sexta-feira, 30 de maio de 2008

Antes de tudo, somos seres humanos. Isso está regsitrado no livro de Gênesis


E lá estavam eles, porém, um palestrante em específico me chamou muito a atenção; ele ministrava a um grupo de pessoas, para cristãos [será? Talvez alguns poucos dentre tantos que estavam presente]. Com graça e humanidade, e muita simplicidade, ele falou do direito à vida, não sem citar a “sua-nossa-senhora” [dependendo da conotação que o termo assume]. Notei que algo diferente [ou que, pelo menos deveria ser diferente] estava acontecendo.

E veio o cafezinho ... ele, o ilustre, vagou solitário por entre a “multidão de fiéis”, pessoas interessadas muito mais nas tantas qualidades de bolachas que estavam na mesa, mas eram também pessoas compenetradas em seus próprios grupos, aqueles “grupos afetivos”, onde todos são iguais, ou pelo menos se parecem em muita coisa. Ele não foi acolhido em nenhuma daquelas tantas “ilhas-humanas”, aglomerados de espelhos, de frente uns para os outros. Nem mesmo naquela seleta ilha ele foi acolhido, “dos-da-mesa” de palestrantes, na qual ele havia feito parte minutos atrás.

Eu vi um senhor maduro, de cabelos alvacentos, muita experiência de vida, com histórias para contar. Falo daquelas, fruto de suas tantas missões junto aos índios, aos acampamentos de militantes pela reforma agrária. E nós? Como nos posicionamos? Quando já bastava não ter abraçado com afeto, criticaram; e olha que, para muitos, não foi difícil atirar “aquela primeira pedra”, daquelas deixadas pelos acusadores da mulher adúltera em João 8.1-11, quando interpelados por Jesus. Sobre o episódio bíblico, já sabemos que era uma classe de pessoas que se pretendiam salvas, moralistas doutores da lei, aqueles salvos pela lei atemporal, lei que subjugava inclusive a vida.
Na “conferência” preferiram utilizar-se de reducionismos ao se dirigirem àquele senhor, rotularam ele, reduziram ele ao seu título de "padre", ao invés de chamá-lo pelo seu nome, trataram-no por: "um católico, um qualquer". Aqui a palavra “padre” assumiu significado quase que pejorativo na boca dos/as colegas, e a maioria fez assim. Registrou-se na memória, humana [será?], mas também na das máquinas digitais, em fotos e câmeras: o desrespeito ao ser humano, àquele que estava bem ali na nossa frente, que generosamente nos ensinava ao falar de humanização.

Hoje, mais que nunca, lembramos das pessoas pelos seus muitos títulos, não pelo fato de seu um ser humano, mas pelo que ele/a adquiriu; respeito devido? mérito reconhecido? Não ! Não ... nesse caso era visível, traduzia-se em radical ato de “defesa” a uma determinada “bandeira denominacional”. Patriotismo ou pertença? Não! Não ... segregacionismo e individualismo, exclusivismo egoísta.

Caros colegas, amigos/as, antes de sermos: homens ou mulheres, dessa ou daquela denominação, cristãos ou não-cristãos, étnicos, culturais, políticos, somos seres humanos. Nada e nem ninguém pode subjugar e reprimir a vida. Na minha opinião, deve ser considerado como legítimo cada instinto humano encarnado naquele/a que está no caminho da busca por sobrevivência, no estágio: “humanizando-se” [todos estamos nesse]. Lembremos que o nosso Deus já permitiu, antes mesmo que existíssemos: a vida. Ele, mediante sua graça, disse sim à humanidade, uma parte-parcela em meio a tantas outras formas de vida; tudo proveniente de um mesmo ato criador de Deus.

domingo, 25 de maio de 2008

Pense em dar uma renovada em sua vida

Esse é um texto que circula há tempos pela internete. Não deixa de ser sempre utilizado em blog's, etc., no sempre "estilo de auto-ajuda", o que tem sido muito explorado atualmente. Não consegui identificar a fonte do texto, muito menos o autor. Guardada as devidas proporções, não deixa de ser uma reflexão interessante.

Os japoneses sempre adoraram peixe fresco. Porém, as águas perto do Japão não produzem muitos peixes há décadas. Assim, para alimentar a sua população, os japoneses aumentaram o tamanho dos navios pesqueiros e começaram a pescar mais longe do que nunca. Quanto mais longe os pescadores iam, mais tempo levava para o peixe chegar. Se a viagem de volta levasse mais do que alguns dias, o peixe já não era mais fresco. E os japoneses não gostaram do gosto destes peixes.Para resolver este problema, as empresas de pesca instalaram congeladores em seus barcos. Eles pescavam e congelavam os peixes em alto-mar.


Os congeladores permitiram que os pesqueiros fossem mais longe e ficassem em alto mar por muito mais tempo. Os japoneses conseguiram notar a diferença entre peixe fresco e peixe congelado e, é claro, eles não gostaram do peixe congelado. Então, as empresas de pesca instalaram tanques de peixe nos navios pesqueiros. Eles podiam pescar e enfiar esses peixes nos tanques, como "sardinhas". Depois de certo tempo, pela falta de espaço, eles paravam de se debater e não se moviam mais. Eles chegavam vivos, porém cansados e abatidos. Infelizmente, os japoneses ainda podiam notar a diferença do gosto. Por não se mexerem por dias, os peixes perdiam o gosto de frescor. Os consumidores japoneses preferiam o gosto de peixe fresco e não o gosto de peixe apático. Como os japoneses resolveram este problema? Como eles conseguiram trazer ao Japão peixes com gosto de puro frescor? Se você estivesse dando consultoria para a empresa de pesca, o que você recomendaria?Antes da resposta, leia o que vem abaixo:


Quando as pessoas atingem seus objetivos - tais como: quando encontram uma namorada maravilhosa, quando começam com sucesso numa empresa nova, quando pagam todas as suas dívidas, ou o que quer que seja, elas podem perder as suas paixões. Elas podem começar a pensar que não precisam mais trabalhar tanto, então, relaxam. Elas passam pelo mesmo problema dos ganhadores de loteria, que gastam todo seu dinheiro, o mesmo problema de herdeiros, que nunca crescem, e de donas-de-casa, entediadas, que ficam dependentes de remédios de tarja preta.


Para esses problemas, inclusive no caso dos peixes dos japoneses, a solução é bem simples. L. Ron Hubbard observou, no começo dos anos 50: "O homem progride, estranhamente, somente perante a um ambiente desafiador" [grifo meu]. Quanto mais inteligente, persistente e competitivo você é, mais você gosta de um bom problema. Se seus desafios estão de um tamanho correto e você consegue, passo a passo, conquistar esses desafios, você fica muito feliz. Você pensa em seus desafios e se sente com mais energia. Você fica excitado e com vontade de tentar novas soluções. Você se diverte. Você fica vivo! Para conservar o gosto de peixe fresco, as empresas de pesca japonesas ainda colocam os peixes dentro de tanques, nos seus barcos. Mas, eles também adicionam um pequeno tubarão em cada tanque.


