segunda-feira, 25 de abril de 2011

HOSANA, HOSANA!....

O filho de Deus estava prestes a entrar em Jerusalém montado em um jumentinho. Seria uma entrada triunfante, uma festa digna de um rei. O povo todo estava lá para recebê-lo. Muitos estendiam as suas vestes pelo caminho e outros espalhavam ramos que haviam cortado dos campos. E não somente isso. Eles corriam para e lá e para cá, louvavam a Deus em alta voz e cantavam em coro:

“Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor... Bendito o reino que vem, o reino de Davi, nosso pai! Hosana nas maiores alturas!”.

Hosana era um grito de exaltação e adoração que estava engasgado há séculos na garganta aguardando a manifestação do Messias.

Ao coroarem o ministério de Jesus aquele povo estava pensando: “Nosso Messias chegou e dominará... agora podemos sair da opressão... agora expulsaremos os soldados que nos vigiam.... libertaremos nossa gente.... prosperaremos como nação.... não haverá mais fome, nem perseguição, seremos livres.... todos nos respeitarão...”.

Num olhar superficial poderíamos imaginar que toda aquela gente, até então de coração endurecido, finalmente havia se rendido aos pés do Salvador, reconhecendo e compreendendo todos os sinais que haviam visto e converteram-se Àquele que veio buscar o perdido.

Pano rápido. Viaje comigo no tempo, dois milênios depois, para uma comparação de imagens, onde veremos as mesmas cenas se repetindo: multidões reunidas, coreografias de adoração, mãos levantadas em exaltação, lenços esvoaçantes, gritos de guerra, promessas no ar, expectativas de quem veio de longe, milagres ansiosamente aguardados....

Pronto, retornemos à poeirenta Jerusalém do primeiro século. Apenas uma semana após aquela calorosa recepção, o clima já não é de alegria, há um ambiente tenso, e corre entre o povo a notícia que um dos seguidores de Jesus entrara em aliança com os soldados para levá-lo preso, e aquele Rei que haveria de governar agora está manietado diante das autoridades. Parece que o levaram a Pilatos, governador da Judéia, que tem intenção de solta-lo, mas a multidão enfurecida grita a uma só voz: Crucifica-o! Crucifica-o!

Diante da dureza dos fatos, aqueles que sonhavam com o reinado eterno do Messias certamente agora diziam para si mesmos: “Nossa esperança foi despedaçada, estávamos enganados a respeito Dele”.

Retornemos novamente ao nosso tempo. Alguns mais desatentos podem imaginar que vivenciamos uma época de avivamento. É estranho isso porque em todos os períodos de avivamento na História a primeira manifestação era o retorno à Palavra. Qualquer observador sensato descobrirá que isso não está ocorrendo. Nos genuínos avivamentos as pregações eram embasadas nos grandes temas do Evangelho, como santidade, comunhão, unidade, perdão, quebrantamento e obediência. Hoje os temas das mensagens giram em torno de: cura, poder, vitória, lucro e prosperidade. Depois repete a sequência. No passado via-se claramente uma transformação da pessoa. Hoje, para não melindrar o ego de ninguém, não precisa se preocupar com isso.

Em poucos dias aquela multidão trocou os “hosanas” pelo abandono de Jesus quando surgiu a cruz. Ninguém deseja a cruz. Cruz é escândalo e loucura, é inversão de valores, é pedra de tropeço. Não queremos cruz, queremos benefícios, queremos ganhos. A cruz nos leva a abandonar a autoconfiança, enquanto queremos a afirmação do nosso ser. Buscamos os aplausos e a glória, não a cruz. Hoje, os neófitos na fé não almejam mais habitar no céu, melhor Alphaville.

Jesus dizia que se alguém quisesse ser um discípulo seu deveria tomar a cruz e segui-lo. Sabemos que diante da cruz haverá muitas esperas, doenças, perdas, e vão sobrar lutas e perplexidade.... Isso espanta as pessoas, é melhor dizer-lhes que “seus problemas acabaram”, e “você não terá mais sofrimento”.

As mesmas pessoas que cantavam “Hosana ao Filho de Davi” bradavam agora “Crucifica-o!”. Em seu ministério terreno o próprio Jesus não se confiava a eles, porque ele mesmo sabia “o que era a natureza humana” (Jo 2.25).

O que isso nos ensina? Primeiro: que não nos deixemos impressionar por demonstrações de triunfalismo e euforia. Se não houver uma conversão verdadeira para com Deus, tudo se desvanecerá quando os dias maus chegarem. E eles vão chegar. A semente que cai no solo rochoso não tem raiz, e “em lhe chegando a angústia ou a perseguição, logo se escandaliza” (Lc 13.21).

Segundo: Multidão não deseja relacionamento ou comunhão, quer ver os seus desejos satisfeitos: “seguia-o numerosa multidão porque tinham visto os sinais que ele fazia” (Jo 6.2). Mas quando a situação começou a endurecer, muitos o abandonaram, ao ponto do Mestre dizer aos próprios discípulos: “vocês também querem ir embora?”.

Não tenho dúvidas que não vivemos nenhum avivamento. Na verdade é um “esfriamento”. Jesus afirmou que este seria um sinal de sua vinda: “o amor se esfriará de quase todos” (Mt 24.12). Observe as multidões que enchem os templos à busca de milagres. Não é o amor que os une, não é a “koinonia” (comunhão), nem prazer pela Palavra, mas um egoísmo de origem luciferiana: “eu vim buscar o meu”.

Os últimos dias não chegarão “sem que primeiro venha a apostasia” (2Ts 2.3), que significa desvio, afastamento ou esfriamento em relação à fé. Daí entendemos quando Jesus pergunta: “Quando voltar o Filho do Homem, achará, porventura, fé na Terra?” (Lc 18.8). Com certeza, fé não, mas apostasia.

A apostasia será a condição necessária para a manifestação do “homem da iniqüidade” que irá “assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus” (2Ts 2.4). Sinceramente, quase já posso vê-lo, falando, pregando e convencendo a todos “com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira” (2Ts 2.9).

Quem viver, verá.

Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br

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