terça-feira, 25 de outubro de 2011

O cristão e a música secular: breve aprofundamento para estudo


Dentre muitos pontos de vista,
(1) Um ponto de vista pastoral (...)

Petrópolis, 22 de outubro de 2011

Considerações iniciais: fundamentais

Não podemos “usar” a Bíblia “aleatoriamente”, conforme nossos ânimos; simplesmente para comprovarmos “teorias”, ou dar mais legitimidade ao nosso discurso. Enquanto Palavra Inspirada por Deus, a Bíblia precisa falar a nós antes de tudo; se antecipar inclusive aos nossos “achismos”. Devemos cuidar do nosso ímpeto de coisificá-la e instrumentalizá-la, uma vez que não podemos fazê-la refém dos nossos maus hábitos.

Quando nos aproximamos da “Palavra de Deus”, precisamos permitir que o texto inspirado, por si só, nos oriente quanto aos dias de hoje; e nos oriente sobre qual é a boa, perfeita e agradável vontade de Deus (leia Rm 12.2). Que o texto exige interpretação da nossa parte: isso é fato. Buscamos um sentido hermenêutico, no texto e para o texto, de acordo com nossa realidade e conseqüentemente nossas experiências e expectativas quanto ao que está por vir da parte de Deus. Nossa “bagagem” nos aproxima do texto bíblico e o texto bíblico à nós; no entanto, não podemos perder de vista, que embora instados à interpretar, cada texto tem um contexto; uma intenção clara e objetiva.

Nesse sentido, discussões que estão fora de um determinado texto, ou textos que estão fora de determinadas discussões, quando “ligados” (associados) forçosamente por nós a fim de “verdadeirizarmos” nossas experiências pessoais, pura e simplesmente, só geram mais dúvidas. Nunca se poderá concluir objetivamente nada, uma vez que a interpretação vai variar de acordo com a experiência de cada indivíduo – fica, portanto, subjetivada. É aqui que vence quem tem mais argumentos, ou maior poder de persuasão; quem já leu mais livros, quem tem mais experiência e facilidade de falar em público; etc!

Mas e a essencialidade bíblica? Ficou perdia em meio à discussão, embaraçada no labirinto de argumentações pessoais das partes que se digladiam em busca de firmar sua posição pessoal.

Um breve parêntese: é “disso”, um tipo comportamental, que surge os atuais cultos ao personalismo; das celebridades que disputam com Deus um lugar no palco, no trono ... tiramos o texto do seu contexto para impormos nossa pessoalidade como verdade absoluta e universal, nasce o pretexto.
Primeiro. A discussão sobre “o cristão e a música secular” requer muito cuidado, exatamente para não cairmos no referido erro; não podemos “torturar o texto bíblico” e fazê-lo assumir aquilo que ele não diz.

Sobre uma fé que nasce sob as bases do individualismo e subjetivismo

Muitos/as chegam a perder a coerência cristã na vida prática; uma vez que a ênfase no indivíduo e conseqüentemente uma interpretação subjetiva e particularizada das escrituras, deixa-nos vulneráveis à distorções;  verdadeiros desvios, quanto à experiência do Evangelho de Jesus Cristo. Soma-se à isso, uma fé pouco dinâmica e “eu-centrada”, e o ânimo dobre passa a ser uma epidemia moderna  (leiam Tg 4.8). Comportamento, que na composição psíquica do indivíduo, pode vir a ser, no mínimo, favorecedor de “bipolaridade”, ou “esquizofrenia”.

Vejam como é cada vez mais comum, que sob um mesmo assunto ou tema, a pessoa, a cada minuto tenha um posicionamento diferenciado; não porque amadureceu e/ou evoluiu em idéias, mas porque não consegue estabelecer com coerência um diálogo saudável e objetivo acerca de algo. Muitos não se dão ao trabalho: pensar! A celebridade, o referencial de sucesso, dita, e a platéia aplaude separando o dinheiro para simplesmente aderir à tendência.

Para muitos, longe de mim generalizar, da dita idade moderna, essa esquizofrenia cultural, sócio-econômica, política, religiosa e espiritual, já é uma realidade. São desnutridas com relação à Verdade que alimenta e sacia a sede por vida plena (Cf.: Jo 10.10 e Ap 21.6); desprovidas de um mínimo de espasmo que as faça querer ser  profundas e competentes.

Nossa sociedade parece fabricar pessoas superficiais, que não adquirem terreno sólido para edificar nada; e notem que os maiores princípios e valores de sobrevivência, aqueles fundamentais, foram relativizados. Sujeitos com condições limitadas de discernir o que lhes é bom, ruim, desejado, necessidade, essencial, básico, trivial; etc. (Cf.: Pv 1.32 e Jn 4.11/ Vale a pena estudar também o contexto de Lc 12.56).
É por isso que cada “suplemento” bíblico deve ser “ingerido” a seu tempo, e no seu contexto – só assim proverá nutrição ao corpo: físico e espiritual.

Outra questão importante
O cuidado para não reduzirmos o tema a quaisquer dualismos possível

O uso constante de “dualismos na vida cristã, “ou-isso-ou-aquilo”, pode ser prejudicial e inibidor de reflexão. Dualismos praticamente nos privam de experimentar os frutos advindos de uma discussão mais ampla com relação a determinado tema; fica cada vez mais complexo estabelecer diálogo sem os devidos aprofundamentos. Se por um lado facilita na tomada de decisão, uma vez que são duas as opções disponíveis, ao mesmo tempo dificulta a reflexão com relação à uma escolha, já que as possibilidades são limitadas em 2 (dois): sim ou não.

Os textos bíblicos registrados em Mateus 5.37, e Tiago 5.12, muitas vezes utilizados fora dos respectivos contextos, acabam atropelando os processos que são importantes na nossa vida: maturação e desenvolvimento; processos de Deus. E acabamos prosseguindo, incompletos, sofrendo os “bloqueios” de um “sim” ou de um “não” que vieram à nós e/ou através de nós fora de tempo; como que um pacote lacrado.

Certos dualismos aparecem sim na Bíblia, embora em temas, muitas vezes, isolados. Isso é possível! Mais cedo ou mais tarde, teremos que escolher entre “um” e/ou “outro”. No entanto, a própria Bíblia nos permite a ampliação de possibilidades, e nos incentiva a refletir: favorece o nosso poder de escolha na tomada de decisão, e aumenta nossas possibilidades de acerto (alguns exemplos, dentre vários: Pv 19.2; Lc 14.25-32).
Nesse sentido (...)

A pergunta: “é pecado: sim ou não?”, é um dualismo. Pode nos fazer incorrer, por exemplo, no erro de Pedro e dos Apóstolos (leiam Atos 10.9 - 11.18). Muitas vezes acreditamos estar na direção de Deus, mas aí Ele se manifesta e nos constrange à refletir sobre nossas atitudes  e à mudar pelo menos nosso trajeto – essa é a questão: assim percebemos quando abençoamos o que Ele amaldiçoa e o risco de amaldiçoarmos o que Ele abençoa (leiam Is 55.8-9).

Deus nos dotou com a capacidade de estabelecer diálogo e com notável potencial para reflexão; no entanto a pergunta [é pecado: sim ou não?] não nos deixa outra escolha, se não, responder “sim” ou “não”. Em questão de segundos tudo estará pronto nos limites da afirmação aprovativa, sim; ou reprovativa, não. No entanto, nem tudo se resume à isso; e enquanto isso, muitas perguntas vão ficando sem as devidas respostas; concorda?

Complexo, não é verdade? Lembrem-se dos/as que perdem anos de suas vidas acreditando fazer o bem e/ou o certo; derrepente são confrontados e convidados à uma mudança radical, a se converter ao Verdadeiro Caminho (Jo 14.6 e Gl 1.9). Pessoas que percebem, que mesmo felizes e galgando sucesso, não estavam na rota de Deus; no trajeto que nos conduz ao centro da vontade do nosso Pai Celeste.
Lembram-se de Saulo quando perseguia os cristãos acreditando fazer a vontade de Deus? Conforme narrativa de Atos 9 (nove), após uma experiência profunda e verdadeira com Deus no caminho [o Saulo perseguidor precisou ir ao chão para que um novo homem, missionário, fosse levantado], ele é chamado à assumir outra postura; caso quisesse de fato fazer a vontade de Deus. 

Mas então, como discutir temas essenciais como esses sem incorrermos nos dois erros comuns aos cristãos? Ambos gravíssimos, primeiro: o de nos “abrir, enquanto Igreja, ao secularismo e aderirmos ao mundanismo desenfreado perdendo o poder de fazer a diferença (leiam Ez 22.26 e Ml 3.18; Mt 5.13)”; segundo, o contrário, nos “fecharmos nos nossos guetos e tribos, sem um mínimo de coerência cristã nos relacionamentos interpessoais em termos de postura frente a elementos profundos e da vida secular”.

Fico mexido com a afirmativa de Paulo, e na minha concepção ela tem valor inestimável frente à questões impostas aos cristãos na dita “idade pós-moderna”; observem :

Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas nem todas edificam. Ninguém busque o seu próprio interesse, e sim o de outrem (1Co 10.23-24).

Vejam que fantástica a estratégia de Paulo, um grande plantador e consolidador de Igrejas. Nesse sentido bíblico, a pergunta coerente, seria: ouvir música secular convêm e/ou edifica? É aqui que a discussão se expande de maneira saudável, longe da mordaça do “sim” e/ou do “não”.

O cristão e a música secular: é uma questão de conveniência e de edificação, e não de pecado

Trabalhar no âmbito do que convém e do que edifica é trabalhar diretamente a comunhão entre partes diferentes; é onde o plural se manifesta. Ao passo que discutir sobre o que é pecado ou não o é, nos transporta naturalmente à realidade onde as discussões ficam restritas à foros íntimos – de manifestação singular, e portanto em muitos casos unilateral. Entra agora a responsabilidade humana diante das outras pessoas; isso é o Evangelho de Boas Novas deixado por Jesus (Leiam 1Co 10.23-33).

O discurso paulino muda o eixo da discussão; faz-nos repensar nossa caminhada enquanto pessoas chamadas à fazer a diferença; convida-nos a mudar o nosso foco, a fazer de Cristo nossa aspiração (Fp 3.12-14).

Percebam que ele ataca algumas bases do secularismo atual que intentam contra a Igreja de Cristo: o egocentrismo (subjetivismo); o que desmascara o culto à personalidade; e a redução de temas importantes à dualismos frágeis. A resposta não é mais “sim” ou “não”, antes: convém? edifica? E o critério para minha tomada de decisão não sou “eu mesmo”; não é o que eu penso e/ou desejo, e muito menos o que eu 
classifico como “bom”; o critério agora é “o outro” (o diferente de mim).

O outro é o parâmetro para minha resposta e postura frente à vida.

Leiamos os seguintes textos bíblicos: 1Co 10.15; Tt 2.6; 1Pe 4.7; Gl 5.25 e Filipenses 1.22; Tg 4.4; 1Co 6.19; Gl 2.20 e Fil 1.21; Rm 11.36; Mt 12.33; Tg 3.12; (monte um grupo de estudo e discussão onde todos/as leiam esses textos propostos; cada um/a ode sinalizar o que entendeu que o texto ajuda na reflexão sobre o tema: o cristão e a música secular). 