O tubarão come alguns peixes, mas a maioria dos peixes chega "muito vivo". E fresco no desembarque. Tudo porque os peixes são desafiados, lá nos tanques. Portanto, como norma de vida, ao invés de evitar desafios, pule dentro deles. Massacre-os. Curta o jogo. Se seus desafios são muito grandes e numerosos, não desista, se reorganize!Busque mais determinação, mais conhecimento e mais ajuda. Se você alcançou seus objetivos, coloque objetivos maiores. Uma vez que suas necessidades pessoais ou familiares forem atingidas, vá ao encontro dos objetivos do seu grupo, da sociedade e, até mesmo, da humanidade. Crie seu sucesso pessoal e não se acomode nele. Você tem recursos, habilidades e destrezas para fazer a diferença. Ponha um tubarão no seu tanque e veja quão longe você realmente pode chegar.

"O Prato de Lentilhas" e mercado

Fico admirado ao ler a história dos irmãos Jacó e Esaú. Principalmente o tão abordado episódio do “prato de lentilhas”. Minha admiração é pelo fato de como os irmãos se movem na cena do texto, e tomam suas decisões, quase que uma brincadeira. Quando Esaú chega com fome de um de suas caçadas, ele sente o cheiro delicioso prato de lentilhas, que Jacó acabara de cozinhar.

Jacó, provavelmente sonhava com o fato de um dia poder ter sido o primogênito, mas é improvável que estivesse premeditando cozinhar as lentilhas para roubar a primogenitura de seu irmão Esaú. Um sonho de criança (...), quem nunca teve um? Talvez um sonho que era alimentado dia a dia, pelo fato de por pouco não ter nascido “o primeiro”.

Falar em primogenitura na cultura semita significava tocar em assunto importante – o mesmo que mexer com a lei, uma das “regras da cultura judaica”. No texto (...) ambos abordavam a primogenitura, cada um por um prisma diferente, mas nenhum dos dois estavam falando em regras semitas (...); talvez para Jacó, aquilo fosse um momento terapêutico, onde seus traumas mais infantis estavam sendo trabalhados, e para Esaú, era a oportunidade de matar a sua fome [que não devia ser pouca]. O que aconteceu aqui foi exatamente “uma troca de favores”.

Na “troca de favores”, para ambos, o que valia era muito mais unir o útil ao agradável, que fazer mercado. Vamos negociar então!! O prato de lentilhas pela primogenitura, e tudo logo estaria resolvido. Certamente que nesse caso Esaú saiu na melhor, saciou a sua fome. E infelizmente, o que ele disse a Jacó seu irmão, não valeu de nada. Esaú não tinha condições – de nenhuma espécie - de transferir sua primogenitura ao “irmão sonhador”. Isso fica bastante claro para nós, quando posteriormente, a mãe dos irmãos precisou utilizar-se de certa “artimanha” para que Jacó fosse abençoado por Isaque, no lugar de Esaú.

Tal história nos remete ao período do sistema tribal do povo de Israel, muitos historiadores denominam esse, um período de grande pureza e ingenuidade do povo semita. Tudo quanto colhiam da terra, e o leite, e a carne: dividiam! As necessidades entre o povo no período tribal eram sanadas na radicalidade da fé, por meio da partilha. A troca acabava sendo em função das necessidades uns dos outros, diferente da função utilitarista na busca por aproximação das pessoas, visível atualmente. A história de Jacó e Esaú retrata muito bem “a ingenuidade”, e a propensão à troca - a partilha em função das necessidades de cada um.

Certamente que, a história do povo de Israel toma rumos diferentes com a implantação do sistema monárquico, etc. Implica numa mudança drástica na estrutura cultural mais profunda do povo de Israel. Israel passa a conhecer a “comercialização”: com a inclusão do boi na cultura semita (animal de grande porte), os lucros, surge o exército que tem que ser mantido pelo “Estado”; maior movimentação de valores e etc. A concepção do povo muda, as demandas – agora ambições – passam ser outras. E posteriormente, o contato do semita com o helenismo - mundo helênico, grandes reformas; (...).

Você deve estar se perguntando, mas por que tanta história? Fato é que, hoje somos resultado de “uma história”. O sistema capitalista de mercado, em pleno exercício, como que um vulcão em erupção, já nos dita um estilo de vida, modas e tendências. O capitalismo reformulou a nossa história, mexe com nossas rotinas, e isso nos traz grandes implicações bastante atuais, das quais, não podemos ficar como que alienados. Fazemos parte de uma sociedade, cada vez mais “utilitarista”.

A história de Jacó e Esaú, de que ela nos serve? Como interpretar a história do “prato de lentilhas” hoje? Bem diferente daquela época, hoje tudo é mercado!! A troca não é mais para satisfazer a necessidade do que pede, mas é exatamente “onde” consigo ganhar, explorar, arrancar a qualquer custo o meu lucro.

Temos um bom motivo para refletimos aqui:

Se Jacó fosse vivo hoje, certamente ele estaria preparando o prato de cozido, com o qual roubaria o direito do irmão de primogenitura. Ele seria o primogênito, ainda que a partir da fome do seu irmão – mas, “os fins justificam os meios”? A conversa seria gravada, para que depois um advogado pleiteasse junto de um Juíz a parte que caberia a Jacó: talvez implicações modernas da promessa feita por Esaú.

Também, muitos de nós negociamos coisas, que não deveriam ser negociáveis. Nossa fé, nossa esperança, nosso testemunho, e na sociedade dos “Nick Name” - nosso nome, nossa primogenitura. Não vivemos em uma sociedade ingênua, não podemos sair por aí “fazendo e desfazendo”, e a partir de meus achismos, “negociar” elementos centrais da minha vida, do meu eu – do meu corpo.

E, qual é a minha postura, diante daqueles(as) que estão do meu lado? Enxergo nas pessoas – seres humanos, ou “possibilidades”? Muitas pessoas têm tanto, outros, são tanta coisa – tanto ‘status’, porém é sempre às custas do irmãozinho, da irmãzinha - do fracasso de alguém, do processo chamado “negociação gospel”. Negocio até “o meu dom”, esse vira meio pelo qual consigo acesso àqueles/as que “estão no poder”.

