessem certas coisas que deveria ter impedido, ou então não respondeu da forma esperada aos desejos tantas vezes manifestos no coração.

Muitos mostram desgosto com Deus porque Ele não se “comporta” da maneira que se espera de um Todo-Poderoso. Na verdade, quando desconhece-se o caráter de Deus revelado nas Escrituras e o seu papel na História e na minha vida, é fácil ficar desapontado.
Insatisfação gera cobranças, destrói relacionamentos, e inventa culpados. Refiro-me à insatisfação crônica, repetitiva, padronizada, que já não consegue enxergar beleza, nem extrair prazer. Eliminando-se a hipótese de um diagnóstico de anedonia, que é a incapacidade de sentir qualquer forma de alegria na vida, é preciso ter coragem para buscar a origem desses sentimentos.

É prova de maturidade saber discernir se o problema está fora ou dentro de nós. Embora às vezes pareça estar no mundo exterior, na maioria das vezes reside no próprio interior. Pretendo demonstrar que o problema pode não estar exatamente no “objeto” da nossa insatisfação.

Jesus mostrou aos religiosos de sua época a eterna insatisfação que viviam, dizendo que eles eram como meninos que não queriam brincar: “Nós vos tocamos flauta, e não dançastes; entoamos lamentações e não pranteastes” (Mt 11.17). Ou seja, quando deveriam dançar e cantar, ficavam carrancudos, e quando a brincadeira mudava, também não pretendiam participar. Quer Jesus realizasse milagres, ou quer João Batista pregasse, não havia reação positiva, eles permaneciam insatisfeitos.

Creio que essa doença sempre esteve presente junto ao povo de Deus. A grande murmuração que os judeus levantaram no deserto, com o maná enviado pelo Eterno, era uma forma de insatisfação. Foi-lhes dado este “cereal do céu”, mas o povo preferia claramente as carnes do Egito. O que havia de errado com o maná? O problema não era o maná em si, mas o estômago de quem comia o maná. Lição: Aquilo que Deus dá, muitas vezes não agrada ao paladar, e a as carnes do Egito (nossa antiga vida) parecem ser mais palatáveis.

A contrariedade e o aborrecimento com as pessoas que nos rodeiam, logo pode ensejar um pensamento de afastamento delas: “Ó Deus, em ‘algum lugar’ deve haver gente mais amável, mais solícita, e que mereça a minha presença....”. Se o caminho fosse promover a “troca” daqueles que provocam aborrecimento, geraria uma instabilidade tal que tornaria impossível qualquer relacionamento duradouro, pois tão logo atualizasse sua satisfação, em pouco tempo o mesmo problema voltaria a se repetir com as novas pessoas.

Quando temos dificuldade em aceitar a falibilidade do outro e a incapacidade do próximo de gerar satisfação para mim o tempo todo, eu me decepciono.

Os profissionais em educação sabem que quando a criança está dispersa, agitada ou agressiva em sala de aula, ela está simplesmente refletindo as perplexidades e a impotência existentes em seu coraçãozinho, provavelmente originadas em sua casa. Quando esta mesma criança atinge a idade adulta, e se torna integrante de uma comunidade de fé que siga os padrões bíblicos, percebemos que a maior parte da insatisfação e contrariedade demonstradas por ela tem mais a ver com seus problemas familiares, seus conflitos emocionais e existenciais, e menos com a fé, a pregação, os dogmas ou doutrinas da igreja.

É por isso que se torna quase impossível agradar a um insatisfeito contumaz, pois a queixa dele não é somente pelo que você “faz”: há um componente interior que precisa ser trazido à luz. Em última análise, a insatisfação recorrente é uma doença dos olhos, é um “não-estar-presente-aqui”, pois a alma está vagando sonhadora em algum lugar.

Talvez o personagem bíblico mais mal-humorado e insatisfeito, tenha sido o profeta Jonas. Sua cruzada evangelística havia sido um sucesso, e sua pregação convertera toda uma cidade. Nenhum profeta jamais conseguira tal feito. Era para estar feliz. Mas não estava. Havia uma predisposição interior que o impedia de se alegrar. Deus lhe passa uma reprimenda: “É razoável esta tua ira?”.
Talvez o Senhor também esteja nos perguntando: “É razoável o teu descontentamento, o teu desprazer, o teu olhar de enfado, onde nada está bom?”

Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O QUE REALMENTE IMPORTA


Há muito poucas coisas na vida que realmente importam. E saber reconhecê-las é prova de sabedoria. Por isso eu creio que não seja possível saber o exato valor das coisas enquanto a alma não for banhada pela luz que vem do Alto. Ou seja, se o Eterno não tocar profundamente o nosso coração, e não mudar os nossos olhos, teremos uma existência marcada por constantes erros de valores.