Aprofundamentos: Sobre a relação entre cristão e música secular

Não estamos discutindo o perigo de sofrer “influências mundanistas”; seria mais uma vez minimizador de reflexão. Concordo que coisas desprovidas da graça de Deus podem ser encontradas também dentro da Igreja (não vou aprofundar essa discussão aqui pois fugiríamos do tema e o espaço não é suficiente); e que coisas de valor podem ser achadas também fora dela! Mas a questão não é essa; a discussão é: com quais valores quero me comprometer? E sob quais alicerces, enquanto empreendedor do Reino, me lanço à edificação de casas e lares? (leiam Mt 7.24-27).

Alicerces originais e profundos, ou os plágios e aqueles superficiais? Onde busco meus referenciais para experimentar a vida abundante? De qual fonte me aproximo para saciar minha sede? Valores sedimentados no Reino de Deus; ou valores infinitamente variados, muitos subversivos nascidos em berço de revoltas, os relativizados que na essência nada têm à ver com determinada lógica e sequência de Deus para minha vida?
O alicerce de uma casa determina a altura à que posso levar a estrutura! Se quero Deus, preciso buscar as coisas que trazem em si valores eternos, não é isso o que a Bíblia nos sinaliza como parâmetro? (Cf.: Mt 6.21 e 2Co 4.18).

Olhar diretamente para a fonte ou buscar em meio à enxurrada de porcarias algo que me pareça ter valor?

Certamente preciso ir à fonte! (leiam Tg 3.12).

Nossa fonte é Jesus, sempre. A base da nossa inspiração ... Não nos esqueçamos que o nosso Deus é Senhor de coisas originais.

Muitos dizem ter critérios bem claros para selecionar a música secular que vão ouvir! Aquelas que falam de amor; de carinho; de belos valores. Outros dizem que ouvem porque o grupo de convivência e identificação o faz; mesmo sendo um escândalo para sua família ou irmãos/ãs do contexto religioso, continua a praticar para não se sentir “um peixe fora do aquário”. Não podemos perder de vista, que tudo isso pode ser um plágio barato do original do Deus criador. Um discurso frágil e enganoso, bem elaborado, acrescido de elementos atraentes, mas que muitas vezes não passam de iscas no anzol!

Responda você mesmo/a: Quantas vezes entramos em desavença com nossos pais, pastores, amigos/as, namorados/as, por temermos fazer a diferença no nosso espaço de convivência? E escandalizamos aqueles/as que buscam em nós um referencial para suas vidas vazias. A verdade é que precisamos nos comprometer com os valores do Evangelho de Jesus Cristo; à ponto de Cristo aparecer em cada um de nossos atos (Cf.: Gl 2.20; leiam 2Co 3.2).

[Meditem em 2Co 10]

Concordo, que os parâmetros humanos são insuficientes para classificarmos o que é bom ou ruim! Mas Deus em Jesus, o Cristo, nos orientou muito bem sobre quais devem ser nossos parâmetros e crivos; alguns deles, dentre muitos, Paulo deixa relatado em Fp 4.8 e Gl 5.16-26 (leiam).

Não podemos perder de vista que o ser humano é essencialmente dotado de atributos espirituais, e que traz em sua composição o DNA de Deus [somos criação d’Ele]; é portanto um ser religioso. Nesse caso, a busca espiritual, o louvor e a adoração, a oração, a contemplação, a caridade, dentre outros; são elementos inerentes à nossa natureza, e isso independente da nossa escolha denominacional. Ao abandonarmos ou ignorarmos essa realidade, e quando começamos à negociar esses valores, entramos numa crise existencial profunda; especialmente porque passamos a não discernir, na luta entre carne e espírito, o que é inerente a um e outro (Cf.: Gl 5.16-26): é onde “as naturezas” se misturam e se confundem, e de fato, nutrir fé, esperança e amor [pilares da nossa existência] perde todo sentido (1Co 13.13). A vida perde o sentido.  
Entramos em crise e depressão [o mal do século], principalmente quando deixamos de ser referencial de vida para nós mesmos e para o próximo; mas quando perdemos do cerne da existência humana, a vontade de nutrir os pilares da existência, a vida não só fica restringida à um corpo mortal [temporal e limitado], mas se encurta num amedrontador labirinto do eu mesmo.

Uma questão de lógica: simples, mas longe de ser simplista (...)

Se eu deixo de ouvir tais músicas como atitude, alguns podem não entender; mas tendem, ou pelo menos devem, respeitar minha decisão; aliás é uma opção clara de abster-me em favor de outros/as![não quero ser fator de escândalo e muito menos pedra de tropeço para ninguém (Mt 18.7 e 2Co 6.3)]. No entanto, se eu ouço, posso sim escandalizar àqueles/as que fazem a opção de não ouvir; independente de seus motivos.
Há certas coisas, que é mais saudável e coerente de minha parte que eu me abstenha! Não só julgando se quero ou não quero, mas sim se será bom para os/as que estão ao meu redor. Outra grande característica da essência humana, em termos de potencial à que fomos dotados quando na criação, é a necessidade de busca de coletividade para interação e conseqüente desenvolvimento. No entanto, esses laços e relacionamentos, precisam ser preservados de maneira tal que “o corpo” cresça e se desenvolva de maneira saudável.

Algumas situações fazem dessa relação interpessoal um desafio; uma convivência pouco saudável: o álcool, o tabaco; a fofoca, a mentira; o palavrão, o “consumismo”, a apropriação desordenada; dentre outros (...). É possível que sejam coisas que nunca vão matar; mas e quanto aos outros, uma vez que temos a rodearnos tão grande nuvem de testemunhas? (Leiam Hb 12.1). Pessoas às quais precisamos testemunhar o amor de Cristo (Cf.: At 1.8)? Qual tem sido nossa atitude para com o próximo? De compromisso? De zelo ou desmazelo?

A música secular é um desses elementos que pode intensificar muito mais os níveis de limitação num relacionamento, descartando toda, ou parcelas, da potencialidade de interação.

A conclusão foi-se deixando evidenciar na própria dinâmica de desenvolvimento do texto; no entanto, os próximos pequenos parágrafos, podem ser visto como a síntese do exposto até então

Essa discussão é profundamente complexa, e o tema um desafio, mas não podemos deixar de trabalhá-lo. Não deve ser discutido restritamente sob parâmetros morais e/ou éticos, e muito menos em termos de “pecado”. A questão sobre “o cristão e a música secular” precisa ser discutida sob o crivo do Evangelho; no sentido do que eu faço com a minha vida, e como eu interajo, uma vez que as pessoas estão olhando para mim em busca de um referencial de ânimo [do latim animu = alma, espírito, mente].
Nesse sentido, as perguntas: Convém?  Edifica? São fundamentais, pois preciso cuidar para que minha vocação e interação não venha a ser motivo de escândalo e pedra de tropeço à ninguém (Mt 16.23 e 1Pe 2.8).

Precisamos permanecer ligados à videira, frutificando (leiam Jo 15).

Pr. Antônio Luiz de Freitas Junior
Pastor responsável pela Congregação da Igreja Metodista no Alto Independência
Igreja Metodista Central em Petrópolis/RJ    

domingo, 25 de setembro de 2011

O Rock In Rio 2011 como uma expressão coletiva do mais variado nível de miséria do povo brasileiro

Não aos crentes, mas aos cristãos e às pessoas de bem do nosso Brasil – [1]
Uma vez que os próprios demônios crêem e tremem (Tg. 2.19b)

Por Pastor Antônio Luiz de Freitas Junior

"E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus" (Rm 12.2)

Como se não bastasse a tanta violência às quais somos submetidos/as no cotidiano, muitas delas televisionadas pro mundo; outras com as quais, infelizmente, surpreendidos, nos encontramos; agora mais essa: o Rio de Janeiro palco desse evento grotesco e maligno; completamente desprovido da Graça de Deus. Porque não dizer, um desrespeito, e uma afronta aos cidadãos de bem do Brasil!


Não me incomoda um monte de levianos, embriagados e atolados em seus muitos vazios, buscar refúgio nesses guetos, e cavernas; era de se esperar que a esses/as fosse destinado o lixo da humanidade, como uma pequena filial que levanta a bandeira da marca de grandes restaurantes requintados que servem hoje alguns de nossos políticos corruptos. No entanto, o que me preocupa é a busca crescente e desenfreada por esses tipos de excrementos, por pessoas que deveriam na verdade lutar contra esse atraso intelectual, cronicamente digressivo.

Deixamos-nos distrair por muito pouco! Sem querer generalizar ...

Enquanto há alunos/as e professores/as, mestres/as e discípulos/as, se privando um/a do/a outro/a, abrindo mão do processo de educar e de serem educados; pais e filhos se matam, pessoas se retaliam; a saúde é precária – o acesso à cultura limitado. A miséria, em suas mais variadas formas, está instalada em todas as instâncias sociais e políticas, e no coração de cada brasileiro/a lamentavelmente como algo comum e rotineiro: Em níveis variados, mas está! Muitos/as estavam lá, no show, diante do palco para esquecer – igual a muitos que “bebem”: para esquecer!

São homens e mulheres domesticados/as que preferem se calar; adolescentes, jovens e adultos que fazem a opção de não encarar os fatos; que se acovardam diante do levante do gigante, na Bíblia chamado de “Golias” (ver 1Sm 17.23), que nesse texto eu chamo de: realidade brasileira – o mesmo que “escravos em cativeiro egípcio” (ver Ex 2.23, 3.10). Enquanto isso, os/as universitários/as que poderiam liderar os progressos, preferem financiar e se abestalhar nas festinhas da faculdade, “apaziguam” seus neurônios em crise com um copo de cerveja e/ou baseado; os fones de ouvidos no volume máximo os faz cantarolar ... “eu sou brasileiro, não desisto nunca”; com os olhos vidrados na nudez de um/a colega de sala – e a vida vai se esvaindo paulatinamente literalmente pelos dedos. Somado a um IDEB (índice do desenvolvimento da educação básica) criado e mascarado pelo próprio governo, ou por entidades e/ou pessoas ligadas ao sistema; tudo parece contribuir para que eu compre os meus ingressos. Tudo é NORMAL, não tem nada a ver mesmo! O cenário está montado para que o show seja “um sucesso”.

Deixamo-nos distrair por muito pouco! Sem querer generalizar ...

Diante do futebol, do samba, do Big Brother, da cerveja, uma mulher ou um homem nu, do Rock in Rio, dentre outros; muitos/as de nós se prostram em sinal de respeito e/ou devoção - reverência. Literalmente paramos nossas vidas quando compramos “os ingressos para esse estilo de vida”, estacionamos e deixamos de progredir, embasbacados/as com a grandeza de uma estrutura favorecedora de morte. É por isso que “assistimos”, com os olhos bem abertos, as constantes falências múltiplas no corpo humano, em nível pessoal e consequenetemente coletivo, ou vice-versa: do pudor, do respeito, da moral e da ética, dos bons costumes, da comunhão. Coisas pequenas diante do sepultamento das famílias, do ensino de qualidade nas Escolas, o declínio constante da Igreja, e a ascensão das mídias áudio-visuais como uma tremenda ferramenta de manutenção desse sistema iníquo; que faz tudo parecer “inerente ao ser sujeito homem ou mulher”, tudo parece ser normal.