Penso que está na hora de aprendermos com a história do prato de lentilhas, e resignificá-la para hoje: O episódio dos irmãos Jacó e Esaú. Devemos nos revestir da simplicidade e do amor com que os irmãos se ajudavam na comunidade primitiva, período tribal do povo de Israel. Não devemos nunca perder de vista os nossos objetivos enquanto cristãos, paradigmas ensinados por Jesus: de comunhão e partilha. Não podemos negociar aquilo deveria ser inegociável para nós, mas que acabo abrindo mão, por conta das “exigências do mercado”, para obter algum lucro, ainda que a troco de algo que satisfaça nossas necessidades, tão passageiras, e momentâneas, tão ínfimas, tão (...).

XÔ, TENTAÇÃO!

[A foto abaixo foi adaptada por mim, não é a original do artigo].

Somos tentados a todo o momento – pela soberba, pelos olhos, pelos desejos, pelos nossos instintos... A tentação adquire diversas faces de acordo com a idade, sexo, posição social e áreas de interesse. Normalmente o que é tentação para um não significa que o será para outro. É muito fácil para um idoso cobrar seriedade do jovem que se deixa seduzir facilmente, porém, ele não está em melhores condições que o rapaz, pois sua área de tentação embora seja mais sutil – e consequentemente menos visível – não é menos potencialmente pecadora.

Tentação é uma palavra ambígua, pois ao mesmo tempo que se teme, se deseja. Por um lado é deliciosa, por outro, perigosa. Com uma parte do ser, se quer, com outra parte sabemos ser proibida. É inevitável daí o conflito. Percebemos, então, que de um lado desejamos as “coisas do Alto”, por outro lado quase que culpamos a Deus por permitir que coisas “daqui de baixo” perturbem nossa pacata vida cristã.

A tentação é perigosa porque é sedutora: quando não estamos diante dela, achamo-nos fortes e determinados... ao surgir à nossa frente ou em nossa mente ela arrebata os sentidos, e aquele até então forte e destemido fica paralisado. Que ninguém se ufane de sua solidez, porque o apóstolo adverte: “quem está em pé cuidado para que não caia”.

Toda tentação é uma proibição, um interdito. Diga a uma criança para não mexer na gaveta do criado-mudo e bastará você fechar a porta para que aquela gaveta se transforme no objeto mais desejado da casa. Quem já foi criança sabe do gosto maravilhoso que há na goiaba roubada no quintal do vizinho. Essa mesma goiaba não despertaria o menor interesse se estivesse na fruteira de casa.

Tentação é desejo. Há desejos permitidos e desejos proibidos. O cônjuge, por exemplo, deve ser um desejo sempre deliciosamente tentador. Há desejos diabólicos – mas não foi o diabo que colocou aí dentro – posto que já estava consigo, adormecido. O diabo não tem o poder de colocar nenhuma tentação dentro de nós. Ele apenas desperta o que já existe, só incita o que pode ser incitável: “cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz” (Tg 1.14).

Para algumas religiões orientais o desejo é o grande problema da humanidade, por isso almejam uma vida onde ele seja negado para que nasça um ser apaziguado. Paulo advertiu aos colossenses contra essas filosofias que apregoavam para “não manusear isto, não provar aquilo, não tocar aquiloutro”, pois ele chama isso de doutrinas de homens e “rigor ascético” que tem aparência de sabedoria, todavia “não têm valor algum contra a sensualidade” (Cl 2.23). Ou seja, não resolvem o problema e ainda estimulam a indulgência da carne.

Não é travando luta encarniçada contra os desejos que conseguiremos nos libertar, pelo contrário: tudo aquilo que lutamos 24 horas sem descanso se transforma em obsessão e o efeito é contrário. É como a história do discípulo que chegou ao seu mestre e perguntou: “Mestre, o que devo fazer para alcançar a paz e a serenidade de uma mente sem sobressaltos? O Mestre lhe respondeu: “É simples: fique a semana toda sem pensar em macaquinhos, elimine-os completamente de sua mente, e depois volte aqui. Mas lembre-se: não pense uma vez sequer neles”. O discípulo saiu todo feliz: “Ah, isso é fácil!”. Passado apenas algumas horas aquele discípulo retorna desesperado: “Mestre, mestre, pelo amor de Deus, tire de cima de mim esses macacos que não me deixam dormir, não me deixam comer, e estão agora em meus ombros....”.

Quem pensa que vencerá “eliminando” não sabe que estará criando um monstro muito mais difícil de ser lidado, pois já que ele foi proibido na consciência – onde se pode decidir – ele virá das entranhas como imagens e pensamentos compulsivos que não temos poder de decisão. Inevitavelmente acaba em neurose. Quem vive assim não precisa de diabo, pois ele é o seu próprio diabo [Adversário].

Tenho para comigo que Jesus ensinava para não usarmos de vãs repetições em nossas orações, justamente para evitar que não tornemos os nossos medos – naturais – em monstros que vão assombrar a alma pela constante repetição. E ao invés de descanso, a mente estará sempre aflita e perturbada. Imagine um crente temeroso de ataques do maligno viajando em férias para a sincrética Bahia dos terreiros e orixás. Ao descer do avião é recepcionado por uma mãe-de-santo oferecendo pipoca, nos passeios só encontra acarajé em tabuleiros consagrados, no almoço do hotel grupos de capoeira se apresentando.... Se essa pessoa tentar “amarrar Satanás” a cada minuto do dia terá as férias mais cansativas de sua vida. Qual a origem do problema? A mente que não descansou no Senhor.

Aquilo que tememos não pode ser transformado num fetiche, pois vai acabar ganhando vida própria em nossa mente. Por isso Paulo nos ensina em o que pensar: tudo que é bom, tudo que é agradável, de boa fama.... seja isso que ocupe a vossa mente”.

A oração é o caminho do cristão. Jesus nos ensinou a pedir ao Pai que “não nos deixe cair em tentação”. Peça a Deus que limpe os seus olhos para ver sua Graça bondosa nos auxiliando naqueles momentos que parece que vamos tropeçar. Peça a Deus que cada desejo maligno projetado sobre sua vida receba da parte Dele dobrada força para poder resistir. Que cada crente no Senhor saiba que pelo Espírito Santo em sua vida, ele pode dizer “não” à mais vigorosa tentação. Que cada um reconheça que por sua própria força, por sua “moral”, nada pode fazer, mas pela graça pode decidir pelo que o Senhor se agrada.

Ser tentado faz parte de nossa condição humana, mas podemos passar relativamente tranqüilos por essa prova quando ouvimos o que diz o Senhor: “em vos converterdes e em sossegardes está a vossa salvação; na tranqüilidade e na confiança, a vossa força” (Is 30.15).

Pr. Daniel.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Tradição


As religiões são tradicionais não porque não mudam, mas porque escondem sua mudança (Marcelo Ayres Camurça).


