“Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram o que Deus tem preparado para aqueles que o amam”
As pessoas estão trabalhando normalmente, indo à escola e estudando normalmente, passeando com a família pelos shoppings normalmente, indo a festas e baladas normalmente... mas há uma estranha sensação no ar que os mais atentos já devem ter percebido: parece que tudo está bem, tudo está normal, mas não está. Há um mal estar geral, uma sensação de que tudo o que se faz não tem muito sentido, não completa, não satisfaz.
Pegue-se, por exemplo, os sons das músicas e do alarido produzidos nos barzinhos espalhados pelas cidades.... Os nossos moços repetem os mesmos gestos de nossos antepassados que nas noites escuras e frias se reuniam em torno da luz bruxuleante de uma fogueira para exorcizar seus medos e fantasmas. É exatamente isso que é modernamente feito nas madrugadas – e aparentemente eles parecem alcançar sucesso nos seus rituais boêmios, ao menos até o momento de estarem de volta aos seus quartos vazios.
É como se existisse um buraco no coração de cada ser humano, um sentimento de que está faltando “alguma coisa”. É muito mais que aquilo que a psicologia chama de tentativa de “voltar ao útero materno”, é muito mais que um desejo de aconchego, é mais do que algo circunstancial ou momentâneo: é profundamente existencial. Sim, nada satisfaz e nunca satisfará, por uma razão muito simples: está faltando “alguma coisa”, e por isso experimentam-se todas as formas para preencher essa falta que não se sabe exatamente o que é. Lembro-me que nos anos 60 a contracultura, enfadada dos valores da sociedade, imaginava preenche-la na pobreza das ruas da Índia ou no Tibete. Hoje, caminhando em Santiago de Compostela.
Esse buraco, se fosse uma figura geométrica, não poderia ser completado com nenhuma forma conhecida, pois sempre restaria um espaço a ser preenchido. Exatamente por isso, as conquistas alcançadas não preenchem, o dinheiro não preenche, nem a beleza, nem o reconhecimento, nem as diversas formas hedonistas de prazer que a civilização oferece.
Houve um rei mitológico – que pode representar muita gente que conhecemos – embora rico, era infeliz, por achar que não tinha ouro suficiente em seus tesouros. Recebeu então a visita de um gênio que lhe atendeu o desejo de tudo o que ele tocasse se transformasse em ouro. A princípio aquilo lhe encheu de alegria, até o momento que já não podia mais beber ou comer, pois tudo se transformava no precioso metal. Não, não era de mais ouro que ele precisava, assim como hoje não precisamos de mais aparelhos high-tec, nem de novos modelos de celulares.
A primeira boa notícia deste texto é que Deus nunca mudou, e jamais mudará de idéia: Ele continua desejando que o Paraíso que Ele criou seja uma realidade para o homem e para a mulher, mesmo a despeito de seus passos errados, que estragou tudo o que era bom.
Somos mais que descendentes de Adão. Nós somos “Adão e Eva” e também “estamos” expulsos do Éden. Esse jardim era constituído por rios, animais, plantas, amizade com Deus, paz, harmonia, vitória do bem, respeito, sentido nas coisas que se faz... Todos símbolos que evocam imagens de coisas indizíveis. Esta é a resposta do mal estar geral: há em nós uma nostalgia, uma busca de alguma coisa que se perdeu em algum momento.
A pregação do Evangelho é um convite a todo ser para iniciar um caminho de volta. Aquele jardim nunca foi destruído por Deus – embora nenhuma expedição geográfica possa encontrá-lo. Houve uma quebra de relacionamento com o Criador, e não há volta sem que haja reconciliação. É por isso que o Gênesis diz que foram colocados “querubins de guarda”, impedindo uma volta nossa, sem que a condição de ruptura com Deus não seja restaurada.
Cristo é aquele que veio propor a re-conciliação entre o homem e Deus, e re-ligar o que está partido. Nenhuma religião possui o poder de nos “ligar” com Deus, pois esta prerrogativa foi dada ao seu próprio Filho.
Só há um meio de retornar ao paraíso perdido: executando os passos da “dança errática de Adão”, mas ao contrário, e iniciando um longo caminho de volta. Se a queda foi um ato de rebeldia para com o Criador, a restauração vem pela obediência, que é o gesto deliberado da criatura de submissão ao Criador.
Voltar ao Paraíso é reencontrar a sua alma perdida, submetendo-se ao Eterno. É verdade que a plenitude daquilo que Deus sonhou para nós nunca poderá ser alcançada em toda sua largueza enquanto estivermos limitados pelo pecado, mas sem dúvida podemos chegar perto, se estivermos indo na direção correta. Desejo que você esteja.
Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br
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