A ausência de Deus na vida do homem o impulsiona a gastar-se por “nada”, a lutar por “coisa nenhuma” e a se enriquecer com “contas de vidro”. É famosa a história do desbravador Fernão Dias que no século XVII se embrenhou pelo interior obcecado pela beleza das esmeraldas e morreu apertando entre às mãos um punhado de pedras verdes, que imaginava serem aquelas, quando na verdade tratava-se de um mineral sem grande valor.

Há muita gente com os olhos vidrados correndo atrás do vento, correndo atrás de prestígio, de reconhecimento, agarrados às coisas que imaginam serem preciosidades, e de repente os anos passam, a vida é perdida, e o prazer se esvai entre os dedos....

Conta-se que um milionário texano encontrou uma freira no Pacífico cuidando de leprosos, e lhe falou: -“Irmã, eu não faria isso por dinheiro nenhum do mundo”. E ela respondeu: -“Eu também não meu filho, eu também não”. Ela possuía a paz e a serenidade de alguém que descobriu o que realmente importava.

Não saber o que de fato importa na vida é perder-se em frivolidades, em sensibilidades, é se machucar por nada. Uma jovem médica infectologista foi trabalhar com pacientes terminais contaminados com o HIV. Questionada sobre o que isso mudou em sua vida, ela disse: -“Aprendi a me alegrar com as pequenas coisas... e perdi a paciência de lidar com pessoas que reclamam de tudo na vida”. Assim como ela também acabou minha paciência em lidar com cristãos mimados presos à futilidades.

Valorizar as pequenas coisas... não foi isso justamente o que Jesus veio nos ensinar? Ao homem que queria construir celeiros para armazenar sua produção, e passar o resto de seus dias comendo , bebendo e regalando-se, Ele chama de “louco” (Lc 12.20). Também é pedagógico o texto em que um jovem rico se aproxima do Mestre e pergunta o que precisa fazer para herdar a vida eterna. Jesus, olhando para ele, o amou e lhe propôs: “Uma coisa ainda te falta: vai vende tudo o que tens e dá aos pobres” (Mc 10.21). O jovem, sem dizer palavra, retirou-se dali triste, pois possuía muitas propriedades.

Que fique claro: o problema não está em possuir bens ou dinheiro, mas Jesus conhecia aquele coração e queria mostrar-lhe que o seu apego aos bens materiais deturpava-lhe a visão correta da vida, e por isso pediu a ele uma renúncia. Aquele jovem precisava resolver essa questão existencial. O mesmo vale para nós: o que precisamos renunciar?

“Marta, Marta, andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário, ou mesmo uma só coisa...” (Lc 10.42).

Somos as “Martas” de hoje que correm, se fatigam, vivem ansiosas, necessitam de remédios para dormir – pois não conseguem se “desligar”.... Somos as Martas que transformaram a simplicidade da vida em uma busca sôfrega de “mais e mais”, aliados a uma preocupação excessiva com tudo que se refere ao amanhã.

Em sociedades competitivas como o Japão as crianças são incentivadas desde cedo a se destacarem. E a escola deixou de ser lugar de aprender, mas de competir. Tragicamente isso tem provocado as maiores taxas do mundo em suicídio infantil.

Edwin Aldrin foi o segundo astronauta a pisar no solo lunar, logo após Neil Armostrong. Ao retornar, a pergunta que ouviu de seu pai foi: “Por que você não foi o primeiro?”. Depois disso sofreu de depressão e alcoolismo por dezoito anos.

Creio que todos concordamos que não há maior prazer que “comer, beber e gozar do fruto do trabalho”, como ensina Eclesiastes. Mas o homem simples de fé reconhece que tudo isso “vem da mão de Deus, e separado Dele ninguém pode se alegrar verdadeiramente”. Ou seja, separado de Deus tudo perde o seu valor.

O Evangelho nos remete a uma nova forma de viver. Lançar um novo olhar é fundamental para a compreensão do exato valor das coisas. Para o Evangelho, o mais importante não é ser o primeiro, nem ter o melhor salário, ou obter maior reconhecimento....

Peça para o Pai lhe mostrar o que realmente é fundamental em sua vida. Você vai ficar surpreso ao descobrir que se trata de coisas simples às quais, quem sabe, nunca se importou de verdade.

Poucas coisas são necessárias para uma existência feliz. Espero que você faça as melhores escolhas.


Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br

DE QUAL “DEUS” VOCÊ ESTÁ FALANDO?


Para uns, “Deus” é uma força impessoal, uma energia emanada do cosmo ou da natureza, e basta você procurar os lugares e objetos de emanação para ficar cheio “Dele”.

Para outros, “Deus” é a natureza, são pessoas, e em algumas religiões ele é visto nas aves e nos animais. É a confusão entre Criador e criatura.