Tenho empatia por essa idéia. Os seres humanos são tão criativos e trazem na “bagagem vital” tanta necessidade de criar, pela busca de estruturas que lhe ofereçam segurança e legitimação – uma certa nomia, que mesmo ao preservar um núcleo comum, central a dada forma de religião, ele modifica essa em um complexo processo de atualização. Pois essa religião precisa falar ao hoje, trazer símbolos pertinentes ao sujeito religioso, cada vez mais abarcado pelos meios modernos de interação com o espaço social, e maneiras pulverizadas quanto ao desenvolvimento de uma religiosidade específica.

Muitos pesquisadores, já acham que o termo “fiel”, não atende mais para tratar do sujeito religioso “ligado” a determinada denominação, isso considerando o hibridismo que acontece na medida em que seculariza-se “o sagrado””, e amplia-se as possibilidades religiosas. Temos, ou pelo menos deveríamos ter, uma nova perspectiva do que vem a “ser Igreja” – templo/instituição burocrática, ou igreja – comunidade de fé.


A mudança é inevitável. Ao mesmo tempo que interagimos na sociedade e criamos estruturas, com o passar do tempo, essas mesmas estruturas se tornam obsoletas, porque são provisórias não atemporais: passam a nos enclausurar - agora lutamos por rompê-las, para criar novamente uma outra estrutura que nos servirá de novo paradigma. Nessa nova perspectiva, o que significaria ser tradicional, ou conservador, no sentido menos pejorativo possível da palavra?
No processo de socialização, busca-se perpetuar a tradição, aquilo que apreendemos de nossos pais, é isso o que ensinamos para nossos filhos – amplie isso e reflita sobre o processo de como se dá na sociedade: Isso é socialização. Porém, quase nunca nesse espaço, processo socializador de socialização, que se dá pelos mais diversos mecanismos de controle de manutenção da nomia social, se fala das fragilidades, das temporalidades, das transitoriedades, das instabilidades, das provisoriedades, das antigas estruturas – tradicionais.


Ao criar sistemas institucionalizadores, que mais tardes não atenderão à demanda, lutamos contra aquilo que nós mesmos criamos. Como eu preciso manter a tradição, legitimar aquilo que eu criei, ou que foi criado e eu aderi, desencadeio uma série de processos socializadores, para educar outros a pensar conforme eu penso, obedecer o que eu obedeço. O que não se aborda são os problemas do meu sistema, as fragilidades dele: tudo isso em nome do conservadorismo. Precisamos conservar o que deu certo antes, e o que deu errado, eu simplesmente ignoro pelo esforço de tornar legítimo.


Nesse sentido, ser tradicional, não quer dizer que não mudou e que determinado grupo religioso preservou na íntegra a tradição, mas é esconder as mudanças experimentadas por esse grupo.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

PLACEBOS ESPIRITUAIS


Há certos tipos de doenças que somente aquele médico sensível reconhecerá que não se resolve com remédio. Mas como o paciente por vezes não aceita sair do consultório sem levar consigo alguma receita, é hora, então, do doutor abrir a gaveta e dar-lhe um frasco de comprimidos cujo único componente básico é a inofensiva farinha de trigo, ou seja, um placebo.

Placebo vem do latim “placére” e significa “ser do agrado, prazeroso”. Placebos dão alívio momentâneo, ajudam a aplacar a dor e fazem a pessoa imaginar que tudo está bem.

Entretanto, há doenças instaladas no homem que carecem de um corretivo total e completo, e somente o Evangelho pode dar. Porém, esse remédio pode parecer por demais repugnante e amargoso, e então, para se amenizar os sintomas do mal-estar da alma, recorrem-se a alguns artifícios: há o placebo-compras, placebo-noitadas, bebidas, drogas, sexo... que parecem fazer bem enquanto seus efeitos perduram.

Concordo que até mesmo a religião pode ser um placebo. E de fato é quando ela só pretende anestesiar a consciência e retirar a pessoa da luta da vida, alterando o seu emocional por instantes, sem, entretanto dar-lhe respostas que tocam a totalidade de seu ser. Foi justamente isso que Marx observou quando disse que a “religião é o ópio do povo”. Ele estava correto na sua constatação. Não é justamente isso que acontece quando tantos se alienam num mundo de religiosidade, que ao invés de libertar, manieta? Quantos fazem da religião um lugar para verem atendidos seus objetos de desejo? Outros se retiram do mundo e já não se consideram responsáveis por mais nada neste planeta. Marx tinha razão: para estes, religião é narcótico, é anestésico, é um opiáceo.

Mas isto não é o Evangelho de Cristo, que atinge o homem em suas estruturas e em suas entranhas de forma cabal, nem a bíblia é um placebo metafísico, nem o discípulo de Cristo é um resignado com a situação, nem igreja é lugar para se refugiar uma vez por semana e receber ali uma dose forte na veia para agüentar os outros seis dias. Evangelho não tira a pessoa do mundo, não doura a pílula, não esconde ninguém numa caverna. Jesus rejeitou peremptoriamente a proposta de Pedro para fazerem três tendas e habitarem todos no monte da transfiguração: “Pedro, você não sabe o que fala”. Ou seja: “Pedro, não é aqui em cima em meio à luz brilhante o nosso lugar: a nossa missão é lá embaixo, na escuridão, junto ao povo”. O Mestre nunca quis dar placebo aos seus discípulos.

Evangelho não é sessão espírita, não é busca de êxtases, nem conversa com anjos. Fé cristã não é rebaixamento da consciência, mas é libertação da mente e do espírito de todas as suas amarras, preconceitos e de todo conformismo. Os profetas de Deus foram todos eles contestadores do “status quo” – e pagaram caro por isso. Quando os apóstolos chegaram a Tessalônica, disseram deles: “estes que têm transtornado o mundo chegaram também aqui” (Atos 17.6).

Vivemos uma época de “teologia da caixinha de promessas”, onde não se lê a Palavra, não se busca vida nela, mas se toma uma drágea de versículo-placebo para passar o dia feliz. Multidões vão ao delírio quando pastores gritam do púlpito uma série de placebos-chavões. Afinal, é isso que querem ouvir. O mesmo vale para os eventos de massa do mundo musical-gospel, que a julgar pela qualidade e conteúdo, ao invés de capacitar o cristão para a luta diária, acaba tornando-o sério candidato a uma lobotomia.

Estamos no mundo não para concordarmos com ele ou conformarmo-nos, mas para dizer que não aceitamos seus princípios, não engolimos suas mentiras, não cedemos aos seus encantos. Por isso que seguir a Cristo não é para pusilânimes, nem para quem busca conforto.

Nossa postura não é de quem está à vontade neste mundo, e nem como um antigo cântico retratava: “somos um povo alegre e mui feliz”. Na verdade, o cristão bíblico está mais para perplexo e não-conformado. Se considerarmos que tudo o que aí está expressa a vontade de Deus, então eu deveria apoiar e não lutar contra isto.