O câncer não está só nos detentores do poder do Império que ainda não foi derribado – e nem é uma metástase que começou com esses. Está também no povo simples, e através dele também se propaga; que não faz nada a respeito, não se incomoda mais com os sinais de morte que fadiga e retalia nosso corpo comum, que se alimenta de nós. Prostituimos nossa fé, devemos admitir que ela está abalada e que à colocamos à venda. Adulteramos a ordem original dada por Deus; nos aliançamos com a imoralidade nos muitos motéis da vida, nos “postos de parada, para dar uma relaxada”, abertos com as quinas da modernidade. Na cama e na hidromassagem extasiados, alimentando nossa luxúria e ânsia de consumo, impulsivos, compulsivos, ingênuos/as, contamos nossos segredos à Dalila que nos entregou ao nosso maior inimigo (ver Jz 16.19): o Caos.

Não me desvio do fato já qualificado para todos/as, que muitos que se dizem cristãos, não só buscam esses espaços de presença decaída como fuga de suas frustrações pessoais, e aos shows, e as drogas, como um meio de resignificar suas vidas; mas também a imoralidade como compensação da crise moderna introjetada e assimilada: de angústia, depressão, corrupção, violência, valores empobrecidos, simplismo, anarquismo, individualismo; e o capitalismo com sua lógica de lucro e acúmulo; dentre outros. Os fatores que movem cada pessoa são variados, os motivos nem se fala; mas o palco é sempre o mesmo, e o nome do espetáculo também: assistindo a morte dançar!

Embora nossa história não possa ser descrita e/ou pintada linearmente, pois acontece em processos paralelos, tudo isso que nós vivemos hoje está ligado a um único fio condutor: O afastamento opcional do ser humano de Deus; muitos/as perderam o referencial e decaíram na ordem natural do próprio Criador: “fomos criados à imagem e semelhança de Deus” (Cf.: Gn 1.27; e ver seguintes textos - Rm 1; Gl 5.4; ). Já não é mais “o encantador” que, com uma flauta, domina a serpente do balaio de palha numa feira livre - para chamar a atenção de um grupo de curiosos/as distraídos/as. Entramos no balaio e estamos em transe bem no meio da feira, encantados/as; o animal vem dominando. Somos fregueses da cobra que nos põe para dançar, sermos empurrados pela vida - O bicho sobrepuja o racional, o instinto assassina qualquer capacidade de estabelecermos com um mínimo de coerência o que devemos aceitar e/ou o que devemos rejeitar.

Deixamo-nos distrair pelo Rock In Rio? Sem querer generalizar ...

No primeiro dia [imagine os seguintes com os ânimos alterados], com aproximadamente 100.000 (cem mil) pessoas, enquanto a platéia pedia delirantemente sua anestesia contra a realidade, no palco do Rock In Rio duas mulheres se beijam na boca, para o mundo; outra, com todos os requintes de “mais uma atração internacional”, diga-se lixo importado, se esfrega no “homem-fã” que já está sem camisa; no palco ou na platéia, todos/as se drogando! Quando não com drogas lícitas e/ou ilícitas, com a substância cerebral liberada quando estamos diante do proibido; com adrenalina liberada pelo cérebro despertado pelo poder fascinante do “estou no espetáculo”. Só que esse é a exaltação do banal e do ridículo, acabamos dependentes disso. Depois da ressaca, a chegada do boleto do cartão de crédito, ou quando nos damos conta o quanto gastamos do nosso salário, das perdas na saúde e/ou na família, danos pessoais e/ou coletivos, não é difícil perceber como foi tolo optar por participar de tais ambientes.

Estamos viciados/as, frustrados/as sim, mas querendo saber quando e onde vai acontecer o próximo – descontrolados/as, queremos sempre mais. Não é esse o mesmo comportamento inerente a um bando de cães, alguns bem cuidados outros maltrapilhos, quando sentem de longe que uma cadela entrou no cio? (ver Provérbios 26.11). Ao meu ver, alcançamos nossos limites, para cima e para baixo, só nos resta agora “voltar” dessa overdose, acordar desse sono, e nos orientar para A Luz; porque na Luz não há tropeços (Jo 11.9).

Nós cristãos principalmente, precisamos resgatar o amor por contagiar pessoas pelo bom testemunho, enquanto despenseiros da multiforme graça de Deus (Cf.: 1 Pe 4.10). Especialmente, nesse contexto, entender que há coisas que não convém aos/às filhos/as de Deus (leiam Mt 18.7; 1Co 10.23). Precisamos dar vazão ao Espírito Santo, para que flua em nós e através de nós o genuíno amor de Deus; aí poderemos impactar a vida de pessoas que estão ao nosso redor com as marcas de Cristo (Cf.: Gl 6.17). Precisamos cuidar para que as marcas em nós sejam verdadeiramente conforme as do ministério de Paulo; um missionário plantador de Igrejas que deixou como exemplo as marcas de sujeição à Deus, e do serviço na edificação do Reino (Cf.: Rm 6.12; 1Co 6.20).

Precisamos fazer a diferença (Cf.: Mt 11.12 ): um protesto claro contra o Rock In Rio!

Muitos/as podem rotular o presente texto como “um compêndio de moralismo”, frágil e/ou apologético; ou até mesmo proselitista. Outros/as achá-lo descabido por se tratar de “efeitos” e não de “causas reais” que nos movem à uma diferença efetiva; “uma leitura pessoal pessimista, que surge de uma percepção isolada”; dentre outros.

Sem nenhuma intenção de vitimização, existe hoje, como já foi sinalizado por alguns/mas colegas, uma tendência de sermos contaminados por algumas fobias: “pastor-fobia”, “eclesio-fobia” (ou igreja-fobia), bíblia-fobia [me perdoe tantos neologismos]. O que leva muitos/as a desconsiderarem a razão e a coerência no discurso do Evangelho de Boas Novas apregoado por Jesus Cristo; a esperança possível n’Ele como Único e Eterno salvador de toda vida. O Caminho possível a ser tomado para que possamos anular de fato os sinais de morte, que hoje, e cada vez mais intensamente, afligem a Criação de Deus (ver Gn 1.2; Jo 14.6).

Gostaria de fazer um apelo aos cristãos, e às pessoas de bem. Que lutemos por resgatar a dignidade da vida humana do povo brasileiro. Precisamos deixar de ser contados como mero “ibope” nessas “programações mundanistas” (festas que não só não alimentam a carne, como degenera essa mesma); platéia inerte de uma vida que vai embora ao ritmo dos bumbos da mediocridade. Pode não resolver o todo da discussão em voga, mas é um começo, outras atitudes coerentes serão necessárias; no entanto, subindo um degrau de cada vez, creio que por meio de Jesus Cristo, através d’Ele, poderemos alcançar o topo na escalada.

Precisamos lutar pelo direito comum à vida plena; pela boa, perfeita e agradável vontade de Deus seja manifesta ao mundo. Só é possível quando não há conformação com a realidade, mediante a renovação da nossa mente (Cf.: Rm 12.2). Vamos fazer a diferença quando nos pronunciarmos e reagirmos efetivamente contra o sistema opressor; engajar-nos de fato numa luta favorável à vida abundante (Jo 10.10b), de equidade, para que a manifestação real do amor de Deus, bem como a salvação em Jesus Cristo, seja uma realidade a todos/as.


Pr. Antônio Luiz de Freitas Junior
Pastor da Congregação da Igreja Metodista
Alto Independência - Petrópolis/RJ

terça-feira, 30 de agosto de 2011

ESTAMOS CARENTES DE COISAS ESSENCIALMENTE BOAS

“Estamos carentes de coisas, essencialmente, boas!” – Ressoa do púlpito minha primeira frase do sermão de domingo à noite; diante dos olhares atentos, e agora espantados, da congregação, que imaginava estar servida de tantas coisas boas pela sociedade moderna que o fato de ouvir o contrário é tido como loucura aos seus ouvidos. Afinal, basta ligar a TV para ser inundado de propostas mais que boas, excelentes e imperdíveis, que insistem para nos dar a sensação de que tudo que adquirirmos é bom, enquanto tudo que temos pode, e deve ser substituído.


Noutro dia, eu me metia a dar conselhos nutricionais a um amigo que gostava muito de beber refrigerantes, porém lutava contra a obesidade e, por decorrência desta, de pressão alta. Disse a ele, na minha ignorância inocente, que uma boa solução seria, então, beber refrigerantes diet, pois os mesmos não possuem açúcar.

Ainda não lhes falei, mas minha esposa é nutricionista e pesquisadora da área da saúde humana. Então, cheguei até ela e contei a contribuição que eu havia dado para a vida de meu amigo. Fiquei surpreso com a resposta de minha esposa que disse que o refrigerante diet realmente não possui açúcar, entretanto possui quase o dobro de sódio e isto seria terrível para a pressão arterial de meu amigo.

Com este caso aprendi duas grandes lições. A primeira foi a de não me meter a falar sobre aquilo que não estou preparado. A segunda foi que estamos carentes de coisas essencialmente boas!

Nem mesmo os nossos vegetais são mais confiáveis. A terra não está falhando, porém o homem, em sua necessidade de produzir tanto a mais, multiplica os agrotóxicos ao ponto de ao comermos um tomate não sabermos se suas boas vitaminas ainda resistem frente aos venenos que são depositados sobre os mesmos.

A tecnologia é boa, mas por causa dela muitas pessoas perderam seus empregos e ficaram impossibilitadas de sustentarem suas famílias. As indústrias são tão boas que nos permitem vivermos diversos benefícios e confortos, em troca disso poluem nosso ar, contaminam nosso solo e não sabemos se os avanços que nos proporcionaram equivalem aos prejuízos causados para nossa própria saúde.

Hoje vemos um fenômeno tão triste, que tem se tornado cada vez mais comum, de homens e mulheres que trabalham sua vida inteira, ganham muito ou pouco dinheiro, e ao se aposentarem gastam tudo que ganharam com tratamentos médicos, com remédios, para curar as doenças adquiridas durante toda a vida em seus próprios locais de trabalho.

Estamos carentes de coisas que nos sarem completamente e não de remédios que curem uma doença e adoeçam outra parte do corpo. Precisamos de valores que façam um bem perene à nossa alma e não destes que nos satisfazem momentaneamente e nos envergonham eternamente.

Necessitamos de atitudes que façam a vida evoluir por inteiro. Chega de tecnologia que avança as comunicações, o transporte, a medicina, mas retrocede, ao mesmo tempo, a moral, a ética, a saúde e a dignidade humana. Chega também de ações que são boas apenas para alguns seres humanos e crescem em função da miséria de outros seres humanos.

Como alguém que segue o caminho de formação de um teólogo, quero apresentar um valor e propor um modo de vida essencialmente bom. E para isto recorro à minha regra de fé, a qual considero como manual de instrução de todo ser humano: a Bíblia.