Os gregos tinham um panteão de “deuses” e para não ofender a nenhum que porventura tivessem esquecido, havia lá também um altar a um tal “deus desconhecido” (At 17.23).

Embora a caridade dignifique o homem e seja uma virtude desejável a todos, pois “Deus é amor” (1Jo 4.8), não podemos, entretanto, inverter a proposição. Em outras palavras: “amor não é Deus”.

Por conta dos meios midiáticos, tem crescido entre nossa gente a idéia de que “Deus” é uma espécie de gênio da lâmpada, pronto para ser “esfregado” e atender ao seu pedido.

Diante de tantos entendimentos contrários é bom saber de que “Deus” se está falando. Hoje há “deus” para todos os gostos, e todas as tribos urbanas tem o seu, criados na mente do homem à sua imagem e semelhança. Esses deuses não me interessam, e nada tem a ver com o Deus das Escrituras. Explico:

Eu não creria num Deus passivo, previsível, enquadrado, e que aceitasse barganhas dos fiéis toda vez que ouvisse o tilintar de moedas caindo no gazofilácio.

Não poderia crer jamais num Deus “pau mandado” que obedecesse a comandos de homens que determinam o que Ele precisa fazer.

Duvidaria sim, de um Deus que esquecesse milhões de famélicos descalços em algum canto perdido da África e do Haiti para abençoar uma elite de fiéis com um carro novo e reluzente, só porque lhe fizeram alguma espécie de sacrifício ou usaram as palavras “certas” em suas orações.

O Deus que eu deposito minha fé não faz milagres à “baciada” nem freqüenta os programas de TV que levam o Seu Nome. De igual modo também não creio que seja possível dissecar o Todo Poderoso sob a luz dos holofotes, e dizer quais são os seus desígnios, só porque um pastor, bispo ou apóstolo afirma que “conversou” a viva voz com Ele nesta manhã.

O Deus que eu confio não é um produto exposto nas prateleiras, ao qual se pega para resolver algumas questões mais urgentes, como se fosse um talismã. Ao contrário, Ele deseja ser conhecido pelos que o buscam com infinita paixão e amam a Sua Palavra.

Creio num Deus que surpreende. Ele se permite encontrar em meio aos louvores, nas preces, e nas reuniões que fazemos em seu Nome, mas é impossível tentar retê-lo aos quadrantes do templo. Seu Espírito é livre, e sopra onde quer, por isso se dá a conhecer também nos lugares mais improváveis. Querer vê-Lo apenas na igreja é fechar os olhos à Sua presença na vida.

Creio num Deus que está comigo, na minha dor, que entende minhas fraquezas e limitações, e reconhece a minha fé relutante, que continuamente suplica: “ajuda-me, Senhor, na minha falta de fé”. Aprendi, com o tempo, a aceitar que Ele faz nascer o sol sobre maus e bons, e cair a chuva sobre quem merece e sobre quem não merece. Aliás, ninguém é merecedor, simplesmente Deus é bom, e isso independe de nossas ações.

O Deus que eu amo e prego atrai as pessoas por sua benevolência, pois “é a bondade de Deus que nos conduz ao arrependimento” (Rm 2.4) – e não o medo do inferno. Ele tem sua morada na luz, mas pode se ocultar na escuridão, anda em meio à tempestade, afofa a cama do doente, habita no imponderável, e me diz que mesmo em meio às mais difíceis circunstâncias Ele tem o mundo em Suas mãos.

Deposito a fé num Deus capaz de reverter os maus desígnios do meu Adversário, transformando o mal em bem, pois “nenhum dos seus planos pode ser frustrado” (Jó 42.2). Descanso na certeza que Ele anula todas as maldições imprecadas contra mim, e que não prevalece feitiço ou encantamento contra ninguém do seu povo (Nm 23.23).

Temo a um Deus que relativiza os diagnósticos médicos. Para Ele é indiferente se os exames dizem que se trata de um mal curável ou incurável, pois o Senhor do Universo está acima das categorias de “possível” ou “impossível” dos homens, simplesmente porque nada lhe é difícil: é Ele “que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela” (1Sm 2.6).

Sirvo a um Deus infinitamente maior que Aquele pregado pela igreja católica, pelos ortodoxos, protestantes ou pentecostais, simplesmente porque nenhum sistema religioso tem o pleno conhecimento de Sua mente, de Seus mistérios e de Sua Sabedoria, e nenhum grupo ou igreja possui a primazia do Seu Nome!


Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

OS INCORRIGÍVEIS


“Mas, se estais sem correção...,
logo, sois bastardos e não filhos”(Hb 12.8)

É ponto fundamental na vida de um cristão maduro e sensato a capacidade que tem de admitir para si mesmo e para outros que ele é passível de ser corrigido.