Por mais confortadores que sejam os placebos espirituais, não é possível viver de forma madura somente se alimentando deles. Jesus Cristo é o choque de realidade que todos precisamos levar. Não é com esse evangelho água-com-açúcar que esperamos chegar a algum lugar.

Igreja é mero placebo para quem vai como distração, para quem toca seu instrumento sem coração, para quem ora sem paixão e para quem Deus é só mais um objeto de adoração.

Cuidado!

Pr. Daniel Rocha
dadaro@uol.com.br

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Despotismo da liberdade

Na realidade essa postagem é um comentário meu sobre a postagem “Hora do strip-tease”. No artigo o autor critica a postura de Igrejas que reprimem em suas concepções doutrinárias, etc, aspectos da sexualidade humana. A sensação é de que para o autor, o que vale é "liberar geral" (...).

Sou contra quaisquer tipo de repressão, dentro da igreja ou fora delas; em qualquer âmbito da vida humana repressão gera cadeias no inconsciente. Mas, contra também a alguns mecanismos, que só repetem o discurso de uma categoria de "pensadores", e que em nome de uma "crítica libertadora" reprimem, e o fazem ao induzir os leitores a uma "suposta liberdade". A lógica desses é que a felicidade, ou "a vida abundante" oferecida por Deus, se dá no fato de sair por aí fazendo sexo com todo mundo, ou sem quaisquer parâmetros de moral para a vida (diferente de moralismo!).

Caros colegas, tenho certo receio quando pessoas preparadas ou despreparadas, saem por aí fazendo "teologia da crítica", talvez com a pretensa de ter achado a resposta que solucionará todos os males da humanidade, aquela chave mágica. Muita soberba, não acha!?
Criticar "modelos" eclesiológicos, frutos de uma concepção doutrinária, teológica, ou modismo - que seja, etc., não responde ao cotidiano das pessoas. Pelo contrário, a pergunta continua latente no inconsciente e imaginário de todos: "E daí?".

Hoje as celebridades ditam as normas, artistas e “blogueiros” falam com propriedade (será!?) sobre sexologia e comportamento humano, é o poder do simulacro, e a cada dia mais sendo alimentado. Isso pode ser um problema.

Em suma, tenho simpatia pelo conteúdo da presente postagem, mesmo assim, deixo a dica para reflexão: precisamos saber melhor sobre as implicações futuras daquilo que estamos falando, das afirmações que estamos fazendo, sem nunca termos a falsa percepção de que descobrimos "o segredo" da felicidade. Por quê que, ao invés de sairmos por aí criticando tudo e todos, não oferecemos reflexões maduras sobre o que implica adotar ou não tais modelos? Nem toda reflexão precisa ser apologética, é possível uma "síntese dos comportamentos - modelos", de forma tal que se preserve o equilíbrio no discurso, aquele tão necessário para que nenhuma injustiça seja cometida.

Rotular modelos, como bons ou ruins, e mais-ou-menos, pode significar incapacidade de uma leitura mais aprofundada sobre as complexidades da vida.

Abraço.

Tradição frente às transitoriedades da vida


Acho sim, que “o olhar para trás”, o fato de buscar na tradição respostas que me orientem no presente, diferente de buscar legitimação para meus atos hoje, é algo saudável, e também humanamente pastoral; e ser humanamente pastoral em uma sociedade onde pouco se fala de pastoral, pelo menos daquelas que reconhecem a vida como prioridade é sempre muito saudável. Aliás, olhar para trás para resolver problemas “da e na” caminhada , o apego à tradição, é característica do povo bíblico, dos semitas, principalmente no Antigo Testamento. Preservar elementos da tradição é sempre um fator que norteia, que de certo modo “repete a fórmula”, que traz elementos específicos - fixos à uma comunidade de fé. Isso é importante? Diria que sim, e não só importante como necessário, principalmente quando “olhamos para fora” (e acho inclusive que as Igrejas deveriam fazer isso mais vezes e com mais intensidade) e percebemos uma sociedade em constante mutação, sem parâmetros básicos de desenvolvimento.

Atualmente, com a sociedade em constante mutação, vem à tona a auto-valorização enquanto indivíduo, o que culmina em individualismo, esse que tem sua ênfase no subjetivismo (quantos “ismo”!!), e ... sonhar é cada vez mais possível ... para muitos, o impossível já não existe mais. Sem parâmetros, sem noção de limites. Alguns diriam: - Puxa !! isso é sinônimo de liberdade; liberdade fruto da globalização que presenteou a sociedade, cada vez mais moderna. Eu diria que isso não é liberdade, e nem mesmo um presente, mas talvez uma carta bomba, (desculpem, um “e-mail bomba” !). Em qualquer âmbito da vida humana, em que se perde os parâmetros de “crescimento” e o projeto do que vem a ser um desenvolvimento saudável, não excludente, pode significar que estamos construindo, ou contribuindo de alguma forma para a construção, uma sociedade cada vez mais neurótica, muito apegada em coisas frágeis, em sonhos ilimitados, coisas essas que “não dão conta”, não preenchem o vazio nas horas de angústia, de caos.

Enquanto Igreja: Uma espiritualidade baseada estritamente em emocionalismos (não pejorativo), voltada às paixões humanas, citando aqui o que vem a ser uma espiritualidade muito subjetiva - é frágil, quando se considera as constantes mudanças e as situações de conflito da vida. A recorrência dessa prática dentro de nossas Igrejas, promovem, ou contribuem para promoção, daquilo que os estudiosos chamam de “mal do século”: a depressão, cada vez mais em alta. Atualmente na América Latina e caribe, segundo dados do Hospital Santa Lúcia (disponível em: (http://www.santalucia.com.br/neurologia/depressao/default.htm), um a cada quatro deprimidos procuram ajuda, e a estatística é de que aproximadamente 24 milhões de pessoas sofrem de depressão.

Nesse sentido sim, queremos tradição. Porque queremos pontos fixos, elementos de fé seguros, que dão subsídio para encarar a vida mesmo em momentos extremos, de reais angústias, diante do caos.

Mas, um agravante, que na minha concepção reflete o fato de como a vida é complexa. A busca pela tradição não pode sem um fim em si mesma, porque nem sempre ela nos traz coisas atualizadas, e prontas, que cabem perfeitamente “no hoje”. E, estacionar no “meio do caminho”, com o pretexto de ser conservador da “sábia tradição”, na realidade pode significar um esforço de legitimar, quase que uma desculpa, o medo que eu tenho de estar aberto ao novo. Porque novidades sempre implicam em mudanças, mudanças implicam em revisões de conceitos, revisão de paradigmas. Isso pode ser um problema, apegar-me à tradição porque não existe abertura ou competência para dialogar com o que é novo, e/ou com o que é diferente de mim e do que eu penso.