A Bíblia, o manual da vida, assim como o manual de instrução de tantos eletrodomésticos, muitas vezes é deixado de lado e recorre-se a ele apenas quando há algum problema de funcionamento. Pois bem, a mim parece-me ser este o momento. Algo está errado, recorramos ao nosso manual, deixando claro que se já estivéssemos sob suas recomendações, muitos problemas já poderiam ter sido evitados.

O Salmo 133 nos fala de um princípio bom em nível profundo, em sua essência. Viver em união com os irmãos é essencialmente bom. E esta é uma proposta de vida que vai de encontro à nossa atual formação ideológica. Cada vez mais individual e sectário, o homem e a mulher moderna precisam se esforçar para ter uma vida de união com outra pessoa.

Já percebeu como os seres humanos tem estado cada vez mais isolados uns dos outros? A comunicação criada para aproximar as pessoas tem possibilitado a ilusão de que estamos sempre pertos uns dos outros, embora a distância real seja, na verdade, enorme. Sempre dizemos que a qualquer momento podemos pegar um avião ou um ônibus e irmos nos encontrar com nossos amigos e familiares. Porém, nosso ativismo e nossa agenda, sempre apertada nunca nos permite tirar um tempo para sentirmos o toque daqueles (que um dia foram) realmente próximos.

Vivemos em busca de ser bem-sucedido. Mas que sucesso é este que quando alcançado muitos se vêem completamente sozinhos. O problema está no fato de pensarmos que ser bem-sucedido está ligado apenas à área financeira. E ao buscarmos esse sucesso capitalista precisamos abrir mão de muitos valores, sem os quais não somos plenamente felizes.

Ouvi uma frase que dizia que “filho bem-sucedido é uma faca de dois gumes”, ao mesmo tempo que se está feliz por seu sucesso você se vê sem ele, pois neste mundo globalizado, onde o longe finge que é perto, muitas vezes eles vão para bem longe para alcançar o sucesso e os pais se separam dos filhos para serem bem-sucedidos.

Mas este preço precisa ser pago? Isto é realmente bom? O preço do sucesso é este? Preciso abrir mão da companhia de meus amigos e familiares para ser bem-sucedido? Sou a favor do equilíbrio, quero crescer em minha profissão, mas equilibrado, sem abrir mão dos valores éticos e morais que valorizam a vida e a comunhão com meus irmãos.

Outra proposta essencialmente boa está na carta de S. Paulo aos Romanos 12.2. Neste texto o apóstolo nos fala da vontade de Deus que é boa, perfeita e agradável. E que para podermos experimentá-la precisamos nos transformar pela renovação da nossa mente e sem ganhar a forma do mundo. Forma esta que é capitalista, individualista e todo relativo. O único absoluto da sociedade moderna é que tudo é relativo. Mas não posso tomar esta forma do mundo. Preciso, por vezes, nadar contra a correnteza deste rio que cresce cada vez mais e luta por afogar todos que não estão indo contra a sua forma.

Eu quero aquilo que é realmente bom. Eu quero a vontade de Deus para minha vida, vivendo em comunhão com meus irmãos! Que aquele que morreu na cruz, mas ressuscitou ao terceiro dia, Jesus, nos dê força e entendimento da sua vontade que é perfeita, agradável e boa para minha e para tua vida!

Hugo Gonçalves de Freitas
Sem. da Igreja Metodista -
Faculdade de Teologia da Igreja Metodista de São Paulo (UMESP)

terça-feira, 28 de junho de 2011

Semente da Vida

Texto para reflexão - Mateus 13.1-8
Sobre a Parábola do Semeador

Naquele mesmo dia, saindo Jesus de casa, assentou-se à beira-mar; e grandes multidões se reuniram perto dele, de modo que entrou num barco e se assentou; e toda a multidão estava em pé na praia. E de muitas coisas lhes falou por parábolas e dizia: Eis que o semeador saiu a semear. E, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho, e, vindo as aves, a comeram. Outra parte caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo nasceu, visto não ser profunda a terra. Saindo, porém, o sol, a queimou; e, porque não tinha raiz, secou-se. Outra caiu entre os espinhos, e os espinhos cresceram e a sufocaram. Outra, enfim, caiu em boa terra e deu fruto: a cem, a sessenta e a trinta por um. Quem tem ouvidos [para ouvir], ouça.

Neste texto tão rico de detalhes, já perdi a conta dos ensinamentos que acrescentei à minha caminhada cristã ao meditar nestas sábias palavras de Jesus. Mostrando mais uma vez a vitalidade da Palavra de Deus, vemos a proposta de geração de Vida que o texto nos faz.


Imaginemos que Jesus é o Senhor da seara e que nós, seus discípulos, somos seus colaboradores, na expansão do reino de Deus. A semente é o evangelho – do grego euangelion quer dizer nova notícia – que semeamos nos corações daqueles que não conhecem a boa notícia da salvação, de graça, em Jesus Cristo.

O texto de Mateus 13.1-8 mostra-nos que a semente bem sucedida foi aquela que germinou e gerou frutos, os quais representam a continuidade e a vida daquela pequena semente. Assim, evangelho bem sucedido é aquele que gera vida e se prolonga na vida de outras pessoas.

Percebe-se que a semente foi a mesma lançada em cada tipo de solo, que Jesus diz ser o coração das pessoas, todavia cada semente obteve uma recepção diferente em cada solo específico.

Vivemos dias em que se prega que o evangelho bem sucedido é aquele que enche as igrejas. Porém as ações de muitas pessoas que lotam os templos são como daqueles que recebendo a semente permitiram que as aves do céu a comessem e a semente não gerou vida neles. Jesus diz no verso 19, que o maligno vem e arranca a semente, arranca a possibilidade de nova Vida deste que a recebeu.

Caminhamos ainda sobre um terreno onde há muita alegria dentro do mundo gospel. O evangelho traz alegria, sem dúvida. Mas o evangelho de Jesus não dá alegria com o fim em si mesma, a alegria de Cristo é resultante da Vida nova que o evangelho nos proporciona. Assim é a pessoa descrita nos versículos 20 e 21 que cultiva mal a semente e assim ela não consegue criar uma raiz forte que lhe seja capaz de dar Vida que vai além da alegria.

Há ainda homens e mulheres que recebem o evangelho, mas estão de tal maneira envolvidos com seu objetivo de cultivarem muitos frutos deste mundo, que se esquecem de cultivar a semente que gera Vida e que, quando germinada como prioridade em nossos corações, acrescenta todos as outras virtudes. Como Jesus nos ensina em Mateus 6.33: “Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”.

Mas há também em nosso meio aqueles que recebem a semente da Vida do evangelho e, com muito cuidado, enriquecem o solo, espantam as aves que querem comê-la, regam para que suas raízes sejam profundas e então vêem a vida, os frutos, brotarem em uma proporção sempre muito maior àquela pequena semente original.

Evangelho é Vida que gera Vida nova, Vida plena e abundante no coração daqueles que estão dispostos a trabalhar pela manutenção da semente no solo de sua existência. Vida que vai além da alegria e das emoções e abrange toda nossa força, todo nosso entendimento e todo nosso coração.

Jesus Cristo, o Senhor da seara, está sempre perto, pronto a nos ajudar neste desafio e a nos oferecer novas sementes de Vida para semearmos nos corações do mundo. Que estejamos dispostos a trabalhar nesta boa obra, cultivando o solo de nosso próprio ser para honra e glória do Senhor da seara e salvação de nossa alma.

Hugo Gonçalves de Freitas
Aluno do 1° Ano da Faculdade de Teologia -
 Igreja Metodista

sábado, 21 de maio de 2011

Não andeis ansiosos (...)

Texto base: Mateus 6.25-34
Existem maneiras distintas de definir “a ansiedade” e/ou seus níveis de influência em determinada pessoa. Atualmente, a questão vem sendo muito estudada e debatida por estudiosos, por ser um dos maiores males da nossa época. Concorda-se que a ansiedade envolve e afeta o ser humano como um todo: cérebro, comprometendo os estímulos; influencia nossas emoções, sentimentos e sensações; nosso corpo físico (somatização). A ansiedade implica também diretamente na vida espiritual da pessoa; todos/as temos um corpo espiritual (Cf.: 1Co 15.44). Precisamos cuidar dele (Cf.: 2Co 4.16 e 1Pe 3.4).

Fico maravilhado ao ver que Jesus, em seu ministério, precisou tratar a ansiedade de seus discípulos e seguidores – a Bíblia registra o momento em que Ele o faz. Em suas palavras Jesus nos adverte que a vida de uma pessoa ansiosa pode ser afetada (Cf.: Lc 9.57-62 e Lc 10.4); ao ponto de bloquear e impedir de fluir em nós a vida plena e abundante que Ele pode e quer nos dar (Jo 10.10b).

A pessoa ansiosa, além de “amarga”, é impulsiva e descontrolada; pois cultiva medo e insegurança no coração por expectativas intensas sobre o futuro. Acaba escrava do sentimento de vazio por não poder antever o amanhã; é amante do poder de controlar tudo e todos à sua volta pensando poder se “precaver” com relação ao dia seguinte. Uma pessoa ansiosa toma decisões quase sempre precipitadas e prejudiciais; é serva e escrava do dinheiro. Notem que esse é o tema da discussão de Jesus antes de Ele tratar o problema da ansiedade em si (Mt 6.24). Esses são os degraus de uma escada que só desce; que te conduz para o porão da vida: necessidade de ter poder – para exercer controle – que induz o apego ao dinheiro – e gera maior ansiedade.

O Apóstolo Paulo (Cf.: Fp 3.12-16) nos adverte sobre a necessidade de andarmos segundo aquilo que já alcançamos (v.16); guardando o sentimento, a paixão, de prosseguir sim, mas em direção à Cristo que já está bem diante de nós (v.13). Qualquer desvio com relação a esse caminho de Boas Novas (Cf.: Is 40.9 e Jo 14.6-7) precisamos parar e rever nossa postura na caminhada (Gl 1.6-9). E buscar o equilíbrio que Pedro obteve em seu ministério já depois de amadurecido, uma experiência profunda com um Deus que cuida (Cf.: 1Pe 5.7).

No texto base, v. 27, Jesus nos orienta sobre a banalidade da ansiedade; não acrescenta nada em nossas vidas. Precisamos sim, crer que temos um Pai zeloso (Dt 4.24 e Jl 2.18) e que cuida de nós (Sl 40.17). Confiar no Deus misericordioso e provedor (Sl 103.8), que nos traz como acréscimo: bênçãos incontáveis (v.33).

É tempo de nos aquietar! Entregues à presença do Senhor nosso Deus, crendo que somos mais do que vencedores sobre todas as coisas que poderiam gerar afastamento e vazios (Rm 8.37). Só após rompermos com as cadeias da ansiedade seremos abençoados/as; suficientemente livres para viver o mais de Deus; o melhor do Reino. Amém!