Quem é corrigível percebe a todo o momento suas falhas, seus gestos impensados, suas palavras mal colocadas, e por isso se preocupa com a correção de rumo, e de mudança de postura diante da vida. Não é vergonha caminhar de um jeito durante certo tempo e, de repente, mudar. A própria conversão é isso: a correção de uma rota que dava para a morte.

Há, entretanto uma categoria de pessoas que resiste a repensar seus conceitos, a sua visão, e em colocar em xeque as suas verdades. Não estão dispostas a mudar, rever, ou a ouvir. Resistem a qualquer forma de correção. Estes são os incorrigíveis que tentam viver suas histórias alienados de Deus: seguem apenas seus impulsos e paixões. Não vivem bem, mas não aceitam uma exortação para mudança. Às vezes são polidos, não fazem afronta, mas mantêm uma atitude de presunção para com tudo o que se refere ao Eterno. Podem até dizer que crêem em Jesus, na bíblia, mas na prática continuam vivendo como querem. Para estes só há uma verdade: a deles próprios.

Mas, diante de Deus e de sua Palavra somos confrontados com nossos rumos. Quem não precisa de correção? De ser exortado? De aprender a ouvir? Quem não precisa aprender a humildade, a parar de murmurar, a agradecer a Deus em tudo? Quem não necessita ouvir falar do seu orgulho, ou de sua dureza de coração?

Ser corrigível é permitir-se ser tratável. Igreja é e sempre será um lugar de correção, pois Deus está tratando ali a cada um de seus filhos, enquanto grupo e enquanto indivíduos. E a sua Palavra é o instrumento primeiro dessa tarefa: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção” (2Tm 3.16). Talvez essa seja uma das razoes porque tantas pessoas se sentem levadas a repelir a idéia de fazer parte de uma igreja saudável. Percebem que se o fizerem, passarão a ser corrigidas por Deus.

Por outro lado, ser incorrigível é uma clara manifestação de um ego que pretende a onipotência. Ser incorrigível é dar vazão a um narcisismo que pode até mesmo se esconder sob a máscara de uma aparente bondade e retidão. O incorrigível é in-tratável, isto é, não aceita tratamento, exortação ou repreensão.

Ironicamente, é justamente entre os religiosos que às vezes nos deparamos com os corações mais duros, e as pessoas de mais difícil trato. No Antigo Testamento vemos Javé chamando homens do mundo “secular” para serem seus profetas junto ao povo, pois os sacerdotes insistiam em permanecer em seus erros. Escrevendo à igreja em Filipos, Paulo faz um apelo a duas mulheres, causadoras de intrigas, e quiçá turronas: “Rogo a Evódia, e rogo a Síntique, que pensem concordemente no Senhor” (Fp 4.2). O apóstolo passa um “pito” nelas publicamente, pois se mostraram passíveis de correção.

Recentemente um conhecido apóstolo midiático foi pego com a “mão na botija”, mas até hoje, ele só tem acusado as forças do Mal pelo seu revés. Nenhuma palavra em público suplicando a Deus: “Corrige-me Senhor”. Bem diferente agiu Davi quando errou: “Pequei contra Ti, contra ti somente” (Sl 51.4).

Reuniões, concílios ou assembléias fazem parte da vida de muitas igrejas. Não poucas vezes são ocasiões para palavras duras, ofensas, e demonstração de sectarismo. Ali, será muito improvável ouvir de alguém a confissão: “Temos pecado contra o Senhor”.

Ser cristão e ser incorrigível são coisas totalmente contraditórias, pois pressupõe-se que aquele que segue ao Mestre esteja disposto a renovar-se e a ceder a cada dia.

Por que o Senhor se agradou tanto de Davi, se ele foi um homem que cometeu inúmeros erros e pecados que até nos dias atuais produziriam escândalos? A minha resposta é que Davi era acima de tudo um homem tratável, corrigível e manso.

Por que é tão difícil ser tratável? Creio que se deve à dificuldade de abandonar certas posturas já cristalizadas. Acostumamos ao erro, acostumamos gritar e ofender toda vez que nos fazem mal, acostumamos a vingar... essas coisas fazem parte de nosso repertório, e poucos estão dispostos a se corrigir.

Todo incorrigível precisa destronar o seu eu, desfazer-se do seu egocentrismo, e reconhecer que carrega uma visão deturpada de si mesmo, vendo-se como justo e correto em suas intenções, só porque tem a fé “certa”. A fé até pode ser certa, mas a forma de vivenciá-la não.

Nunca é demais lembrar que Deus faz uma solene advertência aos que recusam a correção: “O homem que muitas vezes repreendido, endurece a cerviz, será quebrantado de repente sem que haja cura” (Pv 29.1).

E você, é corrigível?

Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br