De qualquer forma, acho que vale a reflexão. Nenhuma estrutura sistemática de raciocínio, nenhum discurso ou tese enquanto esforços humanos e especulativos, deve ter a pretensão de ser a solução perfeita para todos os problemas da sociedade, de conter a fórmula mágica. A vida é complexa, fruto de relações complexas que geram conflitos inconscientes reais e complexos. Mas, e a tradição? O ato de conservar a tradição tem que estar fundamentalmente relacionado com a vida cotidiana atual, precisa dar respostas equilibradas ao indivíduo que respira os ares de um momento específico da história e de sua história, ambas cada vez mais transitórias.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Sobre a relação: como os sujeitos religiosos interagem em uma comunidade de fé, e sua pessoalidade ao desenvolver uma religiosidade específica.


As pessoas se dirigem ao templo, vão à Igreja - "estão em comunhão" essa é a idéia - e ás vezes já o fazem por certo "vício religioso", é aquilo que se você deixa de fazer chega a incomodar (o organismo parece estar intoxicado por igreja); para alguns outros, ir ao templo parece não ter nenhum significado. Se perguntarmos às pessoas porque elas vão à Igreja, perecberemos a dificuldade que têm de responder uma pergunta aparentemente simples como essa, ou ainda, que dão como resposta aquelas falas decoradas que servem apenas para preencher o vácuo gerado pelo incômodo da pergunta, do tipo: - "Vou para adorar à Deus (...)". Não gostaria de ater-me a isso; mas refletir com mais propriedade sobre o fato de como é curioso que, cada um/a desenvolva de forma diferente sua espiritualidade dentro de uma comunidade de fé.

Falar em espiritualidade implica em estar aberto ao diferente, ao fator plural dentro das estruturas de uma mesma Igreja. A Igreja é composta por pessoas que vivem a unidade em sua mais complexa desuniformidade.

Para alguns, estar na Igreja e a gradar à Deus significa levar "os pãezinhos" para o café, aquele servido no final do culto/ou da missa, e nisso se empenham arduamente. Para outros, estar na Igreja significa fazer parte de um determinado grupo que participa em algum momento da celebralção: com músicas, ou teatros, e coreografias, ou tesouraria, limpeza, dentre outras incontáveis atividades (igreja é como coração de mãe: de alguma forma cabe todo mundo, será?). E para outros, pode significar acompanhar um membro da família, ou mesmo não ter o que fazer em casa, porque geralmente no domingo se fazemos a opção de ficar em casa, temos que nos contentar com "lixo televisivo" (uma pesquisa revelou que a maioria dos brasileiros quando ficam em casa, ficam na frente da televisão, e que a utilizam basicamente como meio de informação e entreterimento/ diversão). Para outros, "estar na Igreja" significa saber das novidades: do bairro, da pobre Mariazinha que o marido deixou, do/a líder espititual; e eu quase me esqueci ... é moda falar do Joãozinho e da família, aquele que gosta de ficar encostado nos programas assistencialistas da igreja, que recebe de bom grado, todo sorridente, uma cesta básica da comunidade, é o elemento estabilizador do vínculo do joãozinho com a instituição, para que por ventura ele e seus 3 filhos não venham se perder no mundo (pobres coitados!) (...). A lista é interminável (...), não posso me ater a ela enquanto um fim em-si-mesmo. Precisamos analisar isso, mesmo que de forma incipiente.

A partir do que tenho observado, na prática, as pessoas fazem isso muito mais por mania adquirida e desenvolvida (enquanto indivíduos em sua pessoalidade) que por impulso, independente de estarem frequentando essa ou aquela Igreja. Essas "manias" adaptadas no eu a partir de um processo de interiorização, possível mediante a socialização, acaba se tornando uma maneira toda peculiar de desenvolver a minha espiritualidade. A mania, ou que seja: a repetição, vira um ritual pessoal, através do qual eu explico a minha adesão ou não à determinado grupo religioso, dependendo de onde eu sou aceito(a).

A pergunta que eu me faço é, até onde tal prática é saudável? As pessoas não deixam de frequentar "um templo", ou uma comunidade religiosa (espaço onde me permite desenvolver a minha espiritualidade), mas resignificam seu tempo de permanência nesse. Meu compromisso não é com Deus, nem muito menos com denominação, meu compromisso é com "minhas manias", meu ritual, (...) meu carisma, meu dom.

E o mundo mergulha de cabeça em um imaginário narcísico (...); me atreveria a dizer que a cada dia mais isso se intensifica. O individualismo é quase "o deus" que determina o fato de eu me relacionar ou não com determinadas pessoas, ou grupos religiosos, na minha empresa, ou aonde quer que eu esteja; "o deus-individualismo" determina o sim ou o não, dependendo das circunstâncias. Em um mundo onde as notícias pretendem sempre ser inéditas, o passado não tem seu espaço, a tradição diferentemente de até algum tempo atrás já não legitima nada - quando o assunto é religião, eu em minha individualidade tenho condições (...) sei muito bem fazer as minhas próprias escolhas, e os critérios, parâmetros de ação é o meu-eu-mesmo .

Tais aspectos, também experimentados por toda sociedade, influenciam diretamente nos relacionamentos dentro de uma comunidade cristã. POr exemplo, em Igrejas onde a tradição impera, o modelo "da ordenação" entra em crise, porque a individualidade enquanto meio possível legitimador de lideranças, põe no púlpito, no altar, no palco para o show: o carismático, o místico, os que vão concorrer com aquele pastor ordenado pelo bispo. Talvez essa seja uma leitura por demais sociológica, mas não seria uma realidade possível? Tantos rachas experimentados pelas mais diversas denominações, tantas igrejas surgindo com os nomes mais exóticos possíveis, só no Estado de São Paulo, a notícia é que 3 novas Igrejas são abertas a cada dia. Isso é um dado que deve nos chamar a atenção.

Os sociólogos Marx Weber, Durkhein, Peter Berger, dentre outros, predizeram a morte de Deus na sociedade moderna, na sociologia hoje diz-se que não, mas que Ele foi resignificado. Eu pergunto, será que Deus foi mesmo resignificado? Não teria sido substituído? Enquanto detentores de uma verdade, não sem muito orgulho e soberba, não nos fizemos a nós mesmos "os deuses"? Deus foi resignificado/ subsituído sim, agora em um ser detido por mim, aprisionado em mim; a tecnologia cristã é tanta que já é possível saber em qual dose eu tenho deus, enquanto uns são caçadores de deus", outros já estão "diante do trono", ou "trazendo a arca", o apelo é que se "toque no altar", tudo parece estar sintetizado em um grande "show da fé". Já existem manuais fantásticos a ponto de extasiar, que falam com precisão como medir o grau de deus dentro dos sujeitos religiosos.