Que o Senhor Deus continue nos abençoando! Do amigo e pastor, Pr. Antônio Luiz de Freitas Junior

O Nosso exemplo é Cristo: Funcionalidades do grupo de discipulado/ parte 1

Texto Base: Mc 3.13-15


Favoravelmente ao Reino de Deus, Jesus, sendo Ele mesmo Deus, partilhava seus ensinamentos de maneira tal que as pessoas pudessem entendê-los em toda sua profundidade. Dos que seguiam o ministério de Jesus, alguns eram meros expectadores ou ouvintes (Cf.: Mt 21.8-9 e Mc 9.25), outros se tornavam seguidores fiéis e apaixonados - verdadeiros discípulos (Cf.: Mt 9.36-37); e como percebemos no texto bíblico que é referência para o nosso estudo, foi dos discípulos que Jesus escolheu os doze que seriam a base do ministério apostólico (Cf.: Mt 10.1-2). Conforme a própria Bíblia nos relata a tradição cristã do ministério apostólico permaneceu mesmo após a morte de Jesus (ver.: At 1.25-26; 14.14 e Rm 1.1-5). Ser discípulo é ser aprendiz, aluno comprometido com o mestre; e apostolo é o título que o discípulo recebe quando é comissionado e enviado como mensageiro do mestre – nesse caso, mensageiro de Deus. A missão bíblica de um apóstolo era anunciar o evangelho e lançar as bases da Igreja (Cf.: At 4.33 e Ef 2.20).

Jesus não trabalha com a lógica dos preferenciais para fazer a escolha daqueles que seriam “os apóstolos”; mesmo porque Ele não faz acepção de pessoas (Cf.: At 10.34; Rm 2.11 e Ef 6.9). Embora a Bíblia nos declare que Jesus escolheu os que Ele quis para o apostolado, o intuito de Jesus não era montar uma “tropa de elite”, nem mesmo indicar “um grupo dos bons”, ou de “preferidos” (ver.: Mt 20.20-28; Mc 9.33-35; 10.35-45). Medite nisso: em nenhuma circunstância bíblica teríamos condições de fazer a afirmação de que Deus tem os/as seus/suas preferidos/as. A lógica do Reino de Deus e conseqüentemente a de Jesus sempre foi tratar a pessoa no seu todo, discipular, preparando-as para a atitude mais poderosa do Reino: servir o outro; o diferente de mim mesmo (Mc 9.35, 10.44).

Lembremo-nos, que para falar à multidões que o seguia por onde quer que Ele fosse (Cf.: Mc 3.8), e sem microfone, o mestre da comunicação precisou usar de estratégias naturais para ser ouvido e compreendido. Sabemos que Jesus usava o vento favorável e sua posição relativa às fendas nas montanhas (aproveitamento do eco e prolongamento do som) para transmitir seus ensinamentos aos que estavam com Ele (ver.: Mt 5.1 e Mc 4.33). No entanto, há uma estratégia específica, e que talvez seja uma das mais importantes que Ele nos deixou como exemplo: suas atividades em grupos com número reduzido de pessoas. Podemos perceber isso na escolha dos doze, mas também em outras situações: com dois (Cf.: Lc 24.13), três (Cf.: Mc 9.2), setenta (Cf.: Lc 10); e assim sucessivamente.

Além das estratégias de comunicação que a Bíblia nos relata, essas atividades que Ele praticava em/com grupos pequenos é fundamental para a melhor compreensão e assimilação da mensagem inovadora; a mensagem das Boas Novas era confrontante para a época de governo que estava sob a égide do Império Romano. Esse espaço valorizado por Jesus, posteriormente, com a destruição do Templo, não foi somente uma estratégia, e sim fundamental para a permanência e disseminação do cristianismo - a Igreja Primitiva utilizou o espaço das casas para a pregação da mensagem de Jesus Cristo.

• Com relação à esses espaços, considere os seguintes fatores:

1. Valorização da unidade e melhor aprofundamento de relacionamento inter-pessoal (Cf.: At 12.12; 1Co 16.19);

2. A possibilidade de compreensão dos ensinamentos fica ainda mais facilitada (Cf.: Mc 9.28; At 5.42);

3. Melhor espaço de discussão para os temas propostos: polêmicos ou não (Mc 9.28);

4. Há uma abertura muito rica para a criação de vínculos mais familiares (At 16.34);

5. Por ser esse um espaço diferenciado: Algumas pessoas com dificuldade de ir ao templo e unir-se à Igreja, por inúmeros motivos, e algumas até por não saber à fundo o que é um culto, agora podem participar (C.f.: At 11);

6. Existe um mistério de Deus que envolve as casas onde aconteciam os cultos no N.T. Há uma bênção do Senhor ordenada nos ensinamentos da casa; para as ministrações nos lares (C.f.: Mt 2.11, 7.24, 10.13; At 2.2; Hb 3.4);

• Qual é nosso objetivo com os grupos pequeno enquanto Igreja Metodista?

Além de seguirmos o modelo de Cristo, considerando e abraçando fortemente todos os pontos acima citados, estamos também buscando nessa visão de grupos de discipulados, um meio saudável e natural (sem imposições) para consolidar aqueles/as que já conhecem à Cristo; também abrir um espaço de pregação da Palavra de Deus, de forma tal que aqueles/as que ainda não conhecem à Jesus ouçam o Evangelho das Boas Novas do Cristo e O aceitem como único e eterno salvador de suas vidas – nossa maior missão enquanto cristãos (Cf.: 2Tm 4.2).

Num segundo momento, precisamos gerar no coração dessas pessoas que freqüentam o grupo de discipulado, o desejo de estarem reunidos com a Igreja (Igreja não é o templo e sim a família maior reunida para cultuar ao Senhor Deus). Muitos acreditam que isso é uma estratégia para acréscimo numérico na instituição, mas não é assim que discutimos o desejo despertado nessas pessoas para que estejam reunidas com a Igreja. Considere que:

1. É na família maior (Igreja – entre irmãos/ãs) que somos confrontados em processo de convivência com o todo – um processo muito mais rico e complexo. E isso é muito importante, especialmente considerando que num determinado momento fica bastante cômodo participar de uma reunião de discipulado – ao ponto de muitas coisas permanecerem ainda ocultas e portanto sem tratamento – é possível que somente no contato com o todo exista maior abertura da parte dessa pessoa para que haja tratamento completo da parte de Deus;

2. Não que “grupos pequenos” não sejam “a Igreja”, mas o são “em parte”. Lembremo-nos que quando Jesus voltar Ele vai arrebatar “a Igreja do todo e mais ainda”; vai arrebatar um povo inteiro! Isso nos estimula a ensinar, enquanto Discipuladores, que é fundamental estarmos agregados à uma família de fé;

3. Muitas pessoas hoje têm dificuldades de estabelecer compromisso fixo. Estar ajustado aos compromissos da Igreja faz com que as pessoas percebam o compromisso como uma fidelidade necessária para alcançarem o mais de Deus (Mt 25.21);

4. Muitas pessoas hoje têm dificuldades de se submeter à autoridades; inclusive a pastoral. Mas isso é necessário para a ovelha. Muitos se escondem atrás de argumentos como: - “não gostei do culto”, “não gosto dessa Igreja”, “não levo jeito para isso”, “isso é coisa de instituição”; mas na verdade estão se escondendo do fato de não saberem obedecer; não se sentem bem se submetendo a uma autoridade, seja ela pastoral, ou de qualquer outro nível de liderança. Isso é maligno e gera “poda do tempo vital do homem/mulher” (Cf.: 2 Co 10.6; Rm 13.1-7 e Hb 12.9). Trazê-la ao templo para freqüentar a Igreja jogaria por terra tais argumentos de satanás.

5. Possibilita, que todos/as quanto queiram imitar à Cristo, sejam Discipuladores/as de pessoas. Sejam líderes, homens e mulheres, responsáveis por dar suporte em amor ao outro; verdadeiros cuidadores/as (Cf.: Ef 4.2).

• Consequências imediatas dessas atividades na estrutura da Igreja como um todo:

1. Plano de sólido de caminhada dentro da estrutura da Igreja: não só para os membros mais antigos, mas também para os recém convertidos – uma vez que o foco está na no cuidado e na ministração da Palavra;

2. Melhor aproveitamento e assimilação da Palavra;

3. Aprofundamento nos conhecimentos de textos bíblicos, e seus contextos;

4. Melhor aproveitamento da presença pastoral;

5. Valorização da figura pastoral;

6. Valorização da pessoa do pastor;

7. Valorização do líder;

8. Todos/as podem vir a ser líderes valorizados/as – Reflitam sobre o “sacerdócio universal de todos os crentes” (do Reformador Martinho Lutero);

9. Melhor desempenho pastoral como um todo;

10. Um povo sarado que multiplica esse estado de saúde e contagia com a paz do Senhor Jesus;

11. Uma Igreja consolidada;

12. Crescimento no nível qualitativo e quantitativo da Igreja;

13. Expansão do Reino de Deus.

Pense nisso e permita que o Senhor Deus, por meio do Espírito Santo, trabalhe essas questões em você, primeiro no seu coração e mente; só assim terás a paixão necessária para passar essa mesma visão àqueles/as que o Senhor tem confiado à você para o exercício do carinho e do cuidado.

Que o Senhor continue te abençoando, à cada dia mais.
Do seu amigo e pastor: Pr. Antônio Luiz de Freitas Junior.

terça-feira, 17 de maio de 2011

RASGUE A SUA AGENDA

"Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos,
nem os vossos caminhos os meus caminhos,
diz o SENHOR" (Isaías 55.8)

No início de cada ano corremos às papelarias em busca de uma nova agenda. Não dá pra viver sem uma. Nela anotamos nossos compromissos, o que é “urgente”, o que não podemos esquecer, e para quem telefonar. Consta dela também os nomes das pessoas que são importantes para nós – e quem deixou de ser, no ano seguinte não fará mais parte dela.

Agenda é pessoal e íntima porque diz respeito a nós, e a ninguém mais. A partir dela é até possível conhecer um pouco de seus donos: seus projetos, seus gostos pessoais, e o que tem importância para eles.

Permita-me falar um pouco sobre a sua agenda, mas não daquela “caderneta” de anotações e recados, mas de sua agenda de compromissos com a vida e com Deus.

Vemos cada vez mais cristãos comprometidos com uma agenda repleta de motivações distantes das coisas do Reino, visando apenas suas realizações e bem-estar pessoal. Embora isso aparentemente não seja condenável aos olhos da maioria das pessoas, sob a perspectiva divina, entretanto, esse interesse revela-se parcial, unilateral, e até mesmo egoísta. Se a sua agenda não contempla mais ninguém além de si mesmo e sua prole ela em nada o diferencia do restante da humanidade que não está “nem aí” com Deus: “se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os gentios também o mesmo?” (Mt 5.46).

Então, muitos, para dar uma aparência de legitimidade à sua agenda pessoal, tentarão inserir Deus nela, para dizer que Ele está no “negócio”. Se você é desses que pensam dessa forma, sinto lhe dizer, mas não é assim: Deus tem a agenda Dele e quer que você faça parte dela – e não o contrário.

Alguns que imaginam conhecer um pouco a bíblia irão afirmar que estou enganado, pois o Eterno está sempre disposto a atender aos nossos desejos mais sinceros. E para isso se amparam na seguinte promessa divina: “Agrada-te do Senhor e ele satisfará os desejos do teu coração” (Salmo 37.4).