O deus moderno é bricolado e manipulável dependendo das minhas determinações, EU DETERMINO! Deus resignificado (será?) em individualismo: o que era "teocêntrico" até a Idade Média, e posteriormente Cristocêntrico - na Reforma, desenvolveu-se (ou foi desenvolvido?), e hoje é eu-cêntrico, nós deuses de nós mesmos, e cada um por si.

Tudo isso é fruto de um só fator? Não ... não, mas de processos sociais visíveis. A nós, seres humanos, Deus deu a responsabilidade e a capacidade de nos relacionarmos de forma sadia com Ele, com o próximo - o outro, e comigo mesmo; nisso consiste a tensão da vida ... quando nos relacionamos. Cabe a nós, a tarefa de refletirmos sobre nossa postura dentro da Igreja, enquanto membros de uma comunidade de fé, evangelistas por natureza via testemunho de vida e portanto formadores de opinião, não aceitarmos as imposições covardes e pecaminosas, tendências específicas da chamada pós-modernidade; porque evangelho e cristo são incompatíveis com mercado e individualidade (quaisquer que sejam "os guetos" enquanto redutos de escapistas, fomentadores de individualidade).

sábado, 10 de maio de 2008

Para nossa reflexão.


O contexto faz literatura.

Uma vez que, “teologias” são construídas a partir da vida, e das experiências concretas que experimentamos nela, é importante observarmos que, com o “acontecer da vida”, tantos rumos e histórias, muitas teologias foram surgindo. Teologias que surgiram com base nas experiências de pessoas que tiveram a oportunidade de estar pastoreando suas Igrejas, comunidades cristãs. Pastores que hoje são celebrados como grandes teólogos, homens que marcaram suas épocas. Alguns exemplos: Paul Tillich, Dietrich Bonhoeffer, e outros, alguns que chegaram a abandonar o seminário teológico para se dedicar às missões, movimento esse fruto de um questionamento do tipo, "para que serviria a Teologia"? É o caso de Albert Schweitzer que abandonou o seminário teológico para se dedicar à missão como médico na Ásia, e somente ao retornar para sua terra natal, na Alemanha, termina seus estudos teológicos. Foi um considerável teólogo liberal.

Podemos perceber que tais teólogos, nascem e crescem, são frutos de suas épocas, como por exemplo, dos séculos XVI ao XX, as propostas teológicas respondiam, ou pelo menos tentaram responder aos questionamentos sobre os traumas específicos da sociedade, sobre fatores econômicos, situação cultural, social; Teólogos que refletiam criticamente a realidade humana de suas épocas. Exemplo disso são os teólogos do pós-guerra, como Karl Barth, Tillich, Bonhoeffer, dentre outros, que discutiam a fé em um contexto de muitas pressões e “misérias” de guerra, a desestruturação física e espiritual humana mediante o caos.

Uma vez que a teologia é fruto de toda uma experiência de vida, precisamos considerar os missionários europeus e de outros lugares do mundo, que vieram para o Brasil, que aqui plantaram as sementes que fomentaram diversos movimentos. Temos alguns exemplos, Daniel Berg, Gunnar Vingren que, em 1910 vieram para no Brasil e fundaram a Assembléia de Deus do Belém; um outro exemplo é Asbhel Green Simonton, do norte dos Estados Unidos, e Georg Nash Morton, Edward Lane; os próprios Metodistas em 1840 representados na pessoa de Kidder, e em 1867 pelo do Rev. Junias. A questão que surge então, e que aqui procuro abordar para nossa reflexão, é: sob quais aspectos da vida hoje, percebemos toda essa movimentação mais carismática, ou espiritualística, pentecostal, ou como alguns preferem chamar, situação de neo-pentecostalismo”?

Todos os movimentos se orientam teologicamente, pois partem de experiências concretas da vida. Que tipo de respostas tal movimento, hoje tão atuante e presente, também identificado nas Igrejas Metodistas, quer dar para a sociedade (em caos?)? e a qual segmento da vida, aqui no contexto mais amplo da existência humana, ele se dirige? Qual é o protesto dele, e mais importante, contra o que, ou quem, essa teologia faz o seu protesto? Para muitos(as), que vivem o contexto da Igreja Metodista, esses que têm passado pela experiência do “batismo com o Espírito Santo”, ou “batismo com fogo”, essa teologia, esse movimento surge como uma proposta reformadora das instituições eclesiásticas; que reforma seria essa? e no que tal reforma implicaria?

Acho que são boas as problemáticas para refletirmos.

Pense bem nisso.


Passamos a vida inteira tentando crescer, e de uma forma toda peculiar conquistar a tão sonhada independência, independentemente se para isso vou precisar de romper com as estruturas da família, com os padrões sociais, etc.

Depois que crescemos, ou não, mas em dias que já pretendemos ter conquistado a “suposta liberdade”, certas circunstâncias nos conduzem "o olhar para trás", para nosso passado. A luta agora é para descobrir quem somos – porque temos pistas de que somos o produto de “nossos tantos entulhos” – pistas, de que revirando nossos “quartos escuros”, nossas situações mal resolvidas, poderemos descobrir de que é construído o meu "eu-mesmo".

Mas ... para que precisamos descobrir quem somos? pergunta impaciente aquele alguém sem nome ancioso do século XXI, aquele cujo passado puco importa, e o futuro é quase sempre fruto de atos incoseqüentes. A resposta é sempre ainda muito tímida: porque em certas horas, em determinados estágios da nossa vida, "eles" exigem nosso número de identidade e eu passo a responder pelas conseqëncias dos meus prórpios atos ... tempos nos quais precisamos refletir, parar e olhar para trás, e consultar os documentos.

Ao olhar para trás buscamos descobrir se construímos coisas que ficaram, as coisas sólidas, aquelas que preenchem de alguma forma o nosso vazio; na verdade queremos descobrir se a nossa vida não passou de um grande vazio, de mero niilismo – dependendo do que descobrimos entramos em colapso, por não saber a que ponto fixo nos apegar em horas de extrema angústia.

Tudo hoje é tão móvel e descartável, que um dia, quando olharmos para trás, poderemos perceber que não temos deixado "os rastros", o caminho já percorrido que poderia orientar o que estar por vir logo atrás de nós; isso pode ser um indicativo de que a humanidade estará cada vez mais embasada em ilusões, paixões subjetivistas, coisas que não dão conta quando o assunto é preencher o vazio da perda, da desilusão, da distância, da angústia - cuidado, um dia poderemos estar à beira de um colapso, em massa.

Acho que cabe a pergunta: Indepenente de sua idade. O que você tem construído com suas atitudes? A maneira pela qual você se movimenta no mundo (...)

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Aparentemente inocente. Mas, "quase nada" é de graça


Existe "uma piada" que é veiculada há tempos pela internet, o título é: “Troca de Plantão”. Aparentemente é uma “historinha engraçada", e inofensiva, aliás suponho, que, muitos colegas, assim como eu, tenham dado boas risadas com a leitura, confesso que o humor utilizado é inteligente. Segue abaixo o texto:

Jesus Cristo resolveu voltar a Terra e decidiu vir vestido de médico!Procurou um lugar para descer e escolheu, no Brasil, um Posto de Saúde do SUS.Viu um médico trabalhando há muitas horas e morrendo de cansaço.Jesus entrou de jaleco branco, passando pela fila de pacientes no corredor, até chegar ao consultório médico.Os pacientes viram e falaram: - “Olha aí, vai trocar o plantão!”Jesus Cristo entrou na sala e falou para o colega que este poderia ir embora pois ele iria continuar o seu trabalho. E, todo resoluto, gritou: - “O PRÓXIMO!!!”Entrou no consultório, um homem paraplégico em sua cadeira de rodas.Jesus Cristo levantou-se, olhou para o aleijado e, com a palma da mão direita sobre sua cabeça, disse: - “LEVANTA-TE E ANDA!”O homem levantou-se, andou e saiu do consultório empurrando a própria cadeira de rodas.Quando chegou ao corredor, o próximo da fila perguntou:- “E aí, como é esse doutor novo?”Ele respondeu: - “Igualzinho aos outros… Nem examina a gente!”.

Na minha opinião, um dos grandes problemas que assola grande parte das pessoas de nossa sociedade, é o fato de reproduzirem “coisas”, jargões, ideologias, textos, e-mail’s, etc., e até estereótipos de celebridades, e o “mundo gospel” está cheinho delas. Muitas das vezes, sem malícia, repassam essas coisas, sem antes refletir sobre o que realmente estão passando adiante. Sabemos que a lógica das relações humanas atualmente, é a lógica de mercado: o lucro e o sucesso em tudo quanto "eu colocar as minha mãos" é o que se busca com afinco. É a mesma lógica das empresas que usufruem da comercialização, o que influi diretamente na sociedade. Com isso, infelizmente, a cada dia que se passa, as pessoas instrumentalizam cada vez mais sua necessidade da busca pelo outro.

O objetivo dessa postagem é alertar aos queridos(as) leitores(as) sobre a necessidade de estarmos mais atentos às coisas que referendamos com “aquele belo amém”. Quanto “a piada”.
Após a leitura, e não sem dar umas boas risadas, me peguei fazendo algumas perguntas a mim mesmo. Na verdade, após a primeira leitura, achei no mínimo estranho, o fato do texto citar o “Sistema Único de Saúde”, pareceu-me “brincar com coisa séria. Mas tudo bem, a princípio ficou registrada uma “certa abordagem política”, sem nenhuma reflexão mais elaborada, sem me deter muito em detalhes, fiquei confortável em permitir-me o riso. Mas o conforto não durou muito; depois de algum tempo (...)

Primeiro perguntei, quem contaria esse tipo de piada? E depois, qual é o intuito? O que ela significa? As repostas foram surgindo .... certamente quem contou essa piada não é alguém que tem “a dignidade”, de passar horas e mais horas em uma fila, para conseguir um atendimento, ainda que rápido, de um médico pago pelo Estado, nós sabemos bem às quantas andam “nosso sistema de saúde”. Não foi não, certamente que não, uma pessoa que tem que acordar às 4 (quatro) horas da manhã, ou que passa a noite acordada em uma fila para conseguir agendar uma consulta, e às vezes para “o mês que vem” – que nunca vem (porque o médico entrou de férias), não contaria essa piada. Porque não? Porque sabe o quanto é difícil essa vida (será vida mesmo!?), mas principalmente, porque essa piada tem um interesse ideológico muito forte “nas entrelinhas”. O interesse é o de ridicularizar aqueles(as) que falam mal do SUS, e/ou dos médicos do SUS. A crítica é exatamente aos que ficam na fila, na maioria das vezes “pessoas simples”, que dependem de uma consulta, às vezes com certa urgência, e que às vezes esperam e esperam: morrem na fila! como já tivemos a “im(o)portunidade” de ver.

Agora, sorrir já era ridículo para mim (...)

Quando absorvemos essa ideologia, de que “é ridículo criticar sempre”, nosso imaginário faz a leitura: “não posso criticar mais, essa coisa de reclamar sempre é ridícula”, e sendo assim estamos dizendo que está tudo bem mesmo, que nosso país vai “de vento em popa”, que tudo está melhorando. Que os médicos são maravilhosos, super atenciosos, e que estar na fila do SUS deve ser entendido como um momento único (igual ao sistema!), pelo qual devemos dar graças à Deus. Isso intimida. Quanto mais reproduzirmos esse discurso, mais eles vão ser beneficiados, porque menos crítica pode significar menos fiscalização, e menos fiscalização pode significar “uns dólares à mais na cueca”.

Mas e a Igreja? O que acontece quando ela reproduz esse tipo de ideologia? A do discurso politizado, elitista (...).

Rubem Alves certa vez escreveu: “A religião não é o ópio do povo, porque o Estado e o poder econômico não estão do lado dela protegendo-a como aliada. Porque se os pobres e oprimidos descobrem suas forças, colocam o céu no horizonte da terra, iniciam sua marcha – surgem os mártires” (ALVES, Rubem. O que é Religião?. São Paulo: Edições Loyola, 1999).

A Igreja hoje vive uma grande inércia, contando estórias em-si-mesmada, dentro de suas quatro paredes. São tantas as estórias, e a Igreja parece gostar de dar boas gargalhadas, ou pelo menos se entreter, nas sessões de exorcismo agora ao vivo pela TV, mas também com os escândalos das tantas cuecas milionárias, ou era do dinheiro na cueca (sinceramente nem sei!), virou moda os shows da fé - em casa ou na igreja.

São histórias como essas que nos fazem parar para sorrir da desgraça do mundo. Dizem por aí que brasileiro aprendeu a contar piadas de suas mazelas, por conta da colonização imposta de forma dura. É o mesmo que dizer que: sofremos mas não perdemos a piada. Isso é constrangedor para as Igrejas em geral, a todas que professam o Cristo histórico. Cadê os profetas? Não, não, ... não falo dos “adivinhadores” que falam sobre o futuro, mas daqueles narrados na Bíblia, homens e mulheres que denunciavam a corrupção no templo, na sociedade (...).

O Jesus da piada, é um legitimador de estagnação, inibidor de crítica e fomentador de dinheiro, lucro e sucesso. Mas o Jesus da história, aquele abordado pelos evangelistas Mateus, Marcos e Lucas, não tramava com elites, muito menos com corruptos, por conveniências políticas Ele foi assassinado. Reflita bem antes de reproduzir e passar adiante estórias, que na verdade guiam ao silêncio sepulcral da alma sem sentido para viver, ao vazio.