Talvez não haja verso mais mal interpretado das Escrituras. Ele parece dar vazão a toda sorte de sonhos, aspirações, e até caprichos pessoais. Na verdade, quem se agrada do Senhor possui um coração diferente, um coração dominado por Cristo, e naturalmente os seus desejos foram regenerados, transformados e serão aqueles que o Espírito colocou ali. Alguém tocado pelos interesses do Pai, com certeza não tem um coração voltado para um Rolex, nem os olhos desejosos duma reluzente pickup 4X4 off-road, nem pedirá para acertar sozinho na MegaSena.

Deus tem uma agenda para os seus filhos, e quem deseja andar com Ele, precisa aceitar os seus termos. A possibilidade de Deus andar junto com o homem, só pode se tornar real se “houver entre eles acordo” (Amós 3.3). Obviamente o mundo não deseja participar dessa aliança porque não pretende submeter-se aos interesses do Pai. Por isso Ele procura no mundo aqueles que queiram.

Embora seja Todo-Poderoso, Deus nada impõe, mas faz um convite para que participemos de sua agenda: “Vinde, pois e arrazoemos, diz o Senhor” (Is 1.18), ou seja, “venha, vamos conversar, tenho algo interessante a lhe propor.... aprenda a cuidar dos Meus interesses no mundo... olhe ao seu redor com os meus olhos... enxergue as pessoas da maneira que Eu as vejo.... entregue-me sua agenda, permita-me participar efetivamente de sua vida....”.

Tenho de confessar que os erros dos quais mais me arrependo foram aqueles por eu ter seguido a minha própria agenda, o “meu” tempo, os “meus” propósitos, e não exatamente os de Deus. Felizmente Ele foi paciencioso e permitiu que eu mantivesse uma agenda própria de santidade, até que eu descobri que isso não pode dar certo. Somente então Ele me ensinou: “Filho, os meus propósitos não são os seus, o meu tempo pode parecer mais demorado que você gostaria, e a maneira que Eu trabalho difere totalmente da sua”.

Creio que a maior prova de amor e confiança que podemos demonstrar para com Deus é permitir que ele rasgue a nossa agenda. Rasgar a agenda significa caminhar para um saudável desprendimento: não mais eu, mas Ele. Não mais minhas prioridades, mas as do Pai. Não mais meu benefício próprio, mas do Reino. Não mais meus métodos, nem minhas “armas carnais”, mas aquelas poderosas em Deus para destruir fortalezas e anular sofismas (2Co 10.4).

Sinceramente, você seria capaz disso? Permitiria que Ele riscasse de sua agenda tudo aquilo que não nasceu Dele e nem foi submetido a Ele? Não continue adiando isso por muito tempo, pois tão logo você decidir entregar a sua agenda a Deus, vai perceber claramente que a Agenda Dele é infinitamente melhor.


Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O convite de Jesus à Pedro ainda é muito atual: guardar as armas e não reagir impulsivamente

Jesus disse-lhe: Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada à espada perecerão (Mt 26.52)



Quantas vezes passamos por situações desafiadoras que exigem de nós respostas rápidas? Nessas horas, pressionados, cedemos aos impulsos; reagimos por instinto e não por capacidade racional.

Augusto Cury, afirma com outros eruditos das ciências psicológicas, que em situações adversas e confrontantes, se paramos para refletir sobre as alternativas no leque das possibilidades, ficamos menos vulneráveis aos nossos desejos impulsivos. Conscientes, a possibilidade de decisão acertada aumenta. Tenho entendido que o impulso é uma das muitas facetas humanas que o Espírito Santo quer trabalhar em cada um de nós.

Pedro é quase sempre lido como um dos discípulos mais impulsivos de Jesus. No versículo acima, após Pedro cortar impulsivamente, por puro instinto, a orelha de Malco, Jesus adverte que seus seguidores não devem reagir a algo ou alguém sem prévia reflexão. Atitudes impulsivas denotam imaturidade, são o oposto da revelação de Deus; fazem-nos caminhar no sentido contrário à lógica do Evangelho das Boas Novas do Reino.

Jesus orienta a Pedro que ele não use a espada. Nossas armas não são espadas, estamos cada vez “mais modernos”. Quantos de nós, reagindo impulsivamente, agressivos, usamos armas que aprendemos a manipular desde nossa infância, tão nocivas quanto a espada de Pedro.

É nesse contexto que Jesus nos convida para uma caminhada; andar por caminhos de intimidade e de amadurecimento; que favoreça a tomada consciente de decisão. O próprio Pedro, já amadurecido, nos deixa uma lição de excelência sobre a necessidade de agirmos arrazoadamente (1Pe 3.13-22).

Quando situações ou pessoas exigir respostas rápidas, “prontas”, não haja impulsivamente! Faça como Moisés quando com o povo no deserto; pare por alguns segundos, aproxime-se de Deus em oração, busque a revelação de Deus. Permita-se ficar um tempo à sós com Deus para refletir, em tempos de turbulência ou bonança. O tempo é fundamental para a concretização da revelação de Deus; especialmente quando você quer ter a atitude certa.

Que o Senhor nos dê a graça, de nas nossas devocionais, experimentarmos a cura advinda da reflexão e introspecção. Vamos refletir mais sobre a lógica do Reino antes de simplesmente reagir a tudo e todos!

Amém.

Será que nós temos escolhido a melhor parte: Marta ou Maria?

Texto base para nossa reflexão: Lucas 10.38-42


A narração de Lucas, acerca da presença de Jesus na casa das irmãs Marta e Maria, é rica em detalhes e faz muito sentido para nossa Igreja hoje; para nossa postura quando com a família, e com relação às mais variadas decisões que devemos tomar no dia a dia.

No texto partilhado, Jesus nos chama à experimentarmos a vida, não pelo viés do tão secularizado “serviço”, ou da produtividade – somos cada vez mais avaliados pelo quanto somos “funcionais”, e não pela capacidade de estabelecermos relacionamentos saudáveis. É um convite claro do próprio Deus, num período onde quase tudo funciona 24 horas, à reservarmos um tempo necessário para estarmos com “a melhor parte”: aos seus pés, aprendendo com Ele sobre a vida. Isso é o que Jesus chama no texto lido do “pouco que é necessário”, e a “uma só coisa necessária que ninguém nos poderá tirar” (v.42). Parar tudo por alguns instantes para ficar com Ele, só com Ele – prostrados/as, em devocional nos consagrando, bebendo do manancial de águas vivas (Jr.2.13).

Por mais que as Martas sejam uma realidade, uma vez que o serviço é necessário, Deus não precisa de mais “crentes”, o próprio diabo já creu; o mundo não precisa de mais crentes, e sim de mais homens e mulheres que escolham aprofundar seu relacionamento com Ele; na Igreja muitos crêem, mas poucos são íntimos – os que escolhem a melhor parte. Deus nos ajude a entendermos esse processo de intimidade em nossas vidas e o quanto ele é fundamental; amém!

Você ficaria com o posiocionamento dos 10? Ou assumiria a posição dos 2? Que tipo de líder você tem sido?

Texto bíblico: Nm 13.1-3, 25-33; 14.6-8, 29-30.

No caso do texto compartilhado, vemos doze líderes, orientados por Moisés a espiar a terra que Deus havia prometido ao povo – terra que “mana leite e mel” – herança e projeto de Deus para o povo de Israel. Dez desses líderes, quando voltaram, não descreram que a terra era boa (Nm 13.27), mas descreram em Deus sobre a possibilidade de poderem tomar posse dela. A notícia na boca desses líderes, e que agitou “a congregação” era: “não vamos conseguir!”.

Somente Calebe e Josué entenderam ser o tempo de Deus para possuírem sim a herança prometida. Eles não só viram a bênção de Deus ordenada na terra, creram também na possibilidade, em Deus, de experimentar junto com os seus a vitória da conclusão desse processo iniciado entre Deus e o povo no Êxodo. A promessa se cumpriria, o sonho de anos atrás agora seria uma realidade.

Todos nós podemos, e devemos ser líderes de nós mesmos, dentre outras coisas: precisamos administrar nosso tempo, o que sai da nossa boca e o que entra pelos nossos ouvidos. Quais sãos as diferenças entre Calebe e Josué e os outros dez líderes?

Líderes guiados pelos seus próprios olhos ou por aquilo que o Senhor prometeu? Dez dos príncipes estavam contaminados pelo germe que aprisiona a visão humana naquilo que é meramente humano – o que eu vejo é mais importante e real do que aquilo que eu ouço da boca de Deus: “aos nossos próprios olhos” (Nm 13.33). Isso nos impede de romper em fé – Os que procedem dessa maneira morrem sem entrar na terra prometida (Nm 14.29-30).

Líderes com baixa-auto-estima não conquistam a terra prometida por Deus: Os dez, eles acabam enxergando na estatura dos gigantes, o símbolo da frustração do sonho de um povo. O grau elevado de baixa auto estima deforma a situação a ponto de fazer com que líderes desistam de possuir com alegria o que o Senhor já preparou. Calebe e Josué, nesse sentido, estavam curados - viveram a promessa de Deus! Ambos eram servos abençoadores do ministério de Moisés, para ser servo tem que estar bem resolvido consigo mesmo – nem todas as pessoas emocionalmente saradas são servos/as, mas necessariamente todos os servos/as efetivos/as são pessoas curadas.

O líder e o espírito que age no líder determina se a promessa de Deus, é uma promessa alcançável ou não: Em Calebe houve outro espírito (14.24). Enquanto outros murmuravam e desprezavam Deus, ele perseverou em segui-lo! A conquista da terra, além de uma questão de promessa de Deus e fé humana, é também uma questão do espírito que está sobre você, mais sua habilidade em desenvolver fidelidade e perseverança.

Guardemos o exemplo desses dois líderes. Não murmure (Nm 14.1-4); enquanto líder decida ser um abençoador do povo, falar da boa notícia de Deus; pelas promessas de Deus e por uma mudança tal que te faça sarado; seja servo: fiel e perseverante. Porque fazendo isso, tu e a tua descendência herdará a terra fértil preparada pelo Senhor (Nm 14.24): a herança! Concluirão o processo com êxito. Aquilo que um dia Deus te fez sonhar será realidade, creia!

Amém.

HOSANA, HOSANA!....

O filho de Deus estava prestes a entrar em Jerusalém montado em um jumentinho. Seria uma entrada triunfante, uma festa digna de um rei. O povo todo estava lá para recebê-lo. Muitos estendiam as suas vestes pelo caminho e outros espalhavam ramos que haviam cortado dos campos. E não somente isso. Eles corriam para e lá e para cá, louvavam a Deus em alta voz e cantavam em coro:

“Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor... Bendito o reino que vem, o reino de Davi, nosso pai! Hosana nas maiores alturas!”.

Hosana era um grito de exaltação e adoração que estava engasgado há séculos na garganta aguardando a manifestação do Messias.

Ao coroarem o ministério de Jesus aquele povo estava pensando: “Nosso Messias chegou e dominará... agora podemos sair da opressão... agora expulsaremos os soldados que nos vigiam.... libertaremos nossa gente.... prosperaremos como nação.... não haverá mais fome, nem perseguição, seremos livres.... todos nos respeitarão...”.

Num olhar superficial poderíamos imaginar que toda aquela gente, até então de coração endurecido, finalmente havia se rendido aos pés do Salvador, reconhecendo e compreendendo todos os sinais que haviam visto e converteram-se Àquele que veio buscar o perdido.

Pano rápido. Viaje comigo no tempo, dois milênios depois, para uma comparação de imagens, onde veremos as mesmas cenas se repetindo: multidões reunidas, coreografias de adoração, mãos levantadas em exaltação, lenços esvoaçantes, gritos de guerra, promessas no ar, expectativas de quem veio de longe, milagres ansiosamente aguardados....

Pronto, retornemos à poeirenta Jerusalém do primeiro século. Apenas uma semana após aquela calorosa recepção, o clima já não é de alegria, há um ambiente tenso, e corre entre o povo a notícia que um dos seguidores de Jesus entrara em aliança com os soldados para levá-lo preso, e aquele Rei que haveria de governar agora está manietado diante das autoridades. Parece que o levaram a Pilatos, governador da Judéia, que tem intenção de solta-lo, mas a multidão enfurecida grita a uma só voz: Crucifica-o! Crucifica-o!

Diante da dureza dos fatos, aqueles que sonhavam com o reinado eterno do Messias certamente agora diziam para si mesmos: “Nossa esperança foi despedaçada, estávamos enganados a respeito Dele”.

Retornemos novamente ao nosso tempo. Alguns mais desatentos podem imaginar que vivenciamos uma época de avivamento. É estranho isso porque em todos os períodos de avivamento na História a primeira manifestação era o retorno à Palavra. Qualquer observador sensato descobrirá que isso não está ocorrendo. Nos genuínos avivamentos as pregações eram embasadas nos grandes temas do Evangelho, como santidade, comunhão, unidade, perdão, quebrantamento e obediência. Hoje os temas das mensagens giram em torno de: cura, poder, vitória, lucro e prosperidade. Depois repete a sequência. No passado via-se claramente uma transformação da pessoa. Hoje, para não melindrar o ego de ninguém, não precisa se preocupar com isso.

Em poucos dias aquela multidão trocou os “hosanas” pelo abandono de Jesus quando surgiu a cruz. Ninguém deseja a cruz. Cruz é escândalo e loucura, é inversão de valores, é pedra de tropeço. Não queremos cruz, queremos benefícios, queremos ganhos. A cruz nos leva a abandonar a autoconfiança, enquanto queremos a afirmação do nosso ser. Buscamos os aplausos e a glória, não a cruz. Hoje, os neófitos na fé não almejam mais habitar no céu, melhor Alphaville.

Jesus dizia que se alguém quisesse ser um discípulo seu deveria tomar a cruz e segui-lo. Sabemos que diante da cruz haverá muitas esperas, doenças, perdas, e vão sobrar lutas e perplexidade.... Isso espanta as pessoas, é melhor dizer-lhes que “seus problemas acabaram”, e “você não terá mais sofrimento”.

As mesmas pessoas que cantavam “Hosana ao Filho de Davi” bradavam agora “Crucifica-o!”. Em seu ministério terreno o próprio Jesus não se confiava a eles, porque ele mesmo sabia “o que era a natureza humana” (Jo 2.25).

O que isso nos ensina? Primeiro: que não nos deixemos impressionar por demonstrações de triunfalismo e euforia. Se não houver uma conversão verdadeira para com Deus, tudo se desvanecerá quando os dias maus chegarem. E eles vão chegar. A semente que cai no solo rochoso não tem raiz, e “em lhe chegando a angústia ou a perseguição, logo se escandaliza” (Lc 13.21).

Segundo: Multidão não deseja relacionamento ou comunhão, quer ver os seus desejos satisfeitos: “seguia-o numerosa multidão porque tinham visto os sinais que ele fazia” (Jo 6.2). Mas quando a situação começou a endurecer, muitos o abandonaram, ao ponto do Mestre dizer aos próprios discípulos: “vocês também querem ir embora?”.

Não tenho dúvidas que não vivemos nenhum avivamento. Na verdade é um “esfriamento”. Jesus afirmou que este seria um sinal de sua vinda: “o amor se esfriará de quase todos” (Mt 24.12). Observe as multidões que enchem os templos à busca de milagres. Não é o amor que os une, não é a “koinonia” (comunhão), nem prazer pela Palavra, mas um egoísmo de origem luciferiana: “eu vim buscar o meu”.

Os últimos dias não chegarão “sem que primeiro venha a apostasia” (2Ts 2.3), que significa desvio, afastamento ou esfriamento em relação à fé. Daí entendemos quando Jesus pergunta: “Quando voltar o Filho do Homem, achará, porventura, fé na Terra?” (Lc 18.8). Com certeza, fé não, mas apostasia.

A apostasia será a condição necessária para a manifestação do “homem da iniqüidade” que irá “assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus” (2Ts 2.4). Sinceramente, quase já posso vê-lo, falando, pregando e convencendo a todos “com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira” (2Ts 2.9).

Quem viver, verá.

Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br

domingo, 20 de março de 2011

ESTÁ FALTANDO ALGUMA COISA

“Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram o que Deus tem preparado para aqueles que o amam”

As pessoas estão trabalhando normalmente, indo à escola e estudando normalmente, passeando com a família pelos shoppings normalmente, indo a festas e baladas normalmente... mas há uma estranha sensação no ar que os mais atentos já devem ter percebido: parece que tudo está bem, tudo está normal, mas não está. Há um mal estar geral, uma sensação de que tudo o que se faz não tem muito sentido, não completa, não satisfaz.

Pegue-se, por exemplo, os sons das músicas e do alarido produzidos nos barzinhos espalhados pelas cidades.... Os nossos moços repetem os mesmos gestos de nossos antepassados que nas noites escuras e frias se reuniam em torno da luz bruxuleante de uma fogueira para exorcizar seus medos e fantasmas. É exatamente isso que é modernamente feito nas madrugadas – e aparentemente eles parecem alcançar sucesso nos seus rituais boêmios, ao menos até o momento de estarem de volta aos seus quartos vazios.

É como se existisse um buraco no coração de cada ser humano, um sentimento de que está faltando “alguma coisa”. É muito mais que aquilo que a psicologia chama de tentativa de “voltar ao útero materno”, é muito mais que um desejo de aconchego, é mais do que algo circunstancial ou momentâneo: é profundamente existencial. Sim, nada satisfaz e nunca satisfará, por uma razão muito simples: está faltando “alguma coisa”, e por isso experimentam-se todas as formas para preencher essa falta que não se sabe exatamente o que é. Lembro-me que nos anos 60 a contracultura, enfadada dos valores da sociedade, imaginava preenche-la na pobreza das ruas da Índia ou no Tibete. Hoje, caminhando em Santiago de Compostela.

Esse buraco, se fosse uma figura geométrica, não poderia ser completado com nenhuma forma conhecida, pois sempre restaria um espaço a ser preenchido. Exatamente por isso, as conquistas alcançadas não preenchem, o dinheiro não preenche, nem a beleza, nem o reconhecimento, nem as diversas formas hedonistas de prazer que a civilização oferece.

Houve um rei mitológico – que pode representar muita gente que conhecemos – embora rico, era infeliz, por achar que não tinha ouro suficiente em seus tesouros. Recebeu então a visita de um gênio que lhe atendeu o desejo de tudo o que ele tocasse se transformasse em ouro. A princípio aquilo lhe encheu de alegria, até o momento que já não podia mais beber ou comer, pois tudo se transformava no precioso metal. Não, não era de mais ouro que ele precisava, assim como hoje não precisamos de mais aparelhos high-tec, nem de novos modelos de celulares.

A primeira boa notícia deste texto é que Deus nunca mudou, e jamais mudará de idéia: Ele continua desejando que o Paraíso que Ele criou seja uma realidade para o homem e para a mulher, mesmo a despeito de seus passos errados, que estragou tudo o que era bom.

Somos mais que descendentes de Adão. Nós somos “Adão e Eva” e também “estamos” expulsos do Éden. Esse jardim era constituído por rios, animais, plantas, amizade com Deus, paz, harmonia, vitória do bem, respeito, sentido nas coisas que se faz... Todos símbolos que evocam imagens de coisas indizíveis. Esta é a resposta do mal estar geral: há em nós uma nostalgia, uma busca de alguma coisa que se perdeu em algum momento.

A pregação do Evangelho é um convite a todo ser para iniciar um caminho de volta. Aquele jardim nunca foi destruído por Deus – embora nenhuma expedição geográfica possa encontrá-lo. Houve uma quebra de relacionamento com o Criador, e não há volta sem que haja reconciliação. É por isso que o Gênesis diz que foram colocados “querubins de guarda”, impedindo uma volta nossa, sem que a condição de ruptura com Deus não seja restaurada.

Cristo é aquele que veio propor a re-conciliação entre o homem e Deus, e re-ligar o que está partido. Nenhuma religião possui o poder de nos “ligar” com Deus, pois esta prerrogativa foi dada ao seu próprio Filho.

Só há um meio de retornar ao paraíso perdido: executando os passos da “dança errática de Adão”, mas ao contrário, e iniciando um longo caminho de volta. Se a queda foi um ato de rebeldia para com o Criador, a restauração vem pela obediência, que é o gesto deliberado da criatura de submissão ao Criador.

Voltar ao Paraíso é reencontrar a sua alma perdida, submetendo-se ao Eterno. É verdade que a plenitude daquilo que Deus sonhou para nós nunca poderá ser alcançada em toda sua largueza enquanto estivermos limitados pelo pecado, mas sem dúvida podemos chegar perto, se estivermos indo na direção correta. Desejo que você esteja.

Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br

ARRUMA AS TUAS COISAS

“Assim diz o Senhor: põe em ordem a tua casa, porque morrerás e não viverás” (Is 38.1b)

Aos nossos olhos a vida nem sempre é como “deveria”. Há sempre algo que se interpõe, que interrompe, que nos desvia dos planos traçados. O adoecimento repentino, um aneurisma, um nódulo no seio, os resultados do exame, o acidente na estrada, o esfacelamento do casamento.... Na vida não há caminho “seguro” – ao menos não da forma que gostaríamos.
Trata-se de um assunto difícil de tocar, pois preferimos imaginar que não somos frágeis, nem mortais. É uma autoilusão que pretende esconder nossa real condição de fragilidade. De onde vem essa distorção? Creio que falta-nos aquele contato com certas realidades “desagradáveis” da vida que nos ensinariam muito sobre nossa finitude, a dor, a morte.... Desde pequenos somos “poupados”: não precisamos mais caçar os animais para nossa sobrevivência, nem ouvir o grunhido aterrador do porco, ou destroncar o pescoço da galinha como nossos avós faziam – o frango e o leitão já aparecem limpos em nossa mesa. Também somos poupados da “desagradável” presença de doentes na casa, e raramente um enfermo termina os seus dias em seu quarto junto aos familiares. Sim, somos poupados dessas “mazelas”, e fica no lugar um buraco na alma e uma visão parcial da vida.

De igual modo preferimos fechar os olhos para o fato de que a morte não vem buscar seus escolhidos por ordem cronológica, principiando pelos velhos e doentes. Lembro-me que, ainda seminarista, fui levado por um irmão forte e saudável numa visita a um moribundo em seu leito que, segundo ele, estava “nas últimas”. Levei a ceia, orei e me despedi daquele ancião. Alguns dias depois recebi um telefonema, que o “irmão forte” que fora comigo teve um infarto fulminante (apenas para constar: o velho doente ainda viveu por mais dois anos).

Planos. Quais são seus planos? O rei Ezequias certamente tinha os seus, afinal era um rei gozando a vida no palácio, com servos prontos a obedecer suas ordens, mas de repente, uma indisposição começa a deixá-lo preocupado, e em alguns meses evolui para uma dor lancinante. Já não come, já não dorme, começa a definhar....

Geralmente as doenças se iniciam com um mal estar, e o corpo começa a enviar sinais de que alguma coisa não está bem. Creio que o Espírito Santo também nos aponta para o que não está bem em nossa vida: os relacionamentos se tornam doentios, a neurose se instala, o vazio, a apatia. Nessa fase são poucos que vão procurar ajuda, pois se tenta passar a idéia para o mundo – e para si mesmo – de que tudo continua bem.

De surpresa chega o profeta Isaías para visitar o rei. Quem sabe ele não teria uma “oração forte” ou uma palavra de ânimo? Afinal, é para isso que serve os enviados de Deus. Na verdade este é outro engano muito comum no círculo da fé – que Deus sempre tem coisas agradáveis a nos dizer. Fieis vão ao templo desejosos de ouvir palavras suaves e adoçadas com mel.... Mas às vezes Deus espera que saiamos “mal” da igreja. João Batista não usou de meias palavras ao chamar o povo de “raça de víboras”, e Jesus não se importou da multidão debandar por causa de seu duro discurso. Hoje, ao contrário, sempre se tem uma palavra de “cura e prosperidade” para todos, não importa o quão mal e distante de Deus estejam vivendo.

Diante de verdadeiros profetas enviados de Deus somos exortados, disciplinados, confrontados..... A Palavra conforta, mas também confronta. Talvez seja por isso que muitos não queiram mais freqüentar uma igreja e ser confrontados.

Para Ezequias, as notícias não são boas e também não tem oração para ele: “Ezequias, assim diz o Senhor: põe em ordem a tua casa, porque morrerás, e não viverás” (Is 38.1)

“Arruma as tuas coisas” porque há urgência. “Arruma as tuas coisas”, porque somos seres disfuncionais que precisam constantemente de ajustes.

Não temos facilidade de colocar em ordem o que não está bem em nós. Preferimos deixar as coisas como estão porque imaginamos que temos todo o tempo do mundo. Se Deus deixar por nossa conta, jamais veremos premência em pedir perdão a quem ofendemos, não vemos urgência em acertar relacionamentos destruídos, não sentimos a necessidade de dizer o quanto aquela pessoa é importante para nós... Pensamos: “tem tempo pra isso, tem tempo”.

Chocado com a notícia, Ezequias entra nos seus aposentos, se vira para a parede, clama a Deus e chora muitíssimo. Deus chama novamente o profeta, mas agora para dizer que ouvira a oração do rei e vira as suas lágrimas e estava acrescentando “aos seus dias quinze anos” (Is 38.5).

Talvez num passado distante ou recente havia sobre você uma “enfermidade que era para a morte”, mas o Deus misericordioso viu suas lágrimas e ouviu sua oração. Quem sabe você não esteja justamente vivendo esse período de “quinze anos” sobre a Terra. A pergunta é: para que Deus fez isso?

No futebol há jogos que terminam no tempo regulamentar em 0 X 0. Às vezes nesse período de jogo não houve graça, alegria nem comemoração. Mas o árbitro pode dar uma prorrogação, e naqueles minutos a mais muitas coisas podem acontecer que valeu a pena ter estado ali.
Não sei meu irmão se você está na “prorrogação” que Deus lhe deu pra ver se acontece “alguma coisa”. Muita coisa pode ser realizada, revista, alterada.... afinal, passar pela vida sem paixão, acordar a cada dia indiferente a tudo, é desperdiçar a vida e a graça divina.

O que fazer com o tempo que nos resta? A poetisa Cora Coralina, que publicou seu primeiro livro na “prorrogação” aos 76 anos, em sua simplicidade e sabedoria, nos ensina....

Não sei se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura… Enquanto durar

Realmente, este é o espírito do Evangelho: o que conta não é a quantidade de anos que se vive, se é muito ou pouco, desde que a sua vida seja intensa, pura e verdadeira. Então, arruma as tuas coisas.

Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br

OS ANÔNIMOS

“Deus não é injusto para ficar esquecido do vosso trabalho e do amor que evidenciastes para com o seu nome” (Hb 6.10)

O Reino de Deus é constituído em grande parte de anônimos que nunca iremos saber os seus nomes, que nunca irão aparecer na TV, nem receberão medalhas por seus feitos, e provavelmente não será reconhecido em sua própria época o valor de seus gestos e palavras.

Num mundo midiático onde todos querem ter seus “quinze minutos de fama”, é quase um despropósito ser um desconhecido. Por conta disso, muitos não querem apenas alcançar o panteão da fama, mas desejam também passar o seu modo de vida a um cortejo de “seguidores”: Ivete Sangalo comemorou a poucos dias 1 milhão deles. Agora foi a vez de Luciano Huck superar a barreira de 2 milhões. No mundo, a campeã de “seguidores” chama-se Britney Spears – uma pessoa cuja trajetória de vida nada tem a oferecer de virtude ou a ser imitado, mas 5 milhões de pessoas acham que tem.

No meio evangélico também é assim. Certa “cantorinha” gospel, uma das campeãs de popularidade, usa esse instrumento para enviar pérolas de futilidade para o deleite de seus fãs. Seu espírito adolescente encontra eco no infantilismo da fé de seus seguidores. Não pude deixar de pensar que tudo isso é como um grande “Big Brother” gospel: de um lado os voyeurs querendo saber da vida alheia, e de outro quem se julga especial para dizer as coisas mais irrelevantes possíveis, como: “indo dormir....” ou “trocando fraldas do bebê...”. Os que estão do lado de cá provavelmente querem se ver realizados projetando suas vidas sobre o seu objeto de veneração. Sinceramente, eu não sei onde isso vai parar.

Talvez tudo isso ocorra porque, assim como ocorre no mundo secular, crente também não gosta de caminhar ao lado de gente obscura – prefere os que carregam a aura da fama.

Porém, indo na contramão desses valores que se instalaram na alma de muita gente, o Evangelho – aquele verdadeiro – nos remete a uma forma diferente de vida. Nele, seus fiéis serão reconhecidos por Jesus justamente porque são anônimos.

É verdade que na bíblia encontramos alguns homens e mulheres que se destacaram. Mas, diga-se de passagem, que foi pela fé e amor que tiveram, e não pela capacidade de aglutinar fãs. Mas são a exceção, não a regra.

Sim, o Reino de Deus é assim: constituído por anônimos como a semente que cresce invisível e silenciosamente durante a noite. Mesmo quando se destacam fazendo boas obras devem ser transparentes e “invisíveis” o suficiente para que o Pai que está nos céus seja glorificado (Mt 5.16), jamais eles próprios.

Louvo a Deus pelos simples da bíblia ao qual nunca saberemos seus nomes, mas que deixaram a sua marca e fizeram a diferença por onde passaram.

Todos se lembram de Eliseu, mas qual o nome daquela menina judia, serva da mulher de Naamã, que disse a ela que em sua terra havia um profeta que poderia ajudar o seu amo? Se aquela adolescente tivesse calado não haveria a cura e a conversão daquele general ao Senhor.

Qual o nome daquele garoto que se apresentou generosamente aos discípulos oferecendo tudo o que tinha – cinco pães e dois peixinhos – para alimentar uma multidão de famintos, possibilitando a Jesus fazer a multiplicação?

Qual o nome daquela mulher samaritana que entabulou conversa com Jesus, se converteu e em poucas horas tornou-se uma missionária chamando toda uma cidade para segui-la e ver a Cristo?

Quem era aquela mulher siro-fenícia que confrontou a Jesus, dizendo que até os cachorrinhos comem do que cai da mesa?

Que fim teve aquele oficial romano que disse a Jesus para “mandar uma palavra” e o seu servo seria imediatamente curado?

São todos eles gente “sem nome”, que escreveram com suas vidas o Evangelho. Sabemos os nomes dos líderes e dos pastores, mas a uma igreja só é possível subsistir se ela tiver inúmeros anônimos que fazem os arranjos de flores para a beleza do altar, consertam as goteiras no telhado, cantam no coral (se solassem não seriam anônimos), se organizam para os mutirões, mas não recebem salários, nem têm seus nomes colocados em placas. Ao entrarem em seus quartos para orar, abrem as portas das prisões e sustentam a vida de milhares de cristãos pelo mundo afora.

O verdadeiro povo de Deus não é do barulho, das marchas, das gritarias nas rádios, da verborragia no ar, do “essa cidade vai ser abalada”... O povo de Deus tem uma presença santa e silenciosa. No século III Cipriano, viveu uma juventude dissipada e pagã converteu-se aos 35 anos para Cristo, ao conhecer os primeiros cristãos. Escrevendo ao seu amigo Donato, contou:

“Vejo neste mundo bandidos nas estradas, piratas no mar, homens assassinados para agradar as multidões nos anfiteatros, e sob todos os tetos miséria e egoísmo. É realmente um mundo mau, Donato, um mundo incrivelmente mau. No entanto, no meio dele, encontrei um povo quieto e santo. Eles descobriram uma alegria que é mil vezes melhor do que qualquer prazer desta vida de pecados. Eles são desprezados e perseguidos, mas não se importam. Eles venceram o mundo. Este povo, Donato, são os cristãos... e agora eu sou um deles”. (Forging a Realworld Faith, Gordon MacDonald - Comentario na Bíblia Devocional Max Lucado).

Povo silencioso, santo, pacífico, cordato, diferente e anônimo. Fazem suas orações, cantam seus hinos, abençoam as pessoas, perdoam quem os ofende, temperantes, respeitáveis, sensatos (Tt 2.2), se contenta com as coisas que tem (1Tm 6.8), fala com mansidão aos que se opõem (2Tm 2.25), um povo que ora em favor de todos os homens e dos que se acham investidos de autoridade, para que possam viver “vida tranqüila e mansa, com toda piedade e respeito” (1Tm 2.1-2).

Não se espante se na descrição acima você não viu o povo que você conhece como cristão. De fato, o que existe aí foi seduzido por “outro” evangelho que abandonou há muito esses valores. Mas você, não. Deus o chama para se juntar àqueles poucos que são fiéis e que provavelmente não serão conhecidos por mais que uma centena de pessoas por toda a existência. Não se preocupe, porque Deus o conhece e escreverá o seu nome no Livro da Vida. Isso é o que realmente conta.

Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br